Como era de esperar, dadas as marcas que vinha alcançando, e à
semelhança do que acontecera com outros atletas de nível formados em
Aveiro, Moniz Pereira veio desencantar Teresa Machado e esta
foi transferida para o Sporting. Ficou no entanto ainda a treinar em
Aveiro, com os ensinamentos preciosos do seu técnico Júlio Cirino.
Em 16 de Janeiro de 1988, em Braga, disputou-se um Torneio
internacional de pista coberta, em que participaram atletas de
Vigo, para além dos melhores atletas nacionais. Aveiro teve
também alguns atletas presentes. Salientamos os 1ºs lugares
de João Milheiro (CSJM) no salto em comprimento e de
Manuel Sousa (CSJM) na prova de 800 metros. João Milheiro seria
ainda 3º no triplo-salto. Referência para os bons resultados obtidos
por Arnaldo Abrantes e de António Tavares, dois atletas oriundos do
Beira-Mar, mas que neste ano representavam o Sporting. Aveiro
continuava assim a fornecer atletas de gabarito aos melhores clubes
nacionais.
No corta-mato regional, são de registar os notáveis
progressos de António Salvador, neste ano a representar o
Cidacos (transferido que fora do Galitos no início da época),
folgado campeão em seniores masculinos, com larga margem (28
segundos) sobre o segundo, Mário Silva, do Beira-Mar.
Em 7 de Fevereiro, por iniciativa da Federação e do Diário de
Notícias, tendo como cenário o Bairro de Santiago, em Aveiro, teve
lugar a segunda edição do DN/Jovem de corta-mato. Aveiro
voltou a vencer, o que já tinha acontecido no ano anterior, mantendo
assim uma invencibilidade, tanto em pista como em “cross”.
“Quem
pára Aveiro?”, titulava deste modo a revista “Atletismo”
referindo o evento. E mais adiante afirmava: ... mas merece o
devido realce a “teimosia” de Aveiro, mais uma vez vencedora, com
especial vantagem no escalão de infantis...
Na classificação final colectiva, Aveiro perfez 102 pontos, contra
128 do Porto e 138 de Lisboa. Aveiro venceu em infantis masculinos e
femininos. Destaque individual para o iniciado Marcelino Simões,
vencedor do seu escalão. Representava o F. C. da Pampilhosa.
Começava a dar nas vistas mais um atleta de Aveiro (desta vez uma),
juvenil ainda, Cristina Morujão de seu nome, a representar o
C.D. Estarreja. Estaria em evidência no torneio nacional de juniores,
disputado em Braga, onde entretanto se havia montado uma outra
pista, que alternava com Aveiro na organização de provas de pista
coberta. Venceu a prova do salto em comprimento e foi 3ª nos 60
metros.
Ainda em Braga, três semanas antes, em provas de preparação, o
iniciado Rui Barros, do Beira-Mar, tinha um bom registo
no salto em altura, para o seu
escalão etário, transpondo a fasquia a 1,60 m,
enquanto Sónia Silva, também iniciada e do Beira-Mar, igualava a
melhor marca nacional do seu escalão nos 60 metros barreiras, com
10,0 s.
Nos campeonatos de Portugal de 10.000 metros, disputados em Lisboa a
23 de Abril, António Salvador, do Cidacos, bateu o recorde de
Aveiro, com o razoável tempo de 29.33,4 (foi apenas 12º no cômputo
geral).
A
7 e 8 de Maio, em Lisboa, como nos anos antecedentes, teve lugar a
6ª edição do DNJovem. A revista “Atletismo” que dava conta do
evento, afirmava: Aveiro Quarto título, e mais adiante:
Nessa grande festa do atletismo, que foi a final do VI “DN/Jovem,
Aveiro conseguiu o seu quarto título consecutivo...
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Equipa de Aveiro
no DNJovem de1988 |
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A
pontuação, dos seis primeiros, entre 20 associações participantes,
foi a que segue:
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1º |
Aveiro |
549 pontos |
2º |
Lisboa |
538 pontos |
3º |
Braga |
487 pontos |
4º |
Coimbra |
474,5 pontos |
5º |
Setúbal |
474 pontos |
6º |
Porto |
441,5 pontos |
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Destacaram-se nesta edição do torneio, que incluía os escalões de
infantis e iniciados: Jeremias Mavale, foi a figura n.º 1 dos
infantis, vencendo os 60 metros em 7,7s (recorde regional de Aveiro)
e o salto em altura com 1,62 m, marca que ficou a constituir novo
recorde nacional (14 cm mais que o segundo classificado),
excelente para o escalão de infantis; para Solange Santos
foram as honras do sector feminino, que bateu o recorde
nacional dos 60 metros barreiras, com o bom tempo de 10,1s e
seria ainda uma excelente segunda no salto em altura com 1,34 m
(recorde de Aveiro). Esta atleta era filha do técnico regional de
Aveiro, professor José Santos.
Nos iniciados o destaque vai para outro filho de técnico, o Rui
Barros, vencedor do salto em comprimento, com a boa marca, para
o escalão, de 6,22 m. Seria ainda 3º na prova de 80 m barreiras.
Os atletas eram de vários clubes, mas deve salientar-se o trabalho
desenvolvido nas camadas jovens pelo Beira-Mar, o clube que mais
vinha a contribuir para as vitórias alcançadas neste torneio DN/Jovem.
Os parabéns vão para os técnicos José Santos e Rui Barros.
Jeremias
Mavale, atleta que representava o ARCO (Associação
Recreativa e Cultural de Oliveirinha, um clube recente na
modalidade), bateria a 21 e 22 de Maio o recorde nacional do
tetratlo infantis, somando 1591 pontos, resultantes de 7,7s nos
60 m; 4,74 m no comprimento; 8,37 m no peso e 3.03,5 nos 1.000 m.
O
escalão de juvenis não acompanhava os dois outros escalões mais
jovens e assim o respectivo campeonato nacional, disputado em 25 e
26 de Junho, não trouxe para Aveiro grandes resultados. De notar que
o melhor clube, o Beira-Mar, apenas foi 14º classificado, com 14
pontos (o clube vencedor Benfica, totalizou 129,5). Em femininos,
foi ainda o Beira-Mar o melhor clube, desta vez em oitavo, com 29
pontos. Individualmente, em masculinos, o melhor foi Hélio Reis, do Sanjoanense, 4º nos 100 metros com 11,42 s, secundado por César
Campos, do C. Campismo, 6º no triplo-salto (12,72m). Em femininos, o
destaque vai para Cristina Morujão, do Estarreja, que conseguiu um
excelente 2º lugar na prova de 100 metros, com o tempo de 12,67 e
para a estafeta 4x100 do Beira-Mar, também com o segundo melhor
tempo, entre as dez equipas participantes.
Sobre este abaixamento no escalão de juvenis, reportamos ao alerta
da revista “Atletismo” do mês de Dezembro, quando analisava a época:
Aveiro, já com quatro vitórias consecutivas no DNJovem, é
apenas sétimo nos juvenis. É preciso não abandonar os seus atletas
jovens! Criticava Aveiro, porque, dizia, a seguir àquela
competição, abandonava os seus jovens atletas, deixando-os sem mais
quaisquer provas até ao final da época (?!).
No campeonato nacional de juniores, disputado em 9 e 10 de
Julho, referência apenas para Paulo Rocha , do
F. C.
do Bom-Sucesso, que foi campeão nacional do lançamento do
peso, com a marca de 12,94 m (faria 13,41 mais adiante); e para
Cristina Morujão, do Estarreja, ao alcançar um segundo lugar
no salto em comprimento, com a marca de 5,53 m, que constituía
novo máximo absoluto de Aveiro, e que foi 5ª na final dos 100
metros. Por equipas, resultados para o fraco, com “Os Ílhavos” a ser
a melhor em masculinos, com 11 pontos apenas (vencedor o Benfica com
220 pontos) e o Beira-Mar o melhor em femininos, 9º com 16 pontos
(contra 134 do Benfica).
De salientar a presença honrosa do Clube de Campismo de S.
João da Madeira no Campeonato nacional da 1ª divisão,
disputado na pista da Maia, nos dias 16 e 17 de Julho. O 6º lugar
alcançado pelo clube (ficou apenas a escassos dois pontos do quarto
lugar) dava-lhe direito a manter-se galhardamente na 1ª divisão,
acompanhando assim os clubes da elite na competição ao mais alto
nível nacional. Louvor para o técnico Manuel Joaquim, considerado o
principal responsável pelos êxitos conseguidos (no ano anterior o
clube havia sido 4º classificado).
Com uma equipa bastante homogénea, devia, no entanto, a sua força a
dois atletas: João Milheiro (2º lugar nos 200 metros com
22,59 s; 2º lugar no comprimento com 7,30 m; e 4º lugar no salto em
altura com 1,91 m) e Manuel Sousa (2º nos 800 metros com
1.52,41 e 3º nos 1.500 metros com 3.58,6).
No campeonato nacional da 1ª divisão feminina, disputado nos
mesmos dias e mesmo local, participou o clube Dragões de
Oliveira de Azeméis. Não pertenceu efectivamente a este
campeonato, pois quedar-se-ia pela 7ª e penúltima posição, muito
longe da sexta. Apresentou algumas atletas destreinadas, entre as
quais a sua atleta de topo, Cristina Eduardo. Desceria de divisão e
assim, no ano seguinte, iria disputar a 2ª divisão.
Em contrapartida, a equipa feminina do Beira-Mar, que
disputava este ano a 2ª divisão, no respectivo campeonato, disputado
ainda nos dias 16 e 17 de Julho, mas agora em Lisboa, ao
classificar-se num brilhante 2º lugar, permitir-lhe-ia disputar a 1ª
divisão no ano seguinte (1989). O lugar obtido resultou da actuação
meritória das suas atletas: Teresa Oliveira, 2ª na altura e no
comprimento; Elisabete Silva, 2ª nos 1.500 e 3ª nos 3.000 m; Ângela
Oliveira, 2ª no peso e 3ª no disco; Laurinda Freire, 1ª nos 3.000 m
marcha; Sónia Silva, 3ª nos 100 m; Ana Costa, 3ª nos 100 m
barreiras; Anabela Duarte, 3ª nos 400 m barreiras e nos 2ºs lugares
das suas estafetas 4x100 e 4x400 m.
De 18 a 20 de Julho, realizaram-se em Louvain-la-Neuve (Bélgica),
os 40º Jogos da FISEC, em cuja representação portuguesa foi
incluída a atleta do Estarreja, Cristina Morujão, que
participou nos 100 metros (foi 5ª na final), no comprimento (6ª com
5,28 m) e ainda fez parte da estafeta 4x100 m. Tratava-se da única
atleta em Aveiro, de momento, com nível razoável.
Nos campeonatos de Portugal, disputados em 6 e 7 de Agosto,
destacamos: Manuel Sousa, do C. Campismo, 4º lugar na final de 800 m
(1.53,98); João Milheiro, também do C. Campismo, 3º no comprimento
(7,15 m) e 6º no triplo-salto (14,37 m); Mário Cardoso, de “Os
Ílhavos”,
6º no peso (12,60 m); Paulo Silva, do CAIO de Ovar, 6º no dardo
(54,86 m)
Já referimos algumas das boas “performances” de um atleta de
eleição, que representava o Clube de Campismo, o João Milheiro.
Para demonstrar o seu ecletismo, disputou em 20 e 21 de Agosto,
o decatlo nacional, o conjunto de provas (10) que afirma o
que se designa por “atleta completo”. Ficou num excelente sexto
lugar, com 5891 pontos (muito próximo do quarto), que
correspondiam aos seguintes resultados: 11,19 s nos 100 m;7,12 m no
comprimento; 9,24 m no peso; 1,94 m na altura; 52,48 s nos 400 m; 17,79
nos 110 m barreiras; 28,94 m no disco; 3,40 m no salto com vara;
35,84 m no dardo e 5.08,84 nos 1.500 m.
Entretanto, o presidente da Associação desde 1981, capitão
Joaquim Duarte, continuava a lutar por dotar Aveiro com uma
pista de material sintético. Em entrevista ao mensário “Atletismo”,
anunciava mesmo a retirada porque: “Já não tenho paciência para
aturar tudo isto! Prometeram-nos a pista, até já tínhamos terrenos e
projectos e, no fim, deram-nos com os pés”. Apesar de anunciar
a retirada não deixava contudo de “reivindicar” uma pista para Aveiro
e uma sede condigna para a Associação, ainda a viver nos “baixos” do
pavilhão gimno-desportivo.
Na falta da pista de tartan, alguns atletas dos clubes do distrito
deslocavam-se ao Porto, no sentido de ali realizarem algumas provas,
em competição com atletas daquela associação, de modo a melhorarem a
sua forma. Os clubes demonstravam assim a lacuna que existia em
pista adequada e davam razão a Joaquim Duarte no seu “bater de pé”. |