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            Por volta das três e meia de um certo sábado 
            de Novembro, resolvemos, eu e o meu habitual companheiro de saídas, 
            o austríaco Carl Collini, ir até um “bush bar” beber uma cerveja. O 
            bar era relativamente perto do acampamento, pois o Renault que 
            tínhamos à disposição só dava para pequenas saídas, no máximo até 
            Edea, pois estava, como soe dizer-se, a “cair aos bocados”. 
            
            No “bush bar” encontrámos já abancados mais 
            três “expatriados” e por ali estivemos até por volta das seis, com 
            cerveja e ovos cozidos com piripiri (era o petisco típico destas 
            “tascas”). Começou aqui a minha maratona dos ovos... Aqui foram só 
            dois. 
            
            Após a estadia no bar, seguiu-se em direcção a 
            Edea, mas fiquei na “cité” do Allucam, para onde tinha sido 
            convidado para um “grill”, em casa dos Jenner (este austríaco era o 
            administrativo da Cellucam), que partilhava com outro casal, Binder 
            de seu nome. Julgo que foram até estes que tiveram a iniciativa do 
            “grill”. Seríamos mais ou menos uns quinze, e como de hábito o 
            António tinha que ser convidado para estas reuniões gastronómicas. 
            Foi um serão agradável, com o senão do Jenner não estar presente. 
            Não estranhei porque duvidava que havia problemas entre os dois nos 
            últimos tempos. Por volta da meia-noite viemos até ao “disco” do 
            acampamento, onde o Jenner se encontrava. Ela não lhe ligou nenhuma, 
            e ele passados cinco minutos pediu-lhe a chave do carro e raspou-se. 
            Depois ela lá arranjou quem a levasse a casa, mais o outro casal, 
            por volta das três. 
            
            O Jenner aliás andava a beber bastante neste 
            fim de semana e acabou mesmo por ter um acidente de carro, que 
            espatifou e por sorte só partiu uma clavícula. Mas isto são outras 
            histórias... 
            
            Mas voltemos à minha pessoa. Como atrás disse 
            já passava das três quando me deitei. Às oito e meia de domingo já 
            estava a pé, e fomos (agora com mais dois) de novo a Edea, com o 
            intuito de telefonar (acabámos por não fazer, por não haver 
            comunicações nesse dia!...). Pequeno almoço em Edea, uma “omelette” 
            (mais três ovos), salada de tomate e uma cerveja, pequeno almoço à 
            inglesa. À espera de possível hipótese de ainda telefonar estivemos 
            até ao meio-dia. A ideia era ir depois almoçar a Song Loulou. Um 
            parêntesis para explicar como aparece esta possibilidade de almoço 
            em Song Loulou. Da primeira vez que fui a Portugal em Dezembro, 
            tinha feito a viagem com um português, da Sorefame, que estava na 
            altura (e ainda posteriormente porque o voltei a encontrar em Douala 
            num supermercado, quando ia a caminho de Vitória) a trabalhar aqui 
            numa barragem, e onde havia mais portugueses. No domingo anterior, 
            quando esperava a minha vez para telefonar, vejo chegar dois tipos 
            num jeep, baixinhos, morenos, que inicialmente julguei franceses, 
            que os há muitos por aqui. Não os houve falar com o funcionário dos 
            correios, mas daí a pouco ouço este a dizer: Portugal, e a apontar 
            para uma das cabines para onde um deles se dirigiu. Espera aí, que 
            estes tipos são da “santa terrinha”!. E dirigi-me ao outro, pois que 
            não restavam dúvidas que de portugueses se tratava. Eram então da 
            zona de Penafiel, ou cheganças. Estavam também a trabalhar na 
            barragem de Song Loulou. Ficou ali logo combinado que iríamos, eu e 
            o Collini que me acompanhava, almoçar com eles ao local da barragem 
            (ainda eram uns 80 quilómetros, por estrada pouco convidativa). 
            Prometeram que talvez se arranjasse uma” bacalhoada”. A coisa 
            prometia, mas ficou pelas promessas, primeiro... porque tínhamos que 
            arranjar um outro carro, porque o “nosso” era “impróprio para 
            cardíacos”. Quando conseguimos um melhor, este não tinha gasolina, e 
            como a bomba que a fábrica tinha em Edea encerrava aos domingos, 
            corremos as “capelinhas” todas à procura da dita. Por fim lá 
            arranjámos quem nos cedesse um “jerricam” de vinte litros. Com isto 
            fez-se quase uma hora. Mesmo assim metemo-nos a caminho. Passados 
            uns vinte quilómetros um furo. Com uma roda a menos (a 
            sobresselente, claro), já tarde e com receio de novo percalço, pois 
            a estrada era bastante má, resolvemos pelo seguro voltar para trás. 
            Mas, dada a hora tardia para almoço, ficámo-nos num “bush bar”, aí a 
            uns doze quilómetros, para tentar comer algo. A única coisa 
            arranjámos foram... ovos cozidos, com piripiri. Foram mais cinco (já 
            vai em dez, não é?!). Mais cerveja, menos cerveja, mais piada, menos 
            piada, passou-se o tempo até às cinco e meia, hora a que 
            regressámos. Como tinha dormido pouco a noite anterior, quando 
            cheguei deitei-me um pouco e adormeci profundamente. Quando dei por 
            mim eram oito menos dez. Como a cantina fechava às oito, aí vou a 
            correr a ver se ainda conseguia alguma coisa para comer. O prato 
            normal tinha acabado, então... sai mais uma omeleta (fechava a conta 
            com treze; pensei para comigo, tão depressa não vou comer mais 
            ovos). Ah! Espera aí, na véspera, no restaurante do Allucam, comi um 
            hambúrguer... com um ovo a cavalo!... 
            
            Em menos de vinte e quatro horas foram só 
            catorze!... E o fígado, Deus meu! 
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