Embora se tenha referido
anteriormente que se tinham já realizado provas de pista coberta
em Aveiro, num dos pavilhões do recinto das Feiras, só nos
últimos dias de Novembro de 1986 uma empresa especializada de Lisboa
procedeu aos definitivos trabalhos de montagem do piso de material
sintético (antiderrapante, anti-reflector, antibacteriano e de
excepcional absorção acústica, adjectivos que a imprensa local
notabilizou para o mesmo) do primeiro recinto coberto do país,
apetrechado para a realização de provas de pista coberta, agora em
definitivo e no designado pavilhão rectangular do recinto
municipal das Feiras. Era dotada de seis corredores de
velocidade com 79,5 metros (para provas de 60 metros planos e com
barreiras), quatro corredores com 150 metros à corda, (para provas
de velocidade prolongada e de meio-fundo), um corredor de 45 metros
para salto à vara, um outro de 57 metros para comprimento e triplo,
e ainda zonas destinadas ao salto em altura e ao lançamento do peso.
Uma obra de interesse e largo alcance, que muito viria a contribuir
para uma valorização dos atletas dos clubes do distrito e,
naturalmente, porque única na altura, também para os restantes
atletas nacionais. Uma vitória mais do elenco directivo então em
funções.
Logo de imediato, a Associação
organiza um torneio que designou de "I Torneio Internacional", que
teve lugar em 19 de Dezembro, em que selecções de Lisboa e de
Madrid, ainda que desfalcadas, intervieram juntamen6te com selecções
do Porto, Coimbra, Viseu, e a selecção anfitriã. Colectivamente,
Lisboa foi a vencedora do torneio. Em destaque, estiveram Teresa
Machado, no peso; o júnior Nuno Fernandes, na barra; e os atletas de
Aveiro, João Milheiro, vencedor do comprimento (7,14) e Cristina
Morujão, também no comprimento (5,42), que seria novo recorde de
juvenis.
No entanto, a inauguração oficial da primeira
“pista coberta de tartan”, a nível nacional, foi marcada para
10 de Janeiro de 1987. Tratava-se, sem dúvida, de um momento
histórico do atletismo nacional, modalidade em que Aveiro ocupava
posição deveras relevante. Para além da cerimónia oficial,
realizar-se-ia um “torneio inaugural”, para o qual estavam
confirmadas presenças de atletas de várias outras associações do
país (Lisboa, Porto, Coimbra, Leiria, Santarém e Viseu).
Transcrevemos palavras do presidente
da Associação de Atletismo de Aveiro, capitão Joaquim Duarte, que
escreveu para o opúsculo editado para assinalar a data:
«/.../ A inauguração da pista
coberta para atletismo, equipada com material sintético, vulgo “tartan”,
pode considerar-se uma importante vitória para Aveiro. No género, é
a primeira do país e a sua existência vai permitir um trabalho de
base em pleno inverno, iniciador de jovens qualificados em
disciplinas consideradas técnicas, /.../ Sem entrar em encómios,
mais do que merecidos, teremos de realçar a colaboração da Câmara
Municipal de Aveiro, a quem pertence o pavilhão, da D. G. D., do
próprio Governo Civil e da Federação Portuguesa de Atletismo. Foi
apoiada nestas entidades que a Associação de Atletismo de Aveiro se
abalançou levar por diante a obra, que orçou numa verba a rondar os
7.000 contos. Para o atletismo, modalidade considerada pobre, sem
receitas por inexistência de entradas pagas, o pavilhão foi ouro
sobre azul.»
Na mesma publicação, o presidente da
direcção da Federação Portuguesa de Atletismo, Dr. Paula Cardoso,
subscreveu o texto de inegável oportunidade:
«/.../ Temos campeões de
corta-mato e estrada, porque, para além da qualidade dos atletas, o
nosso país possui campos e vias de comunicação rodoviárias. Há muito
que defendemos a ideia de que, a partir do momento que sejam dadas
aos jovens deste país as pistas e os locais de treino de qualidade,
poderemos ter, também nas disciplinas técnicas, grandes nomes no
atletismo.
A Aveiro coube, com toda a
justiça, pelo excelente trabalho desenvolvido nos últimos anos, ser
o ponto de partida para aquilo que poderemos chamar a nova era do
atletismo português, em que, finalmente, teremos à disposição da
nossa juventude, as infraestruturas necessárias ao progresso da
modalidade.»
Presidiu à inauguração o
Director-Geral dos Desportos, professor Mirandela da Costa. Para
além dos já citados intervenientes, anote-se a presença do Chefe do
Distrito, Dr. Sebastião Marques, do presidente da Câmara, Dr. Girão
Pereira, e da Assembleia Municipal, Francisco da Encarnação Dias, do
Delegado Distrital da DGD, Manuel Campino, e dos representes do
reitor da Universidade de Aveiro e do comandante distrital da PSP.
Para o dia 1 de Fevereiro, ficou
desde logo marcada uma competição: um “Torneio triangular” em que a
selecção de Aveiro confrontaria as suas congéneres de Lisboa e do
Porto, de momento as três “grandes” associações do país. Constava de
provas de 60 metros planos e com barreiras, saltos em altura e em
comprimento e lançamento do peso. Embora Aveiro tivesse bastantes
atletas a praticar, a qualidade dos atletas de Lisboa e Porto, pelas
razões demais conhecidas e que têm vindo a ser escalpelizadas ao
longo destes capítulos, era ainda superior; e assim Lisboa venceu
colectivamente este torneio, somando 94 pontos, contra 72 do Porto e
51 de Aveiro. As condições da pista instalada foram consideradas
muito razoáveis, de tal modo que deu para bater dois recordes
nacionais, por parte dos lisboetas Virgínia Gomes, nos 60 m planos e
João Lima, nos 60 m barreiras. Da actuação dos atletas de Aveiro
neste torneio, o destaque vai para Carlos Mineiro (?), com uns
excelentes 7,31 m no comprimento. Teresa Machado, entretanto
transferida para o Sporting, conseguiu no peso 14,26 m (o seu melhor
até então), que constituía novo recorde nacional de juniores.
Uma semana depois, na “novel” pista,
a Federação fez disputar os Campeonatos de Portugal de pista
coberta. Com larga participação de clubes (35) e de atletas
(141), vindos de quase todas as regiões do país (incluindo as
Ilhas), estes campeonatos provaram a utilidade desta pista, bastante
rápida e a proporcionar a obtenção de boas marcas, algumas a serem
mesmo recordes nacionais. Aveiro esteve bem representado pelos
atletas Cristina Eduardo, dos Dragões de Azeméis, 2ª nos 60
metros barreiras (9,4 s), João Milheiro, do Clube de
Campismo, 3º no salto em comprimento (6,90 m) e Álvaro Quelhas,
do mesmo clube, 3º nos 60 metros barreiras (8,95 s).
Entretanto, a “pista de tartan” ao
ar livre, já
quase apalavrada para a Forca, sofre um primeiro revés, com a
pretensa transferência para a já existente pista de Oliveirinha
(passaria de cinza, ou melhor dizendo de “terra”, para tartan e
aumento do número de corredores ?!). Política pelo meio (?!), no
pensamento do presidente da Associação, capitão Joaquim Duarte, que
ameaça desistir e entregar as chaves do organismo no Governo Civil,
se tal ideia fosse por diante. Uma terceira hipótese aparece
entretanto. Na Gafanha da Nazaré estava em construção uma pista em
pó de tijolo, num traçado, dizia-se, olímpico de oito corredores.
Poderia ser transformada para receber material sintético. Embora a
mais curta distância do que Oliveirinha, também não agradava
sobremaneira aos dirigentes associativos, que preferiam naturalmente
que a pista fosse instalada na cidade. Enfim, empecilhos e
dificuldades semelhantes às que referimos anteriormente para a
implantação de uma primeira pista em Aveiro, que acabou por ir para
Oliveirinha como relatado!...
Ainda em Janeiro de 1987, a
Federação promove mais uma prova de corta-mato para jovens, a nível
nacional, desta vez o "DN Jovem em cross". Aveiro triunfou
colectivamente, perfazendo 95 pontos contra os 137 de Braga e os 181
do Porto. Agora, também em corta-mato, os jovens de Aveiro davam
«cartas».
Em 1 de Março, mais uma prova
nacional que a Federação decide realizar no distrito. Agora, o
Campeonato Nacional de Corta-mato, que teve lugar na Quinta das
Felgueiras, em Anadia. Dois dos títulos em discussão foram
conquistados por atletas da Associação de Aveiro: o de nacional
de juniores, conquistado por Manuel Pereira, do Arada de
Ovar, e o de nacional de juvenis, vencido sem contestação por
Marina Bastos, dos Dragões de Azeméis. Manuel Pereira, com o
seu título em juniores, ganhava o “passaporte” para Varsóvia, onde
se disputaria o Mundial de Crosse, no dia 22 deste mês de Fevereiro.
Mas o “visto” no passaporte não lhe viria a ser aposto, pois, à
última hora, a participação dos atletas juniores no referido Crosse
foi cancelada, frustrando assim as esperanças do atleta do Arada. A
Associação estranhou a atitude da Federação, reclamou da decisão,
mas estava feito... E o atleta ficou-se por Ovar.
“Pela
3ª vez Aveiro vence DN-Jovem”
Os jovens atletas representantes de
Aveiro no Torneio “DN-Jovem”, destinado a iniciados e juvenis,
ganharam uma vez mais esta importante competição. Bateram três
recordes nacionais e obtiveram cinco novos máximos regionais. A
classificação colectiva das primeiras associações ficou como segue:
|
1º |
Aveiro |
514,5
pontos |
2º |
Lisboa |
504 pontos |
3º |
Porto |
491 pontos |
4º |
Setúbal |
474 pontos |
5º |
Santarém |
453,5 pontos |
|
|
Uma vez mais estava demonstrada a
excelente formação que os técnicos de Aveiro, liderados por José
Santos e Rui Barros, vinham fazendo de há uns anos para cá, como
também se demonstrava que, havendo vontade e dedicação, podia Aveiro
ombrear e mesmo suplantar as suas congéneres, mesmo Lisboa e Porto,
que tinham melhores condições, físicas e humanas, como se sabia.
O destaque deste ano vai, em
infantis, para Rui Barros, vencedor do salto em altura; para Solange
Santos, vencedora dos 60 m barreiras; e em iniciados, para Cristina
Morujão, vencedora dos 80 metros.
Em 31 de Maio, em Lisboa, organizado
pela respectiva associação, teve lugar um “Triangular
Lisboa/Porto/Aveiro” em atletas sub-21. Lisboa dominou,
perfazendo 293 pontos, seguida de perto pelo Porto, com 269. Aveiro
teria que se contentar com a terceira posição, com apenas 167.
Cristina Eduardo seria a figura de proa, pois venceu
categoricamente as duas provas de barreiras: os 100 e os
400 metros. Marina Bastos esteve também em evidência,
pois venceu os 1.500 m e ficou em 2ª nos 800 m. Um outro
êxito individual foi o de Paulo Ferreira, vencedor dos
5.000 m. Por sua vez, António Tavares teve 3 segundos
lugares, nos 100 m (10,8), nos 200 m (22,3) e no comprimento
(7,17).
Num torneio realizado pelo Real
Clube Celta de Vigo (Espanha), estiveram presentes, no dia 26 de
Junho, alguns atletas portugueses, entre eles seis atletas do
Beira-Mar: Ana Paula Silva, António Tavares, Paulo Carteiro, João
Sousa, Eugénio Mano e Teresa Oliveira. Obtiveram óptimas marcas,
batendo alguns recordes pessoais, tais como Ana Paula Silva, nos 200
m, e Teresa Oliveira, no comprimento.
No “1º Meeting Internacional da
A.A. de Lisboa”, com os melhores atletas nacionais e também do
Chile e de Espanha, estiveram Cristina Eduardo, dos Dragões de
Azeméis, e António Tavares e Ana Paula Silva, do Beira-Mar. Destaque
para a prova de 100 m barreiras, que Cristina Eduardo venceu,
confirmando a sua classe nesta difícil especialidade, bem secundada
por Paula Silva (2ª)
Em Julho, na pista de Oliveirinha,
disputou-se o apuramento para o nacional da 3ª divisão. Ficou
apurada para o referido nacional a equipa da Ovarense, que, ao obter
117 pontos, deixou a alguma distância as equipas da Lourocoope,
Sanjoanense e Cucujães, que se classificaram por esta ordem. Sem
resultados de grande nível, não podemos deixar de destacar dois
atletas, lançadores ambos, que nas provas em que participaram
deixaram a grande distância os seus opositores e auguravam marcas
muito razoáveis no futuro. Referimo-nos a António Granja, da
Associação Desportiva Ovarense, e a António Pinho, do Núcleo
de Atletismo de Cucujães (NAC, como era mais conhecido). As marcas
alcançadas por António Granja, no disco e no dardo, e as de António
Pinho, no disco e no martelo, eram bastante razoáveis para o meio.
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Equipa do Clube de
Campismo de São João da Madeira |
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O Clube de Campismo continuava a
disputar o Campeonato Nacional da 1ª Divisão masculinos que, uma vez
mais, se disputou em Lisboa a 25 e 26 de Julho. Ficou em honroso
quarto lugar colectivo, atrás do Sporting, Belenenses e Boavista.
Destaque para Álvaro Quelhas, que bateu o recorde de Aveiro dos110
metros barreiras (11,6 s) e ainda para João Milheiro nos saltos e
Manuel Sousa mos800 e 1500 metros. O seu técnico e principal
responsável, Manuel Joaquim, estava portanto de parabéns pela
performance que a equipa que orientava vinha demonstrando. Os
Dragões de Oliveira de Azeméis disputariam nos mesmos dias o
campeonato nacional da primeira divisão femininos. Também se
classificou em quarto lugar colectivo. O destaque foi aqui para
Cristina Eduardo, com bons resultados nas barreiras e no
comprimento. Foi o maior destaque a nível nacional de clubes de
Aveiro na disputa dos campeonatos absolutos. Quer o Campismo, quer
os Dragões, tinham efectivamente, nesta época, equipas muito boas.
Dado o êxito do I Congresso que a
Associação promoveu no ano anterior, houve lugar a repetição,
realizando-se o II Congresso de Atletismo de Aveiro, em 10 e
11 de Novembro, desta feita em Albergaria-a-Velha, organização da
Câmara Municipal local e com o natural apoio, porque parte
interessada, da Associação de Atletismo. Vários foram os
congressistas convidados, entre eles o professor Eduardo Cunha,
técnico nacional, o professor Fernando Ferreira, do Clube dos
Veteranos, professor Jorge Ramires, técnico do Benfica, Dr. Paula
Cardoso, presidente da Federação, professor Fernando Mota, director
técnico nacional, Dr. Mário Paiva, presidente da Associação de
Lisboa, professor Moniz Pereira técnico nacional e do Sporting, e o
professor Mirandela da Costa, Director Geral dos Desportos.
Interveio ainda o técnico da Associação, Rui Barros. Ao presidente
da Associação, capitão Joaquim Duarte, coube naturalmente a abertura
e o encerramento do congresso. Dada a qualidade dos congressistas,
repetiu-se o êxito, a demonstrar de novo a vitalidade do dirigismo
aveirense na modalidade.
Apesar de cedo na época,
precisamente a 19 de Dezembro já houve atletismo na pista coberta de
Aveiro, no decorrer do I Torneio Internacional da Cidade de
Aveiro, um torneio colectivo entre as selecções de Madrid (esta
bastante desfalcada) e as principais nacionais. Vitória lisboeta sem
grandes problemas, perfazendo 64 pontos, classificando-se depois
Porto com 55, Madrid com 49, Aveiro com 38, Coimbra com 24 e Viseu
com 14. Em foco, para além da “gafanhoa” Teresa Machado, mas agora a
representar Lisboa, visto que se transferira para o Sporting,
estiveram João Milheiro, com um bom salto em comprimento de
7,14 m e Cristina Morujão, que foi segunda no
comprimento feminino, com 5,42 m, que seria novo
recorde nacional de juvenis. No decorrer do torneio,
realizaram-se também provas extras para os escalões mais jovens e,
para além do citado recorde de Cristina Morujão, a atleta juvenil do
Beira-Mar, Ana Costa, melhorou o recorde nacional dos 60
metros barreiras, fazendo 9,6 s manuais.
No mesmo dia, na pista do pavilhão
das Feiras, disputou-se também a final nacional do salto em
altura, para atletas infantis, iniciados e juvenis. Aveiro
venceu colectivamente (somatório das alturas conseguidas pelos
três escalões – masculinos e femininos) com 9,01 m.
Classificar-se-iam a seguir Setúbal, Santarém e Lisboa. Destaque
individual para o infantil Jeremias Maval, vencedor no seu
escalão com 1,47 m.
Analisando o atletismo jovem em
1987, no que se referia a infantis, a revista “Atletismo” afirmava:
«Individualmente, uma figura em
grande destaque: o aveirense Rui Barros, sem dúvida o
infantil do ano.»
Neste ano, liderou em três
disciplinas, 60 m barreiras, salto em altura e salto em comprimento,
e ainda foi segundo em 60 m planos. Era treinado por seu pai, o
técnico da Associação, também ele Rui Barros.
No final do ano, dava-se a notícia
de que o Clube Desportivo de Estarreja, com um passado glorioso de
jovens atletas, das quais se destacava Glória Marques, ainda
recordista nacional em provas do meio-fundo, voltava à prática da
modalidade, após oito anos de ausência.
Como cabal demonstração do que o
atletismo em Aveiro vinha fazendo nestes últimos anos, cujo mérito
se devia, sem dúvida, à liderança da Associação por parte do capitão
Joaquim Duarte, e ainda do técnico regional José Santos, assinale-se
o facto de o primeiro, Joaquim Duarte, ter sido escolhido para
vice-presidente da Federação, numa lista alternativa (liderada que
seria por Mário Paiva, até então presidente da associação de
Lisboa), para novas eleições, após a saída dos corpos gerentes da
Federação do Engº Correia da Cunha e de Américo Ferreira, que era
uma figura carismática do atletismo português, braço direito do
presidente. Tal lista não viria a ganhar as eleições; mas o facto de
lá estar inserido o nome de Joaquim Duarte diz bem do estatuto que a
Associação de Atletismo de Aveiro tinha no momento.
Como vinha sendo hábito, bons
atletas abandonavam os clubes de formação e demandavam outros que
lhes davam melhores garantias. Assim, Paulo Gamelas (Beira-Mar)
ingressou no Benfica, António Tavares (Beira-Mar) passaria a
representar o Sporting e Marina Bastos e Helena Silva (Dragões)
foram para o Futebol Clube do Porto. |