Metáforas sobre o amor, Oeiras, C. M. de Oeiras, 2002, 106 pp. - ISBN 972-8508-62-X

Apresentação  //  Prefácio
 


Apresentação

 

Define-se como "uma mulher atenta ao mundo, que se ocupa a cumprir sonhos e a realizar projectos".

"Inquieta, sempre à procura, sempre curiosa", Ângela Leite apre­senta-se, inesperadamente, sob a forma de um livro de poemas.

Moradora no concelho, professora do Ensino Secundário, reformada, com uma passagem pela autarquia como Chefe de Divisão da Cultura, a autora surpreende-nos com uma viagem, partilhada, da sua vida, em forma de poemas.

Sendo o gosto e a atracção pela poesia, um dos dados marcantes da época em que vivemos, e que Oeiras bem exponencia através do, por demais falado, Parque dos Poetas, então, estão reunidos os condi­mentos para que esta edição seja recebida com o agrado que se perspectiva.

À autora, as minhas felicitações pela iniciativa e o estímulo ex­presso através desta edição, que constitui, simultaneamente, uma oportunidade para uma "viagem literária" e de identificação connosco próprios.

            Isaltino de Morais
Presidente da Câmara de Oeiras
 


 

Prefácio

Ao ler este livro, Metáforas sobre o Amor, fico com a impressão de que a autora, Ângela Leite, mulher de grande cultura e sensibilidade, talvez por isso, não se apropriou do preâmbulo de Eugénio de Andra­de para um título mais enfático e, porventura, mais em consonância com a sua obra, "Como falar do sumo ou do sol da boca e das laranjas". Fa­ço-o eu. Assim plagio o Eugénio, com a devida vénia, e rebaptizo o li­vro como tal.

Naturalmente que aqui o amor não é somente pelo outro, mas também pelos lugares e memórias, a vida e a morte, os instantes mági­cos, a experiência e a pura abstracção poética, "Experimentei-te / até à exaustão / simultâneos / descentrados / os sentidos todos / imóvel / o absurdo me contempla". Surpreende neste texto, como em muitos outros, a sín­tese, a palavra sem adornos, a fórmula. Ângela Leite, licenciada em fi­losofia e com uma longa vida dedicada ao ensino apreendeu o rigor do símbolo matemático, aliás, tão próximo do filosófico, e usa-o. Quem estiver à espera de uma poesia lírica, clássica, cheia de rodriguinhos e lamentos, que desista de a ler. A autora não se deixa ficar pelo fácil. Nem o quer vender.

"Amorosamente fiz-te para a morte / Tal como Deu!". Quantas mães te­rão a coragem e a clarividência para o afirmar? E assim mesmo. Não há que fugir. Todo o amor, mesmo o eterno, termina com a morte.

E, contudo, Ângela Leite, à semelhança de muitos outros poetas, por intuição, procura intensa e permanentemente o eterno, mesmo sabendo-o utópico e absurdo. Repudia igualmente o absoluto e outros fundamentalismos do pensamento, para assim, tão serena quanto pos­sível, viver apaixonadamente a vida, fingindo com frequente ironia passar ao lado das angústias existenciais. Mas não passa. Nem ela, nem ninguém. "O absoluto é imóvel / por isso é a negação da vida / A nitidez dis­trai o olhar / e remete-o para dentro de si / Contra a vontade de Deus / Eva criou os homens".

Amar então tudo e enquanto for possível, o corpo de todas as via­gens e circunstâncias, no mar de todos os sentidos e erotismos, por­que "São precisos brilhantes / para tornar o vermelho erótico / Por isso me despiste / e beijaste o meu corpo nu".

A plasticidade desta linguagem minimalista é rigorosa e muito bela, mesmo quando se afasta do factual, a imagem poética transfigura-se em ave do pensamento e sobrevoa a nossa colectiva essência. "Glorifico a liberdade / de estar só / Contemplo-me pensando / semelhante a Narciso no espelho / E abomino a liberdade / que me fez assim".

Sente-se que este livro, sendo o primeiro da autora, exorciza toda a sua vida de poeta. E porque assim é, não se pode pedir-lhe que evo­lua, mas que continue, e nos surpreenda.

Lisboa, 2001 Outubro 16
Armando Taborda

 

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