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Memória sobre Aveiro do Conselheiro José Ferreira da Cunha e Sousa

XXI - Quartel

Foi um erro edificar o quartel de Sá sobre as ruínas do convento. Este era de freiras franciscanas da terceira Ordem, tendo por orago a Madre de Deus. Além de se ter feito à única freira então existente a violência de expulsá-la da sua cela, onde já tinha passado uma tão longa vida e onde tanto desejava morrer, ficou a obra muito mais cara do que se para ela outro local tivesse sido escolhido.

O edifício do convento prometia duração para séculos; eram rijas e seguras as paredes e excelente e em bom estado o travejamento, de forma que, reparados os estragos nele produzidos por um incêndio que teve lugar em a noite de 11 de  Janeiro de 1882, destruídos os tabiques divisórios das celas, soalhado e estucado, ficava um edifício muito aproveitável para qualquer fim de pública utilidade, para que o Governo facilmente o concederia, e a freira pouca duração prometia, pois que a sua idade era já muito avançada. Por esta forma ficaria a cidade com dois grandes edifícios, em lugar de um só, - o quartel -, evitavam-se as avultadas despesas da demolição do convento, da remoção e depósito de materiais e entulhos, aterros e desaterros, a que obrigava a irregularidade do terreno, a construção de alicerces profundíssimos, o encanamento subterrâneo das águas que a ele afluíam, a compra de uma propriedade ao norte, por ser insuficiente a área do convento e cerca respectiva, e a construção da grande muralha de suporte pelo norte da parede. Isto, sem falarmos nos desvios e subtracções de materiais e irregularidades que, segundo se diz, não foram de pequena importância.

Em qualquer outro dos muitos locais que havia a escolher, ficava o quartel muito menos dispendioso e sem o defeito de estar a sua frente em parte soterrada, o que lhe prejudica o aspecto e torna necessária a despesa a fazer com o rebaixamento do pavimento da rua.

Foi suprimido o convento por despacho do Ministério da Justiça, de 7 de Fevereiro de 1885. À freira teve o Governo de conceder uma prestação que todavia ela pouco tempo gozou, porque tendo-se retirado para Fermelã com algumas das recolhidas que quiseram acompanhá-la, aí faleceu em 1889; tendo saído do convento em 15 de Fevereiro de 1885, chamava-se Ana Benedita de S. José, e tinha sido por alguns anos a única, e, por isso, abadessa de si mesma.

A penúltima abadessa foi D. Inocência do Céu, tia do Sr. Francisco Manuel Couceiro da Costa; faleceu com 98 anos de idade, em 11 de Setembro de 1880. Era natural de Ílhavo, e teve uma irmã freira do mesmo convento, falecida muitos anos antes em casa de seus parentes.

Chegou a esta cidade o novo Regimento de Cavalaria N.º 10, em 18 de Janeiro de 1885, indo aquartelar-se no convento que foi de frades antoninhos, por não estar ainda o quartel de Sá nos termos de o alojar. E porque o convento não era suficiente, foi alugada parte da quinta contígua da família Rebocho, onde se fizeram as cavalariças em barracões, empregando-se neles algumas madeiras aproveitáveis do convento de Sá, já então demolido.

Recolheu o corpo ao seu quartel em 8 de Setembro de 1888. Pelas senhoras de Aveiro lhe foi oferecida a bandeira ou estandarte, e a festa do oferecimento e bênção teve lugar em 4 de Abril de 1886, dando à noite a oficialidade um baile em obséquio ao infante D. Augusto que tinha vindo inspeccionar o regimento.

Em 1 de Fevereiro de 1885, a sociedade do Clube ou Grémio recreativo desta cidade tinha dado um baile em obséquio à oficialidade do regimento.

 

 

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