| 
             
            Quem conhece minimamente a geografia da Europa 
            sabe que a Áustria é um país interior, portanto não tem mar. Mas 
            quem conhece de algum modo os austríacos, sabe também que estes se 
            pelam por se meterem na água. Daí que utilizem todos os “cantinhos” 
            aquáticos, para deles tirar o melhor proveito. E como no país estão 
            “semeados” bastantes lagos e rios, é vê-los a usufruir das delícias 
            e das vantagens que o “dentro de água” nos traz, a todos sem 
            excepção. Isto para além de terem, espalhados por todos os recantos, 
            piscinas ao ar livre (ou interiores, para quando faz mau tempo) que 
            satisfaçam os seus anseios nesta tão salutar actividade lúdica. 
            
            Sendo um país de relativamente baixas 
            temperaturas em quase todo o ano, a Áustria não deixa contudo de ter 
            o verão razoavelmente quente e, nos meses de Julho e Agosto, chega a 
            atingir-se os 30 ou mais graus. Nestes dois meses apetece assim aos 
            seus habitantes refrescarem-se e então é ver-se todos os lagos e 
            rios cheios de gente, a tomar partido do agradável das suas águas. 
            
            Na capital, Viena, não há lagos. Então os 
            vienenses resolveram aproveitar ao máximo o seu rio, o tão afamado 
            Danúbio (ou Donau, em alemão). Tem que se dizer que o Danúbio que 
            atravessa Viena já não é o original, sofreu ao longo dos tempos 
            alterações de percurso dentro da cidade. Assim, parte do inicial 
            está agora desactivado e limita-se a ser um braço mais ou menos 
            fechado e que se designa por Alte Donau (velho Danúbio). O rio Donau 
            passa então pela cidade mais a direito e entretanto em paralelo foi 
            construído mais um ramal a que chamaram Neue Donau (novo Danúbio). 
            
            A margem esquerda deste Neue Donau foi 
            magnificamente arborizada e passou a constituir a estância balnear 
            dos vienenses. É para aqui que se deslocam e passam os seus dias 
            livres grandes multidões. A zona é denominada de “Am 
            kaisermühlendamm” e atinge-se facilmente através do autocarro da 
            carreira 18A. Existem três áreas distintas ao longo deste “Am 
            kaisermühlendamm”, que se traduzem pelo aumentar sucessivo do 
            “descasque” dos utentes. Assim a primeira é para os mais 
            conservadores, com fatos de banho de peça inteira, passa-se depois 
            para outra em que si inicia uma abertura e o “topless” faz a sua 
            aparição, para finalmente, e já em local designado de Lobau, se 
            instalarem os mais afoitos e adeptos do naturismo, os “despidos” de 
            preconceitos ou mais vernaculamente dos “todos nus”. Esta área está 
            oficialmente autorizada pela Federação Austríaca de Naturismo e é 
            conhecida como FKK (leia-se efecácá), que quer dizer Freundlich 
            Körper Kultur, ou em português “Cultura dos amigos do corpo”. No 
            pino do verão é uma bicheza neste Lobau, onde as pessoas quase se 
            sentam ao colo umas das outras (queriam que isto fosse exactamente 
            assim, não?!). 
            
            Tenho que confessar que me fiz adepto desta 
            tão sã maneira de estar com a natureza e passei ali alguns dos meus 
            tempos livres. Fiz amizades com naturistas austríacos, a mais 
            duradoura com um casal, a Hilde e o Othmar Szimmel, de 
            Langenzersdorf, com quem convivi, posteriormente, também em 
            ambientes “vestidos” e visitei inclusive após o meu regresso. 
            
            O mais curioso que me aconteceu neste local 
            foi uma vez me ter cruzado nas escadas de acesso ao canal do rio com 
            uma colega da empresa a que estava ligado na ocasião, Christine de 
            seu nome, que era igualmente adepta do naturismo. Ela subia, eu 
            descia, e os dois ao léu ali mantivemos uma pequena conversa. Tudo 
            muito “natural”, como se impunha. A pequena estaria aliás no local 
            com o namorado, o que me tranquilizou. 
            
            Era habitual passar-se ali o dia todo, pois o 
            local estava dotado de um pequeno “snack”, já próximo da estrada, 
            onde se poderiam fazer refeições ligeiras. Neste “snack” havia que 
            comparecer “vestido” com a carteira... 
             |