O
BRASÃO que se agora publica,
na moldura destas pobres palavras, foi do bacharel em direito Francisco
Pinto Brandão, ou Barandão, como melhor quadrava às suas
filáucias.
A pedra de armas, hoje apeada, quebrada e à
guarda de longínquos descendentes, esteve ainda até quase há uma dúzia
de anos no cunhal norte-poente da sua linda casa solarenga, na rua da
Praça, em Ovar, agora rua do Dr. José Falcão.
Este bacharel e fidalgo, que devia ter sido pessoa de muita
circunstância e largos cabedais, casou com D. Maria Arcângela Baldaia,
pessoa também de sangue que, por seu lado, não deslustraria a prole que
Deus lhes fizesse a mercê de dar.
Pinto Brandão, que tinha prosápias de boa costela, arrimava-se aos Pintos
− os Pintos Senhores e Morgados da Quinta e Honra de
Paramos, a cavaleiro da Barrinha de Esmoriz, Honra que vinha dos dias
remotos de D. Afonso 3.º, segundo a lição do senhor Padre MANUEL F. DE
SÁ, na sua Monografia de Paramos.
Esta casa dos Pintos foi das mais faladas nas Terras de St.ª Maria da
Feira. Multiplicou-se como o gramão. Aires Pinto, fidalgo da Casa do
Duque de Bragança − D. Fernando − e um dos seus mais ilustres membros, por
seu testamento de 30 de Junho de 1552, instituiu o Morgadio
de Paramos
em seu filho Álvaro Pinto Henriques, que foi Alcaide-Mor de Abrantes
(1).
De geração em geração, com fulgurâncias de civismo e devoções piedosas e
negros de despotismo e prepotências bairristas, veio a extinguir-se o
Morgadio em 20 de Abril de 1887 por
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morte, no solar da mesma Quinta, de Miguel A. Pinto de Menezes,
cacique e galanteador à moda da época, pois legitimou 9 filhos de 5
mulheres, suas teúdas e manteúdas.
D. Maria Arcângela Baldaia, a dar crédito ao genealogista da família
− o
frade bento Manuel da Graça Baldaia − quanto a grandeza de avós corria
também parelhas com seu marido. Filha de Manuel Jorge Baldaia, que se
encontra em 1660 a subscrever uns estatutos da Irmandade da Sr.ª da
Cadeinha, e que casou em Ovar, era neta paterna de António Jorge Baldaia,
este ligado em Cabanões à família principal dali.
Viera este antepassado da Casa de Rolaens, na Vila da Feira, e honrara
bem o seu nome, como oficial embarcadiço que foi, bravo e valente, como
lho atestara D. António Avis de Menezes, Governador das Armas da Praça
de Cascais, uma vez a 26 de Outubro de 1641 e outra a 25 de igual mês de
1642.
E quem eram, donde surdiram estes Baldaias?
No ano de 1775, um descendente assim disse: «− para em
todos os tempos constar aos de seu sangue −»
« − A familia dos Baldaias he a mais antiga da Terra da Feira e a de mais
conhecida nobreza. A sua origem, por muito antiga, se não sabe toda,
só sim que descendem de André Baldaia, que teve uma filha, D. Joanna
Thereza Antonia Baldaia, da Caza do Morgado de Canellas, junto a Villar
do Paraizo, abaixo do Porto huma legoa pouco mais ou menos, neta de
Baltazar da Silva, que era filho de D. Joanna de Miranda Camello da Caza
Villar do Paraizo.
«A principal nobreza era a de Villar do Paraizo, fonte e
origem da familia dos Baldaias −»
Os de Vilar deviam ter sido de alta devoção e largos cabedais. Fundaram
o Mosteiro de Grijó, da Ordem dos Cónegos Regrantes de S. Agostinho e
por isso os seus fidalgos tiveram
por muitos séculos a regalia de serem conduzidos debaixo do pálio,
esperados pelos religiosos sempre que os visitavam.
Mas os desatinos da vida foram desfalcando a fazenda e certo Morgado
para se aliviar do falazar dos credores, vendeu aos frades o privilégio
que os humilhava.
E assim se finou − não se sabe por quantos centos de cruzados
− tão
espaventosa regalia.
Do ramo dos Baldaias de Cabanões, podíamos acompanhar,
do berço ao esquife, todas as gerações que, afinal, não marcaram com
relevo suas virtudes na vida, aliás, modesta deste burgo. Dois padres e
dois frades − um bento, dominicano o outro − se
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[VoI. lV - N.º 14 - 1938]
topam à flor de tanto honesto lavrador endinheirado, possuidor
de largas folhas de terra, juncais e pinheiros.
Por via legítima, pôs-lhes ponto final, por morte acontecida
em 10 de Abril de 1894, Fernando Augusto Pereira Baldaia, nascido em 11
de Fevereiro de 1825 e filho de Manuel José Pereira Baldaia e de Ana
Margarida Pereira de Jesus, filha do
capitão Jacinto José Pereira Pinto, do Cardal, freguesia de S. Pedro de Pedroso.
Morreu sem filhos, o Fernando. Mas um outro seu irmão, o sétimo na ordem
dos nascimentos, Joaquim Maria Pereira Baldaia e que morreu solteiro em
10 de Abril de 1893, sendo dos
quarenta maiores contribuintes e ex-vereador, deixou uma filha, que se
finou, também sem filhos, em 17 de Março
de 1908.
O Dr. João Frederico Teixeira de Pinho, há 68 anos já, nas
mãos de Deus, mas ainda padre-mestre em antiqualhas vareiras, guarda impressionante silêncio sobre esta e outras famílias
gradas daqui ou aqui residentes.
Na verdade, muitíssimo pouco se sabe dos descendentes do
casal Brandão-Baldaia.
Na relação dos notáveis vareiros, confessadamente incompleta, lá vem o nome do frade crúzio, Francisco Brandão Pinto
Baldaia, arcebispo eleito de Braga, que a morte surpreendeu e abateu na
sua terra.
Frade crúzio já era alguma coisa para as basófias das respectivas famílias, pois que muitas, para encafuar os filhos nas
celas de St.ª Cruz, davam pinchos de corça.
Mas arcebispo de Braga era honra de topete, honra com
que até os patrícios, embora gente do remo e de charrua, exultaram a valer.
Para outra maré ficará o tracejar de algumas linhas biográficas
deste padre.
Mais outro frade houve ainda na família, seguindo-se-lhe um bacharel.
Mas como não temos dados precisos, por aqui nos ficamos quanto a Baldaias e Brandões.
Não tendo notícias de carta de brasão nem de pedra de armas dos Baldaias
de Cabanões − se uma e outra coisa possuíram − vamos transcrever do
Dicionário Portugal o que sobre o assunto lá encontrámos.
Diz-se lá: «−as armas da família
deste apelido são: em campo de prata quatro rosas vermelhas acantonadas,
cada uma
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com duas folhas verdes no pé e no centro uma flor de liz azul;
timbre uma das rosas do escudo com uma flor de liz de ouro
no meio.» −
Ovar, 1-2-1938
ZAGALO DOS SANTOS
_________________
Cópia do original, de pergaminho, iluminado, em magnífico estado de conservação, na posse da viúva do Dr. Antero de
Oliveira Cardoso, descendente do requerente da Carta.
BRAZAM DARMAS DO BACHAREL FRANCISCO
PINTO BARANDÃO
Passado no Anno de 1735
Dom IOAM Por graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarues, daquem, e
dalem, mar em Africa, senhor de Guiné e da Conquista, nauegação, do
comercio da Ethiopia, Arabia, Percia e India, & A quantos esta minha
carta virem,
faço saber que o Bacharel Francisco Pinto Barandão, natural e morador na
freguesia de são Christovão da Villa de Ouvar, Comarca da Feira Bispado
do Porto, me fes petição em como ele descendia e vinha da geração e
linhagem dos
Sylvas, Barandões, Pintos e Pereiras, e suas armas lhe pertencião de direito, e pedindo-me por merce que para a memoria de seus
antecessores se não perder, e elIe uzar e gozar da honra das armas que
pelIos merecimentos de seus serviços ganharão e lhe foram dadas, e assim
dos previlegios honras, graças, e mercês, que por direito e por bem
dellas lhe pertençem lhe mandaçe dar minha carta das ditas armas que
estavam registadas em os livros dos registos das armas dos nobres e fidalgos de meus Reynos, que tem
Portugal meu principal Rey darmas.
A qual petição vista por mim mandei sobre ella tirar inquerição de
testemunhas pelo Doutor João da Sylva Rodarte, do meu dezembargo e meu
Dezembargador em esta minha Corte, e caza da Supplicação, Corregedor do
Civel em ella, e por Caetano Jozeph de Moura escrivão do dito
juizo, pellas quaes fui certo que elle proçede e uem da geração e
linhagem dos ditos Sylvas, Barandões, Pintos, e
Pereiras, como filho legitimo do lecenceado Manoel Thomas
da Sylva, e de sua mulher Bernarda Pinto Pereira, Neto
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pella parte paterna de André da Sylva, e de sua mulher Maria Francisca, e pella materna, neto de Domingos Gomes
Barandão, e de sua mulher Anna Pinto Pereira; Os quaes todos forão pesoas nobres e sempre se tratarão a ley da
nobreza, com o estado a ella devido, e não so elle supplicante, como todos seus ascendentes
são das principais
pesoas, e famillias daquella
Villa e Comarca, e servirão os cargos honrozos da Republica, sem que
nelles ouveçe raça de Iudeo, Mouro ou Mullato, nem de outra infecta
nação e que nunca seus ascendentes servirão cargos humildes, e sempre
viverão a ley da nobreza, como pesoas nobres que erão, e que de direito
as suas lhe pertençem; As quaes lhe mandei dar em esta minha carta com
seu Brazão, Elmo, e Timbre, como aqui são devizadas e iluminadas, asim
como fiel
e verdadeiramente se acharão devizadas, e iluminadas, em os livros dos
registos do dito Portugal Rey darmas, A saber:
Hum escudo esquartelado, no primeiro quartel as armas
dos Sylvas, em campo de prata hum leão vermelho rompente, no segundo as dos Barandões, em campo azul sinco
barandões de ouro asezos postos em sautor, no terceiro as dos Pintos, em
campo de prata sicoestre, digo sinco crescentes de lua vermelhas postas em sautor, no quarto as dos
Pereiras, em campo vermelho huma Cruz de prata floreteada e vazia do campo. Elmo de prata aberto guarnecido
de ouro. Paquife dos metais e cores das armas. Timbre
hum leão vermelho rompente e por diferença huma brica verde com um
trifolio de ouro =========
O qual escudos, armas e sinaes, posa trazer e traga o dito
Bacharel Francisco Pinto Barandão, asim como as trouçerão e dellas uzarão seus antecessores, em todos os lugares
de honra, em que os ditos seus antecessores, e os nobres antigos
fidalgos sempre as custumavão trazer, em tempo dos
muy esclarecidos Reys meus antecessores e com ellas posa
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entrar em batalhas, campos rectos, escaramuças e exercitar
com ellas todos os outros actos licitos da guerra, e da paz,
e asim as posa trazer em seus firmaes, aneis, senetes, e devizas, e as
por em suas cazas e idificios e deixallas sobre sua propria sepultura, e
finalmente se servir, honrar, gozar, e aproveitar dellas em todo e por
todo, como a sua nobreza convem =========
Com o que quero e me pras, que haia
elle e todos seus
descendentes, todas as honras, previllegios liberdades, graças, e merçes, inzenções e franquezas, que hão e devem
haver os fidalgos nobres, e de antiga linhagem, e como
sempre de todo uzarão e gozarão seus antecessores. ==============
Porem mando a todos meus Corregedores, e Dezembargadores, Juizes Justiças, Alcaydes, e em especial aos meus
Reys darmas, Arautos e Passauantes, e quaesquer outros officiaes e pessoas a que esta minha carta for mostrada, e o
conhecimento della pertencer, que em todo lho cumprão, e
guardem, e fação cumprir e guardar, sem duvida, nem embargo algum que em ella lhe seia posto, por que asim he
minha merçe.
EL REY noso senhor o mandou por Manoel Pereira da Sylva seu Rey darmas
Portugal ===
Frey Joseph da Crus da ordem de são Paulo Refformador
do Cartorio da nobreza do Reyno, por especial Provizão
do dito senhor a fes, em Lisboa Occidental aos des dias do
mes de Junho do anno do nascimento de noso senhor Jesu Christo de mil e
sete centos e trinta e sinco, e vai sobscrita
por Antonio Francisco e Souza escrivão da escrivão da
da nobreza nestes Reynos e senhorios de Portugal e suas
Conquistas.
Eu Antonio Francisco e Sousa sobscrevi
======================
Rey darmas P. al. =====================
Fica registado este Brazão no Livro 8.º do Registo dos Brazões da
nobreza de Portugal a folhas 193 − Lisboa Occidental aos 30 dias do mes de junho do anno do nascimento de noso senhor
Jezu Christo de mil e sete centos e trinta e sinco.
(a) Antonio Francisco Sousa
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