O GRANDE escritor
seiscentista, Dom Francisco Manuel de Melo, foi Comendador da Ordem de
Cristo, e, nessa qualidade, foi-lhe feita mercê da Comenda de EspinheI,
freguesia do Concelho de Águeda, vaga pela morte do Conde de Odemira,
como consta do respectivo alvará de nomeação, datado de Lisboa em 21 de
Abril de 1643.
A atestar a sua passagem
por aquela terra, há um documento muito interessante que encontrei há
anos, quando consultava uns livros do antigo arquivo paroquial daquela
freguesia, e que se refere à oferta duma lâmpada de prata, feita por
aquele escritor à Virgem da Assunção, padroeira da igreja, documento
esse que, por ser deveras curioso, merece ser registado no Arquivo do
Distrito de Aveiro, e, por isso, o transcrevo textualmente:
«Ao pr.º de julho do
anno de mil e seis centos e quarenta e sinquo annos deu de esmola a
Snõra dasumpção desta Igr.ª de espinheI Dom F.co ManoeI de
Mello comendador da dita Igr.ª hüa lampada de prata p.ª estar na capella
mor e manda alumiar por hum anno a sua custa e com esperanca de
amelhorar, e porque esta lampada he de nossa Snõra p.ª sempre e o dito
comendador pede aos parrochos q.e ao diante vierem mandem ter
cudado da dita alampada e por tudo passar na verdade fiz este termo q.e
assinei eu Ant.º botelho da silvr.ª Vigairo de espinheI hoie 4 dias do
mes de julho de 1645 Ant.º botelho da silv.ra».
Posteriormente houve quem entendesse, ou propositadamente quisesse fazer
crer, que a lâmpada pertencia à Confraria
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erecta na mesma igreja, chegando até a lavrar-se um termo num livro da
mesma Confraria dando-a como pertença dela, sendo mais tarde
esclarecido; e assentando-se que aquele objecto do culto pertencia à
Padroeira, como era intenção de quem a ofereceu.
Apesar da recomendação
feita aos párocos de Espinhel, por D. Francisco Manuel de Melo, para que
tivessem «cudado da dita lampada» o certo é que ela se perdeu, e apesar
das instâncias que fiz junto de pessoas antigas daquela freguesia,
ninguém me soube indicar o rumo dela. É possível que tenha desaparecido
por ocasião das Invasões Francesas, que, segundo tenho ouvido dizer,
saquearam algumas igrejas desta região.
SOARES DA
GRAÇA
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