Corruptos? Nós?

Na medida em que cruzamos os braços perante a corrupção. Pouco adianta organizar almoços e congressos «politicamente correctos». A melhor estratégia, que combina prática e pensamento, é analisar os comportamentos, individuais ou institucionais, que «a consciência comum» reconhece como destruidores do que é bom, em cada um de nós e para todos nós. Podemos então condenar e fazer frente a esses comportamentos inimigos do «progresso» (que significa «procurar o melhor» e não «brincar às mudanças»). E tudo isto independentemente da raça ou da origem, da religião ou posição perante a religião, e particularmente das várias direitas, das várias esquerdas e dos vários centros…

Já mais difícil é descrever consensualmente o que será «a consciência comum». De muito pouco valem os referendos – que mostram sobretudo a força, quantas vezes irracional, de líderes ou ideologias, e que atraem usando a ignorância dos ouvintes, a mentira e jogadas de corrupção. E quantas vezes se fala mal dos «corruptos» com escondida inveja de não conseguirmos o sucesso deles e até votando neles para pertencer ao grupinho dos protegidos…

À mesa do café, quando a convivência natural se apoia na confiança e apreço pelos outros, é possível dispor de um dos ambientes mais eficazes para discutir a «consciência comum» sobre o que é melhor ou pior. Então é que temos olhos e ouvidos atentos e capazes de reconhecer o que é sincero e fundamentado. Quando, sem coacções nem pressas, damos a nossa opinião, todos sabemos apreciar e discernir o bem do mal.

Quem não se importa de ser um boneco nas mãos dos chamados «mais poderosos» não é «pessoa a sério». Sim, há pessoas escravizadas de tal maneira que não se conseguem libertar. Porém, quem as procura ajudar com boas estratégias? Também há «boas pessoas»que, a nível da Comunidade Humana, não são «pessoas a sério»: cruzam os braços (com muita pena, dizem eles) perante o sofrimento alheio.

Mas nada de ilusões: o «combate» faz-se sobretudo «regionalmente». Sem esquecer que cada um de nós paga os organismos estatais para que promovam o bem-comum evitando meios «corrompidos».

Espectáculos, pequenos artigos, encontros onde haja lugar para discussões claras e fundamentadas… sem excluir o bom humor, o bom cinismo e a boa arte. São algumas estratégias excelentes para questionar e aperfeiçoar a orientação do nosso voto e para evitar que o futuro esteja nas mãos de quem compra o poder para interesse próprio, à custa do interesse comum.

E depois das eleições, há muito tempo para novas reflexões. Mas antes de cair a noite.

Aveiro, 07-03-2024

 

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