Em 19 de Abril de 1908, um menino toureiro, um toureiro-prodígio, apresentou-se pela vez primeira ao público. Tinha
13 anos e chamava-se José Gomez Ortega...

Pois este mesmo José Gomez Ortega, que se imortalizaria com o nome de «Gallito», esteve pouco tempo depois em A veiro, toureando em 30 de Agosto na praça de madeira então existente no Rossio.

Por um desagradável conjunto de circunstâncias, os aveirenses não puderam apreciar o «astro», o «fenómeno», em toda a sua plenitude. Ainda assim, num ou noutro pormenor ressaltou o génio toureiro daquele que não tardaria a ser considerado como o maior de quantos haviam pisado os redondéis de Espanha.

Morto por um fatídico «Miura», doze anos volvidos, em Talavera de la Reina, Gallito continua a viver na recordação de milhares e milhares de admiradores.

Nome eterno na história da tauromaquia, a arte prodigiosa de Benlliure como que cimentou melhor, se possível, essa eternidade...

No dia seguinte à actuação de Gallito em Aveiro, um jornal citadino, nas suas «Notas taurinas», referia-se deste modo ao espectáculo:

«Não foram felizes os sócios do «Clube Mário Duarte» que promoveram a garraiada de ontem e que era dada em homenagem aos excursionistas de Coimbra que oficialmente tinham anunciado a sua visita em comboio especial e que à última hora resolveram não vir a Aveiro.

«Os toiros, que não eram feios de estampa e em que haviam (sic) grandes esperanças de bravura, eram sabidos e mal intencionados como poucos, cortando terreno e procurando dar pela certa. A falta de capotes seguros, visto que o único que havia, «Chicorrito», ficou logo inutilizado no primeiro toiro, tudo isso contribuiu para que os amadores não pudessem mostrar as suas habilidades.

Reconstituição parcial do programa da corrida, impresso há 42 anos na mesma tipografia em que foi o Almanaque.

Havia 3 garraios para os «niños sevilhanos» Gallito III e Limêno II, esses dois prodígios da arte que não puderam mostrar quanto valiam pela mansidão dos animais que lidaram. Ainda assim, depois dum trabalho insano, cambiaram magistralmente alguns pares de bandarilhas e deram vários passes de muleta e de capote aos mansos, pelos quais o público pôde avaliar o grande mérito daquelas crianças sem rival hoje na península».

Ao fazer tal descrição,  acompanhando-a de notável documento iconográfico, julga este «Almanaque» rememorar devidamente passo menos conhecido de um «diestro» que assombrou o mundo taurino!

Uma fotografia que não pode deixar de interessar os aficionados... O célebre Gallito, quando ainda «niño torero», rodeado por bastantes amadores tauromáquicos de Aveiro e alguns do Porto. A parede que se vê ao fundo é a a fachada do inesquecível Ginásio Aveirense.

Da esquerda para a direita: no 1.º plano: Firmino Picado, João Joaquim Gonçalves, Aparício de Barros Miranda e Raul Ferreira de Matos. No 2.º plano: Lino da Silva Marques, Francisco Ferreira da Encarnação, Alberto Azevedo, GaIlito, El Chicorrito e Limêno. No 3.º plano: Luís da Naia, Mário Moreira (do Porto), Mário Duarte, um espanhol, apoderado dos «niños», Jerónimo Peixinho, Bernardo Meireles (do Porto), António Rocha, Adolfo Meireles (do Porto), Alberto Fernandes (de Espinho), J. Gomes de Sousa e um espanhol, auxiliar da corrida. No último plano: António Couceiro (de Casal Comba), Antenor Ferreira de Matos, Abel Costa e A. Pinho Soares.