A SINALIZAÇÃO luminosa das
costas marítimas para orientação dos navios durante a noite era feita dantes por meio de fachos. Esta sinalização era insuficiente
e por isso se recorreu aos faróis cuja luz podia
ser vista do mar a grandes distâncias. Em 1 de Fevereiro de 1758 foi
publicada uma lei para se construírem seis faróis nas costas
portuguesas:
«Um nas Ilhas Berlengas, outro no sítio de Nossa Senhora
da Guia, ou no mesmo lugar, onde antes o houve,
ou em qualquer outro que mais acomodado seja; outro na fortaleza de S.
Lourenço; outro na de S. Julião da
Barra; outro na costa adjacente à Barra da Cidade do
Porto, onde mais útil for;
outro enfim na altura da Vila de Viana.»
A iluminação da costa entre o sítio da Senhora da Guia e a cidade do
Porto continuou a ser feita por fachos, um dos quais existia numa
pequena elevação de areia situada algumas dezenas de metros ao sul
da actual barra de Aveiro.
A segurança da navegação exigia, porem, um farol situado
entre o rio Douro e o cabo Mondego, e assim se pensou na construção de um junto à barra de Aveiro, na margem sul.
/
90 /
Acerca da construção do farol de Aveiro existe num anexo deste o
seguinte documento manuscrito, feito pouco depois da conclusão do farol:
«O projecto deste farol foi elaborado em 5 de Abril de 1884
sob a direcção do Ex.mo Engenheiro Benjamim Cabral, sendo esta
importantíssima construção começada pelo Ex.mo Snr. Engenheiro Silvério,
continuada pelo Sr. Figueiredo e Silva e concluída pelo Sr. José Maria de Melo e
Matos.
As obras foram começadas na primeira quinzena de Março de 1885 e
terminadas na segunda quinzena de Junho de 1893, sendo o seu custo
51.26,875.
Está o farol montado em uma bela torre, tendo o centro da luz a 58
metros acima do nível médio do oceano, com grupo de quatro clarões
brancos, de 24 em 24 segundos.
É um farol de primeira ordem, com alcance de 20 milhas.
Inaugurado em fins de 1893. Tem um sector de 180
graus, alumiando todo o horizonte.
Para caso de nevoeiro tem um aparelho de sinal sonoro
que produz um som de 15 em 15 segundos.
Os anexos servem de habitação aos empregados e de
depósitos.
A fundação da torre consiste em um maciço de
betão com seis metros de
espessura, assentando sobre estacaria com grade de madeira à altura das
mais baixas águas. Foram cravadas 97 estacas com 8,5 metros de comprimento e
0,26 m de diâmetro na cabeça, serrada a 2,05 m abaixo do nível médio do
mar, sendo as cabeças das estacas envolvidas em betão de argamassa de
pozzolana. Nas alvenarias foi empregado o grês de Eirol e alguns
granitos.
A obra tem-se comportado muito bem, exigindo sempre atentos cuidados com
a sua conservação, como deve ser. Presta, porém, à navegação serviços
importantes, que bem compensam os cuidados que exige.»
Nada mais nos diz o documento em questão. Acrescentaremos, no entanto,
que ainda hoje a referida obra não apresenta o menor sinal de alteração
da sua primitiva solidez.
Aveiro, 2 de Março de 1943
FRANCISCO FERREIRA NEVES |