Soares da Graça, Dom Francisco Manuel de Melo em EspinheI, Vol. II, pp. 307-308.

DOM FRANCISCO MANUEL DE

MELO EM ESPINHEL

O GRANDE escritor seiscentista, Dom Francisco Manuel  de Melo, foi Comendador da Ordem de Cristo, e, nessa qualidade, foi-lhe feita mercê da Comenda de EspinheI, freguesia do Concelho de Águeda, vaga pela morte do Conde de Odemira, como consta do respectivo alvará de nomeação, datado de Lisboa em 21 de Abril de 1643.

A atestar a sua passagem por aquela terra, há um documento muito interessante que encontrei há anos, quando consultava uns livros do antigo arquivo paroquial daquela freguesia, e que se refere à oferta duma lâmpada de prata, feita por aquele escritor à Virgem da Assunção, padroeira da igreja, documento esse que, por ser deveras curioso, merece ser registado no Arquivo do Distrito de Aveiro, e, por isso, o transcrevo textualmente:

«Ao pr.º de julho do anno de mil e seis centos e quarenta e sinquo annos deu de esmola a Snõra dasumpção desta Igr.ª de espinheI Dom F.co ManoeI de Mello comendador da dita Igr.ª hüa lampada de prata p.ª estar na capella mor e manda alumiar por hum anno a sua custa e com esperanca de amelhorar, e porque esta lampada he de nossa Snõra p.ª sempre e o dito comendador pede aos parrochos q.e ao diante vierem mandem ter cudado da dita alampada e por tudo passar na verdade fiz este termo q.e assinei eu Ant.º botelho da silvr.ª Vigairo de espinheI hoie 4 dias do mes de julho de 1645 Ant.º botelho da silv.ra».


Posteriormente houve quem entendesse, ou propositadamente quisesse fazer crer, que a lâmpada pertencia à Confraria
/ 308 / da Senhora do Rosário erecta na mesma igreja, chegando até a lavrar-se um termo num livro da mesma Confraria dando-a como pertença dela, sendo mais tarde esclarecido; e assentando-se que aquele objecto do culto pertencia à Padroeira, como era intenção de quem a ofereceu.

Apesar da recomendação feita aos párocos de Espinhel, por D. Francisco Manuel de Melo, para que tivessem «cudado da dita lampada» o certo é que ela se perdeu, e apesar das instâncias que fiz junto de pessoas antigas daquela freguesia, ninguém me soube indicar o rumo dela. É possível que tenha desaparecido por ocasião das Invasões Francesas, que, segundo tenho ouvido dizer, saquearam algumas igrejas desta região.

SOARES DA GRAÇA

 

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