Apresentação
Define-se como "uma
mulher atenta ao mundo, que se ocupa a cumprir sonhos e a realizar
projectos".
"Inquieta, sempre à
procura, sempre curiosa", Ângela Leite apresenta-se, inesperadamente,
sob a forma de um livro de poemas.
Moradora no
concelho, professora do Ensino Secundário, reformada, com uma passagem
pela autarquia como Chefe de Divisão da Cultura, a autora
surpreende-nos com uma viagem, partilhada, da sua vida, em forma de
poemas.
Sendo o gosto e a
atracção pela poesia, um dos dados marcantes da época em que vivemos,
e que Oeiras bem exponencia através do, por demais falado, Parque dos
Poetas, então, estão reunidos os condimentos para que esta edição
seja recebida com o agrado que se perspectiva.
À autora, as minhas
felicitações pela iniciativa e o estímulo expresso através desta
edição, que constitui, simultaneamente, uma oportunidade para uma
"viagem literária" e de identificação connosco próprios.
Isaltino de Morais
Presidente da Câmara de Oeiras
Prefácio
Ao ler este livro,
Metáforas sobre o Amor, fico com a impressão de que a autora, Ângela
Leite, mulher de grande cultura e sensibilidade, talvez por isso, não se
apropriou do preâmbulo de Eugénio de Andrade para um título mais
enfático e, porventura, mais em consonância com a sua obra, "Como
falar do sumo ou do sol da boca e das laranjas". Faço-o eu. Assim
plagio o Eugénio, com a devida vénia, e rebaptizo o livro como tal.
Naturalmente que aqui
o amor não é somente pelo outro, mas também pelos lugares e memórias, a
vida e a morte, os instantes mágicos, a experiência e a pura abstracção
poética, "Experimentei-te / até à exaustão / simultâneos /
descentrados / os sentidos todos / imóvel / o absurdo me contempla".
Surpreende neste texto, como em muitos outros, a síntese, a palavra sem
adornos, a fórmula. Ângela Leite, licenciada em filosofia e com uma
longa vida dedicada ao ensino apreendeu o rigor do símbolo matemático,
aliás, tão próximo do filosófico, e usa-o. Quem estiver à espera de uma
poesia lírica, clássica, cheia de rodriguinhos e lamentos, que desista
de a ler. A autora não se deixa ficar pelo fácil. Nem o quer vender.
"Amorosamente
fiz-te para a morte / Tal como Deu!". Quantas mães terão a coragem
e a clarividência para o afirmar? E assim mesmo. Não há que fugir. Todo
o amor, mesmo o eterno, termina com a morte.
E, contudo, Ângela
Leite, à semelhança de muitos outros poetas, por intuição, procura
intensa e permanentemente o eterno, mesmo sabendo-o utópico e absurdo.
Repudia igualmente o absoluto e outros fundamentalismos do pensamento,
para assim, tão serena quanto possível, viver apaixonadamente a vida,
fingindo com frequente ironia passar ao lado das angústias existenciais.
Mas não passa. Nem ela, nem ninguém. "O absoluto é imóvel / por isso
é a negação da vida / A nitidez distrai o olhar / e remete-o para
dentro de si / Contra a vontade de Deus / Eva criou os homens".
Amar então tudo e
enquanto for possível, o corpo de todas as viagens e circunstâncias, no
mar de todos os sentidos e erotismos, porque "São precisos
brilhantes / para tornar o vermelho erótico / Por isso me despiste / e
beijaste o meu corpo nu".
A plasticidade desta
linguagem minimalista é rigorosa e muito bela, mesmo quando se afasta do
factual, a imagem poética transfigura-se em ave do pensamento e sobrevoa
a nossa colectiva essência. "Glorifico a liberdade / de estar só /
Contemplo-me pensando / semelhante a Narciso no espelho / E abomino a
liberdade / que me fez assim".
Sente-se que este
livro, sendo o primeiro da autora, exorciza toda a sua vida de poeta. E
porque assim é, não se pode pedir-lhe que evolua, mas que continue, e
nos surpreenda.
Lisboa, 2001 Outubro 16
Armando Taborda |