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A. Carretas, Para a História do Atletismo, Inédito.

Subsídios para a História do Atletismo em Aveiro - 43


João Milheiro e o Clube de Campismo

João Milheiro. Clicar para ampliar.

Neste ano de 1986, mais um atleta do distrito se distinguiria a nível nacional. Referimo-nos a João Milheiro, do Clube do Campismo, a quem já fizemos algumas referências em capítulo anterior, mas que “explodiu” entretanto.

Foi considerado a “revelação do mês” (Junho) pelos críticos especialistas de atletismo da comunicação social desportiva. Bem à frente de outros, ocupou a preferência da maioria desses críticos. Realmente, a sua evolução, nos últimos 5 anos, tendo-se iniciado como juvenil, davam razão a tal preferência. Senão, vejamos: no salto em altura, passou de 1,75 para 1,96 m; no salto em comprimento, iniciando-se com 6,30, neste ano de 1986 atingia 7,27 m; no triplo-salto, aumentou dois metros e meio às suas “performances”, passando de 12,51 para 15,07 m.

João Milheiro

Tendo-se iniciado na Sanjoanense (anos 78 e 79), passou pelo Furadouro (em 1980), voltou à Sanjoanense em 1981, passando a representar o Clube de Campismo desde 1982, quando este clube substituiu a Sanjoanense.

Este João Milheiro, juntamente com mais alguns outros, provenientes da antiga secção de atletismo da Sanjoanense, entre os quais Clarinda Faria e César Campos, já bastantes vezes referidos em capítulos anteriores, formavam a base da equipa do Clube de Campismo de S. João da Madeira. Neste ano de 1986, o clube foi vencedor do Campeonato Nacional da 2ª divisão. Na próxima época disputaria a 1ª divisão, onde defrontaria o Benfica, Sporting e o Belenenses.

Sem uma pista decente próxima onde pudesse treinar convenientemente (a pista da Sanjoanense estava vetada ao clube por rivalidades antigas e a existente em Oliveirinha estava distante cerca de 50 quilómetros), o clube efectuava os treinos numa estrada de cascalho. Esta equipa era uma aposta do seu dedicado responsável, Manuel Joaquim (técnico, seccionista, roupeiro, massagista...), que propôs demonstrar que não eram indispensáveis o “tartan” e salas de musculação para se formar uma equipa de atletismo que conseguisse atingir um nível razoável. Este técnico fora um bom atleta a nível regional ao serviço da Sanjoanense e o seu melhor resultado obtido foi de 9.21,2 na prova de 3.000 metros obstáculos. Com toda a sua experiência, pegou em ex-atletas da Sanjoanense, a que juntou mais alguma juventude, e conseguiu, com a novel equipa do Campismo, atingir um nível que lhe permitiria competir com as grandes equipas da capital.

Para os campeonatos regionais de juniores, marcados para 21 e 22 de Junho na pista de Oliveirinha, a Associação resolveu atribuir a “Taça – João Sarabando” que seria entregue ao atleta júnior que obtivesse a marca mais pontuada pela “tabela portuguesa”. Pretendiam os dirigentes da Associação de Atletismo de Aveiro homenagear o mais idoso jornalista desportivo aveirense, que fora um dos primeiros a praticar a modalidade no distrito. Referimos, no início destes “subsídios”, que devemos grande parte das notícias referentes à modalidade nos primórdios às chamadas “nótulas aveirenses”, que este prestigioso e admirado jornalista escrevinhava para jornais locais e do norte do país. Recordemos uma das suas marcas como atleta, obtida em 21 de Agosto de 1932, no “I Torneio de Atletismo Anadia-Aveiro”: 40 segundos na prova de 300 metros, muito razoável para a época e nas condições em que o atletismo era praticado. Mais que merecida, portanto, esta homenagem que a Associação fazia a João Sarabando.

Em Vigo (Espanha) realizou-se, em 11 e 12 de Julho, o que se denominou por “Série Municipal de Atletismo”. Vários atletas nortenhos ali foram competir. Clarinda Faria, do Clube de Campismo, com um novo máximo pessoal nos 400 metros, onde continuava a ser a quinta melhor portuguesa de sempre, com 56,6 s, foi a atleta portuguesa mais em evidência.

Em 19 de Julho, disputou-se no estádio 1º de Maio, em Braga, o “Torneio Inter-Zonas”, que se destinava à escolha dos elementos que formariam a Selecção do Norte, que no fim de semana seguinte participaria em Lisboa nas finais deste torneio. Tomaram parte atletas de cinco distritos: Aveiro, Braga, Porto, Viana do Castelo e Vila Real. Aveiro marcou nítida supremacia, tanto no sector masculino como no feminino – tendo doze dos aveirenses sido incluídos na turma nortenha, juntamente com onze do Porto, três de Braga e um de Viana do Castelo. Refira-se que dois, João Milheiro e Teresa Machado, concorriam em duas disciplinas. João Milheiro venceu o salto em altura (1,90 m) e o comprimento (7,00 m) e Teresa Machado venceu o disco (44,50 m) e o peso (12,14 m). Vitórias ainda para Carlos Guimarães, nos 100 m; Paulo Gamelas, nos 400 m; Manuel Sousa, nos 1.500 m; António Salvador, nos 5.000 m; Clarinda Faria, nos 400 m; e Helena Silva, nos 3.000 m. Na época, eram estes os nomes “na berra”.

Na final deste torneio “Inter-zonas”, Teresa Machado voltou a vencer as provas de peso e disco, estabelecendo nesta última novo recorde nacional de juniores, com a excelente marca de 45,54 m. Destaque ainda para Clarinda Faria, vencedora dos 400 metros, com o tempo de 56,95, e para Paulo Gamelas, vencedor também da prova de 400 metros, com o tempo de 49,62 s.

Uma alteração no Regulamento Geral de Competições, alargando o número de clubes que deveriam participar nos Campeonatos Nacionais da 1ª e 2ª divisões, permitiu a inclusão, nos mesmos campeonatos, dos seguintes clubes do distrito, confirmando o trabalho que vinha neles sendo desenvolvido. Assim, para o ano seguinte (1987), na 1ª divisão masculina, estaria o Clube de Campismo de S. João da Madeira; e, na 1ª divisão feminina, o clube Dragões de Azeméis; na 2ª divisão estaria representado Sport Clube Beira-Mar, quer em masculinos, quer em femininos.

Teresa Machado. Clicar para ampliar.
Teresa Machado em pleno treino de lançamento na Praça do Rossio, em Aveiro.

Em 9 e 10 de Agosto, efectuaram-se no estádio nacional, em Lisboa, os campeonatos nacionais individuais de pista, para atletas que tivessem obtido os mínimos para participação, estabelecidos previamente pela Federação. A maior saliência pertenceria à júnior Teresa Machado, do Clube dos Galitos, já uma radiosa certeza do atletismo aveirense, que praticava somente há escassos dois anos, e que se sagrou campeã nacional do disco, melhorando o recorde nacional de juniores, com 46,30 m, ficando ainda no segundo lugar no lançamento do peso com 12,78 m.

Esta atleta do Galitos seria considerada pela revista “Atletismo” como a atleta revelação do ano de 1986.

Nestes campeonatos nacionais individuais, referência ainda para o “Dragões de Azeméis”, clube que teve cinco dos seus atletas com mínimos de participação. Deles, teremos que destacar a extraordinária actuação de Cristina Eduardo, que se sagrou campeã nacional dos 100 metros barreiras, com um tempo (15,29 s) que batia largamente o recorde regional. Também obteria um honroso 3º lugar no salto em comprimento.

Também a actuação de Fernando Adrião, Teresa Nunes e Helena Silva foi brilhante, com destaque especial para esta última que, ao alcançar o 4º lugar na final de 1.500 metros, e atendendo ao valor das restantes participantes, demonstrava poder vir a ser uma meio-fundista com futuro.

Ainda nestes campeonatos, outras classificações a assinalar: o segundo lugar de Clarinda Faria, do Clube de Campismo, nos 400 metros barreiras, com o excelente tempo de 61,24 s e o seu terceiro nos 400 metros planos, cujo tempo (56,68 s) passava a ser novo recorde de Aveiro na distância. Nos masculinos, merecem registo o 3º lugar de João Milheiro, do Campismo, com 7,21 m e o 5º lugar do juvenil Paulo Gamelas, do Beira-Mar, com o tempo de 49,15 s, que ficava a escassos onze centésimos do recorde nacional da categoria. Outro jovem a ter em conta...

Nos dias 11 e 12 de Outubro, com a presença de grande número de figuras ligadas à modalidade, tanto a nível regional como nacional, (a Federação esteve representada por Artur Madeira, do pelouro de Relações Públicas), teve lugar na cidade o “1º Congresso Distrital de Atletismo”, o primeiro a ser realizado por uma associação regional. A iniciativa constituiu um êxito, “excedendo mesmo as expectativas e ficando como um marco no atletismo aveirense e nacional”, nas palavras do representante da Federação.  O grande objectivo do Congresso era, sem dúvida, alertar para a necessidade urgente da construção de uma pista de material sintético, que seria uma vitória da Associação e do seu presidente, o capitão Joaquim Duarte. A necessidade de uma pista sintética estava mais do que demonstrada pelos resultados ultimamente alcançados pelos jovens do distrito e para evitar que os mesmos não continuassem a ter de se deslocar a Lisboa ou a Vigo para competirem.

O Congresso contou com a apresentação das seguintes teses: “A necessidade urgente de uma melhoria qualitativa da prestação dos treinadores de Aveiro”, apresentada por António Pinho, treinador do Núcleo de Atletismo de Cucujães; “O dirigente versus estrutura do atletismo”, apresentada por Ezequiel Pinho, director da Juventude Atlética de Fiães; “Auxiliares do jovem atleta”, apresentada pelo Prof. Fernando Gouveia, treinador de “Os Ílhavos”. Estava também programada uma intervenção do professor Fernando Mota, técnico nacional, sob o tema “O desenvolvimento do atletismo nacional e a importância da modalidade a nível regional”, mas, por doença, o mesmo não teve possibilidade de se deslocar a Aveiro. Coube ao técnico regional da AAA, professor José Santos, apresentar uma das primeiras comunicações do segundo dia, sob o tema “A evolução do nível técnico do atletismo regional”.

Houve ainda intervenções muito válidas e deveras construtivas de desportistas do distrito: Armando Silva (Dragões de Azeméis); Manuel Joaquim (Clube de Campismo de S. João da Madeira); Rui Marques (presidente da câmara de Albergaria-a-Velha); Fernando Duarte (Os Ílhavos); António Leopoldo Christo (semanário “Litoral”); Manuel Lopes (Comissão Regional de Juízes), e Joaquim Duarte (presidente da direcção da AAA). Achegas preciosas e estimulantes do professor Fernando Ferreira (presidente do Clube de Veteranos de Atletismo); de Mário Paiva (presidente da direcção da Associação de Atletismo de Lisboa) e do Dr. Paula Cardoso (presidente da Federação Portuguesa de Atletismo).

Em boa hora foi pensado e concretizado este congresso pelos dirigentes da Associação, à frente dos quais se encontrava um desportista de eleição, com serviços relevantes e inestimáveis (como praticante, como treinador, como dirigente e como “carola”) à causa do Desporto – o capitão Joaquim Duarte.

Seria talvez fastidioso enumerar aqui as conclusões do congresso, chamadas de atenção para falhas existentes e para necessidades prementes, mas destacava, porque muito importante, parte do número 2 das conclusões: «Para que Aveiro possa dar o salto qualitativo que os jovens dos seus clubes merecem, é de exigir-se a desejada e prometida “pista de tartan” – pois só com a sua existência mudaremos das “voltas ao coreto” para o ambicionado Atletismo de Qualidade.»

Para finalizar o ano de 1986, queremos assinalar o aparecimento de mais dois atletas, autênticas  revelações. O primeiro, Paulo Gamelas, iniciado no CENAP, ingressou no Beira-Mar, nesta época de 85/86, e passou a ser orientado pelo Prof. José Santos. Embora ainda juvenil, representou a selecção de Aveiro em provas inter-associações de Sub-18 anos e ainda no Torneio Internacional de Cáceres (Espanha). Detinha o recorde nacional dos 300 metros (34,70 s) e ainda outras marcas de nível nas provas em que participava (11,1 s no 100 metros, 22,3 s nos 200 metros e 49,3 s nos 400 metros). O segundo, César Campos, era atleta do Clube de Campismo. Também juvenil, integrou igualmente a selecção de Aveiro no encontro internacional de Cáceres e aí transpôs a fasquia do salto em altura colocada a 1,86 m, estabelecendo o recorde de Portugal do seu escalão etário. Magnífica marca para um juvenil. Poucos dias volvidos após regresso de Espanha, nos campeonatos nacionais de juvenis, em Lisboa, arremessou o dardo a 44,74 m, ficando campeão nesta disciplina. Contava apenas 15 anos de idade. Não é fácil ser bom em saltos e em lançamentos. Estaríamos na perspectiva de um eclético atleta (?!). Conclusão, duas estrelas mais do atletismo distrital no firmamento nacional. Para que conste...

De assinalar que, neste ano de 1986, se bateu o recorde de atletas filiados na associação, atingindo-se a bonita cifra de 1350, sendo 959 masculinos e 391 femininos. Só Lisboa tinha mais atletas inscritos na federação, mas na capital não admirava.


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