HÁ
poucos dias, resolvi não deixar para as calendas gregas o cumprimento
dum propósito que fiz, no Arquivo Distrital de Coimbra. As insistências
amáveis dos directores desta revista, e para corresponder às facilidades
que me foram proporcionadas, naquele Arquivo, na consulta de cartórios
paroquiais da Feira, venho hoje com o meu tributo para o Arquivo do
Distrito de Aveiro. Visitei em Outubro o Arquivo da Torre do Tombo,
colhi lá apontamentos, tomei outros em obras diversas e assim andando,
redigi um pequeno trabalho para esta humilde lição. Mobilitate viget,
viresque adquirit eundo, dizem que se lê em qualquer parte da
Eneida.
Venho preleccionar sobre a
Feira, que é a minha Pátria, embora eu seja natural
duma freguesia distante e colocada entre montes e pinheiros(1).
Afastado dessa pequena pátria e embora esteja bem no lugar em que me
colocaram, eu não professo o princípio daqueles que afirmam: «onde se
está bem, aí é a Pátria». Ubi bene, ibi patria.
Pro patria semper,
deve ser a norma, a regra suprema dos
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bons filhos. Por isso venho escrever da Feira, terra importante, mas
pobre em documentos antigos para a sua história, para a história do seu
colégio. A comarca da Feira não pertenceu sempre à diocese do Porto.
Freguesias e dioceses tiveram limites incertos e localidades houve que
mudaram facilmente.
Diz o notável escritor GAMA
BARROS:
«Em 1114 suscitava
contestações ao bispo de Coimbra, que acusava de deter parte da diocese
do Porto e no ano seguinte obtinha do Sumo Pontífice que o declarasse
imediatamente sujeito à Sé Apostólica e lhe confirmasse a posse de
quanto pertencia à sua igreja, especificando-se os antigos limites que
se diziam em parte ocupados pelo metropolita de Braga e pelo bispo de
Coimbra». Veio esta última diocese até ao Douro e portanto pertencia-lhe
a Feira. O Papa Pascoal II, em rescrito ao Bispo de Coimbra, mandou
restituir ao bispo do Porto, D. Hugo, a parte da sua antiga diocese
desde o Antuam (corre junto a Estarreja) ao Douro e
assim a Feira ficou pertencendo à diocese do Porto. Isto em 1115. Pouco
depois foi celebrada a concórdia entre o bispo de Coimbra D. Gonçalo e o
do Porto D. Hugo(2).
No ano de 1300, pelo Rei,
Rainha e filho primogénito, a igreja de S. Nicolau da Feira foi doada ao
bispo D. João de Lisboa em razão de sua pessoa, consentindo nisto o
bispo do Porto D. Geraldo.
Pouco depois, D. Geraldo
cedeu a D. João a igreja de Soalhães e recebeu a de S. Nicolau da Feira
e Alvarelhos, consentindo o arcebispo de Braga e o Cabido.
Em 1305, a capela de S.
Maria de Campos foi doada à igreja de S. Nicolau da Feira, em cuja
freguesia estava situada, porque sendo fundação real, nela, às vezes,
não havia missa e se não rezavam as horas com obrigação da missa
cotidiana e outras. Nisto consentiram os bispos de Lisboa e Porto como
padroeiros.
O capelão de S. Maria de
Campos tinha realizado bastantes melhoramentos e por
isso receberia das rendas de S. Nicolau 15 libras, enquanto não tivesse
benefício(3).
Da igreja de S. Nicolau da
Feira foi prior D. Gonçalo Pereira, mais tarde deão da Sé do Porto,
bispo de Lisboa e
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arcebispo de Braga. Nas Const. Diocesanas de 1540, no tempo de D.
Baltasar Limpo, diz-se que em S. Nicolau da Feira devia existir
sacrário. Por tudo isto parece que a Feira devia ter cartório importante
e que nos arquivos actuais se encontrariam documentos de valor. Nada ou
pouco existe. Já o testemunho de JOÃO PEDRO RIBEIRO é desolador. Em
carta de 17 de Maio de 1790, escrevia de Coimbra ao padre José Correia
da Serra, dizendo que tinha intenção de examinar os cartórios de Aveiro
e Feira. Em carta de 3 de Agosto afirmava que no convento de S. Joana só
podia interessar um livro, que lá se encontrava, relativo a parte do
reinado de D. Afonso V. O cartório da Câmara encontrava-se em armário
fechado. Aberto, verificou que os livros estavam quase podres, porque se
passavam largos anos sem abrir o referido armário. Pouco uso fez destes
livros, mas foi tal o ar mefítico que lhe ia custando cara a
curiosidade. Foi preciso medicar-se logo, deu instruções para salvar
este cartório, reservando o seu estudo e exame para outra ocasião.
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VILA DA FEIRA
Igreja de S. Nicolau − Antigo Convento dos Lóios |
Sobre a colegiada, colégio
ou mosteiro de S. João Evangelista da Feira, escreveu JOÃO PEDRO
RIBEIRO: «O convento de S. Nicolau não conserva documentos notáveis, à
excepção dum rescrito do Papa Inocêncio III, em 1210, dirigido ao bispo
do Porto. Esse documento é interessante pelo assento e vê-se ter ido
para ali do cabido do Porto, servindo de embrulho aos títulos
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do padroado daquela vila(4),
que é hoje regida por um cónego do mesmo convento». O mesmo PEDRO
RIBEIRO afirmou que encontrara em desordem os arquivos dos Condes da
Feira e, embora neles existam bastantes documentos e alguns
interessantes, o mais antigo pertence à Era de 1313 ou ano de 1275.
Outra afirmação: «Os
cartórios das Câmaras de Valença de Minho, Montemor-o-Velho, Vila da
Feira, Esgueira e Penafiel nada conservam que não seja de tempos
próximos».
Mas o pobre arquivo do
convento não escapou aos estragos das invasões napoleónicas. Foi
destruído, como vai ler-se.
Na revista Ethnos, do
Instituto Português de Arqueologia, História e
Etnografia , voI. I, faz-se menção do arquivo nos seguintes termos:
«Feira − Colégio do Espírito Santo − Cónegos seculares de S. João
Evangelista − V Nº 266»(5).
Consta este arquivo de 13
livros, cujo resumo é o seguinte:
Livro I.º − «Livros dos
registos, termos dos deputados e mais decisões pertencentes à Colegiada
do Espírito Santo da Vila da Feira, cujo tem princípio em Julho de 1809,
por falta do antigo, dilacerado pela entrada dos franceses, sendo reitor
o ilustríssimo Senhor Joaquim de Azevedo Araújo e Gama».
Este livro contém uma
circular de Manuel Bernardino da Silva Camisão, Reitor Geral da
Congregação dos Cónegos seculares de S. João Evangelista, nestes Reinos
e Senhorios de Portugal, dirigida a todos os súbditos e nomeadamente ao
reitor Araújo e Gama, sobre décimas e rendimentos decretados pelo
Governo, em 7 de Junho de 1809. A circular é datada de Xabregas, em 20
de Julho de 1809.
Segue-se uma lista de
mudança de cónegos, como é da praxe fazer-se nas comunidades religiosas.
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A colegiada, por necessidade de prover a diferentes urgências da
sacristia, mandou para o Porto, ao ourives Luís António da Silva e
Mendonça, algumas pratas. Os invasores roubaram
o ourives, que se viu embaraçado para salvar a vida.
O reitor, J. A. Araújo e Gama, com Joaquim Manuel Freire, Custódio José
de Araújo e Silva, Luís Caetano da Silva Cerqueira, Paulo da Cunha
Mourão e Pedro Maria Sloyer, redigiram um termo, com o fim de livrar
futuras responsabilidades.
Em 15 de Setembro de 1810
era Reitor Geral António José de Faria e houve mudança de pessoal entre as casas de Xabregas, Vilar, Feira, Lamego,
Évora, Coimbra e Arroios.
Em 1813 era reitor do Colégio da Feira António Ribeiro
de Cerqueira.
Livro 2.º − Das visitas da Colegiada do Espírito Santo da
Vila da Feira:
A primeira visita feita pelo Reitor Geral, Simão da Silva
Ferraz, foi em 11 de Março de 1815. Achou tudo em ordem. A
seguinte foi em 30 de Março de 1816, e a última em 21 de Abril de 1831.
Nada há registado de importante sobre essas visitas. Parece que a colegiada funcionava bem.
Livro 3.º − Lembranças de muita utilidade para todos os Senhores Reitores
que me forem sucedendo na administração deste Convento do Espírito Santo
da Vila da Feira, feito aos 20 dias do mês de Novembro de 1815.
Fundação: D. Diogo Forjaz Pereira,
4º conde desta antiquíssima casa e
castelo da Feira, era muito devoto de S. João Evangelista, e, por este
motivo, fez petição ao Capítulo Geral, para nesta vila se fundar um
convento, em que ele com os seus sucessores se intitulariam padroeiros,
por isso que haviam de concorrer com as coisas necessárias para a
fundação, como também com as rendas suficientes para a subsistência
dos cónegos por todos os tempos futuros. Tudo isto aconteceu no ano de
1449(6).
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LISTA GERAL DOS REITORES
Paulo de Trindade. . . . . . . . . 1653-1655
Gaspar de Santa Maria. . .
. . . . . 1656-1658
Inácio da Assumpção . . . . . . . . 1659-1661
António da Madre de Deus. . . . . . 1662-1664
João dos Mártires. . . .
. . . . . 1665-1667
Manuel da Purificação Magalhães . . . . 1668-1670
Jacinto da Conceição. . . . . . . . 1671-1673
João Evangelista. . . . .
. . . . . 1674-1676
António de Santa Margarida. . . . . . 1677-1679
Bento da Esperança. . . . . . . . . 1680-1682
Francisco das Chagas. . .
. . . . . 1683-1685
Manuel Silvestre de S. Isidoro. . . . . 1686-1688
Francisco do Espírito Santo Sintra . . . 1689-1691
João da Graça. . . . . . . . . . . 1692-1694
Manuel de Santo Agostinho.
. . . . . 1695-1697
Manuel Jerónimo da Anunciação . . . . 1698-1700
Francisco Evangelista . . . . . . . . 1701-1703
Manuel da Anunciação do
Porto . . . . 1704-1708
António da Esperança do Porto . . . . 1709-1711
Braz da Purificação. . . . . . . . . 1712-1714
Manuel dos Anjos. . . . . . . . . 1715-1717
Diogo da Anunciação . . . .
. . . . 1718-1720
O P.e Pregador de... S. Bernardo. . . . 1721-1723
Crispim da Madre de Deus Crispiniano. . 1724-1726
O P.e Pregador
António de S. Bento, de
Braga . . . 1727
Manuel dos Anjos. . . . . . . . . 1728
Sebastião de Santo António, de
Anadia. . 1729
João de S. Bernardo. . . . . . . . . 1730-1732
Domingos da Esperança, de
Matosinhos. . 1733-1736
O P.e Pregador José da Anunciação Evangelista, do Porto . . . . . 1737-1739
Simão de Santa Teresa. . . .
. . . 1740
José de Santo António. . . . . . . . 1741
Manuel de Viselas
. . . . . . . . . 1742
Sebastião de Santa Ana Torres. . . . . 1743-1745
O P.e Pregador Tomás de Santa Maria, de Braga . . . . .1746-1748
Paulo da Assunção, do Alentejo
, . . . 1749-1751
Egídio de Santa Helena, de Soure . . . 1752-1754
Pedro
de São Joaquim, de Soure. . . . 1755-1757
Manuel de Santo António, de
Lamego . . 1758-1767
Manuel de Santo Albino, do Porto . , . 1768-1771
José de Santo António, do Porto . . . . 1772-1775
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Teodoro de Santa Clara. . . . 1776
Vicente de São Caros, de Lisboa. . . . 1777-1780
Joaquim Lopes da Costa Baltar, do Porto. 1780-1786
Gregório Luís Furtado, do Porto . 1887-1789
Domingos Basto, de Faro. . . .. 1790
António de Pádua Correia de Sá, do Porto. 1791-1792
Alexandre de São
Carlos de Magalhães,
de Lisboa. . 1792-1794
José Camelo Cotrim. . . . . . .. 1795-1797
Joaquim José Couceiro, de Braga.. 1798-1800
Custódio José de Araújo e Silva, de Póvoa
de Lanhoso . . . . . 1801-1803
Joaquim Feliciano de Abreu. . .. 1804-1806
Joaquim de Azevedo . . . . . . . . 1807-1809
José Duarte Coelho, de Vila
do Conde. 1810-1812
António Rodrigues de Sousa Vale, de Valongo . . . . . 1813-1815
José Duarte Coelho Aroso, Vila do Conde. 1816-1818
Tomás Aquino Pereira
Sá, do Porto.. 1819-1821
João Paulo Carneiro de Sá Barbosa Bezerra, de Vila do Conde. . . . . 1822-1824
Manuel da Silva Cerqueira, de Braga. . 1825-1827
João Nunes de Matos, do
Porto . . . . 1828-1829
António Baptista da Silva, de Braga . 1830-1831
CONTAS
Seguem-se 3 livros de contas, que não têm interesse. Em 1827 as contas
aprovadas são as seguintes:
Receita. . . . . . . . . . .
. . . . . . 2.791$707
Dinheiro do ano anterior. . . . . 903$917
_________
3.395$624
Despesa. . .. . . . . . . . . . . . . . 2,510$662
__________
Saldo 884$962
Foram verificadas e aprovadas pelo escrivão João Batista Leite, reitor
Manuel da Silva Cerqueira e Custódio José de Araújo e Silva, Bento
Caetano de Araújo, Manuel Pinto de Meireles e Sousa.
Pagavam foros ao convento, as seguintes freguesias ou casais das
mesmas: Feira, Mosteiro, Fornos, S. Fins, Escapães, Arrifana, S. João de
Ver, S. João da Madeira, Lobão, Vale de Pessegueiro, Romariz, Carregosa,
Mansores, Travanca, Arada, Maceda, Nogueira, S. Vicente, S. Martinho,
Avanca, UI e Baião.
/ 87 /
Até aqui, resumidas notícias do convento da Feira. Agora, alguns traços
gerais sobre a origem, desenvolvimento e carácter da congregação de S.
Evangelista ou Lóios.
As Pátrias orgulham-se sempre das suas instituições e Portugal com
justiça deve também orgulhar-se e envaidecer-se com os cónegos seculares
de S. João Evangelista. É uma instituição de origem portuguesa, que
prestou relevantes serviços aos hospitais e à instrução.
Mestre João, catedrático de Medicina e médico de D. João I, Martim
Lourenço, doutor em Teologia e D. Afonso Nogueira, doutor em direito
canónico e civil, homens de profundos sentimentos religiosos e
verdadeiramente praticantes, zelosos da
glória de Deus e salvação das almas, decidiram consagrar-se à vida de
comunidade para melhor reparar escândalos e vícios que observavam em todas as classes sociais. Estes associaram outros companheiros que, em
Lisboa e no Porto, onde foram
recebidos pelo Bispo D. Vasco, não realizaram os seus intentos. O
prelado foi transferido para Évora e os religiosos, que estavam em
Campanhã, foram despedidos pelo pároco da freguesia. O médico
catedrático mestre João
(7), sempre o mais constante e de maior
tenacidade, dirigiu-se para Braga acompanhado de
João Rodrigues, onde foram bem recebidos pelo arcebispo D. Fernando,
em 1425. Este prelado ofereceu-lhes o mosteiro beneditino de Vilar de
Frades que aceitaram; estava então abandonado, porque nele havia grande falta de recursos. Existia a penúria.
Ali foram ter alguns dos companheiros de Lisboa e mestre João, superior
da comunidade, organizou estatutos para os bons homens de Vilar, como
eram conhecidos.
O Papa Eugénio IV confirmou a congregação, à maneira dos cónegos de
Veneza, com vários privilégios, podendo usar hábito azul.
Congregação dos Cónegos de São Salvador de Vilar de Frades, assim se
chamaram até que D. Isabel, mulher de D. Afonso V, devota de S. João,
conseguiu, de Pio II, que se chamasse Congregação dos Cónegos Seculares
de São João Evangelista. Tiveram um convento em Lisboa dedicado a Santo Eloi e é o motivo de se chamarem também frades
lóios e cónegos azuis,
por motivo da cor do hábito.
Espalharam-se rapidamente, multiplicaram-se as suas casas
e para outras foram reclamados.
Chamados para Lisboa, tiveram a seu cargo o hospital fundado por D. Domingos Jardo. A pedido de D. Afonso V e em
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satisfação dos desejos de D. Isabel, o abade de Alcobaça cedeu aos Lóios
um oratório em Xabregas, onde levantaram um grande mosteiro, que ficou a
casa principal de S. João Evangelista, como já vimos nas instruções
dadas na circular de 20 de Julho de 1809. Nas epidemias que grassavam
intensamente, em 1458 e 1493, em Lisboa e Porto, os Padres
Lóios
prestaram importantes serviços no cuidado dos pestosos.(8)
Foi sempre difícil a direcção e a administração dos hospitais e
esses
embaraços aumentaram no tempo de D. João III. Por isso o monarca confiou
aos cónegos seculares de S. João Evangelista a administração de vários
hospitais de Lisboa, Santarém, Évora, Caldas da Rainha, Coimbra e de outras localidades importantes.
Foram dedicados nestes serviços de assistência e isto acarretou-lhes
desgostos e ingratidões de muitos.
Vejamos os serviços prestados à instrução. Cito apenas uma passagem da
História da Igreja, pelo falecido escritor
DR. FORTUNATO DE ALMEIDA, no tomo lI, pág. 313. Diz: «Nos conventos de
cónegos de S. João Evangelista havia igualmente
aulas públicas de gramática e moral com grande concurso de ouvintes,
principalmente nos conventos de S. Eloi de Lisboa e de Vilar. Neste se
conservavam aquelas duas cadeiras e se leu publicamente a muitos
clérigos e estudantes de Braga e Barcelos, e dos lugares circunvizinhos
até que nas cidades de Braga e Porto se abriram novos estudos». No
convento de S. Eloi de Lisboa, ainda no século XVII, se professavam
estudos públicos. Houve aulas no convento da Feira? Nada dizem os
documentos referidos já, e que se encontram na Torre do Tombo.
Organizados em 1809, são lacónicos e o mais importante é a lista dos
reitores. Oxalá que este meu artigo dê motivo a notícias mais
desenvolvidas, relativas ao Colégio dos Frades Lóios da Feira, onde
deixaram uma grande igreja e um edifício que foi destinado às diferentes
repartições do Concelho.
A propósito destes religiosos podia desenvolver a relação dos grandes
benefícios que as congregações têm prestado à Humanidade em todos os
campos da sua actividade. No meio das invasões dos diferentes povos, as
ordens beneditinas foram a mais eficaz providência para a ciência e o
melhor elemento para o desenvolvimento da agricultura. Os monges não
conheciam a ociosidade. Trabalhos agrícolas e manuais, leitura assídua e
estudo das humanidades, cópias de livros, instrução da mocidade,
construções de edifícios, a caridade, a pregação e outros ramos de actividades eram as causas do
progresso dos frades. Todos
/ 90 /
cantam as glórias de Portugal nas diferentes partes do mundo, e apregoam
a civilização dos selvagens, mas esquecem-se, às vezes, de reconhecer
que, ao lado da espada e com maior permanência, andou e ficou a cruz dos
missionários.
Os Frades Lóios, congregação genuinamente portuguesa, prestaram
relevantes serviços hospitalares e dedicaram-se à instrução. Esta é a
justiça e a verdade que todos devem apregoar: consagrar a vida a
proclamar a verdade: Vitam impendere vero, já afirmava o poeta JUVENAL.
A. FERREIRA PINTO
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(1) − Defendei
Vossas Terras... S. Mamede de Guisande, no concelho da Feira,
Bispado do Porto − 1936.
(2) − Censual,
Doutor J. P. RIBEIRO, dissertação XIX, vol. V, págs. 7 e 8, edição de
1896.
− GAMA BARROS, História da Administração
Pública, vol. I, pág. 221.
(3) − J. P.
RIBEIRO, logo cit., pág. 52 e 53.
− Sobre prédios e aforamentos na
Feira, veja-se GAMA BARROS, lII, 524 e 620.
− O arquivo do Cabido que se encontra no Arquivo Distrital do Porto tem
muitas notícias relativas à Feira e à Comarca. Livros n.os 9,
fls. 437 e segs., 14-16, 21-74, 90, 92 e 665. Diz-se que S. Nicolau da
Feira é do padroado do Cabido e Travanquinha anexa a S. Nicolau.
(4)
− Em apêndice aos Estatutos do Cabido do Porto de 1596 há uma relação de
benefícios, cuja apresentação pertencia ao Cabido. Lá se diz: «A igreja
da Vila da Feira, in solidum do Cabido. A igreja da Travanca que soía
ser anexa da de S. Nicolau da Feira, in solidum do Cabido».
− No Corpus Codicum publicado pela Câmara do Porto, a págs. 524 e
535, há relação das freguesias dos julgados de Fermedo e de S. Maria da
Feira, em que se paga e em que se não paga portagem.
− Tombo da Casa da Feira − Pela morte do 8.º conde, D. Fernando
Forjaz Pereira Pimentel de Menezes e Silva, em 15 de Janeiro de 1700,
sem deixar sucessão legítima, a maior parte dos bens do condado passaram
para a casa do Infantado. Esse tombo consta de 16 grossos volumes com as
sentenças dos bens e rendas que passaram para o Infantado e estavam
situados na Feira e concelhos vizinhos.
(5)
− Ao Ex.mo Sr. José Gaspar de Almeida, que foi conservador do
Arquivo Distrital do Porto e actualmente é conservador do Arquivo
Nacional da Torre do Tombo, os meus melhores agradecimentos, porque tudo
dispôs para rápida consulta quando cheguei ao Arquivo, em Lisboa. Muito
obrigado.
(6)
− O Sr. Dr. FORTUNATO, na História da igreja em Portugal, tomo
III, a pág. 427. escreveu: «A construção do convento do Espírito Santo
da Feira começou a 6 de Maio de 1560, por iniciativa de D. Diogo Forjaz,
4.º conde da Feira e de sua mulher D. Ana de Meneses. Escolheu-se para a
fundação a ermida do Espírito Santo. Em 1566 já o convento estava em
condições de ser habitado».
(7) − Mestre João Vicente
foi eleito bispo de Lamego em 1432 ou 1433.
Em 1446 foi transferido para o bispado de Viseu.
(8)
− Por contrato celebrado em 9 de Janeiro de 1543, o mosteiro de S. Eloi
ou de N. S. da Consolação pagava ao Cabido do Porto, em dia de S.
Miguel, pela terra ocupada, 470 reis e outras pequenas quantias por
casas que possuía. Livro 9 do Arquivo do Cabido, fl. 32. |