O
PÚBLICO que lê, e o que não lê, gosta de saber quando é que as
publicações periódicas fazem anos, e as Direcções dos periódicos gostam
por sua vez de satisfazer a curiosidade do público, informando-o das
datas destes aniversários.
Não querem os directores do ARQVIVO DO DISTRITO DE AVEIRO fugir a este
já tão arreigado costume, e aqui estão cheios de contentamento a
declarar que esta revista, com o presente fascículo, e no dia 31 de
Março do corrente ano, entra no seu quarto ano de publicação.
É justo este contentamento, devemos dizê-lo. A vitória traz sempre
satisfação e ânimo aos lutadores, e nós temos vencido na empresa que nos
propusemos, apesar de a causa ser bastante ingrata.
Nestes já decorridos três anos de existência do ARQVIVO, quantas
dificuldades temos tido, quantos sacrifícios temos feito!
Mas por bem pagos nos damos com os resultados obtidos. A obra é ingente,
e outros mais competentes do que nós a deviam ter começado e dirigido.
Infelizmente, não sucedeu assim, e foram as nossas poucas forças que
conseguiram dar corpo e vida a uma obra cuja necessidade e utilidade são
evidentes.
Dificilmente o público avaliará até que ponto a tarefa tem sido
absorvente e esgotante; porém, a preciosa colaboração de muitos dos mais
ilustres filhos desta região, e o apoio moral e material de pessoas das
mais diversas categorias sociais e intelectuais, ao lado do qual não
podemos esquecer o que nos tem sido dispensado pela Comissão de Turismo
de Aveiro, encorajam-nos a prosseguir nesta obra, cujo fim é tornar
conhecido o nosso distrito, as suas belezas naturais, a sua arte, a sua
história, os seus documentos, as suas tradições, os seus recursos, os
seus homens notáveis.
Ajudaremos a salvar as preciosidades documentais e monumentais que até
hoje têm escapado à destruição do tempo e dos homens. A ignorância de
uns e a indiferença de outros têm causado prejuízos irreparáveis.
Destruíram-se arquivos, destruíram-se monumentos, deixaram-se perder
tradições. Quase não há hoje uma consciência e um interesse regionais;
pois é preciso criá-los e fortalecê-los!
O ARQVIVO DO DISTRITO DE AVEIRO, apesar de a época que atravessamos
não ser muito propícia às coisas do espírito, algo tem já conseguido, e
melhor no futuro do que hoje a sua acção será notada e apreciada.
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O que nas suas páginas ficou registado pode considerar-se salvo.
Na obra de cultura e restauração espiritual do distrito de Aveiro cabe
um grande papel às suas Câmaras Municipais; infelizmente, estas
entidades pouca atenção têm dispensado a tão importante assunto, se bem
que a portaria de 8 de Dezembro de 1847 a tal as obrigue.
Esta revista, da melhor boa vontade colaboraria com as Câmaras
Municipais, que beneficiariam da organização dos seus serviços de
publicidade, confiando-lhe os anais dos concelhos e as obras de
investigação histórica que a eles dissessem respeito.
Queremos aqui registar uma circular recente, relativa á organização dos
arquivos históricos municipais e publicação das memórias dos concelhos,
enviada no mês de Março de 1936, pela Direcção Geral da Administração
Civil e Política do Ministério do Interior, aos governadores civis do
continente e ilhas, e redigida nos seguintes termos:
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«Em conformidade com o despacho do ministro do Interior de 24 do
corrente, digne-se circular às comissões administrativas das Câmaras
Municipais desse distrito, fazendo-lhes ver a necessidade e a vantagem
de organizar os seus arquivos históricos e complementarmente a
publicação das suas memórias, factos de maior importância para o estudo
da história local e geral do nosso país e ainda para o renascimento do
amor ao torrão natal.
Em 1847, há quase um século, a portaria de 8 de Dezembro determinou que
as Câmaras Municipais organizassem a sua história nos anais do
município. Não muitos, mas alguns; souberam obedecer ao que então lhes
foi determinado.
Passados quase cem anos, como se disse, revivida agora a iniciativa de
então certamente com mais proveito, vistas as facilidades hoje
existentes e o grau de ilustração atingido, espero que porá todo o
empenho na execução do despacho do ministro do Interior, visto tratar-se
de uma obra do maior interesse local e nacional.»
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Fazemos votos por que as Câmaras Municipais do distrito de Aveiro
cumpram fielmente o que na citada portaria e circular lhes é
determinado, concorrendo assim para a obra de renascimento cultural que
neste distrito já se vai manifestando com brilho e honra para ele.
Aveiro, 14 de Fevereiro de 1938.
ANTÓNIO GOMES DA ROCHA MADAHIL
FRANCISCO FERREIRA NEVES
JOSÉ PEREIRA TAVARES
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