BIBLIOGRAFIA, Vol. V, pp. 321-322.

BIBLIOGRAFIA

O ARQVIVO DO DISTRITO DE AVEIRO dará sempre notícia das obras à sua Redacção enviadas quer por autores quer por editores.

De harmonia com a prática seguida pelas publicações suas congéneres, fará também algum comentário crítico aos livros de que receba dois exemplares.


CARTAS, por M.me DE SÉVIGNÉ. Escolha, tradução, prefácio e notas pelo prof. VITORlNO NEMÉSIO. Livraria Sá da Costa, Editora. Lisboa,1939. Volume de XXVIII − 264 páginas.

este volume, da Colecção de Clássicos Sá da Costa, é formado por noventa e seis das famosas cartas de Madame de SÉVIGNÉ. O critério seguido pelo ilustre tradutor e anotador, apreende-se da parte final do prefácio: − «Nesta selecção de cartas não perdemos de vista o critério clássico, de «lugares selectos» tais como em França os decretaram o ensino e o gosto, que quase sempre coincidem com as preferências médias do leitor estrangeiro. Mas há pontos que pouco importam a uma antologia de autor francês organizada para franceses e que para nós são capitais. Assim, tudo quanto possa servir para nos revelar o tempo de Luís XIV e as premissas que nele estão do feitio permanente da França.

Mas acima de tudo preferimos amostras simplesmente humanas, cartas inquietas, engraçadas − o campo, a corte, a morte, a moda, o pecado, tudo isto − mais livre possível de factos e figurantes familiares aos destinatários, mas fastidientos para nós. Assim, reduzimos as notas explicativas ao mínimo, prevenindo desde já que não provêm de doutas lucubrações de arquivo de que sejamos responsável. São as triviais identificações de editores críticos, arqueólogos, biógrafos, para não dizer do Larousse. De resto, a não ser nas duas ou três cartas em que há referência a Portugal e numa ou noutra que Sainte-Beuve deixou de parte, à nossa escolha coincide com a das suas Lettres Choisies dos Clássicos Garnier, através das quais esta leitura vai ser um passeio curto. − A respeito da tradução, pareceu-nos legítimo contornar a dificuldade do «vous», dado a Madame de GRIGNAN e a BUSSY, com: «a minha filha» isto, «o primo» aquilo, tão naturais em português entre pessoas da boa roda. − O francês de Madame de SÉVIGNÉ não é fácil. Além do vocabulário que se arcaízou, há não sei quê de contraído em certos grupos sintácticos, uma urdidura que resiste muito mais ao discurso português do que a de um VOLTAIRE, de um FLAUBERT ou de um GIDE. Daí a necessidade de mãos livres. Mas sempre que tivemos de recorrer a equivalências arredadas do pé da letra o sentido essencial ficou intacto. E aqui está.»

A este importante volume da Colecção segue-se o primeiro dos Poemas Lusitanos, a cargo do distintíssimo professor liceal, Dr. Gonçalves Braga.

J. T.

HEROÍSMO E MARTÍRIO DA POLÓNIA, por LUÍS BARRADAS (Almedina). Edições Flor de 'Lis. Porto, 1939. Folheto de 38 páginas.

Vivas páginas de justa simpatia pela Polónia, através das quais perpassam as desgraças, o martírio e o levantamento desse país, bem como o seu heroísmo perante a recente invasão de alemães e russos e a sua inabalável fé em melhores dias. O último capítulo intitula-se: − «Após dezoito anos de paz ambicionada, carregadas nuvens pairam no céu europeu e a Polónia, mártir e heróica, conta, desta feita, com a força do sentimento universal!». Três gravuras ilustram o volume, e a capa também é ilustrada.

J T.

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A FREGUESIA DA POCARIÇA DO CONCELHO DE CANTANHEDE, por VIRIATO DE SÁ FRAGOSO; Porto, Liv. Simões Lopes, 1939. 270 págs.

Com a publicação destes curiosos apontamentos de história local, que o seu ilustre Autor agrupou em XVIII capítulos e um apêndice de documentos, prestou o Sr. Dr. VIRIATO DE SÁ FRAGOSO relevante serviço à região que lhe serviu de tema, criando-lhe lugar na bibliografia portuguesa, e forneceu salutar exemplo aos estudiosos do seu concelho a quem de há muito incumbe a obrigação de tentarem a monografia do município de Cantanhede.

Zona particularmente interessante sob os aspectos geográfico, geológico, arqueológico, artístico, agrícola e urbanístico, com freguesias que só por si dariam abundante assunto para monografia completa, como Ançã, Cadima, Cantanhede e Tocha, das quais pelos arquivos do Cabido da Sé e de Santa Cruz, de Coimbra, ficaram muitas dezenas de documentos medievais e centenas doutros, o concelho merece a atenção dos historiadores e justifica perfeitamente que a sua Comissão Municipal encare a realização dessa monografia como sendo uma das suas obrigações culturais mais instantes.

Abalançando-se à publicação destes apontamentos sobre a Pocariça, freguesia com diminuto rasto nos arquivos e na História, o Sr. Dr. SÁ FRAGOSO iniciou auspiciosa e abnegadamente o caminho; que o seu distinto exemplo seja meditado e frutifique, são os votos que sinceramente formulamos.

R. M.


GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA

Prossegue com crescente segurança esta publicação a que está reservado magnifico futuro na preparação da cultura intelectual do nosso Pais. Saiu o fascículo n.º 58, atingindo já o vocábulo cápsula e inserindo magníficos artigos científicos e biográficos de completa actualidade, que honram verdadeiramente esta colecção, e constituem utilíssimo material de trabalho.

R. M.


EXTRACTOS DOS PROCESSOS PARA FAMILIARES DO SANTO OFÍCIO − Tomo I. Organização de EDUARDO DE MIRANDA e de ARTUR DE TÁVORA. Famalicão, Grandes Ateliers Gráficos, 1937; 765 páginas.

Completou-se recentemente o 1.º volume dos extractos dos processos para familiares do Santo Oficio, que desde 1937 vinha sendo publicado em fascículos, abrangendo 280 processos, ou seja, desde Acúrcio até Alexandre.

É verdadeiramente inestimável o valor desta obra que, se chegar a completar-se, constituirá a mais abundante e segura fonte de informações para a história da sociedade portuguesa de 1536 a 1820.

O número de processos a sumariar, superior a 12.000, tem arrefecido quantas tentativas se esboçaram para uma publicação deste género; mas é sobretudo a falta de espírito de classe e a egoística tendência para trabalhos individuais, que domina a investigação portuguesa, a verdadeira causa do inaproveitamento metódico e sistemático dessa preciosa colecção.

Dois homens de boa vontade, inteligência, e rasgada iniciativa − D. EDUARDO DE MIRANDA e o Dr. ARTUR MENDES DE ALMEIDA E TÁVORA − sem auxílio oficial e apenas com o amparo do Público, meteram ombros à pesada tarefa, demonstrando com a conclusão deste 1.º volume reais qualidades de organizadores que é de absoluta justiça registar.

Resta que o Público mostre a compreensão necessária para não deixar cair uma obra desta natureza, honra do Pais e da geração que a executa.

O Arquivo do Distrito de Aveiro já no seu 1.º volume explicou sumariamente, a propósito de Ilhavenses familiares do Santo Oficio, como se organizavam estes processos e que fonte de informações ficaram constituindo; registando agora, festivamente, o aparecimento do 1.º volume dos Extractos, recomenda aos seus leitores a sua aquisição, convicto de que lhes presta, com isso, verdadeiro e leal serviço.

R. M.

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