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Data de 12 de Setembro de
1490 uma das primeiras notícias acerca de cartas de jogar em Portugal,
uns cem anos antes de, por cá, se legalizar este tipo de jogo.
Reporta-se, pois, ao tempo de D. João II e tem a ver com pedidos
expressos, efectuados nas Cortes de Évora, para que se proibisse a
entrada de cartas, por via dos vizinhos espanhóis, onde a manufactura
legal estava florescente. |
Sabe-se que, uns anos mais
tarde, já no reinado de D. Manuel, serviam de passatempo nos serões em
Évora, através de um conjunto de 48 trovas, a inscrever nas próprias
cartas, que o rei encomendou a Garcia de Resende para um divertimento no
paço.
Praticavam-se, nessa época, jogos como o trunfo, a arrenegada, a runfa,
o fluxo, a primeira e a primeira da Alemanha. As cartas de corte
chamavam-se rei, conde e sota; os ases eram elegantes dragões; e o dois
de paus, um jovem agarrado a dois cacetes cruzados.
Era a época dos baralhos nacionais; era já o baralho que, durante cerca
de 400 anos ficou conhecido como baralho de tipo português e que também
partiu logo à descoberta de terras longínquas, nas algibeiras dos
mareantes.
Diz-nos Gil Vicente, no
Auto da Feira:
Às vezes vendo virotes,
e trago d’Andaluzia
naipes com que os sacerdotes
arreneguem cada dia,
e joguém té os pelotes.
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Tábua
de altar da igreja de Nª Sª do Carmo, em Évora. |
Segundo consta, por uma
carta de perdão do reinado de D. Sebastião dada em 18 de Outubro de
1559, quem primeiro as terá impresso terá sido André de Burgos,
impressor do cardeal D. Henrique, que se instalou em Évora a trabalhar
naquela cidade, proveniente de Sevilha. Castigado com degredo, por ser
proibido fazer cartas em Portugal, ao fim de dois meses pediu e
conseguiu o perdão do castigo que lhe fora infligido «por se dizer que
ensinava a fazer cartas de jogar».
Uma outra primazia alentejana é a da tábua de altar da igreja de Nª Sª
do Carmo, em Évora, pintada provavelmente no penúltimo decénio do séc.
XVII, onde se podem ver várias cartas de jogar. Até ao momento,
considero-a a mais antiga imagem do nosso baralho, existente em
Portugal.
Pelo mundo fora, nos muitos museus da especialidade e nas mãos de muitos
coleccionadores, estarão sem dúvida cartas muito mais antigas.
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* A propósito da recente
publicação, pela autora, da História das Cartas de Jogar em Portugal e
da Real Fábrica de Cartas de Lisboa (do Século XV até à actualidade).
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