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            Christine era recepcionista no Clube Hotel, a 
            melhor instalação hoteleira de Baden bei Wien, pertencente a Wilhelm 
            Papst, que por coincidência era o patrão da Viscose Consulting, onde 
            Richard dava a sua colaboração provisória. De vez em quando, em 
            férias ou faltas, Christine aparecia a fazer semelhantes funções no 
            Papst Hotel, (como o próprio nome indica, pertença do mesmo senhor 
            já referido) e onde se encontravam, no último andar do edifício (o 
            4º), os escritórios da Lundberg, associada da Viscose. 
            
            Christine era alta, loura, elegante, dava de 
            certo modo nas vistas. Andaria pelos trinta e cinco anos, idade 
            madura de quem sabe perfeitamente o que quer. Ao passar por ela na 
            recepção, clientes esporádicos do hotel ou “trabalhadores do 4º 
            andar”, tinham sempre um comentário amistoso e/ou brejeiro, a que 
            ela correspondia com a simpatia habitual neste tipo de situação 
            (“noblesse oblige”). 
            
            Em determinada altura a titular do Pabst 
            “desapareceu” e Christine teve que ficar na recepção por um período 
            mais prolongado. Richard, que por ela passava todos os dias e mais 
            que uma vez por dia, começou a interessar-se , a fixá-la com mais 
            insistência, dirigindo-lhe alguns piropos de circunstância, a 
            “namorá-la” digamos. Christine terá fingido que não entendia, o 
            estatuto de recepcionista não permitia, por profissionalismo, 
            maiores entendimentos. Respondia como podia ou sabia, não se 
            “abrindo” demasiado às manifestas, cada vez mais insistentes, 
            pretensas intenções de “namoro” do Richard. 
            
            Este chegou a admitir que não seria bem 
            sucedido. Até que, num sábado pouco movimentado no hotel, quando 
            regressava do almoço, após os habituais sorrisos recíprocos, Richard 
            foi confrontado com o convite formal de, pelas quatro da tarde, que 
            era a sua hora de saída, poderem ir os dois até Tulnn, em passeio a 
            uma “weinmesse” (feira do vinho, para quem não entenda), caso ele 
            estivesse interessado, claro!. Olha! Não estava... 
            
            E lá foram no carro dela até Tulnn. Trocaram 
            apenas banalidades na viagem de ida. Chegados, verificaram que 
            afinal não havia “weinmesse” nenhuma. Tinha sido na semana anterior. 
            Aproveitaram para fazer um pequeno “tour”, era primavera e fazia bom 
            tempo. Entraram depois numa “confitorei”, para adoçar as bocas e 
            beber algo. O ambiente era propício a uma entrada em confidências e 
            um “esquentar” de conversa. Por baixo da mesa os joelhos começaram a 
            encostar, sem resistência. Mais uma ligeira pressão dos mesmos, a 
            indiciar cumplicidades. Por cima da mesa eram os olhos que começavam 
            a “falar” . Afinal, pensou Richard, a pouca abertura, quando em 
            funções de recepcionista, não seria muito a sério... 
            
            Entretanto, fizeram-se horas de regresso. 
            Seriam ainda uns bons quilómetros de viagem e Christine tinha a mãe 
            e a filha à espera, em possíveis cuidados. Era divorciada a 
            Christine, não se descosendo se no momento teria ou não companheiro. 
            Apeteceu-lhe no entanto prolongar o convívio, que estaria a agradar 
            pelos vistos, e telefona para casa a avisar que não contassem com 
            ela para jantar. Assim, em restaurante da estrada, fizeram alto para 
            jantar. O “apetite” começava... 
            
            Christine morava em Berndorf, localidade 
            célebre pelos seus objectos em aço inoxidável, nomeadamente 
            faqueiros. Havia que fazer um desvio para depositar Richard em 
            Baden. Eis senão quando... ela ignora a ligação rodoviária para 
            Baden e ruma direito a Berndorf. Richard ouve, surpreso, que ela o 
            vai hospedar em sua casa nessa noite. Não faz perguntas idiotas de 
            “porquês”. 
            
            Avó e neta já dormem quando o carro ultrapassa 
            o portão da vivenda onde Christine mora. Ainda tempo para mais um 
            “drink” na sala. Richard espreita em redor para adivinhar o divã em 
            que vai ficar. Música, entretanto colocada em surdina e a tornar o 
            ambiente romântico, proporciona uma primeira troca de carícias e aí 
            começa a pensar que não irá talvez fazer rugas ao muito cuidado sofá 
            da sala. 
            
            Não se engana! É aliciado para compartilhar o 
            quarto da dona da casa. Nada contrariado, deixa-se levar até ao 
            andar superior. Pés leves para não incomodar inocentes que dormem. 
            Promessas fantásticas, brilhando em olhos azuis... 
            
            Noite pouco dormida, como seria de esperar! 
            Muito eléctrico o ambiente. Muita tensão no ar! O sono só chega pela 
            madrugada. 
            
            Mas de madrugada, quando está mais “ferrado”, 
            Richard é desperto por um vozear infantil que irrompe pelo quarto 
            dentro. É Ulli, a filha de Christine, onze anos traquinos, que vem 
            ser apresentada ao companheiro da mãe!. “Good morning, mister F.” 
            ouve dizer. As surpresas pelos vistos continuam! Não sabe o que 
            fazer. Por baixo dos lençóis está sem roupa (a noite havia sido 
            quente) e não está propriamente habituado a este tipo de 
            apresentações infantis madrugadoras. A custo consegue balbuciar um 
            olá, sem querer mostrar-se demasiado. Fica “encavacado”, não 
            esperava tal situação... 
            
            Consegue um pouco mais tarde controlar-se 
            ainda, quando encontra a “gross mutter” na cozinha, para tomar o 
            pequeno almoço (em conjunto, pois então!). O que vale é que a velha 
            senhora não “pesca” nada de inglês, mas contudo não deixa 
            naturalmente de o olhar com extrema curiosidade, o que o incomoda 
            uma vez mais. 
            
            Quando é finalmente deposto em Baden, fica a 
            pensar se, apesar de não ter estado na “weinmesse”, o vinho não lhe 
            terá provocado alucinações... 
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