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            Esta melopeia ouve-se a cada instante na 
            Índia. Traduz a oferta de chá, por inúmeros vendedores ambulantes, 
            mediante o pagamento de alguns “paisas” (divisão da rupia), aos 
            viandantes que passam pelo país. Beber chá na Índia, especialmente 
            no norte, não é difícil. Encontra-se por todo o lado e oferecem-no a 
            toda a hora. 
            
            Há mesmo ao longo das estradas, por onde se 
            têm de passar para ir de cidade em cidade, os chamados “tchayvala”, 
            os mercados do chá. Um fogão, uma caçarola, alguns copos e bancos 
            para os clientes, é o suficiente para erigir um “tchayvala”. 
            
            Nestes mercados do chá, bem como noutras 
            tendas montadas à beira da estrada vendendo quinquilharias ou 
            “souvenirs”, existem os chamados “charpai” (já vi designados por 
            “charpoy”) para descanso dos viandantes. Trata-se de rudimentar cama 
            em madeira, simples quadro assente em quatro pés, e cujo “colchão” é 
            um encordoamento em sisal. A tradução de “charpai” é mesmo “quatro 
            pés”, já que “char” em hindi é o numeral 4. 
            
            Também nos aconteceu efectuar paragem numa 
            destas “áreas de serviço” e naturalmente fomos igualmente 
            bombardeados pela melopeia do “tchay, tchay, garam tchay”. Um 
            parêntesis para dizer (dedução lógica) que “tchay” será chá em 
            língua local e “garam” significa mistura. Aliás o chá indiano é 
            servido com leite e leva também algumas especiarias, como veremos 
            mais adiante. A maioria dos colegas da excursão não foram na 
            conversa, depois de verem as condições de higiene (ou da pouca 
            higiene) em que o chá era preparado nestes “tchayvala”. Três ou 
            quatro de nós degustámos um copo de chá, que soube maravilhosamente. 
            Se o copo tinha sido convenientemente lavado não se averiguou, mas 
            era mais micróbio menos micróbio, a juntar aos outros que por ali 
            estávamos sujeitos a “ganhar”. 
            
            A tradição do chá diz-se que deriva do hábito 
            muito divulgado na corte portuguesa do seu consumo no século XVII. 
            Foi com efeito nesta época que Catarina de Bragança desposou Carlos 
            II de Inglaterra e este terá levado em dote não apenas a cidade de 
            Bombaim mas também este salutar hábito. 
            
            Na Índia o chá cultiva-se preferencialmente na 
            região de Assam, compreendendo duas sub-variedades conhecidas 
            (Darjeeling e Ceilão). A árvore do chá é um arbusto de folhagem 
            persistente, o que permite fazer colheita todo o ano. Assim que 
            colhidas, as folhas devem ser tratadas de imediato para evitar que 
            se deteriorem. A colheita faz-se à mão, tradicionalmente por 
            mulheres e jovens raparigas, o que necessita uma mão de obra 
            numerosa. 
            
            Uma receita de chá à indiana: Ferver um copo 
            de água numa caçarola. Juntar 4 “colheres de café” de pó de chá (ou 
            folhas de chá partidas) e 12 colheres de açúcar. Levar á ebulição. 
            Verter 4 copos de leite frio. Levar de novo à ebulição e deixar 
            reduzir alguns minutos em fogo lento. Segundo os gostos, pode-se 
            juntar ao mesmo tempo que o leite alguns grãos de cardamono ou de 
            gengibre fresco esmagado ou ainda um pau de canela. Coar o chá no 
            momento de servir. 
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