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Reminiscências. Crónicas e outros escritos, Aveiro, 2014, pp. 29-32.


Silk Festival

De 29 de Novembro a 5 de Dezembro teve lugar em Khon Kaen a eliminatória provincial de uma festividade que denominam de Silk Festival (Festival da seda). Trata-se de um evento em que, para alem de actividades várias de índole cultural e de puro divertimento ao longo da semana, o ponto culminante reside na escolha de uma beleza local vestida a preceito com vestuário de seda (daí o nome do festival), confeccionado pelas próprias, embora tendo o patrocínio de firmas, empresas ou instituições locais, que deste modo se publicitam. A escolhida participaria numa finalíssima a disputar em Bangkok umas semanas mais tarde.

Entre as actividades do festival, como não podia deixar de ser, pequenas feiras aqui e acolá, para venda de artigos de artesanato e outros, destacando-se especialmente as bijutarias, pedras preciosas e naturalmente tecidos em seda com bonitos padrões locais. No átrio do hotel onde estava hospedado, o Kosa Hotel, teve lugar uma dessas feiras, onde conheci a Pad e o Toy Sathianwatana, dois irmãos de Bangkok, jovens simpáticos com quem me familiarizei, enquanto por aqui se mantiveram. Tive pena de não ter avançado mais no contacto com estes tailandeses, mas não houve oportunidades posteriores para o fazer.

Foram eles que me desafiaram para assistir à final do concurso de beleza, ponto alto do festival. Apareceram-me com mais dois familiares e aí vou eu no meio de quatro tailandeses para o recinto onde se desenrolaria o dito concurso. Recinto improvisado para o efeito, com um palco e uma plateia adequada. Claro que, ao entrar na fila para tomar assento nas cadeiras que nos estavam reservadas, um europeu alto e loiro (já foste!...) acompanhado de uns tailandeses baixotes dá nas vistas e fui alvo de olhares indagadores. Devia ser o único europeu na assistência. Mas depressa se dava início ao espectáculo, fazendo assim desviar as atenções para o palco.

O primeiro número foi um deambular pelo estrado do palco de uma trintena de “escuteiros” locais, fazendo lembrar, neste caso diga-se com alguma propriedade, “os meninos fardados de parvo, comandados por um parvo vestido de menino” com que por vezes depreciativamente se referem, entre nós, os escuteiros. Neste específico caso, o comandante das “tropas” que marcharam alguns minutos pelo palco tinha mesmo “cara de” e os meninos não pareciam muito satisfeitos pelo que eram obrigados a fazer. Seguiu-se ainda mais um outro grupo de meninos, desta vez a cantar umas quatro peças, quais “pequenos cantores de Khon Kaen”, do qual naturalmente não entendi nada, mas que me pareceram um tanto ou quanto afinadinhos. E assim, “infantilmente”, se atingiu o intervalo do espectáculo. Depois viriam as “brasas”...

Na segunda parte tinha lugar então o desfile das candidatas ao título de rainha de beleza “vestida de seda”, que o público aguardava com alguma ansiedade e expectativa. As candidatas eram trinta e uma, cada qual representando sua firma, empresa ou instituição. O Hotel Kosa tinha a sua, outros hotéis igualmente, a fábrica de celulose que eu ajudava a construir e arrancar, a Phoenix, também tinha a sua representante e por aí adiante. Desde logo dei conta de que, tanto a do hotel como a da fábrica, não teriam quaisquer hipóteses pois que as havia bem mais interessantes e melhor “arriadas”. Depois de uma primeira apresentação em grupo, começou o desfile individual. Com elegância e muito apresentáveis, a maioria bonitas parecendo algumas autênticas bonecas de porcelana. Cada uma demorava os seus minutos a “mostrar-se”, com a lentidão habitual nestas passagens de “passerelle”.

Após esta primeira mostra, houve uma segunda para que o público fizesse a primeira escolha e determinasse quais as finalistas, vim depois a saber que seriam seis. Foi o que podia chamar de classificação “popular”, efectuada de um modo “sui-generis”. A cada candidata era entregue por alguém do público, não cheguei a saber se espontâneo se já anteriormente designado, uma quantidade de balões, cujo número dependia da melhor aceitação, e evidentemente classificação, do “maralhal”. E assim havia algumas com trinta ou mais balões e outras com apenas uma dezena deles. Não sei como conseguiam contar os balões, ou seria só pelo “volume” que os mesmos faziam, para determinar quais as finalistas, pois as mesmas, após algumas deambulações pelo palco, largavam os ditos para o ar. O que é certo é que as finalistas foram de facto aquelas que mais balões transportaram. Quanto à fiabilidade da escolha, algumas dúvidas suscitaram, como aliás em idênticas ocasiões em que é necessário escolher. Uma ou outra das finalistas “teve direito” a alguns protestos inflamados, até porque estava em jogo, para alem do julgar da beleza e vestuário sedoso das concorrentes, o nome das suas representadas, e isto por vezes tem muito que se lhe diga.

As seis finalistas tiveram então que fazer mais uma “voltinha” para que o júri (agora sim!, um grupo de ilustres da região designados para o efeito) efectuasse a escolha final e assim determinar qual delas seria a rainha “sedosa” de Khon Kaen. Calhou ser a número 26, que era realmente a mais bonita e interessante, na minha opinião. Aqui já não houve lugar a tanta reclamação, podendo dizer-se que foi aceite quase por unanimidade. A pequena iria brevemente até à capital juntar-se às vencedoras nas outras dezoito províncias, para o veredicto final de rainha de beleza da Tailândia, “de seda vestida”.

Estava encerrada a sessão, e com os jovens tailandeses fui comentando o evento no caminho para o hotel, no bar do qual lhes ofereci ainda um “soft drink”...


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