De 29 de Novembro a 5 de Dezembro teve lugar
em Khon Kaen a eliminatória provincial de uma festividade que
denominam de Silk Festival (Festival da seda). Trata-se de um evento
em que, para alem de actividades várias de índole cultural e de puro
divertimento ao longo da semana, o ponto culminante reside na
escolha de uma beleza local vestida a preceito com vestuário de seda
(daí o nome do festival), confeccionado pelas próprias, embora tendo
o patrocínio de firmas, empresas ou instituições locais, que deste
modo se publicitam. A escolhida participaria numa finalíssima a
disputar em Bangkok umas semanas mais tarde.
Entre as actividades do festival, como não
podia deixar de ser, pequenas feiras aqui e acolá, para venda de
artigos de artesanato e outros, destacando-se especialmente as
bijutarias, pedras preciosas e naturalmente tecidos em seda com
bonitos padrões locais. No átrio do hotel onde estava hospedado, o
Kosa Hotel, teve lugar uma dessas feiras, onde conheci a Pad e o Toy
Sathianwatana, dois irmãos de Bangkok, jovens simpáticos com quem me
familiarizei, enquanto por aqui se mantiveram. Tive pena de não ter
avançado mais no contacto com estes tailandeses, mas não houve
oportunidades posteriores para o fazer.
Foram eles que me desafiaram para assistir à
final do concurso de beleza, ponto alto do festival. Apareceram-me
com mais dois familiares e aí vou eu no meio de quatro tailandeses
para o recinto onde se desenrolaria o dito concurso. Recinto
improvisado para o efeito, com um palco e uma plateia adequada.
Claro que, ao entrar na fila para tomar assento nas cadeiras que nos
estavam reservadas, um europeu alto e loiro (já foste!...)
acompanhado de uns tailandeses baixotes dá nas vistas e fui alvo de
olhares indagadores. Devia ser o único europeu na assistência. Mas
depressa se dava início ao espectáculo, fazendo assim desviar as
atenções para o palco.
O primeiro número foi um deambular pelo
estrado do palco de uma trintena de “escuteiros” locais, fazendo
lembrar, neste caso diga-se com alguma propriedade, “os meninos
fardados de parvo, comandados por um parvo vestido de menino” com
que por vezes depreciativamente se referem, entre nós, os
escuteiros. Neste específico caso, o comandante das “tropas” que
marcharam alguns minutos pelo palco tinha mesmo “cara de” e os
meninos não pareciam muito satisfeitos pelo que eram obrigados a
fazer. Seguiu-se ainda mais um outro grupo de meninos, desta vez a
cantar umas quatro peças, quais “pequenos cantores de Khon Kaen”, do
qual naturalmente não entendi nada, mas que me pareceram um tanto ou
quanto afinadinhos. E assim, “infantilmente”, se atingiu o intervalo
do espectáculo. Depois viriam as “brasas”...
Na segunda parte tinha lugar então o desfile
das candidatas ao título de rainha de beleza “vestida de seda”, que
o público aguardava com alguma ansiedade e expectativa. As
candidatas eram trinta e uma, cada qual representando sua firma,
empresa ou instituição. O Hotel Kosa tinha a sua, outros hotéis
igualmente, a fábrica de celulose que eu ajudava a construir e
arrancar, a Phoenix, também tinha a sua representante e por aí
adiante. Desde logo dei conta de que, tanto a do hotel como a da
fábrica, não teriam quaisquer hipóteses pois que as havia bem mais
interessantes e melhor “arriadas”. Depois de uma primeira
apresentação em grupo, começou o desfile individual. Com elegância e
muito apresentáveis, a maioria bonitas parecendo algumas autênticas
bonecas de porcelana. Cada uma demorava os seus minutos a
“mostrar-se”, com a lentidão habitual nestas passagens de
“passerelle”.
Após esta primeira mostra, houve uma segunda
para que o público fizesse a primeira escolha e determinasse quais
as finalistas, vim depois a saber que seriam seis. Foi o que podia
chamar de classificação “popular”, efectuada de um modo
“sui-generis”. A cada candidata era entregue por alguém do público,
não cheguei a saber se espontâneo se já anteriormente designado, uma
quantidade de balões, cujo número dependia da melhor aceitação, e
evidentemente classificação, do “maralhal”. E assim havia algumas
com trinta ou mais balões e outras com apenas uma dezena deles. Não
sei como conseguiam contar os balões, ou seria só pelo “volume” que
os mesmos faziam, para determinar quais as finalistas, pois as
mesmas, após algumas deambulações pelo palco, largavam os ditos para
o ar. O que é certo é que as finalistas foram de facto aquelas que
mais balões transportaram. Quanto à fiabilidade da escolha, algumas
dúvidas suscitaram, como aliás em idênticas ocasiões em que é
necessário escolher. Uma ou outra das finalistas “teve direito” a
alguns protestos inflamados, até porque estava em jogo, para alem do
julgar da beleza e vestuário sedoso das concorrentes, o nome das
suas representadas, e isto por vezes tem muito que se lhe diga.
As seis finalistas tiveram então que fazer
mais uma “voltinha” para que o júri (agora sim!, um grupo de
ilustres da região designados para o efeito) efectuasse a escolha
final e assim determinar qual delas seria a rainha “sedosa” de Khon
Kaen. Calhou ser a número 26, que era realmente a mais bonita e
interessante, na minha opinião. Aqui já não houve lugar a tanta
reclamação, podendo dizer-se que foi aceite quase por unanimidade. A
pequena iria brevemente até à capital juntar-se às vencedoras nas
outras dezoito províncias, para o veredicto final de rainha de
beleza da Tailândia, “de seda vestida”.
Estava encerrada a sessão, e com os jovens
tailandeses fui comentando o evento no caminho para o hotel, no bar
do qual lhes ofereci ainda um “soft drink”...
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