A floresta da Amazónia só agora começa a ser sentida
por toda a gente como problema do maior interesse a nível mundial.
Mas só porque começou a mexer no bolso de cada qual – com uma
diferença arrepiante: o dinheiro desaparece nos bolsos de quem tem
pouco e multiplica-se nos bolsos de quem provoca e alimenta as
tragédias a que só eles podem fugir. Esquecem que ganham fortunas
gerindo guerras entre outras gentes, julgando-se suficientemente
afastados da tragédia. A história antiga como a dos nossos dias não
os vê tão imunes…
Da Amazónia depende a saúde do nosso planeta, além de
constituir a maior reserva de biodiversidade. Mesmo entre aqueles
que conhecem estes problemas e levantam a voz contra os assassinos
dessa «mãe telúrica» do bem-estar da Humanidade, quantos se esforçam
por um estilo de vida congruente com esses valores?
Toda a gente «sabe» que não se deve matar…
contanto que não nos matem a nós nem aos nossos interesses. E de
repente gritamos que o mundo vai mal! Mas quem vai mal é cada um de
nós – quando não nos esforçamos por viver de modo a que haja mais
vida.
Votemos a favor ou contra o aborto e eutanásia,
estaremos mais informados do que sobre a questão da Amazónia? Onde
está o impacto das universidades católicas sobre questões sociais e
educacionais? Onde está o cultivo de relações humanas, que permitam
compreensivo envolvimento em problemas graves como estes? Que
formação existe (nomeadamente entre o clero e leigos religiosamente
comprometidos) para dialogar aberta e humanamente sobre estes e
outros temas como a homossexualidade e transexualidade?
É perigosa a pretensão de possuir a verdade e as
respostas para as «situações extremas»: são casos dramáticos,
intensamente humanos, do intrincado sentido da morte e da vida. O
legalismo pretensamente abalizado pela «ciência» e que se
autoproclama «rigorosamente ético» não consegue nem deve querer
penetrar no âmago do espírito humano para julgar «certo» ou
«errado». Apenas pode e deve fornecer a maior informação disponível
sobre «estudos de casos», em que a lei se reduz, quando muito, à
«norma» estatística.
Mas também não podemos viver de argumentações, por
mais sábias que pareçam. É de extrema importância cultivar atitudes
fundamentais para defender a vida. Atitudes que começam por ser
«pequenas» mas são eliminadoras dos «pequenos princípios» de guerras
e de toda a gama de crueldade. Calar um elogio, ser bruto no
exercício do poder … estão do lado da morte ou da vida?
As ditas pequenas atitudes (mas que exigem esforço)
valem mais e são mais eficazes que alguns «vistosos» apoios
financeiros: Mostramos apreço às mães grávidas e às crianças?
Defendemos e procuramos esclarecimento sobre o planeamento familiar?
Atendemos às pessoas de idade ou com alguma deficiência notável? À
semelhança de florestas ricas e agriculturas saudáveis, olhamos para
todos como «imprescindíveis» para o equilíbrio do «ambiente»
cultural e espiritual da Humanidade?
Precisamos de crianças e velhos como das velhas e
novas árvores da Amazónia. Eles é que estão no topo do mais alto
nível da «biodiversidade».
Matando florestas, matamos pessoas. Mas as crianças
não se podem «plantar» –muito menos por razões ou interesses
político-económicos. Será que a publicidade à necessidade de «mais
filhos» esconde a «necessidade» de garantir «novos escravos» do
sistema económico que os compra ou abandona? Ou para corrigir a
«distorção» ameaçadora da «pirâmide demográfica»?
Querer que haja mais filhos ou mais crianças pode
ocultar a histórica perversidade humana de dispor de muitos
«escravos» para se escolherem os mais rentáveis ao sistema
económico-social (defendido em várias escolas «católicas»!). Doutro
modo, como explicar tanto desemprego nas faixas etárias aptas para
trabalhar? E com que coragem sugerimos ter filhos, se os
progenitores nem para eles próprios conseguem o devido «oxigénio»?
Se todos (sobretudo os países ricos que destruíram as
suas florestas e crianças, e gerem mal o «território») devemos
contribuir para o pequeno resto de pulmão que nos resta – porque não
contribuímos todos (é a justiça dos impostos…) para um número
«racional» de filhos? E de filhos com robustez e «biodiversidade»
muito superiores à Floresta amazónica»?
Enquanto guardamos esperança na «conversão» dos
«católicos» centros de ensino e investigação, apliquemos antigas
«mezinhas ecológicas»: um simples sorriso, palavra amiga ou pequenos
gestos de atenção, carinho e ajuda… podem salvar o que vale muito
mais do que a Amazónia e que por sua vez farão surgir novas
«amazónias».
Aveiro, 25-09-2019 |