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A R. A. teve
oportunidade de conversar com o Sr. Agostinho Vaz que é o desenhador
projectista responsável pelo projecto de mastreação da Fragata. Vamos
começar com uma introdução em que o Sr. Agostinho nos vai falar dos
problemas da mastreação. |
AV: O projecto
da mastreação teve como base inicial um estudo comparativo feito pelo
Comandante Malhão Pereira e com estudos de vários autores portugueses
desde Fontes Pereira de Melo (1818). O Comandante Malhão Pereira, com
base nesses estudos, estabeleceu os comprimentos, diâmetros e massas das
peças da mastreação do navio (grande, traquete, gávea) e só a partir
desses elementos com as dimensões principais é que se começaram a
elaborar os desenhos da mastreação. Começou-se pela geometria das peças,
que não são cónicas, e toda a geometria é reproduzida pelos métodos
construtivos e depois pelas próprias aplicações. Portanto, quanto à
geometria, baseámo-nos em vários processos e métodos da arquitectura
naval antiga, como os métodos ou processos da mitra, do raio, dos três
quartos; esses foram os processos utilizados. Depois de estabelecida a
geometria das peças, mastros, vergas, etc., passou-se ao método de
construção das peças, ou seja, o modo como a peça deve ser construída.
No que diz respeito aos mastros reais, são compostos por quatro peças,
enfaixadas e furadas
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que são colocadas pelo método de enfaixamento cruzado, com buchas que
impedem o deslocamento dessas peças, e ainda muitas outras peças que se
irão aplicar nos mastros, por exemplo, as romãs, dos cestos de gávea, as
pegas, e todo um conjunto de peças de diversas aplicações para os
mastros. Uma coisa que se procurou sempre respeitar foi a genuinidade da
arquitectura naval portuguesa, procurando-se sempre recorrer a livros e
a desenhos de autores portugueses, e só quando não tínhamos informação
alguma é que recorríamos a autores estrangeiros. Inclusive, nós temos na
"nossa" mastreação peças genuínas que não existem em navios nenhuns
iguais ou do mesmo tipo, como, por exemplo, as romãs, etc., que não
existem em fragatas à vela da mesma época: alguns têm as mesmas peças,
mas com uma geometria diferente.
RA: Como se
processou relativamente ao desenho dessas peças genuínas da arquitectura
naval portuguesa?
AV: Temos muito
poucos desenhos antigos, e tivemos que recorrer nalgumas peças a livros
especializados, mesmo estrangeiros, caso das romãs, do curvatão, dos
vaus, das pegas, etc., e aí em pormenor houve que recorrer a autores
estrangeiros.
RA: E em termos de
tempo de execução destes desenhos, foi uma operação longa?
AV: Nós não
podemos separar a parte de investigação e pesquisa da parte de execução,
pois as duas coisas estão intimamente ligadas, e assim podemos dizer que
demorou, entre estudo e desenho, um pouco mais de um ano.
RA: Quantos
desenhos ocupa a parte da mastreação do navio?
AV: Os desenhos
gerais descritivos são em número de oito, mas depois em, pormenor, como,
por exemplo, só para as ferragens de bordo são mais de trinta folhas.
RA: Quanto à
matéria-prima (madeira) de que são feitos os mastros e as vergas, pode
descrever-nos sumariamente algo sobre este tema?
AV: Bem, os mastros, vergas e mastaréus de 2.º nível são construídos em pinho virgem,
importado da Finlândia, em árvores. As vergas maiores são feitas em duas
árvores, e depois são escarvadas e encaixadas, dadas as suas dimensões.
As vergas menores e mastaréus são todos de uma peça única, dada a sua
menor dimensão. |