Bom dia, se'tora! Bom dia, se'tor!

Não ficaria mal, mas seria bizarro, pretender dar os BONS DIAS a todos os «SECTORES» da Educação. Aqui, apenas poupamos espaço e aumentamos rapidez, ao compactar cumprimentos a essas «doutas figuras mais velhas» – tão importantes porque os alunos têm muita importância!

Se fosse a minha vez de aparecer como professor, talvez me ficasse por inquirir (verbo já impróprio do «português básico») junto da secretaria ou de um grupo de alunos, em que «sector» é que iria dar aulas. Talvez tivesse que explicar porquê «sector» para os pais e «setor» para os filhos. Seria começar a longa história do alfabeto, tão divertida e dramática como uma «telenovela das letras». Nos «velhos tempos» havia mais letras e a gente sabia usá-las todas. Mas era frequente ver alguns professores confundirem «investimentos educativos» com «depósitos à bordoada».

Até os macacos nossos antepassados se ficam por uma patada ou mordidela (embora diferente das mordidelas de namorados). Há quem os queira ensinar a compreender e talvez usar a nossa linguagem. Mas eles têm a esperteza que lhes é própria. Entendem-se muito bem com sons, gestos e atitudes de carinho ou de zanga.  Cá por mim, é bem que desconfiem da linguagem humana: demasiadas vezes, só serve para insultar, enganar e mentir…Até serve para fingir conhecimentos profundos e difíceis (se não impossíveis) de compreender, atirando para o ar «palavrões» misteriosos, daqueles que deixam os ouvintes embasbacados com o que parece sabedoria extrema.

Verdade verdadinha, porém, dificilmente haveria bons alunos sem bons professores.

Mas o bom professor não sabe tudo (coisa aliás impossível): aprofunda sempre que pode o conhecimento e sabedoria a que se dedica e pondera o que vale a pena ir partilhando com os alunos; só então é que estes também reconhecem que «vale a pena»(=é esforço compensador)conhecerem esses horizontes novos, úteis para a escolha do caminho da realização pessoal.

Não é de admirar que em certas disciplinas como filosofia, arte, moral e religião… muitos conceitos pareçam «misteriosos» e de «embasbacar». O mais grave é ficar-se por aí, como se se tratassem de verdades indiscutíveis se inalteráveis, mesmo quando se fica mais confuso e «sem luz ao fundo do túnel».Tudo o que é transmitido pelos nossos meios de comunicação está sujeito a erro – e é por isso que,  justamente quanto mais importantes forem os assuntos, mais precisamos de os analisar e discutir em «grupo perfeito» (onde todos sabem escutar e falar), para mais perfeitamente nos aproximarmos da verdade.

Por outro lado, a estranheza e até o desinteresse dos alunos podem-se transformar num excelente ponto de partida para discussão em que ninguém se acanhe de participar; e de modo especial que ninguém se sinta mal visto por parecer ou ignorante ou «atrevido». Destas atitudes é que nascem pensamentos fundamentados e criativos.

Vai-se reconhecendo a vantagem de garantir, para além de um conciso e breve «currículo nuclear», um espaço-tempo onde cada «eu» se reconheça naquilo que o faz feliz. E onde professores e alunos dispõem do ambiente apropriado ao exercício da atitude de escutar, pensar e falar; onde cada qual ultrapassa a seu jeito as dificuldades em qualquer matéria e onde vai descobrindo o seu lugar na vida.

Um ser humano é tanto mais feliz quanto mais sente que o levam a sério e quanto mais se sente à vontade para exprimir as suas potencialidades.

Diz-se (e fica bem) que pais e professores fazem tudo para que alunos e filhos os «ultrapassem». Mas talvez seja mais correcto dizer que as pessoas não se ultrapassam: descobrem o caminho próprio e único de serem felizes – o  que não admite comparações.

Todas as profissões são igualmente dignas, na condição de revelarem «uma pessoa a sério», uma pessoa que aprendeu a dar, a aumentar a felicidade dos outros – o bem-estar da sociedade. Por outro lado, não é verdade que qualquer tipo de profissão seria mais bem executado se houvesse maior nível de formação e cultura geral?

 O tema da dignidade das profissões mais diversas e dos «salários justos»é um difícil e central problema político, mas que já inquieta os mais novos. Cabe aos educadores incitá-los para que o comecem a analisar sem se deixarem levar por ideologias doutrinadoras.

Ninguém se pode fechar sobre si mesmo. Desde cedo importa preparar as novas gerações para terem consciência dos ideais, problemas e sucessos pelo mundo fora. Sem se cair no facilitismo ingénuo de imitar ou «importar»: só avançamos racionalmente se sabemos gerir a «herança» (cada vez mais global) com a «criatividade» que nos é própria.

Tudo começa por se conseguir uma «escola agradável»: é uma escola cuja sábia gestão leva a descobrir o «esforço agradável».

Aveiro, 18-09-2019

 

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