EM 8 de Julho
de 1832 desembarcava nas Praias do Mindelo a expedição militar liberal
às ordens de D. Pedro, o qual se propunha arrancar a coroa de
Portugal ao rei D. Miguel. No dia 9 entravam essas tropas no Porto.
Em breve D.
Pedro e o seu exército se viram fortemente cercados pelos adversários.
Entretanto, o duque da Terceira, liberal, entrava em Lisboa à frente de
um troço de exército em 24 de Julho de 1833.
Em face da
tomada da capital, os miguelistas, comandados pelo general francês
Bourmont, levantaram o cerco do Porto em
7 de Agosto. Bourmont dirige-se a Lisboa com parte do exército, ficando Almer a comandar o resto do exército miguelista que tinha
cercado o Porto. Nesta cidade dirigia as operações militares o conde de
Saldanha; este em 18 de Agosto derrota o exército miguelista no combate
de Valongo, e parte para Lisboa,
deixando o general Stubbs como governador militar do Porto.
Stubbs derrota por sua vez os miguelistas no caminho de
Vila do Conde e em Grijó, libertando assim completamente de inimigos os
arredores da capital do Norte. O centro da guerra
era agora Lisboa.
As tropas liberais começaram então a avançar do
Porto
para o sul, ao passo que as adversárias recuavam. Nas povoações que os liberais iam ocupando, iam colocando autoridades suas
partidárias, e aclamando rainha a D. Maria II, e assim
sucedeu em Vila da Feira e Ovar, Pereira Juzã e Cortegaça e
noutras partes. Nomeava as autoridades o revolucionário de 1828,
tenente-coronel de Milícias de Aveiro, Manuel Maria da
Rocha Colmieiro, comandante das forças da vanguarda da Divisão móvel do sul do Douro. Estas nomeações eram depois confirmadas pelo general Stubbs.
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Da aclamação da rainha em cada concelho lavrava-se um
auto, de que se enviava uma cópia à autoridade militar.
Em Oliveira de Azeméis fez-se a aclamação de D. Maria II
no dia 26 de Agosto de 1833.
Vamos ver como decorreu o acto e que pessoas nele intervieram,
socorrendo-nos da cópia autêntica do auto da aclamação,
a qual pertenceu ao tenente-coronel Rocha Colmieiro, e tenho presente.
«Copia d'Aclamação de Sua Magestade Fedilissima
a Senhora Donna Maria Segunda, e Reconhecimento da Carta
Constitucional;
Anno do Nascimento de nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos
trinta e trez annos, aos vinte e seis
d'Agosto do ditto anno, nesta villa d'Oliveira de Azemeis, e
Cazas da Camara della, a onde eu Escrivão vim no Impedimento do
Proprietario Escrivão da Camara por se achar
tora da terra, aqui apareceu prezente o Bacharel Manuel
José de Pinho Soares de Albergaria nactural da Villa de
Cambra Illeito para servir de Juiz de Fora desta Villa e
seu termo como fez vêr pela Portaria que aprezentou e he do teor
seguinte = Constando-me que as tropas inimigas
evacuarão a Villa d'Oliveira de Azemeis, auzentando-se com ellas as
Authoridades Civis, e achando-se assim os Povos em abandono, com grave
prejuízo dos Direitos de
Sua Magestade Fedilissima a Senhora Donna Maria Segunda, e paralização dos negocios do enteresse publico, e bem
estar Dos Povos. Nomeio por esta ao ex Juiz de Fora da Villa de Melgaço
Manuel José de Pinho Soares de Albergaria, natural da Villa de Cambra, em quem concorrem os
requezitos necessarios e addesão a Causa de Sua Magestade
para hir emmediatamente occupar e Servir interinamente o
lugar de Juiz de Fora da ditta Villa d'Oliveira de Azemeis,
procedendo a Aclamação do ligitimo Governo da mesma
Senhora dando todas as providencias que julgar necessarias, o que lhe
encarrego por bem do Real Senhor, em
nome de Sua Magestade, dando-me parte do que ocorrer
sobre este objecto, Porto, e Secretaria da Prezidencia da
Rellação do Porto, vinte e quatro d' Agosto de mil oito centos trinta e trez
= Paiva Pereira Prezidente = Registado no livro segundo a folhas
cento trinta e duas verço = Tavares
Secretario = E copiada a Portaria, logo pelo mesmo
Augusto digo pelo mesmo Doutor Juiz de Fora nomiado, e
mais pessoas; da Nobreza, Clero, e Povo abaixo assignados
foi ditto que visto terem as tropas inimigas evacuado esta Villa e seu
termo ha mais de trez dias, e não ter procedido a Camara desta Villa a
Auto d'Aclamação e Reconhecimento
/ 291 / da Augusta Senhora, e da Carta Constitucional conforme
determina o Decreto de dezaceis de Julho de mil oito centos trinta e
dous, vindo por isso a conciderar-se inimiga e Rebelde, do Governo da
mesma Augusta Senhora, por isso neste acto, Aclamavão a mesma Augusta
Senhora por sua ligitima Rainha, bem como se necessario hera de novo rateficavão seu Juramento de Fedelidade a mesma Augusta Senhora e Carta
Constitucional, protestando não Reconhecer outro Governo, que não seja
este, offerecendo, e sacrificando suas pessoas e bens por defender, e
manter seus enauferiveis Direitos; E de como assim o declararão dou eu
Escrivão fé, e fiz este auto que elle Doutor Juiz de Fora assinou, com a
Nobreza, Clero, e Povo, Eu José Antonio da Rocha Escrivão do Geral no
Impedimento do da Camara o escrevi e assinei=José Antonio, da
Rocha=Manuel José de Pinho Soares d'Albergaria=Manuel Maria da Rocha
Colmieiro Tenente Coronel Commandante das Forças da Vanguarda da Devizão
Movel do Sul do Douro=Thomaz Antonio Leite Soares d'Albergaria Tenente
Coronel de Milicias desta Villa=Luiz Pinto Barreto Feio=Pedro Celestino Ferreira Pacheco Reitor=Manoel
da Silva Soares
d'Albergaria=Manuel Godinho da Costa=Thomaz Antonio Pinho Soares
d'Albergaria=O Padre Joaquim Ribeiro de Castro=Padre Antonio José
Alves=Padre José Correia Martins=José Joaquim de Britto Major digo José
Joaquim de Castro Britto=Major do Exercito Libertador=José Teixeira
Guimarães =João José Godinho= José Maria de Sequeira Monterrozo e
Mello=Thimothio José Godinho d'Almeida=Antonio Bernardo da Costa
Pinto=José de Bastos da Cruz=Custodio José da Rocha=Antonio Rebello
Valente Alves da Silva=Duarte José Borges de Castro=Manoel de Souza
Silva= José Joaquim da Costa Nunes=Antonio José de Pinho=Antonio
Francisco Pinheiro de Castro=O Cura Cuadjutor do Couto Antonio Vieira de
Sam José=Antonio José de Pinho Alho=José Joaquim d'Almeida=Salvador
Jozé da Silva=Domingos José de Pinho=Antonio Jozé da Silva Campello=Manoel
d'Assiz de Carvalho Pereira da Silva=Francisco Soares Barboza da Cunha=Manuel José
Correia Martins Alferes=Luiz Antonio da Silva=Joaquim José Abranches da
Fonseca Tavares=Domingos Jozé da Costa=Manoel da Silva Pereira=João
José da Costa Pinto Basto=Jozé Ferreira Valente=Joaquim
Ferreira de Araujo e Silva=Jozé Antonio Barboza da Rocha-Bento Moreira Leite Pereira=Jozé Carneiro Guimarães=José Venancio
da Silva Guimarães=Jozé d' Assumpção Valente Cura de Sam Vicente de
Pereira=João dos Reis Castro Portugal.
/ 292 /
E não continha mais em o dito auto d'Aclamação e
assignaturas, que eu sobredito Escrivão Jozé Antonio da
Rocha, aqui fielmente fiz copiar do proprio a que me reporto:
Oliveira d'Azemeis vinte e sete d'Agosto de mil oito centos trinta e
trez annos: Eu Jozé Antonio da Rocha subscrevi e assinei
(sinal publico)
Em ttº de verd.e
Jozé Antº da Rocha»
Talvez que algumas das pessoas que lerem este documento
sintam emoção ao passarem a vista pelo nome de algum dos
seus antepassados.
Aveiro, 30 de
Outubro de 1937
F. FERREIRA
NEVES
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