NA
Freguesia de Escariz, Concelho de Arouca, nasce
um rio que corre na direcção geral e aproximada NE-SW.
O seu curso é de cerca de 17 quilómetros até à confluência de UI. Banha as freguesias de: Fajões, Carregosa, Pindelo, S. Roque, Oliveira de Azeméis e
UI.
Na Freguesia de Fajões, Concelho de Oliveira de Azeméis, nasce outro rio
que corre na direcção aproximada do primeiro, mas ligeiramente
convergente, e junta-se-lhe na Freguesia de UI. O seu curso é de cerca
de 18 quilómetros. Banha as freguesias de: Romariz, Milheirós de
Poiares,
S. João da Madeira, S. Roque, Cucujães, Santiago de Riba-UI, Madail e
Ul. Recebe na margem esquerda as águas dos ribeiros de Pedra-Má ou
Pintor e de Cavaleiros, e na
margem direita as do Ribeiro da Arrifana ou da Lagoa.
(V. esboço n.º 1).
Os cursos e caudais destes dois rios são sensivelmente
iguais. Da junção deles forma-se o rio que banha Estarreja
e Salreu, e vai desaguar na Ria de Aveiro, a cerca de 6 quilómetros
daquela vila.
Qual destes dois rios é o
principal?
Quais são os seus nomes?
Não é fácil responder concretamente às perguntas formuladas, se consultarmos os tratados de geografia e outros que a eles se
referem. Todavia, se nos reportarmos a uma fonte histórica ou aos
domínios da Lógica, teremos ocasião de verificar que as coisas se passam
de maneira diferente daquela que os mesmos tratados citam.
Na consulta de cerca de uma dezena de autores, que se
têm referido aos dois rios, no tocante aos seus cursos e
nomes, só encontrámos confusões e discrepâncias. E um
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82 /
deles faz uma afirmação que toca as raias do absurdo, como mais adiante
faremos notar.
Estes rios não têm valor sob o ponto de vista de navegabilidade, mas cremos não haver outros em Portugal que
tenham originado tanta confusão entre os nossos escritores e geógrafos.
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Esboço n.º 1 − Escala
1/300.000 |
Em primeiro lugar, vamos citar as opiniões dos vários
autores:
− A folha n.º 10 da Carta Geográfica de Portugal, do Instituto
Geográfico
e Cadastral, apresenta o traçado dos dois rios sem lhes dar qualquer
denominação que os possa distinguir, não obstante ser uma carta com
muito pormenor(1);
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83 /
− O mesmo sucede com o Mapa Geográfico, de FOREST;
− Na Geografia Primária, de VASCONCELOS E
SÁ, edição
de 1939, oficialmente aprovada, dá-se o nome de Rio Ul, ao curso
de água que nasce em Escariz, passa por UI, e vai desaguar
na Ria de Aveiro, mas não se regista o outro rio(2);
− Ao contrário, o Mapa Geográfico de OLIVEIRA CABRAL chama Rio Antuã ao
que o autor antecedente denominou de UI, mas não apresenta o traçado do
outro rio;
− A Carta de Portugal dos Trabalhos Geodésicos e Topográficos, do Instituto Geográfico e Cadastral, dá o nome de
Rio Antuã ao que nasce em Fajões, com a função de rio principal, e como seu afluente o que corre a E. daquele, com o
nome de UI;
− Por sua vez, o professor de geografia A. MATOSO diz no
seu Compêndio de Geografia Geral, que o Rio UI é afluente do Rio Vouga,
na margem direita, quando na verdade ele é afluente
do Rio Antuã, que, por sua vez, desagua na Ria de Aveiro.
Oiçamos agora o que nos diz o
Portugal Dicionário, de
ESTEVES PEREIRA e GUILHERME RODRIGUES. a respeito destes rios:
Antuan ou Antoão
− «Rio da Província do Douro. Nasce em Coimbra (sic) e, depois d'um. curso de 50 quilómetros, entra no rio de
Ovaro V. Antoão».
Antoão − «Nome da antiga vila de Estarreja».
Estarreja − «Vila situada na margem direita do rio
Antuan ou Antoão, que vai desaguar com o Vouga e o Águeda no rio de
Ovar».
Cucujães − «Passa aqui o rio Antuan, sendo atravessado por quatro pontes
de cantaria, duas mais antigas, outra
feita em 1860 e outra em 1870 sob a estrada de Ovar a Oliveira de
Azeméis. Estas 4 pontes estão muito perto umas das outras.»
Segundo os autores do Portugal Dicionário, o Rio Antuã
nasce em Coimbra (distrito ou cidade?), vai passar a Cucujães e Estarreja, e
desagua no Rio de Ovar (provavelmente Ria
de Aveiro ). Esta afirmação é deveras espantosa! De facto,
como pode o rio, nascendo em Coimbra, ir parar a Cucujães?
Só por intermédio dalgum milagre era possível fazê-lo atravessar montes, vales e rios desde Coimbra a Estarreja, com
passagem por Cucujães. Além disso o seu curso não seria
de 50 quilómetros, mesmo em linha recta, mas sim mais de 80.
(V. esboço n.º 2).
E sobre o Rio UI, o mesmo Dicionário
diz:
Rio Ul − «Pequeno rio do distrito de Aveiro. Nasce na
freguesia de Carregosa, corre para sudoeste, passa a 1 K. de
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Oliveira de Azeméis; por baixo da estrada de Arouca, um pouco mais
abaixo sob outra ponte da estrada de Coimbra
ao Porto e, finalmente, na freguesia de UI entra no rio Antuan, com 7
K. de curs0.»
Ul − «Povoação na
margem direita do rio do mesmo nome.»
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Esboço n.º 2 − Escala 1/882.000 |
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Por este traslado se depreende que o Rio Antuã, para ir de Coimbra a
Cucujães, teria de atravessar montes, vales e rios, e, entre estes, o
seu próprio afluente.
Mas, a par deste paradoxo, há outra
afirmação do mesmo Dicionário que
nos mostra bem a grande confusão, que gira à roda destes rios.
Santiago de Riba Ul − «Povoação que fica próxima da
ribeira de Ul. A povoação não fica próxima nem distante da ribeira:
é pura e simplesmente atravessada por ela − ribeira.
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85 /
Ora, como é sabido, o rio que banha Cucujães é precisamente o mesmo que atravessa Santiago de Riba-Ul (razão deste
nome), Madail e vai juntar-se em UI ao que corre ao nascente de Oliveira
de Azeméis. Não se compreende, portanto, que umas vezes os autores do Portugal Dicionário lhe
chamem rio Antuã e outras vezes ribeira de UI, sem citar o tremendo erro
de o fazer passar de Coimbra para Cucujães, e sem a menor referência do
seu curso, não obstante indicarem uma distância − 50 quilómetros.
Além disso, o rio que atravessa Cucujães e Santiago de Riba-UI é o mesmo que nasce em Fajões, banha Romariz,
Milheirós de Poiares, S. João da Madeira, S. Roque e entra
em Cucujães. Logo, não é de admitir que um destes rios corra no leito de outro ou no mesmo vale, por vezes muito
estreito, sem misturar as suas águas.
Na descrição de Rio Ul, os mesmos autores dizem que é um pequeno rio com origem em Carregosa e passa a
1 km de Oliveira de Azeméis, por baixo da estrada de Arouca, e,
por conseguinte, a E. da mesma vila. Mas, como já vimos na definição de
Santiago de Riba-UI, eles dizem também que esta povoação fica próxima (melhor seria dizer: é banhada) da Ribeira de
UI. E, como a dita. povoação fica a W. de Oliveira de
Azeméis, somos forçados a concluir que se trata
de dois rios com o mesmo nome. A menos que os autores do Portugal Dicionário
queiram representar outro rio com
a categoria de ribeira. Então ficariam sendo 3 rios: o Antuã, o Ul e a Ribeira de UI.
Nada disto! Os rios são dois e são também dois os seus
nomes. Os autores é que estabeleceram uma grande confusão ao definirem o que, afinal, é bem simpIes: Um dos rios é o
Antuã e
o outro é o seu afluente Rio UI. Só resta destrinçar, com exactidão, qual o curso de cada um deles e as
terras que banha. É precisamente isto que pretendemos fazer.
Há ainda outra afirmação dos mesmos autores, que merece ser anotada:
Dizem que o Rio Antuã vai desaguar com o Vouga e o
Águeda no Rio de Ovar. Parece-nos que esta afirmação é
contrária à verdade, porquanto o Rio Águeda é afluente do Vouga e, como tal, só nele pode lançar as suas águas
(V. Esboço n.º 2).
É curioso notar que outros autores praticam o mesmo erro. Ainda
recentemente vimos um trabalho, em preparação, no qual o autor perfilha esta opinião. Julgamos poder afirmar que estas
faltas provêm da consulta de livros e mapas errados.
Vamos ouvir o que nos diz JAYME SÉGUIER no seu
Dicionário Ilustrado:
Oliveira de Azeméis − «Vila e
cabeça de Conc. (Aveiro) Portugal, na margem direita do rio Sul.
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Rio Sul − «Rio de Portugal, afluente do Vouga, 14 Km.»
(V. esboço n.º 2).
Ul − «Rib. de Portugal (Aveiro) afl. do rio Antua».
Santiago de Riba-Ul − «Povoação do Conc. de Oliveira
de Azeméis, na m. do rio Ul.»
Este Dicionário não regista o nome Antuã
nem outros
similares. E isto é de estranhar, porquanto se refere ao Rio
Antuã, na descrição de Rio UI, sem contudo indicar o seu curso. Não se compreende bem a razão por que cita o nome
do afluente de preferência ao do rio principal.
Até aqui os vários autores citaram dois rios e dois nomes,
embora por vezes trocassem a ordem dos nomes. O Dicionário ilustrado,
porém, entendeu que eram poucos e resolveu apresentar-nos outro rio − o
Sul. É pena que o seu autor não tivesse indicado o curso deste rio para
ficarmos sabendo se também o faz passar por cima doutro rio já citado,
como
nos casos dos rios Antuã e UI, que atravessam simultaneamente Cucujães e
Santiago de Riba-Ul, no dizer do Portugal Dicionário. Ora, como é
sabido, o rio que atravessa estas duas povoações é apenas um, seja qual
for o nome que lhe queiram atribuir.
Há outro facto, citado no Dicionário ilustrado, que
chama a nossa
atenção:
O autor diz que Oliveira de
Azeméis fica situada na margem direita do rio Sul, e na descrição deste
rio, diz, laconicamente, que é afluente
do Vouga, com 14 Km de curso, sem, contudo, indicar algumas terras que
ele banha. Assim ficamos na dúvida sobre se o autor quererá referir-se
ao rio que banha Oliveira de Azeméis, ou ao que banha S. Pedro do Sul e
tem a sua confluência próximo desta vila. Cremos, no entanto,
tratar-se desta última hipótese, pois o rio em cuja margem direita está
situada Oliveira de Azeméis, não
vai desaguar ao Rio Vouga. O Rio Antuã, quer ele tenha a sua origem em
Escariz e seja considerado rio principal, quer em Fajões, tem a foz na
Ria de Aveiro, e não no Rio Vouga, como pretendem alguns autores,
nomeadamente o professor A. MATOSO. (Ver esboço n.º 1).
Oiçamos ainda o que nos diz a
Enciclopédia Portuguesa Ilustrada:
Antuã − «Ribeiro do distrito de Aveiro, Portugal. Nasce
próximo de Oliveira de Azeméis, passa perto de Estarreja e
vai desaguar na ria de Aveiro com um percurso de 50 Km. Também lhe
chamam Antoã e Antuã.»
Ul − «Ribeiro do distrito de Aveiro. Nasce na freguesia de Carregosa,
corre para SO, passa a 1 Km. de Oliveira de Azeméis
por baixo da estrada de Arouca, um pouco mais abaixo sob outra ponte da
estrada de Coimbra ao Porto, e, finalmente, na freguesia de Ul entra no
rio Antuã, com 7 Km. e curso.»
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Repare-se na semelhança desta descrição com a do
Portugal Dicionário. É evidente que, estando uma delas errada,
a outra virá eivada dos mesmos defeitos.
Como acabámos de observar, este autor não confirma a
opinião do Portugal Dicionário quanto à origem do Rio
Antuã, pois, enquanto este diz que nasce em Coimbra, aquele
dá a sua origem próximo de Oliveira de Azeméis. Não se compreende,
portanto, que ambos estejam de acordo quanto
à extensão do seu curso e em desacordo quanto à origem.
Se ele nascesse perto de Oliveira de Azeméis, nunca o seu
curso poderia ser de 50 Km. Quando muito, seria de cerca
de 20 Km. (Ver esboço n.º 1).
Nenhum dos rios em causa nasce perto de Oliveira
de Azeméis, nem nos lugares indicados pelos citados
autores. É curioso notar que, entre tantos autores, não
haja um só que indique com precisão a origem dos dois rios.
Para resumir este trabalho, vamos apresentar algumas
causas de erro, que podem ser classificadas de:
a) Omissão de nomes:
A folha n.º 10 da Carta Geográfica de Portugal, do Instituto Geográfico e Cadastral; e o
Mapa Geográfico, de FOREST,
apresentam o traçado dos dois rios, mas não indicam qualquer
nome que os possa distinguir.
b) Omissão de rios e troca de nomes:
A Geografia Primária de VASCONCELOS E SÁ regista o rio
que corre a W. de Oliveira de Azeméis, passa por UI e vai
desaguar na Ria de A veiro, ao qual dá o nome de Rio UI,
mas omite o outro rio, que neste caso seria o Antuã, como tributário
daquele;
O Mapa Geográfico de OLIVEIRA CABRAL traça o mesmo
rio, mas denomina-o de Rio Antuã e omite o outro, que
neste caso seria o UI, como seu tributário.
c) Troca de lugares:
A carta de Portugal dos Trabalhos Geodésicos e Topográficos chama Rio Antuã ao que atravessa Cucujães, e. portanto, corre
a W. de Oliveira de Azeméis, recebe em UI as
águas do que banha aquela vila por E., que neste caso será o
Rio UI, e vai desaguar na Ria de Aveiro.
d) Erro de foz:
A Geografia de A. MATOSO diz que o Rio
UI é afluente
do Vouga, quando na verdade, ele é do Rio Antuã.
e) Erro de origem:
O Portugal Dicionário dá a origem do Rio Antuã em
Coimbra, não obstante estar historicamente provado que a
nascente deste rio é em Escariz, e logicamente comprovada
a impossibilidade do seu curso, muito embora o citado dicionário o não indique;
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A Enciclopédia Portuguesa
Ilustrada diz que a origem do Rio Antuã é nas
proximidades de Oliveira de Azeméis,
a despeito de não haver perto desta vila nascentes de rios.
O Dicionário Ilustrado não regista o Rio Antuã, mas
cita-o quando se refere ao Ribeiro de UI, como seu afluente.
Em conclusão:
Nenhum dos autores citados regista a verdadeira origem
do Rio Antuã e do seu afluente Rio UI, nem os seus cursos. As suas
opiniões são tão diversas que, entre tantas, não há
uma que condiga com a verdade.
Reportemo-nos agora a uma Fonte Histórica(3):
O Rio Antuã tem a sua origem em dois arroios que se
juntam em Carregosa de Baixo. Ambos nascem na Freguesia de Escariz,
Concelho de Arouca. Um deles tem a origem em Alagoas, banha Seixeira,
Fajões e entra no lugar de Carregosa de Baixo; o outro nasce nas
proximidades da Venda da Serra e junta-se ao primeiro naquele lugar.
Corre depois por terras de Carregosa, Pindelo, S. Roque, Oliveira de
Azeméis, UI, Estarreja, Salreu e tem a foz na Ria de Aveiro, a cerca de
6 Km de Estarreja. Recebe na margem direita, em UI, as águas do rio
deste nome.
A importância do Rio Antuã, debaixo do ponto de vista histórico, data
dos princípios do século XII, no tempo dos Pontífices Pascoal II e
Calisto lI, que estabeleceram definitivamente os limites das Dioceses do
Porto e Coimbra. Serviu este rio de linha de demarcação territorial e
eclesiástica das duas dioceses.
Pelos breves destes Pontífices, as freguesias situadas à direita do Rio
Antuã, isto é, na margem direita, faziam parte da Diocese do Porto. E
eram: Fajões, Cesar, Macieira das Terças, Nogueira do Cravo, Pindelo,
Oliveira de Azeméis, UI, Loureiro, Beduído, Beiras e Murtosa.
As que ficavam na margem esquerda do mesmo rio pertenciam à Diocese de Coimbra.
Portanto, historicamente, o Rio Antuã não tem o seu curso por terras de
Cucujães e Santiago de Riba-UI, como opinam alguns dos autores citados.
Segundo a mesma Fonte Histórica, o Rio
UI, afluente do Rio Antuã, nasce
na Freguesia de Fajões, no lugar de S. Mamede. Banha Romariz, Milheirós
de Poiares, S. João da Madeira, S. Roque, Cucujães, Santiago de Riba-Ul,
Madail e Ul, onde junta as suas águas às do Rio Antuã.
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O Rio UI já era conhecido com esta denominação no
tempo de D. Afonso Henriques, quando da sua concessão
da Carta de Couto ao Mosteiro de Cucujães em 1177
(4).
Tem este rio três afluentes:
o Ribeiro de Pedra-Má ou
do Pintor e o de Cavaleiros, na margem esquerda; o Ribeiro
da Arrifana ou da Lagoa, na margem direita.
Deste resumo histórico se conclui que o Rio Antuã é o
que tem o curso por E. de Oliveira de Azeméis, e o Rio UI
o que atravessa Cucujães e Santiago de Riba-UI, e, portanto,
por W. daquela vila. O curso do primeiro anda à roda de 30 quilómetros,
e o segundo em cerca de 18. (Ver esboço n.º 1).
Vamos agora tentar demonstrar que, prescindindo da Fonte
Histórica, podemos chegar à mesma conclusão, dentro dos
domínios da Lógica.
Com efeito, se seguirmos os cursos dos dois referidos
rios, notaremos que, entre as terras banhadas por eles, há algumas cujos nomes são análogos ou relacionados com os
nomes dos rios.
Assim, Antuan ou Antuã é o nome antigo da actual vila
de Estarreja, que fica situada na margem direita dum rio ao
qual teria legado, através dos tempos, o seu nome − Antuã.
Suponhamos, agora, o contrário, isto é, que foi o rio que
deu o seu nome à vila. Então, chegamos à conclusão de que o rio tem, realmente, o nome de Antuã, quer o recebesse da
vila, quer lho desse.
Mas, continuemos a nossa viagem em sentido contrário
à corrente do rio, ou seja de jusante para montante. Chegados à confluência de
UI, voltemos à direita, isto é, pelo
rio que banha Oliveira de Azeméis por E. e sigamos até um pouco a
montante da estrada de Coimbra ao Porto. Paremos
para analisar os nomes destes lugares. Entre eles depara-se-nos
um que chama a nossa atenção.
Nas proximidades da ponte de pedra de Silvares, há umas
terras de lavoura, na margem direita do Rio Antuã, conhecidas pelo nome de «As Antuãs».
Da confrontação destas terras com o rio, se conclui que o seu nome tem alguma analogia com o nome do rio que
vimos tratando − o Rio Antuã. Portanto, podemos admitir,
sem receio de errar, que o nome de «As Antuãs» teve a sua origem no nome do Rio Antuã(5). Se o nome deste rio
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90 /
fosse UI, é claro que não havia justificação aceitável do nome «As Antuãs» nas suas margens.
Temos já, por conseguinte, duas provas irrefutáveis, que,
justificam, sem sombra de dúvida:
1.º − Que o rio principal é o Rio Antuã, visto que há sinais,
inapagáveis, que provam este facto em todo o seu curso, ou pelo menos na
sua maior parte;
2.º − Que ele passa por E. de Oliveira de Azeméis e, depois de receber
em UI as águas do outro rio, vai desaguar na Ria de Aveiro, a certa de 6
quilómetros a SW. de Estarreja (antiga Antuã).
Posto isto, façamos agora, uma viagem pelo rio que, na confluência de
UI, vem da esquerda. Antes, porém, paremos um pouco para analisar a
relação que possa haver entre o nome deste rio e o da povoação de UI,
situada entre o mesmo rio e o que corre ao nascente da referida
povoação. (V. esboço n.º 1).
Julgamos poder afirmar que uma das causas que se presta a equívocos com
a situação e nomes dos dois rios é precisamente o facto da povoação
estar situada entre eles, no ponto da sua junção. Com efeito, tanto se
pode atribuir o nome da povoação ao rio que corre ao nascente, como ao
que corre ao poente. Ambos atravessam a povoação de UI até ao lugar da
sua confluência. Acresce ainda a circunstância de, como já referimos, os
seus cursos e caudais serem tão aproximados que não é fácil dizer, com
precisão, qual deles deve ser considerado o principal, se quisermos
julgar os factos por um simples exame local.
Na verdade, parece ter sido do nome da povoação de
UI que adveio o nome
dum destes dois rios. Só resta saber, de forma inequívoca, qual deles
tomou esse nome. Pelo exposto anteriormente, já sabemos que não pode ser
atribuído ao que corre a E. da povoação. Logo, terá forçosamente de ser
ao que corre a W. dela, ou seja o que atravessa Cucujães e Santiago de Riba-UI.
Suponhamos mesmo que não há relação alguma entre o nome da povoação e o
do rio. Não importa. Vamos subindo este rio até encontrar a prova
evidente de que as águas que vamos sulcando são, de facto, as do Rio UI.
Passámos já por baixo dos salgueiros que cobrem as suas margens na
passagem por Madail, e continuamos subindo a passar por baixo da
altíssima ponte de Vila-Cova, já em terras de Santiago de Riba-UI.
Paremos um pouco a contemplar a beleza das suas margens e a meditar na
origem deste topónimo.
Com a máxima franqueza, confessamos nada saber que nos permita afirmar
que o nome do rio provém do último elemento do nome da povoação. É até
muito possível que
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91 /
seja o contrário, isto é, que tivesse sido o nome do rio a
completar aquele topónimo.
Disto poderá inferir-se, à primeira vista, que entrámos
num beco sem saída. Não nos deixemos, porém, vencer
pelo desânimo e prossigamos no nosso exame. Estamos certos de que o tal beco sem saída transformar-se-á numa
avenida muito espaçosa.
Assim, se analisarmos o nome da povoação de Santiago
de Riba-UI, observaremos que ele é composto de três elementos:
Santiago − nome do orago da freguesia;
Riba − margem elevada do rio;
Ul − nome do rio que atravessa a povoação.
Ocorre-nos agora esta pergunta: Como aparece neste
lugar o nome UI? Evidentemente que não foi por acaso que ele apareceu.
Tampouco pode ser atribuído ao nome
da povoação que lhe fica mais a S., com a interposição de outra
freguesia − Madail-, visto que da significação de Riba
se conclui que só ao nome do rio pode ser atribuído o último
elemento daquele topónimo. Logo, o rio terá, fatalmente,
de ser o de nome Ul e foi dele que a povoação completou o seu nome com
os dois últimos elementos − Riba-UI.
Vamos supor, por momentos,
que este rio tem o nome
de Antuã, como afirmam alguns dos autores atrás citados.
Como ficará então composto o nome da freguesia de Santiago de Riba-Ul?
Simplesmente assim: Santiago de Riba-Antuã.
Seria um paradoxo chamar Santiago de Riba-UI à povoação situada na
margem de um rio com o nome Antuã. Mas,
então, por que motivo o nome da povoação não deriva de Antuã? Certamente
pelo facto do nome do rio ser realmente UI. Não há, por conseguinte, justificação histórica ou lógica para
dar o nome Antuã ao Rio UI.
Pelo exposto, julgamos ter apresentado provas convincentes de que o
Rio Ul é o que vem das bandas de Romariz,
em lugar atrás indicado, atravessa, entre outras terras já
citadas, Cucujães, Santiago de Riba-Ul e tem a sua confluência no Rio Antuã, em
UI, próximo dum lugar denominado
Minhoteira.
Por seu lado, o Rio Antuã é o que nasce em Escariz,
banha, entre outras terras já citadas, Oliveira de Azeméis,
por E., passa às terras denominadas «As Antuãs», recebe em UI, na margem direita, as águas do Rio
UI e vai desaguar na Ria de Aveiro, como já foi dito.
Depois das provas apresentadas com elementos que reputamos
indestrutíveis, tanto no campo da História, como
nos domínios da Lógica, e das investigações feitas pelo Ilustre Escritor Abade JOÃO DOMINGUES AREDE, julgamos não ter
justificação aceitável a existência de tabuletas com a indicação
/ 92 / de Rio, Antuã em lugares de destaque, nomeadamente na ponte da
Margonça, de Cucujães, sobre o Rio UI.
É certo que a autoridade competente não pode estar a alterar a toponímia
ao capricho de qualquer «Zé-Ninguém» (quanto a nós, que não quanto ao
que diz respeito ao Ilustre
Investigador Reverendo AREDE); porém o que pode e deve é ordenar a
rectificação do que se provar estar errado, como no caso presente, em
face das provas históricas apresentadas pelo citado Escritor, na sua
obra intitulada «Identificação do Rio Antuã e do seu afluente Rio Ul).
Estamos certos de que, a bem da Verdade, as provas
.apresentadas justificam largamente a emenda deste erro.
Oxalá que a autoridade competente assim o entenda e
taça executar.
Lisboa, Junho de 1948.
F. FERREIRA DA SILVA
2.º ten. A. S. N. |