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Pintura de Gaspar Albino - Ílhavo, 2001, págs. 5 a 15.

   

 

GASPAR ALBINO,
FILHO DE MARÍTIMO NAUFRAGADO,
EXPÕE NA GAFANHA DA NAZARÉ

 

1- O HOMEM
1. 1- Origem e formação

Alguns dos visitantes desta exposição conhecerão muito melhor do que eu, e de há mais longa data, o actual Presidente de AVEIRO-ARTE, Pessoalmente, só o conheço há bem poucos anos, tendo-me sido apresentado pelo saudoso Cândido Teles, Porém, os mais novos e os de memória mais fraca, ou os mais distraídos, carecerão de dados que lhes permitam identificar quem lhes vem apresentar o resultado da sua última faina plástica. Socorro-me, por isso, de alguns dados do extenso currículo que Gaspar Albino pôs à minha disposição para apresentar sumariamente o autor dos trabalhos que agora se patenteiam.

Filho de mãe ceboleira e de pai cagaréu, Gaspar Albino expõe na Gafanha da Nazaré, pela primeira vez, óleos com temática piscatória, Pretende homenagear, a justo título, de uma maneira geral, todos os marítimos e bacalhoeiros, e especialmente, o seu pai, que por duas vezes naufragou no Atlântico: a primeira, ao largo da Terra Nova, quando trabalhava na pesca do bacalhau; a segunda, no Golfo da Biscaia, num navio da marinha mercante. Seu pai perdeu a saúde, ficando impedido de trabalhar para todo o sempre e de prover, definitivamente, ao sustento da família, que passou a viver em condições precárias.

Seu filho conseguiu tirar o Curso Geral de Comércio e foi distinguido com o
Prémio do Grémio do Comércio de Aveiro para o melhor aluno do seu curso, Durante a frequência do curso, como estudante-trabalhador, obteve vários prémios de jornalismo e artes plásticas em actividades circum-escolares, Fundou e dirigiu o jornal de estudantes-trabalhadores Prà-Frente, Gaspar Albino não pôde prosseguir os estudos, por carências económicas, Depois de ter atingido os dezoito anos de idade, como trabalhador-estudante, conseguiu fazer, com êxito, os exames do 22, e 52, anos do ensino liceal, no Liceu Nacional de Aveiro, na mesma época de exames, tendo sido o aluno mais bem classificado a Desenho.

Sempre como trabalhador-estudante, no ano seguinte, fez o 72, Ano dos Liceus e galgou para a Faculdade de Direito como aluno "voluntário", tendo chegado a estar inscrito no 42, Ano do Curso de Direito, mas foi obrigado a inter-romper os seus estudos por razões profissionais.

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1 . 2 - Vida profissional e empresarial

O Curso Geral do Comércio facultou-lhe a obtenção de um lugar de praticante de escritório numa empresa de pesca de bacalhau. Pouco depois foi promovido a ajudante de guarda-livros. Sempre subindo degraus, atingida a maioridade, consegue ser nomeado guarda-livros e chefe da contabilidade de duas empresas dum grupo económico aveirense. Quase em falência técnica a empresa de pescas onde trabalhava, a Assembleia Geral dos sócios empresariais delegou-lhe tarefas de gerência com o objectivo de recuperar a situação económica e financeira da firma. Gaspar Albino obtém então a possibilidade de ser sócio
da empresa piscatória. A recuperação da empresa foi levada a cabo com êxito, permitindo a diversificação da sua actividade e transformando-a numa das maiores empresas nacionais de arrasto costeiro. Nessa senda, Gaspar Albino fundou em Casablanca uma das primeiras sociedades luso-marroquinas de pesca e dirigiu a actividade da empresa aveirense para a construção naval; introduziu inovações tecnológicas no arrasto costeiro, tendo igualmente promovido a construção de dois arrastões costeiros nos estaleiros franceses de Boulogne-Sur-Mer, segundo protótipo da CEE de então, que viriam a servir de modelo para a renovação da frota costeira portuguesa, fazendo neles as adaptações sugeri das por um gabinete técnico que dirigia naquela altura.

Como armador de navios de pesca, Gaspar Albino chegou a ser Director do antigo Grémio dos Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau, Presidente das Assembleias Gerais da Mútua dos Navios Bacalhoeiros, da Cooperativa
Abastecedora de Navios, da Associação dos Armadores da Pesca Longínqua, da Cooperativa dos Armadores da Pesca de Arrasto e da Mútua dos Armadores da Pesca de Arrasto. Foi também Director e Presidente do Conselho Directivo da Associação dos Armadores das Pescas Industriais e Vogal da Direcção da antiga Corporação das Pescas e das Conservas. Representando os operadores da pesca longínqua, fez parte de várias delegações portuguesas em reuniões da International Commission for the Northwest Atlantic Fisheries e da Northeast Atlantic Fisheries Commission, em Inglaterra, Escócia, Irlanda, Canadá, Espanha e Itália. Colaborou com o grupo interministerial para as negociações tendentes à integração do sector das pescas de Portugal na CEE. Durante largos anos, foi membro do Plenário da Junta Autónoma do Porto de Aveiro.

 

1 . 3 - Actividades cívicas e culturais

Gaspar Albino exerceu durante dois mandatos as funções de vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Aveiro, sendo actualmente Vogal da Assembleia Municipal da mesma cidade. De 1986 a 1989 foi 1Q. Secretário do Conselho Municipal de Aveiro. No Clube dos Galitos da cidade lagunar também dirigiu o Pelouro Cultural da agremiação, tendo promovido a criação de um Círculo de Artes Plásticas que esteve na origem de Aveiro-Arte.

Participou na fundação do Círculo Experimental de Teatro de Aveiro. Durante mais de dez anos, manteve-se como Presidente da Direcção dos Bombeiros Novos de Aveiro. O novo quartel desta companhia de bombeiros / 7 / voluntários foi construído sob a sua presidência. Presidiu ainda à Mesa de Encontros de Direcções da Federação de Bombeiros do Distrito de Aveiro, tendo batalhado para que fosse instaurado um adequado regime de seguro de vida, e outras protecções, em benefício dos bombeiros distritais.

Foi Presidente fundador do Lions Clube de Aveiro e também fez parte do elenco de sócios fundadores do Lions Clube de Santa Joana Princesa. Actualmente, exerce o cargo de Vice-Governador do Distrito 115 - Centro Norte de Lions Clubes ( 2000 - 2001).

Tem publicado frequentemente crónicas e críticas de artes plásticas em jornais regionais, e até de âmbito nacional. e mais particular e regularmente nos semanários Correio do Vouga, Litoral e ainda no Diário de Aveiro. Os auditores da Rádio Moliceiro puderam ouvir semanalmente crónicas suas consagradas a temática variada, que ia da arte à economia regional.

 

 

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