Acesso à página inicial

Reminiscências. Crónicas e outros escritos, Aveiro, 2014, pp. 133-134.


“Tchay, tchay, garam tchay”

Esta melopeia ouve-se a cada instante na Índia. Traduz a oferta de chá, por inúmeros vendedores ambulantes, mediante o pagamento de alguns “paisas” (divisão da rupia), aos viandantes que passam pelo país. Beber chá na Índia, especialmente no norte, não é difícil. Encontra-se por todo o lado e oferecem-no a toda a hora.

Há mesmo ao longo das estradas, por onde se têm de passar para ir de cidade em cidade, os chamados “tchayvala”, os mercados do chá. Um fogão, uma caçarola, alguns copos e bancos para os clientes, é o suficiente para erigir um “tchayvala”.

Nestes mercados do chá, bem como noutras tendas montadas à beira da estrada vendendo quinquilharias ou “souvenirs”, existem os chamados “charpai” (já vi designados por “charpoy”) para descanso dos viandantes. Trata-se de rudimentar cama em madeira, simples quadro assente em quatro pés, e cujo “colchão” é um encordoamento em sisal. A tradução de “charpai” é mesmo “quatro pés”, já que “char” em hindi é o numeral 4.

Também nos aconteceu efectuar paragem numa destas “áreas de serviço” e naturalmente fomos igualmente bombardeados pela melopeia do “tchay, tchay, garam tchay”. Um parêntesis para dizer (dedução lógica) que “tchay” será chá em língua local e “garam” significa mistura. Aliás o chá indiano é servido com leite e leva também algumas especiarias, como veremos mais adiante. A maioria dos colegas da excursão não foram na conversa, depois de verem as condições de higiene (ou da pouca higiene) em que o chá era preparado nestes “tchayvala”. Três ou quatro de nós degustámos um copo de chá, que soube maravilhosamente. Se o copo tinha sido convenientemente lavado não se averiguou, mas era mais micróbio menos micróbio, a juntar aos outros que por ali estávamos sujeitos a “ganhar”.

A tradição do chá diz-se que deriva do hábito muito divulgado na corte portuguesa do seu consumo no século XVII. Foi com efeito nesta época que Catarina de Bragança desposou Carlos II de Inglaterra e este terá levado em dote não apenas a cidade de Bombaim mas também este salutar hábito.

Na Índia o chá cultiva-se preferencialmente na região de Assam, compreendendo duas sub-variedades conhecidas (Darjeeling e Ceilão). A árvore do chá é um arbusto de folhagem persistente, o que permite fazer colheita todo o ano. Assim que colhidas, as folhas devem ser tratadas de imediato para evitar que se deteriorem. A colheita faz-se à mão, tradicionalmente por mulheres e jovens raparigas, o que necessita uma mão de obra numerosa.

Uma receita de chá à indiana: Ferver um copo de água numa caçarola. Juntar 4 “colheres de café” de pó de chá (ou folhas de chá partidas) e 12 colheres de açúcar. Levar á ebulição. Verter 4 copos de leite frio. Levar de novo à ebulição e deixar reduzir alguns minutos em fogo lento. Segundo os gostos, pode-se juntar ao mesmo tempo que o leite alguns grãos de cardamono ou de gengibre fresco esmagado ou ainda um pau de canela. Coar o chá no momento de servir.


  Página anterior Página inicial Página seguinte