H. de Campos F. Lima, Francisco Joaquim Bingre. Bibliografia e iconografia, Vol. X, pp. 29-32.

FRANCISCO JOAQUIM BINGRE

ALGUMAS NOTAS BIBLIOGRÁFICAS E ICONOGRÁFICAS

NO n.º 19 desta revista, relativo ao ano de 1939, publicou o sr. ÁLVARO FERNANDES um muito interessante artigo O Cisne do Vouga Francisco Joaquim Bingre Poeta Arcádico, de que se fez separata.

Como possuímos alguns elementos que ali não vemos mencionados, aqui os vamos reunir.

Comecemos pelas notas bibliográficas.

O sr. ÁLVARO FERNANDES, no seu artigo, refere-se às tentativas feitas, depois da morte de BINGRE, para a publicação dos seus inéditos.

Num capítulo intitulado Francisco Joaquim Bingre que faz parte do seu livro Violetas, Porto, 1878, JOAQUIM DE MELO FREITAS alude a outra projectada tentativa para o mesmo fim.

Eis as suas palavras: «Com o mesmo titulo (Estro de Bingre) chegou em 1869 a correr um pequeno prospecto o qual annunciava a publicação de que era editor Anselmo de Moraes, filho de Aveiro e proprietario da Imprensa Portugueza. Seriam quatro os volumes que no caso de haver 200 assignaturas deviam de sahir á luz. O preço de cada volume era de 500 réis; iriam apparecendo mensalmente».

Em seguida transcreve uma parte deste prospecto, cuja autoria atribui a TEÓFILO BRAGA: «A vida de Bingre desde o seu nascimento em 1763 até 1856 decorreu acompanhando todos os grandes successos da historia moderna, que transformaram a face do mundo. Nas obras de Bingre todas em verso acham-se gloriosas memorias dos factos mais brilhantes de que elle teve noticia. Restituir ás obras d'este poeta ao Parnaso Portuguez é um serviço d'alta monta, não só para os amadores da boa poesia, senão para a Historia litteraria do seculo XVIII». / 30 /


Em 1905 o conhecido bibliófilo, bibliógrafo e benemérito editor Dr. Rodrigo Veloso, fez imprimir em Barcelos na tipografia da sua revista Aurora do Cávado, numa tiragem de 100 exemplares, Doze sonetos inéditos, de FRANCISCO JOAQUIM BINGRE, o Cisne do Vouga.

À lista dos trabalhos impressos de BINGRE dada pelo sr. ÁLVARO FERNANDES, podemos acrescentar os seguintes:

A Sua Alteza Real O Príncipe Regente Nosso Senhor.  Saiu a página 37 do folheto Tributo de gratidão, que consagra a Sua Alteza Real, o Príncipe Regente, Nosso Senhor, por mãos do lntendente Geral da Polícia, Lisboa, 1801. Vimos um exemplar deste folheto na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Ode á paz por Francisco Joaquim Bingre; impresso por ordem superior, Lisboa, 1801. Possuímos um exemplar deste folheto.

Soneto, assinado por A. R. Q., no Telégrapho Portuguez, de 16-3-1809, segundo MARTINHO DA FONSECA no seu livro Subsídios para um diccionário de pseudonimos, Lisboa, 1896.

Proclamação do Douro aos Porturgueses, em honra do nome portuguez, e offerecida ao illustre libertador Cabreira por Francisco Joaquim Bingre, Lisboa, 1820. Vem anunciada no Catálogo n.º 4, da Livraria Eclética.

Possivelmente será a mesma composição mencionada sob o título Proclamação do Douro aos Portuenses, 1820, mas que, aliás, não encontramos anunciada no Portuguez Constitucional de 1-10-1820, que consultámos.

Soneto, assinado F. B., a página 14 do folheto Poesias avulsas para se espalharem gratuitamente no theatro nacional da rua dos Condes, em o dia da instalação das Cortes, no anno de 1821, Lisboa, 1821. Possuímos um exemplar deste folheto.

Ode á briosa revolução do Minho, para a restauração das lIberdades patrias, e throno da augusta rainha, a senhora D. Maria lI, e queda do Ministr.º Cabral, por Francisco Joaquim Bingre. Na sua decrepitude de 83 annos. Aveiro, 1846. Pertence à nossa colecção.

Soneto de D. Catharina Michaela de Souza Cezar e Lencastre, Dama de S. João de Jerusalem, e primeira Viscondessa de Balsemão. por ella feito, e recitado em seus ultimos momentos. Glosado por Francisco Joaquim Bingre em 24 de Dezembro de 1845. Aos oitenta e tres annos de sua idade, Aveiro, 1847. Possuímos este folheto.

Soneto inedito de Francisco Joaquim Bingre sobre a catastrophe de D. Ignez de Castro. Posthumo. (Da (Grinalda», Tomo IV, pág. 124), Braga, 10-6-1880. Folha avulsa / 31 / impressa só na frente. Existe um exemplar na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Agora passemos à parte iconográfica.

O sr. ÁLVARO FERNANDES menciona os seguintes retratos  do poeta BINGRE: o que, em gravura em madeira de João Pedroso Gomes da Silva, segundo desenho de Nogueira da Silva, foi feito sobre um retrato, que pertenceu ao Dr. Francisco António de Resende, que saiu no Arquivo Pittoresco, voI. IV, de 1861; o que pertenceu a Calixto Luís de Abreu; um desenhado por Victor-François Chartier Rousseau, director da oficina de pintura na fábrica de porcelanas da Vista-Alegre, que o poeta agradeceu num soneto inédito e, finalmente, um desenho a lápis do P.e Francisco Cardoso Bingre, neto do poeta, na posse do sr. Raul Bingre de Sá.

 

 
 

FRANCISCO JOAQUIM BINGRE
Reprodução do retrato litografado que acompanha o folheto
«O benefício do poeta Bingre, Porto, 1852».

 

MELO FREITAS, no seu citado capítulo, dá estas informações a respeito dos retratos do poeta: «O ex.mo snr. Francisco António de Resende (há pouco falecido) conservava em seu poder um retrato do Cantor dó Vouga tirado por Victor Rosseau (sic), que foi director da secção de pintura na  / 32 / Fabrica da Vista Alegre. O fallecido admirador do poeta, o snr. Calixto Luiz d'Abreu, guardava como reliquia um outro retrato tirado pelo distincto curioso de Cantanhede, o ill.mo snr. José Julio da Trindade Vidal; e ainda no Archivo Pittoresco de 1861 vem uma copia, que dizem muito parecida».

Se as informações de MELO FRElTAS são exactas fica identificado o retrato tirado por Rousseau e, também fica determinado o autor do retrato que pertenceu a Calixto Luís de Abreu.

Além destes retratos do poeta BINGRE conhecemos ainda um outro litografado que costuma acompanhar o raro folheto O beneficio do poeta Bingre ou collecção das poesias recitadas no Theatro de S. João em noite de 14 de Dezembro de 1852, Porto, 1852, mencionado pelo sr. ÁLVARO FERNANDES.

É em busto, três quartos à direita, olhando para a frente, sem bigode, nem barba, cabelo branco apartado ao lado, casacão com grandes abas; dimensões: altura 77 mm, largura 71 mm. Por baixo e em fac-símile: Fran.co Joaq.m Bingre.

Tanto no exemplar deste folheto, que possuímos, como no da Biblioteca Nacional de Lisboa, que compulsámos, aparece este retrato. Aqui terminam os nossos apontamentos que poderão, talvez, interessar aos amadores da obra poética de Francélio Vouguense e a quem, um dia, venha a publicá-la na totalidade.

HENRIQUE DE CAMPOS FERREIRA LIMA

Página anterior

Índice

Página seguinte