A. Ferreira Pinto, Colegiada ou colégio do Espírito Santo na Vila da Feira, Vol. IV, pp. 81-90.

N.º 14 − Junho, 1938

ARQVIVO

DO DISTRITO DE AVEIRO

Directores e proprietários

ANTÓNIO GOMES DA ROCHA MADAHIL

FRANCISCO FERREIRA NEVES

JOSÉ PEREIRA TAVARES

Editor

FRANCISCO FERREIRA NEVES

Administração

Estrada de Esgueira − AVEIRO


Composto e impresso na Tip. Popular, Ld.ª − R. de Cândido dos Reis − Figueira da Foz


CÓNEGOS SECULARES DE S. JOÃO EVANGELISTA OU LOIOS

__________________

COLEGIADA OU COLÉGIO DO ESPÍRITO

SANTO NA VILA DA FEIRA

HÁ poucos dias, resolvi não deixar para as calendas gregas o cumprimento dum propósito que fiz, no Arquivo Distrital de Coimbra. As insistências amáveis dos directores desta revista, e para corresponder às facilidades que me foram proporcionadas, naquele Arquivo, na consulta de cartórios paroquiais da Feira, venho hoje com o meu tributo para o Arquivo do Distrito de Aveiro. Visitei em Outubro o Arquivo da Torre do Tombo, colhi lá apontamentos, tomei outros em obras diversas e assim andando, redigi um pequeno trabalho para esta humilde lição. Mobilitate viget, viresque adquirit eundo, dizem que se lê em qualquer parte da Eneida.

Venho preleccionar sobre a Feira, que é a minha Pátria, embora eu seja natural duma freguesia distante e colocada entre montes e pinheiros(1). Afastado dessa pequena pátria e embora esteja bem no lugar em que me colocaram, eu não professo o princípio daqueles que afirmam: «onde se está bem, aí é a Pátria». Ubi bene, ibi patria.

Pro patria semper, deve ser a norma, a regra suprema dos / 82 / bons filhos. Por isso venho escrever da Feira, terra importante, mas pobre em documentos antigos para a sua história, para a história do seu colégio. A comarca da Feira não pertenceu sempre à diocese do Porto. Freguesias e dioceses tiveram limites incertos e localidades houve que mudaram facilmente.

Diz o notável escritor GAMA BARROS:

«Em 1114 suscitava contestações ao bispo de Coimbra, que acusava de deter parte da diocese do Porto e no ano seguinte obtinha do Sumo Pontífice que o declarasse imediatamente sujeito à Sé Apostólica e lhe confirmasse a posse de quanto pertencia à sua igreja, especificando-se os antigos limites que se diziam em parte ocupados pelo metropolita de Braga e pelo bispo de Coimbra». Veio esta última diocese até ao Douro e portanto pertencia-lhe a Feira. O Papa Pascoal II, em rescrito ao Bispo de Coimbra, mandou restituir ao bispo do Porto, D. Hugo, a parte da sua antiga diocese desde o Antuam (corre junto a Estarreja) ao Douro e assim a Feira ficou pertencendo à diocese do Porto. Isto em 1115. Pouco depois foi celebrada a concórdia entre o bispo de Coimbra D. Gonçalo e o do Porto D. Hugo(2).

No ano de 1300, pelo Rei, Rainha e filho primogénito, a igreja de S. Nicolau da Feira foi doada ao bispo D. João de Lisboa em razão de sua pessoa, consentindo nisto o bispo do Porto D. Geraldo.

Pouco depois, D. Geraldo cedeu a D. João a igreja de Soalhães e recebeu a de S. Nicolau da Feira e Alvarelhos, consentindo o arcebispo de Braga e o Cabido.

Em 1305, a capela de S. Maria de Campos foi doada à igreja de S. Nicolau da Feira, em cuja freguesia estava situada, porque sendo fundação real, nela, às vezes, não havia missa e se não rezavam as horas com obrigação da missa cotidiana e outras. Nisto consentiram os bispos de Lisboa e Porto como padroeiros.

O capelão de S. Maria de Campos tinha realizado bastantes melhoramentos e por isso receberia das rendas de S. Nicolau 15 libras, enquanto não tivesse benefício(3).

Da igreja de S. Nicolau da Feira foi prior D. Gonçalo Pereira, mais tarde deão da Sé do Porto, bispo de Lisboa e / 83 / arcebispo de Braga. Nas Const. Diocesanas de 1540, no tempo de D. Baltasar Limpo, diz-se que em S. Nicolau da Feira devia existir sacrário. Por tudo isto parece que a Feira devia ter cartório importante e que nos arquivos actuais se encontrariam documentos de valor. Nada ou pouco existe. Já o testemunho de JOÃO PEDRO RIBEIRO é desolador. Em carta de 17 de Maio de 1790, escrevia de Coimbra ao padre José Correia da Serra, dizendo que tinha intenção de examinar os cartórios de Aveiro e Feira. Em carta de 3 de Agosto afirmava que no convento de S. Joana só podia interessar um livro, que lá se encontrava, relativo a parte do reinado de D. Afonso V. O cartório da Câmara encontrava-se em armário fechado. Aberto, verificou que os livros estavam quase podres, porque se passavam largos anos sem abrir o referido armário. Pouco uso fez destes livros, mas foi tal o ar mefítico que lhe ia custando cara a curiosidade. Foi preciso medicar-se logo, deu instruções para salvar este cartório, reservando o seu estudo e exame para outra ocasião.

VILA DA FEIRA
Igreja de S. Nicolau − Antigo Convento dos Lóios

Sobre a colegiada, colégio ou mosteiro de S. João Evangelista da Feira, escreveu JOÃO PEDRO RIBEIRO: «O convento de S. Nicolau não conserva documentos notáveis, à excepção dum rescrito do Papa Inocêncio III, em 1210, dirigido ao bispo do Porto. Esse documento é interessante pelo assento e vê-se ter ido para ali do cabido do Porto, servindo de embrulho aos títulos / 84 / do padroado daquela vila(4), que é hoje regida por um cónego do mesmo convento». O mesmo PEDRO RIBEIRO afirmou que encontrara em desordem os arquivos dos Condes da Feira e, embora neles existam bastantes documentos e alguns interessantes, o mais antigo pertence à Era de 1313 ou ano de 1275.

Outra afirmação: «Os cartórios das Câmaras de Valença de Minho, Montemor-o-Velho, Vila da Feira, Esgueira e Penafiel nada conservam que não seja de tempos próximos».

Mas o pobre arquivo do convento não escapou aos estragos das invasões napoleónicas. Foi destruído, como vai ler-se.

Na revista Ethnos, do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia , voI. I, faz-se menção do arquivo nos seguintes termos: «Feira − Colégio do Espírito Santo − Cónegos seculares de S. João Evangelista − V Nº 266»(5).

Consta este arquivo de 13 livros, cujo resumo é o seguinte:

Livro I.º − «Livros dos registos, termos dos deputados e mais decisões pertencentes à Colegiada do Espírito Santo da Vila da Feira, cujo tem princípio em Julho de 1809, por falta do antigo, dilacerado pela entrada dos franceses, sendo reitor o ilustríssimo Senhor Joaquim de Azevedo Araújo e Gama».

Este livro contém uma circular de Manuel Bernardino da Silva Camisão, Reitor Geral da Congregação dos Cónegos seculares de S. João Evangelista, nestes Reinos e Senhorios de Portugal, dirigida a todos os súbditos e nomeadamente ao reitor Araújo e Gama, sobre décimas e rendimentos decretados pelo Governo, em 7 de Junho de 1809. A circular é datada de Xabregas, em 20 de Julho de 1809.

Segue-se uma lista de mudança de cónegos, como é da praxe fazer-se nas comunidades religiosas.  / 85 /

A colegiada, por necessidade de prover a diferentes urgências da sacristia, mandou para o Porto, ao ourives Luís António da Silva e Mendonça, algumas pratas. Os invasores roubaram o ourives, que se viu embaraçado para salvar a vida.

O reitor, J. A. Araújo e Gama, com Joaquim Manuel Freire, Custódio José de Araújo e Silva, Luís Caetano da Silva Cerqueira, Paulo da Cunha Mourão e Pedro Maria Sloyer, redigiram um termo, com o fim de livrar futuras responsabilidades.

Em 15 de Setembro de 1810 era Reitor Geral António José de Faria e houve mudança de pessoal entre as casas de Xabregas, Vilar, Feira, Lamego, Évora, Coimbra e Arroios.

Em 1813 era reitor do Colégio da Feira António Ribeiro de Cerqueira.

Livro 2.º − Das visitas da Colegiada do Espírito Santo da Vila da Feira:

A primeira visita feita pelo Reitor Geral, Simão da Silva Ferraz, foi em 11 de Março de 1815. Achou tudo em ordem. A seguinte foi em 30 de Março de 1816, e a última em 21 de Abril de 1831. Nada há registado de importante sobre essas visitas. Parece que a colegiada funcionava bem.

Livro 3.º − Lembranças de muita utilidade para todos os Senhores Reitores que me forem sucedendo na administração deste Convento do Espírito Santo da Vila da Feira, feito aos 20 dias do mês de Novembro de 1815.

Fundação: D. Diogo Forjaz Pereira, 4º conde desta antiquíssima casa e castelo da Feira, era muito devoto de S. João Evangelista, e, por este motivo, fez petição ao Capítulo Geral, para nesta vila se fundar um convento, em que ele com os seus sucessores se intitulariam padroeiros, por isso que haviam de concorrer com as coisas necessárias para a fundação, como também com as rendas suficientes para a subsistência dos cónegos por todos os tempos futuros. Tudo isto aconteceu no ano de 1449(6) / 86 /

LISTA GERAL DOS REITORES

Paulo de Trindade. . . . . . . . . 1653-1655
Gaspar de Santa Maria. . . . . . . . 1656-1658
Inácio da Assumpção . . . . . . . . 1659-1661
António da Madre de Deus. . . . . . 1662-1664
João dos Mártires. . . . . . . . . 1665-1667
Manuel da Purificação Magalhães . . . . 1668-1670
Jacinto da Conceição. . . . . . . . 1671-1673
João Evangelista. . . . . . . . . . 1674-1676
António de Santa Margarida. . . . . . 1677-1679
Bento da Esperança. . . . . . . . . 1680-1682
Francisco das Chagas. . . . . . . . 1683-1685
Manuel Silvestre de S. Isidoro. . . . . 1686-1688
Francisco do Espírito Santo Sintra . . . 1689-1691
João da Graça. . . . . . . . . . . 1692-1694
Manuel de Santo Agostinho. . . . . . 1695-1697
Manuel Jerónimo da Anunciação . . . . 1698-1700
Francisco Evangelista . . . . . . . . 1701-1703
Manuel da Anunciação do Porto . . . . 1704-1708
António da Esperança do Porto . . . . 1709-1711
Braz da Purificação. . . . . . . . . 1712-1714
Manuel dos Anjos. . . . . . . . . 1715-1717
Diogo da Anunciação . . . . . . . . 1718-1720
O P.e Pregador de... S. Bernardo. . . . 1721-1723
Crispim da Madre de Deus Crispiniano. . 1724-1726
O P.e Pregador António de S. Bento, de Braga . . . 1727
Manuel dos Anjos. . . . . . . . . 1728
Sebastião de Santo António, de Anadia. . 1729
João de S. Bernardo. . . . . . . . . 1730-1732
Domingos da Esperança, de Matosinhos. . 1733-1736
O P.e Pregador José da Anunciação Evangelista, do Porto . . . . . 1737-1739
Simão de Santa Teresa. . . . . . . 1740
José de Santo António. . . . . . . . 1741
Manuel de Viselas . . . . . . . . . 1742
Sebastião de Santa Ana Torres. . . . . 1743-1745
O P.e Pregador Tomás de Santa Maria, de Braga . . . . .1746-1748
Paulo da Assunção, do Alentejo , . . . 1749-1751
Egídio de Santa Helena, de Soure . . . 1752-1754
Pedro de São Joaquim, de Soure. . . . 1755-1757
Manuel de Santo António, de Lamego . . 1758-1767
Manuel de Santo Albino, do Porto . , . 1768-1771
José de Santo António, do Porto . . . . 1772-1775
/ 87 /
Teodoro de Santa Clara. . . . 1776
Vicente de São Caros, de Lisboa. . . . 1777-1780
Joaquim Lopes da Costa Baltar, do Porto. 1780-1786
Gregório Luís Furtado, do Porto . 1887-1789
Domingos Basto, de Faro. . . .. 1790
António de Pádua Correia de Sá, do Porto. 1791-1792
Alexandre de São Carlos de Magalhães, de Lisboa. . 1792-1794
José Camelo Cotrim. . . . . . .. 1795-1797
Joaquim José Couceiro, de Braga.. 1798-1800
Custódio José de Araújo e Silva, de Póvoa de Lanhoso . . . . . 1801-1803
Joaquim Feliciano de Abreu. . .. 1804-1806
Joaquim de Azevedo . . . . . . . . 1807-1809
José Duarte Coelho, de Vila do Conde. 1810-1812
António Rodrigues de Sousa Vale, de Valongo  . . . . . 1813-1815
José Duarte Coelho Aroso, Vila do Conde. 1816-1818
Tomás Aquino Pereira Sá, do Porto.. 1819-1821
João Paulo Carneiro de Sá Barbosa Bezerra, de Vila do Conde. . . . . 1822-1824
Manuel da Silva Cerqueira, de Braga. . 1825-1827
João Nunes de Matos, do Porto . . . . 1828-1829
António Baptista da Silva, de Braga . 1830-1831


CONTAS

Seguem-se 3 livros de contas, que não têm interesse. Em 1827 as contas aprovadas são as seguintes:

Receita. . . . . . . . . . . . . . . . . 2.791$707
Dinheiro do ano anterior. . . . .  903$917
                                               _________
 

                                               3.395$624
Despesa. . .. . . . . . . . . . . . . . 2,510$662
                                              __________
 

                                        Saldo  884$962


Foram verificadas e aprovadas pelo escrivão João Batista Leite, reitor Manuel da Silva Cerqueira e Custódio José de Araújo e Silva, Bento Caetano de Araújo, Manuel Pinto de Meireles e Sousa.

Pagavam foros ao convento, as seguintes freguesias ou casais das mesmas: Feira, Mosteiro, Fornos, S. Fins, Escapães, Arrifana, S. João de Ver, S. João da Madeira, Lobão, Vale de Pessegueiro, Romariz, Carregosa, Mansores, Travanca, Arada, Maceda, Nogueira, S. Vicente, S. Martinho, Avanca, UI e Baião. / 87 /

Até aqui, resumidas notícias do convento da Feira. Agora, alguns traços gerais sobre a origem, desenvolvimento e carácter da congregação de S. Evangelista ou Lóios.

As Pátrias orgulham-se sempre das suas instituições e Portugal com justiça deve também orgulhar-se e envaidecer-se com os cónegos seculares de S. João Evangelista. É uma instituição de origem portuguesa, que prestou relevantes serviços aos hospitais e à instrução.

Mestre João, catedrático de Medicina e médico de D. João I, Martim Lourenço, doutor em Teologia e D. Afonso Nogueira, doutor em direito canónico e civil, homens de profundos sentimentos religiosos e verdadeiramente praticantes, zelosos da glória de Deus e salvação das almas, decidiram consagrar-se à vida de comunidade para melhor reparar escândalos e vícios que observavam em todas as classes sociais. Estes associaram outros companheiros que, em Lisboa e no Porto, onde foram recebidos pelo Bispo D. Vasco, não realizaram os seus intentos. O prelado foi transferido para Évora e os religiosos, que estavam em Campanhã, foram despedidos pelo pároco da freguesia. O médico catedrático mestre João (7), sempre o mais constante e de maior tenacidade, dirigiu-se para Braga acompanhado de
João Rodrigues, onde foram bem recebidos pelo arcebispo D. Fernando, em 1425. Este prelado ofereceu-lhes o mosteiro beneditino de Vilar de Frades que aceitaram; estava então abandonado, porque nele havia grande falta de recursos. Existia a penúria. Ali foram ter alguns dos companheiros de Lisboa e mestre João, superior da comunidade, organizou estatutos para os bons homens de Vilar, como eram conhecidos.

O Papa Eugénio IV confirmou a congregação, à maneira dos cónegos de Veneza, com vários privilégios, podendo usar hábito azul.

Congregação dos Cónegos de São Salvador de Vilar de Frades, assim se chamaram até que D. Isabel, mulher de D. Afonso V, devota de S. João, conseguiu, de Pio II, que se chamasse Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista. Tiveram um convento em Lisboa dedicado a Santo Eloi e é o motivo de se chamarem também frades lóios e cónegos azuis, por motivo da cor do hábito.

Espalharam-se rapidamente, multiplicaram-se as suas casas e para outras foram reclamados.

Chamados para Lisboa, tiveram a seu cargo o hospital fundado por D. Domingos Jardo. A pedido de D. Afonso V e em / 89 / satisfação dos desejos de D. Isabel, o abade de Alcobaça cedeu aos Lóios um oratório em Xabregas, onde levantaram um grande mosteiro, que ficou a casa principal de S. João Evangelista, como já vimos nas instruções dadas na circular de 20 de Julho de 1809. Nas epidemias que grassavam intensamente, em 1458 e 1493, em Lisboa e Porto, os Padres Lóios prestaram importantes serviços no cuidado dos pestosos.(8)

Foi sempre difícil a direcção e a administração dos hospitais e esses embaraços aumentaram no tempo de D. João III. Por isso o monarca confiou aos cónegos seculares de S. João Evangelista a administração de vários hospitais de Lisboa, Santarém, Évora, Caldas da Rainha, Coimbra e de outras localidades importantes. Foram dedicados nestes serviços de assistência e isto acarretou-lhes desgostos e ingratidões de muitos.

Vejamos os serviços prestados à instrução. Cito apenas uma passagem da História da Igreja, pelo falecido escritor DR. FORTUNATO DE ALMEIDA, no tomo lI, pág. 313. Diz: «Nos conventos de cónegos de S. João Evangelista havia igualmente aulas públicas de gramática e moral com grande concurso de ouvintes, principalmente nos conventos de S. Eloi de Lisboa e de Vilar. Neste se conservavam aquelas duas cadeiras e se leu publicamente a muitos clérigos e estudantes de Braga e Barcelos, e dos lugares circunvizinhos até que nas cidades de Braga e Porto se abriram novos estudos». No convento de S. Eloi de Lisboa, ainda no século XVII, se professavam estudos públicos. Houve aulas no convento da Feira? Nada dizem os documentos referidos já, e que se encontram na Torre do Tombo. Organizados em 1809, são lacónicos e o mais importante é a lista dos reitores. Oxalá que este meu artigo dê motivo a notícias mais desenvolvidas, relativas ao Colégio dos Frades Lóios da Feira, onde deixaram uma grande igreja e um edifício que foi destinado às diferentes repartições do Concelho.

A propósito destes religiosos podia desenvolver a relação dos grandes benefícios que as congregações têm prestado à Humanidade em todos os campos da sua actividade. No meio das invasões dos diferentes povos, as ordens beneditinas foram a mais eficaz providência para a ciência e o melhor elemento para o desenvolvimento da agricultura. Os monges não conheciam a ociosidade. Trabalhos agrícolas e manuais, leitura assídua e estudo das humanidades, cópias de livros, instrução da mocidade, construções de edifícios, a caridade, a pregação e outros ramos de actividades eram as causas do progresso dos frades. Todos

/ 90 / cantam as glórias de Portugal nas diferentes partes do mundo, e apregoam a civilização dos selvagens, mas esquecem-se, às vezes, de reconhecer que, ao lado da espada e com maior permanência, andou e ficou a cruz dos missionários.

Os Frades Lóios, congregação genuinamente portuguesa, prestaram relevantes serviços hospitalares e dedicaram-se à instrução. Esta é a justiça e a verdade que todos devem apregoar: consagrar a vida a proclamar a verdade: Vitam impendere vero, já afirmava o poeta JUVENAL.

A. FERREIRA PINTO
 

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(1)Defendei Vossas Terras... S. Mamede de Guisande, no concelho da Feira, Bispado do Porto − 1936.

(2)Censual, Doutor J. P. RIBEIRO, dissertação XIX, vol. V, págs. 7 e 8, edição de 1896.
      − GAMA BARROS, História da Administração Pública, vol. I, pág. 221.    

(3) − J. P. RIBEIRO, logo cit., pág. 52 e 53.

− Sobre prédios e aforamentos na Feira, veja-se GAMA BARROS, lII, 524 e 620.
− O arquivo do Cabido que se encontra no Arquivo Distrital do Porto tem muitas notícias relativas à Feira e à Comarca. Livros n.os 9, fls. 437 e segs., 14-16, 21-74, 90, 92 e 665. Diz-se que S. Nicolau da Feira é do padroado do Cabido e Travanquinha anexa a S. Nicolau.

(4) − Em apêndice aos Estatutos do Cabido do Porto de 1596 há uma relação de benefícios, cuja apresentação pertencia ao Cabido. Lá se diz: «A igreja da Vila da Feira, in solidum do Cabido. A igreja da Travanca que soía ser anexa da de S. Nicolau da Feira, in solidum do Cabido».

− No Corpus Codicum publicado pela Câmara do Porto, a págs. 524 e 535, há relação das freguesias dos julgados de Fermedo e de S. Maria da Feira, em que se paga e em que se não paga portagem.

Tombo da Casa da Feira − Pela morte do 8.º conde, D. Fernando Forjaz Pereira Pimentel de Menezes e Silva, em 15 de Janeiro de 1700, sem deixar sucessão legítima, a maior parte dos bens do condado passaram para a casa do Infantado. Esse tombo consta de 16 grossos volumes com as sentenças dos bens e rendas que passaram para o Infantado e estavam situados na Feira e concelhos vizinhos.

(5) − Ao Ex.mo Sr. José Gaspar de Almeida, que foi conservador do Arquivo Distrital do Porto e actualmente é conservador do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, os meus melhores agradecimentos, porque tudo dispôs para rápida consulta quando cheguei ao Arquivo, em Lisboa. Muito obrigado.  

(6) − O Sr. Dr. FORTUNATO, na História da igreja em Portugal, tomo III, a pág. 427. escreveu: «A construção do convento do Espírito Santo da Feira começou a 6 de Maio de 1560, por iniciativa de D. Diogo Forjaz, 4.º conde da Feira e de sua mulher D. Ana de Meneses. Escolheu-se para a fundação a ermida do Espírito Santo. Em 1566 já o convento estava em condições de ser habitado».  

(7) − Mestre João Vicente foi eleito bispo de Lamego em 1432 ou 1433. Em 1446 foi transferido para o bispado de Viseu.

(8) − Por contrato celebrado em 9 de Janeiro de 1543, o mosteiro de S. Eloi ou de N. S. da Consolação pagava ao Cabido do Porto, em dia de S. Miguel, pela terra ocupada, 470 reis e outras pequenas quantias por casas que possuía. Livro 9 do Arquivo do Cabido, fl. 32.   

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