Almanaque Desportivo do Distrito de Aveiro 1950, pág. 143.


ÉPOCA TAURINA DE 1908...


Figuravam no programa alguns consagrados nomes da tauromaquia nacional. Não obstante, a praça do Rossio apresentava mais de metade da lotação... às moscas!

O Morgado de Covas, no seu primeiro touro, houve-se bem, espetando mesmo um ferro magistral. No segundo, confiado em demasia, deixou que a montada levasse um "beijo" do «cornúpeto»...

José da Costa fez tudo por agradar. Da gente de pé, Cadete e Malagueño brilharam nessa tarde ardente de Junho, pois estava-se a 14 do mês de S. João...

Cadão e João de Barros fizeram pegas rijas, a ombrear com as dos homens do Ribatejo.

A corrida inaugural da época teve pormenores de agrado, não satisfazendo inteiramente no conjunto.

A segunda corrida efectuou-se em 28. José Casimiro mostrou-se esplêndido, Teodoro, Cadete e Saldanha pura e simplesmente bem.

Como na toirada precedente, o público não acorreu em quantidade apreciável.

Em 20 de Julho, com menos de um terço da casa, realizou-se a terceira corrida, que causou decepção

Farpeou o velho cavaleiro José Bento de Araújo e estiveram presentes, entre outros, os conhecidos bandarilheiros Tomás da Rocha, que se distinguiu, e Manuel dos Santos.

Depois, o Clube dos Galitos, a Associação dos Bateleiros, a Sociedade Recreio Artístico e o Clube Mário Duarte promoveram garraiadas.

Finalmente, em princípios de Setembro, apareceu a notícia desoladora:

«No dia 8 do corrente, e sob a base de 1.200.$000 será vendida em arrematação a praça de touros do Rossio, com todos os seus pertences, se antes daquele dia o proprietário não tiver proposta de compra aceitável.»

E a praça foi parar... à Golegã!

A sorte do circo taurino levantou celeuma e algumas penas vibraram de pura indignação. Entre todas, flamejou, despedindo rijos golpes, a de João Mendonça Barreto, homem de honra, tão bom pegador de garraios como crítico esclarecido e sem papas na língua...

O certo é que a praça de madeira do Rossio, a primeira do país no seu género, construída cerca de 10 anos após a demolição da de pedra e cal, que passava por ser a segunda do país na sua categoria, seria substituída, por seu turno, só alguns anos mais tarde.

Se em 1897 o público lamentara o desaparecimento da praça magnífica para a época e onde haviam toureado Castelo Melhor e Conde do Côvo, Marquês de Belas e D. António de Portugal, numa palavra, toda a fina fIor da tauromaquia portuguesa – esse mesmo público, volvida uma dezena de anos, não saberia compreender a iniciativa entre arrojada e simpática de Domingos João dos Reis. E, no entanto, pelo redondel haviam passado agora um José Casimiro, um Morgado, um Cadete, um Teodoro, numa palavra ainda, a plêiade mais representativa do seu tempo!


 

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