Era o tempo de sarar feridas impossíveis e de tentar esquecer (ou
lembrar) os Mártires da Liberdade. Era o tempo em que José Estêvão
Coelho de Magalhães podia voltar a embainhar a espada, voltar a
Coimbra para acabar os seus estudos jurídicos e começar a brilhar
nas Cortes da Nação. Havia ainda que esperar pela criação de um
liceu em cada sede de distrito (Passos Manuel) e pela Regeneração
que os havia finalmente de instituir. Nascia, assim, em 1851, o
Liceu de Aveiro no coração da freguesia da Glória.
A ligação de José Estêvão ao Liceu de Aveiro, hoje Escola Secundária
de José Estêvão, é tão natural que o seu patrono não poderia ser
outro. Desde logo porque não fora o ilustre aveirense e certamente
não teria o Liceu de Aveiro, desde 1860, um edifício próprio
(durante décadas o único liceu a ter esse «privilégio»). Foi a sua
voz de aveirista convicto, que, em S. Bento, convenceu o Governo a
dar as verbas necessárias à construção do edifício: nascia assim uma
construção que ainda hoje alberga a Escola Secundária Homem Cristo.
Depois porque os primeiros actos públicos de homenagem ao notável
político decorreram no Liceu de Aveiro: o descerramento do primeiro
retrato do tribuno, propriedade da Escola José Estêvão; foi ainda no
Liceu de Aveiro que durante anos funcionou a Comissão que presidiu
aos trabalhos do Monumento a José Estêvão; foi José Estêvão patrono,
durante décadas, do antigo Liceu de Aveiro.
Nos últimos 160 anos a Freguesia e o Liceu cresceram quase a par.
Hoje, quando a Freguesia se engalana para comemorar os seus 175
anos, a Escola Secundária de José Estêvão espera que as obras de
requalificação da Parque Escolar terminem. Terá então a Glória um
edifício público de que se pode orgulhar. Terá então a Comunidade
Educativa de Aveiro umas instalações ao nível do século XXI, para
que o nosso futuro comum possa ser bem melhor. Assim, certamente, o
desejaria José Estêvão. Assim o façamos nós.
Alcino Martins de Carvalho,
Director da E.S.J.E