NO
n.º 19 desta revista, relativo ao ano de 1939, publicou o sr. ÁLVARO
FERNANDES um muito interessante artigo O Cisne do Vouga Francisco
Joaquim Bingre Poeta Arcádico, de que se fez separata.
Como possuímos alguns
elementos que ali não vemos mencionados, aqui os vamos reunir.
Comecemos pelas notas
bibliográficas.
O sr. ÁLVARO FERNANDES, no
seu artigo, refere-se às tentativas feitas, depois da morte de BINGRE,
para a publicação dos seus inéditos.
Num capítulo intitulado
Francisco Joaquim Bingre que faz parte do seu livro Violetas,
Porto, 1878, JOAQUIM DE MELO FREITAS alude a outra projectada tentativa
para o mesmo fim.
Eis as suas palavras: «Com o
mesmo titulo (Estro de Bingre) chegou em 1869 a correr um pequeno
prospecto o qual annunciava a publicação de que era editor Anselmo de
Moraes, filho de Aveiro e proprietario da Imprensa Portugueza.
Seriam quatro os volumes que no caso de haver 200 assignaturas deviam de
sahir á luz. O preço de cada volume era de 500 réis; iriam apparecendo
mensalmente».
Em seguida transcreve uma
parte deste prospecto, cuja autoria atribui a TEÓFILO BRAGA: «A vida de
Bingre desde o seu nascimento em 1763 até 1856 decorreu acompanhando
todos os grandes successos da historia moderna, que transformaram a face
do mundo. Nas obras de Bingre todas em verso acham-se gloriosas memorias
dos factos mais brilhantes de que elle teve noticia. Restituir ás obras
d'este poeta ao Parnaso Portuguez é um serviço d'alta monta, não só para
os amadores da boa poesia, senão para a Historia litteraria do seculo
XVIII».
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Em 1905 o conhecido bibliófilo, bibliógrafo e benemérito editor Dr.
Rodrigo Veloso, fez imprimir em Barcelos na tipografia da sua revista
Aurora do Cávado, numa tiragem de 100 exemplares, Doze sonetos
inéditos, de FRANCISCO JOAQUIM BINGRE, o Cisne do Vouga.
À lista dos trabalhos
impressos de BINGRE dada pelo sr. ÁLVARO FERNANDES, podemos acrescentar
os seguintes:
A Sua Alteza Real O
Príncipe Regente Nosso Senhor. Saiu a página 37 do folheto
Tributo de gratidão, que consagra a Sua Alteza Real, o Príncipe Regente,
Nosso Senhor, por mãos do lntendente Geral da Polícia, Lisboa, 1801.
Vimos um exemplar deste folheto na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Ode á paz por Francisco
Joaquim Bingre; impresso por ordem superior, Lisboa, 1801. Possuímos
um exemplar deste folheto.
Soneto, assinado por
A. R. Q., no Telégrapho Portuguez, de 16-3-1809, segundo MARTINHO
DA FONSECA no seu livro Subsídios para um diccionário de pseudonimos,
Lisboa, 1896.
Proclamação do Douro aos
Porturgueses, em honra do nome portuguez, e offerecida ao illustre
libertador Cabreira por Francisco Joaquim Bingre, Lisboa, 1820. Vem
anunciada no Catálogo n.º 4, da Livraria Eclética.
Possivelmente será a mesma
composição mencionada sob o título Proclamação do Douro aos
Portuenses, 1820, mas que, aliás, não encontramos anunciada no
Portuguez Constitucional de 1-10-1820, que consultámos.
Soneto, assinado F.
B., a página 14 do folheto Poesias avulsas para se espalharem
gratuitamente no theatro nacional da rua dos Condes, em o dia da
instalação das Cortes, no anno de 1821, Lisboa, 1821. Possuímos um
exemplar deste folheto.
Ode á briosa revolução do
Minho, para a restauração das lIberdades patrias, e throno da augusta
rainha, a senhora D. Maria lI, e queda do Ministr.º Cabral, por
Francisco Joaquim Bingre. Na sua decrepitude de 83 annos. Aveiro,
1846. Pertence à nossa colecção.
Soneto de D. Catharina
Michaela de Souza Cezar e Lencastre, Dama de S. João de Jerusalem, e
primeira Viscondessa de Balsemão. por ella feito, e recitado em seus
ultimos momentos. Glosado por Francisco Joaquim Bingre em 24 de Dezembro
de 1845. Aos oitenta e tres annos de sua idade, Aveiro, 1847.
Possuímos este folheto.
Soneto inedito de
Francisco Joaquim Bingre sobre a catastrophe de D. Ignez de Castro.
Posthumo. (Da (Grinalda», Tomo IV, pág. 124), Braga, 10-6-1880.
Folha avulsa
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impressa só na frente. Existe um exemplar na Biblioteca Nacional de
Lisboa.
Agora passemos à parte
iconográfica.
O sr. ÁLVARO FERNANDES
menciona os seguintes retratos do poeta BINGRE: o que, em gravura
em madeira de João Pedroso Gomes da Silva, segundo desenho de Nogueira
da Silva, foi feito sobre um retrato, que pertenceu ao Dr. Francisco
António de Resende, que saiu no Arquivo Pittoresco, voI. IV, de
1861; o que pertenceu a Calixto Luís de Abreu; um desenhado por
Victor-François Chartier Rousseau, director da oficina de pintura na
fábrica de porcelanas da Vista-Alegre, que o poeta agradeceu num soneto
inédito e, finalmente, um desenho a lápis do P.e Francisco Cardoso
Bingre, neto do poeta, na posse do sr. Raul Bingre de Sá.
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FRANCISCO JOAQUIM BINGRE
Reprodução do
retrato litografado que acompanha o folheto
«O benefício do poeta Bingre, Porto, 1852». |
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MELO FREITAS, no seu citado
capítulo, dá estas informações a respeito dos retratos do poeta: «O ex.mo
snr. Francisco António de Resende (há pouco falecido) conservava em seu
poder um retrato do Cantor dó Vouga tirado por Victor Rosseau (sic),
que foi director da secção de pintura na
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Fabrica da Vista Alegre. O fallecido admirador do poeta, o snr. Calixto
Luiz d'Abreu, guardava como reliquia um outro retrato tirado pelo
distincto curioso de Cantanhede, o ill.mo snr. José Julio da
Trindade Vidal; e ainda no Archivo Pittoresco de 1861 vem uma
copia, que dizem muito parecida».
Se as informações de MELO
FRElTAS são exactas fica identificado o retrato tirado por Rousseau e,
também fica determinado o autor do retrato que pertenceu a Calixto Luís
de Abreu.
Além destes retratos do
poeta BINGRE conhecemos ainda um outro litografado que costuma
acompanhar o raro folheto O beneficio do poeta Bingre ou collecção
das poesias recitadas no Theatro de S. João em noite de 14 de Dezembro
de 1852, Porto, 1852, mencionado pelo sr. ÁLVARO FERNANDES.
É em busto, três quartos à
direita, olhando para a frente, sem bigode, nem barba, cabelo branco
apartado ao lado, casacão com grandes abas; dimensões: altura 77 mm,
largura 71 mm. Por baixo e em fac-símile: Fran.co Joaq.m
Bingre.
Tanto no exemplar deste
folheto, que possuímos, como no da Biblioteca Nacional de Lisboa, que
compulsámos, aparece este retrato. Aqui terminam os nossos apontamentos
que poderão, talvez, interessar aos amadores da obra poética de
Francélio Vouguense e a quem, um dia, venha a publicá-la na totalidade.
HENRIQUE DE CAMPOS FERREIRA
LIMA |