EXPLICAÇÃO PRELIMINAR
Durante anos entretive-me a coligir estas notas, vagarosamente, sem
cuidados na forma nem preocupações de finalidade, só pelo prazer de
revolver as cinzas do passado da minha terra.
São simples rebusco de história e apontamentos biográficos incompletos
que dormiram longo tempo no canto da gaveta; coisas insignificantes para
outros, mas interessantes para nós,
filhos de Mogofores.
Vêm agora a lume com o fim de evitar o declínio de velhas tradições
locais que se vão apagando na memória do povo, e dar aos meus
conterrâneos menos lidos o ensejo de conhecerem a nossa terra e os
homens que a honraram legando-nos, em notáveis feitos e virtudes, um
rico património espiritual.
Estes homens não podem ser esquecidos. Devemos respeitar a sua memória
como relíquia veneranda dum passado em que refulgem nomes que são o
brasão da nossa terra.
Desta aldeia de há 50 anos, que foi o fulcro da vida elegante bairradina, conservo ainda viva lembrança.
Vi-a enaltecida e prestigiada pelas recepções das salas do Dr. Acácio de
Seabra, que se tornaram famosas, e por mil divertimentos ruidosos
promovidos pelos rapazes da terra. Numerosa e brilhante concorrência de
forasteiros produzia um bulício contínuo e festivo que eu olhava
encantado, apesar de viver à margem dele.
Foi sob o influxo destas gratas recordações que me dei ao
presente trabalho.
É superficial e deficiente como as minhas luzes, mas representa o tributo sincero dum patrício humilde.
Curia, 1944.
LUÍS ALVES DA CUNHA
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