OS
judeus habitaram, desde remotíssimos tempos, a Península Hispânica ou
Ibérica, que compreendia, entre outras províncias, a da Lusitânia, formada pelo
território do Rio Douro ao Guadiana, tendo por
limites ao ocidente e sul o Oceano Atlântico e abrangia
parte da Estremadura espanhola. Tinha por capital Emerita
Augusta (hoje Mérida).
Não se sabe ao certo quando este povo (que outrora fora eleito de Deus e
hoje anda errante, sem pátria) entrou na Península Ibérica, mas
presume-se que tivesse sido em data posterior à da ocupação do Reino de
Judá pelas tropas romanas e, portanto, no princípio da Era Cristã.
A Província da Lusitânia, quer na dominação romana,
quer na bárbara, quer, ainda, na mouresca, abrangeu sempre
a região da Beira e, portanto, o território caramulano, cujas povoações
de categoria social eram, naqueles tempos, Viseu
e Covilhã, onde os judeus se demoraram e tiveram sinagogas(1) com os seus Arabi-menores, que administravam justiça aos da sua
religião no respectivo termo, sob a superintendência do Arabi-mor.
Os judeus, após as supraditas dominações, continuaram
a viver na Província da Lusitânia e, por consequência, em
Portugal, quando elevado a estado independente da coroa
de Leão. Depois desta mudança política, também se demoraram, tanto na
região da Beira, como no território caramulano.
Testemunham o facto:
a) A sinagoga em Viseu, cujo termo e jurisdição se
estendiam ao respectivo território;
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b) A etimologia da povoação denominada Jueus. O nome
de Jueus equivale a judeus(2), tendo os seus primeiros habitantes
sido da raça hebraica.
A fundação desse lugar deve-se ao senhor do couto do Guardão
− Fernão Joanes «tenente» da terra de Besteiros na primeira metade do século XIII(3).
Esse «tenente» invadiu o territorio reguengo que cercava o seu couto, e
aí fundou uma nova póvoa, de que se formou
o actual lugar.
Mais:
O latim Judaeos (plural) deu Jueus pela queda normal do
d intervocálico, como se vê em
crudelis, judicium,
sedere, que deram, em português, cruel, juiz, ser, etc.
E o P.e ANTÓNIO CARVALHO DA COSTA,
na sua Corografia Portuguesa,
chama a Jueus (lugar) dos Juízes(4).
c) Os indivíduos caramulanos, de apelido Arede, possivelmente do hebraico Ared(5) - reminiscência da ocupação
judaica.
Para reforçar o argumento do apelido Arede, mostrando
a sua extensão, acrescentamos aqui a relação dos académicos
desse apelido que cursaram a Universidade de Coimbra,
desde 1728 até esta data; têm sido todos caramulanos; consta dos livros
arquivados na mesma Universidade.
José de Arede Nunes. Nasceu em Macieira de Alcoba,
no lugar da Urgueira. Era filho de Domingos Nunes.
Foi doutor em Cânones e Lente da Universidade de Coimbra, cujo grau
recebeu a 23 de Maio de 1728. (Lº 61, f. 54, V.).
Manuel Domingues Arede. Nasceu em Macieira de Alcoba (povoação). Era
filho de Bernardo Domingues Arede. Foi Bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra. Fez exame de Bacharel em
1 de Outubro de 1764. (L.º
96, f. 36).
José de Arede Nunes. Nasceu em Macieira de Alcoba, no lugar do Carvalho.
Era filho de Francisco José. Foi Doutor em Cânones e Lente da
Universidade de Coimbra, cujo grau recebeu a 27 de Maio de 1767. (L.º 98,
f. 51 e L.º 101, f. 37, v.).
José de Arede Nunes. Nasceu em Macieira de Alcoba,
no lugar do Carvalho. Era filho de Manuel José de
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Arede. Tirou carta de Bacharel em Leis a 21 de Junho de 1788.
António Diogo Lopes de Arede. De Lafões
− Oliveira
de Frades. Matriculado em Cânones em 1765-69.
José de Arede. Filho de Manuel de Arede, das Talhadas.
Matriculado em Cânones em 1721-32.
Manuel de Arede. Filho de Manuel de Arede, de
Lourizela−Préstimo. Matriculado em Cânones
em 1729-35.
Manuel de Arede. Filho de Francisco de Arede, de Seixo−Talhadas. Matriculado em Cânones em 1754-61.
Manuel Fernandes de Arede. Filho de Manuel Fernandes de Arede, de Castanheira do Vouga. Matriculado em Cânones em 1755-59.
Manuel Rodrigues de Arede. Filho de Manuel Rodrigues
Gonçalves, de Brunhido−Valongo do Vouga. Matriculado em Cânones em 1732-41.
Pedro Rodrigues de Arede. Filho de Domingos Rodrigues, de Múceres
− Castelões. Matriculado em Direito Canónico e Civil em 1745-43.
Mais outros indivíduos, do mesmo apelido, em terras
confinantes e próximas do supramencionado território:
Padre António de Arede − prior
de Macieira de Alcoba;
» Manuel de Arede Vale
− prior de Macieira de Alcoba em 1721;
» Manuel de Arede dos Santos
− prior de Castanheira do Vouga, em 1824;
» Manuel Simões de Arede
− prior de Castanheira
do Vouga em 1852;
» José Fernandes de Arede
− prior do Préstimo em 1824;
» Joaquim Pereira de Arede e Silva
− prior de S. João do Monte em 1893;
» Adelino de Arede
− prior de S. João do Monte
em 1947;
» João Domingues Arede
− de Macieira de Alcoba,
e abade do Couto de Cucujães − 1900-48.
Isto posto:
A sinagoga em Viseu, e as etimologias supraditas, com
a cognominação alusiva a Jueus, levaram-me a admitir a
demora dos judeus no território caramulano em épocas recuadas.
(A sinagoga era um templo em que os judeus oravam e faziam seus
sacrifícios a Deus à semelhança do Templo de
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Jerusalém que foi a primeira casa de oração que tiveram os judeus).
NOTA. − As terras nativas dos Aredes assentam na elevada e prolongada zona caramulana, da vertente oeste. São elas, na sua maior
parte
do concelho de Águeda.
Estão nesta situação:
Macieira de Alcoba, que limita com terras do Concelho de Tondela,
de Oliveira de Frades e de Vouzela e, próximas desta, Préstimo,
Talhadas,
Castanheira do Vouga e Valongo do Vouga, também do Concelho de Águeda.
Mais:
A ramificação do parentesco da família Arede estende-se, além de
outras terras, a Águeda, Pinheiro da Bemposta e Viseu.
E é ainda desta mesma família que descendem:
Em Águeda − Dr. Arede Fernandes (médico), de Macida
− Macinhata
do Vouga, e D. Maria da Glória da Silva Arede.
Em Pinheiro da Bemposta − D. Luciana Arede Marques.
Em Viseu − D. Maria Luísa de Almeida Arede e Matos, filha de José
Luís de Arede, e neta paterna de Joaquim Luís de Arede, de Ribeiradio.
P.e JOÃO DOMINGUES AREDE |