Fiquei assustado com a «burocracia virtual». Senti-me tratado como
alguém de quem se desconfia e a quem se exigem as mais rigorosas
informações pessoais. E encontrar o item adequado para enquadrar
o(s) tema(s) da carta? Teria que a desfazer aos bocadinhos e
submeter cada ideiazinha ao enquadramento «simplex». E eu a pensar
que era possível um contacto personalizado! Tive saudades da
resposta que da CP me enviaram há vários anos atrás: «É raro receber
uma carta de sugestões e críticas tão interessante e de bom nível…»
Espero encontrar aqui o espaço adequado para uma conversa quase de
café. Aqui vai:
À
ADMINISTRAÇÃO DA CP
Ex.mos Senhores:
Peço a V/ compreensão para este texto longo. São reacções
partilhadas, certamente do V/ conhecimento, mas espero que úteis
como opinião.
Há 3 anos que doei ao Museu do Brincar (Vagos) a minha pista de
comboios (2,5mx4m, várias máquinas e dezenas de carruagens) começada
a construir há mais de 40 anos. Guardo uma ligação afectiva ao
transporte ferroviário, que já defendi nalguns artigos (e também
critiquei).
Sigo a opinião de que há razões para crer que a Covid-19 sirva de
plinto para renovado sucesso.
Começo por considerar que nós portugueses não estamos para nos
ralar com sugestões e reclamações objectivas e não ofensivas. É com
atitude positiva que envio seguidamente algumas críticas e
sugestões, já elaboradas antes da pandemia:
1 – As
vantagens para a saúde, descanso e trabalho, turismo da natureza e
de cultura, além das vantagens ambientais, podiam ser muito mais
valorizadas. É importante poder apreciar e descansar com a paisagem.
Acontece, porém, que nas antigas carruagens adaptadas, vários
lugares ficaram privados de vista para o exterior...
2
– Há avisos de «partida» quando o comboio nem sequer chegou; ou
quando já partiu há muito… Que se passa? Não há inter-acção do
serviço central com os funcionários das estações?
3 – Há
problemas no acesso às carruagens. Nas plataformas, não valeria a
pena pintar uma faixa de cerca de 20 metros coincidente com a
carruagem do meio da composição?
4 –
Quanto ao Alfa: uma vez que circula sempre com a mesma orientação
das carruagens, bastaria colocar, nas plataformas que utiliza,
qualquer coisa como três postes de informação: CARRUAGEM 1 / 2;
CARRUAGEM 3 / 4; CARRUAGEM 5 / 6. Mesmo nos cais com pouca gente, as
pessoas não fazem ideia, muitas vezes, do local onde é mais
conveniente ficarem concentradas.
5 –
Independentemente da construção da linha de AV Lisboa-Porto,
partilho a opinião de que se poderia ligar mais eficientemente
(aproveitando infra-estruturas existentes) as várias regiões do país
e facilitar ligações com a Europa. Já seria um bom começo ligações
de comboios rápidos com centros culturais e estratégicos como
Santiago, Salamanca e Sevilha.
6 –
Quanto à moda de pintar as carruagens de passageiros: os milhões de
euros para renovar a pintura não seriam mais bem aplicados em formar
«supervisores» do material nas «horas de repouso»?
7 –
Perante a situação actual de Covid-19, não seria rentável um comboio
de carruagens-cama entre o Porto e o Algarve? E por que não a partir
de Santiago…? E uma composição de turismo percorrendo toda a costa
atlântica da Península?... As carruagens-cama parecem mais seguras
higienicamente e substituem, com vantagem, a noite apressada num
hotel, eliminando muito stress.
8 –
Notam-se muitas melhorias, como na limpeza e pontualidade. E deu-se
muito valor à comunicação, sempre renovada, sobre os cuidados da CP
para proteger os utentes neste tempo de Coronavírus.
9 –
Também é justo reconhecer que muitos revisores e funcionários são
impecáveis, mesmo perante situações de conflito.
10 –
Para finalmente terminar: O transporte ferroviário não ficaria
valorizado, mais atractivo, seguro e gerador de novos empregos, se
as estações fossem reabilitadas, funcionando como agradáveis e úteis
locais de espera e de informação? Desde Café a Centro comercial… E
por que não aproveitar tantas bonitas estações em degradação, como
residência de responsáveis da sua manutenção, embelezamento e
rentabilidade?
Com os melhores votos de sucesso «em toda a linha».
Aveiro,
15-07-2020 |