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Neste ano de 1986, mais um atleta do
distrito se distinguiria a nível nacional. Referimo-nos a João
Milheiro, do Clube do Campismo, a quem já fizemos algumas
referências em capítulo anterior, mas que “explodiu” entretanto.
Foi considerado a “revelação do
mês” (Junho) pelos críticos especialistas de atletismo da
comunicação social desportiva. Bem à frente de outros, ocupou a
preferência da maioria desses críticos. Realmente, a sua evolução,
nos últimos 5 anos, tendo-se iniciado como juvenil, davam razão a
tal preferência. Senão, vejamos: no salto em altura, passou de 1,75
para 1,96 m; no salto em comprimento, iniciando-se com 6,30, neste
ano de 1986 atingia 7,27 m; no triplo-salto, aumentou dois metros e
meio às suas “performances”, passando de 12,51 para 15,07 m.
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João Milheiro |
Tendo-se iniciado na Sanjoanense
(anos 78 e 79), passou pelo Furadouro (em 1980), voltou à
Sanjoanense em 1981, passando a representar o Clube de Campismo
desde 1982, quando este clube substituiu a Sanjoanense.
Este João Milheiro, juntamente com
mais alguns outros, provenientes da antiga secção de atletismo da
Sanjoanense, entre os quais Clarinda Faria e César Campos, já
bastantes vezes referidos em capítulos anteriores, formavam a base
da equipa do Clube de Campismo de S. João da Madeira. Neste
ano de 1986, o clube foi vencedor do Campeonato Nacional
da 2ª divisão. Na próxima época disputaria a 1ª divisão, onde
defrontaria o Benfica, Sporting e o Belenenses.
Sem uma pista decente próxima onde
pudesse treinar convenientemente (a pista da Sanjoanense estava
vetada ao clube por rivalidades antigas e a existente em Oliveirinha
estava distante cerca de 50 quilómetros), o clube efectuava os
treinos numa estrada de cascalho. Esta equipa era uma aposta do seu
dedicado responsável, Manuel Joaquim (técnico, seccionista,
roupeiro, massagista...), que propôs demonstrar que não eram
indispensáveis o “tartan” e salas de musculação para se formar uma
equipa de atletismo que conseguisse atingir um nível razoável. Este
técnico fora um bom atleta a nível regional ao serviço da
Sanjoanense e o seu melhor resultado obtido foi de 9.21,2 na prova
de 3.000 metros obstáculos. Com toda a sua experiência, pegou em
ex-atletas da Sanjoanense, a que juntou mais alguma juventude, e
conseguiu, com a novel equipa do Campismo, atingir um nível que lhe
permitiria competir com as grandes equipas da capital.
Para os campeonatos regionais de
juniores, marcados para 21 e 22 de Junho na pista de Oliveirinha, a
Associação resolveu atribuir a “Taça – João Sarabando” que
seria entregue ao atleta júnior que obtivesse a marca mais pontuada
pela “tabela portuguesa”. Pretendiam os dirigentes da Associação de
Atletismo de Aveiro homenagear o mais idoso jornalista desportivo
aveirense, que fora um dos primeiros a praticar a modalidade no
distrito. Referimos, no início destes “subsídios”, que devemos
grande parte das notícias referentes à modalidade nos primórdios às
chamadas “nótulas aveirenses”, que este prestigioso e admirado
jornalista escrevinhava para jornais locais e do norte do país.
Recordemos uma das suas marcas como atleta, obtida em 21 de Agosto
de 1932, no “I Torneio de Atletismo Anadia-Aveiro”: 40 segundos na
prova de 300 metros, muito razoável para a época e nas condições em
que o atletismo era praticado. Mais que merecida, portanto, esta
homenagem que a Associação fazia a João Sarabando.
Em Vigo (Espanha) realizou-se, em 11
e 12 de Julho, o que se denominou por “Série Municipal de
Atletismo”. Vários atletas nortenhos ali foram competir.
Clarinda Faria, do Clube de Campismo, com um novo máximo pessoal
nos 400 metros, onde continuava a ser a quinta melhor portuguesa de
sempre, com 56,6 s, foi a atleta portuguesa mais em evidência.
Em 19 de Julho, disputou-se no
estádio 1º de Maio, em Braga, o “Torneio Inter-Zonas”, que se
destinava à escolha dos elementos que formariam a Selecção do Norte,
que no fim de semana seguinte participaria em Lisboa nas finais
deste torneio. Tomaram parte atletas de cinco distritos: Aveiro,
Braga, Porto, Viana do Castelo e Vila Real. Aveiro marcou
nítida supremacia, tanto no sector masculino como no feminino –
tendo doze dos aveirenses sido incluídos na turma nortenha,
juntamente com onze do Porto, três de Braga e um de Viana do
Castelo. Refira-se que dois, João Milheiro e Teresa Machado,
concorriam em duas disciplinas. João Milheiro venceu o salto em
altura (1,90 m) e o comprimento (7,00 m) e Teresa Machado venceu o
disco (44,50 m) e o peso (12,14 m). Vitórias ainda para Carlos
Guimarães, nos 100 m; Paulo Gamelas, nos 400 m; Manuel Sousa, nos
1.500 m; António Salvador, nos 5.000 m; Clarinda Faria, nos 400 m; e
Helena Silva, nos 3.000 m. Na época, eram estes os nomes “na berra”.
Na final deste torneio “Inter-zonas”,
Teresa Machado voltou a vencer as provas de peso e disco,
estabelecendo nesta última novo recorde nacional de juniores,
com a excelente marca de 45,54 m. Destaque ainda para Clarinda
Faria, vencedora dos 400 metros, com o tempo de 56,95, e para Paulo
Gamelas, vencedor também da prova de 400 metros, com o tempo de
49,62 s.
Uma alteração no Regulamento Geral
de Competições, alargando o número de clubes que deveriam participar
nos Campeonatos Nacionais da 1ª e 2ª divisões, permitiu a inclusão,
nos mesmos campeonatos, dos seguintes clubes do distrito,
confirmando o trabalho que vinha neles sendo desenvolvido. Assim,
para o ano seguinte (1987), na 1ª divisão masculina, estaria o Clube
de Campismo de S. João da Madeira; e, na 1ª divisão feminina, o
clube Dragões de Azeméis; na 2ª divisão estaria representado Sport
Clube Beira-Mar, quer em masculinos, quer em femininos.
Teresa Machado em pleno treino de
lançamento na Praça do Rossio, em Aveiro.
Em 9 e 10 de Agosto, efectuaram-se
no estádio nacional, em Lisboa, os campeonatos nacionais
individuais de pista, para atletas que tivessem obtido os
mínimos para participação, estabelecidos previamente pela Federação.
A maior saliência pertenceria à júnior Teresa Machado, do
Clube dos Galitos, já uma radiosa certeza do atletismo aveirense,
que praticava somente há escassos dois anos, e que se sagrou
campeã nacional do disco, melhorando o recorde
nacional de juniores, com 46,30 m, ficando ainda no segundo
lugar no lançamento do peso com 12,78 m.
Esta atleta do Galitos seria considerada pela revista “Atletismo”
como a atleta revelação do ano de 1986.
Nestes campeonatos nacionais
individuais, referência ainda para o “Dragões de Azeméis”, clube que
teve cinco dos seus atletas com mínimos de participação. Deles,
teremos que destacar a extraordinária actuação de Cristina
Eduardo, que se sagrou campeã nacional dos 100 metros
barreiras, com um tempo (15,29 s) que batia largamente o recorde
regional. Também obteria um honroso 3º lugar no salto em
comprimento.
Também a actuação de Fernando
Adrião, Teresa Nunes e Helena Silva foi brilhante, com destaque
especial para esta última que, ao alcançar o 4º lugar na final de
1.500 metros, e atendendo ao valor das restantes participantes,
demonstrava poder vir a ser uma meio-fundista com futuro.
Ainda nestes campeonatos, outras
classificações a assinalar: o segundo lugar de Clarinda Faria, do
Clube de Campismo, nos 400 metros barreiras, com o excelente tempo
de 61,24 s e o seu terceiro nos 400 metros planos, cujo tempo (56,68
s) passava a ser novo recorde de Aveiro na distância. Nos
masculinos, merecem registo o 3º lugar de João Milheiro, do
Campismo, com 7,21 m e o 5º lugar do juvenil Paulo Gamelas, do
Beira-Mar, com o tempo de 49,15 s, que ficava a escassos onze
centésimos do recorde nacional da categoria. Outro jovem a ter em
conta...
Nos dias 11 e 12 de Outubro, com a
presença de grande número de figuras ligadas à modalidade, tanto a
nível regional como nacional, (a Federação esteve representada por
Artur Madeira, do pelouro de Relações Públicas), teve lugar na
cidade o “1º Congresso Distrital de Atletismo”, o primeiro a
ser realizado por uma associação regional. A iniciativa constituiu
um êxito, “excedendo mesmo as expectativas e ficando como um marco
no atletismo aveirense e nacional”, nas palavras do representante da
Federação. O grande objectivo do Congresso era, sem dúvida, alertar
para a necessidade urgente da construção de uma pista de material
sintético, que seria uma vitória da Associação e do seu presidente,
o capitão Joaquim Duarte. A necessidade de uma pista sintética
estava mais do que demonstrada pelos resultados ultimamente
alcançados pelos jovens do distrito e para evitar que os mesmos não
continuassem a ter de se deslocar a Lisboa ou a Vigo para
competirem. |
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O Congresso contou com a
apresentação das seguintes teses: “A necessidade urgente de uma
melhoria qualitativa da prestação dos treinadores de Aveiro”,
apresentada por António Pinho, treinador do Núcleo de Atletismo de
Cucujães; “O dirigente versus estrutura do atletismo”, apresentada
por Ezequiel Pinho, director da Juventude Atlética de Fiães;
“Auxiliares do jovem atleta”, apresentada pelo Prof. Fernando
Gouveia, treinador de “Os Ílhavos”. Estava também programada uma
intervenção do professor Fernando Mota, técnico nacional, sob o tema
“O desenvolvimento do atletismo nacional e a importância da
modalidade a nível regional”, mas, por doença, o mesmo não teve
possibilidade de se deslocar a Aveiro. Coube ao técnico regional da
AAA, professor José Santos, apresentar uma das primeiras
comunicações do segundo dia, sob o tema “A evolução do nível técnico
do atletismo regional”.
Houve ainda intervenções muito
válidas e deveras construtivas de desportistas do distrito: Armando
Silva (Dragões de Azeméis); Manuel Joaquim (Clube de Campismo de S.
João da Madeira); Rui Marques (presidente da câmara de
Albergaria-a-Velha); Fernando Duarte (Os Ílhavos); António Leopoldo
Christo (semanário “Litoral”); Manuel Lopes (Comissão Regional de
Juízes), e Joaquim Duarte (presidente da direcção da AAA). Achegas
preciosas e estimulantes do professor Fernando Ferreira (presidente
do Clube de Veteranos de Atletismo); de Mário Paiva (presidente da
direcção da Associação de Atletismo de Lisboa) e do Dr. Paula
Cardoso (presidente da Federação Portuguesa de Atletismo).
Em boa hora foi pensado e
concretizado este congresso pelos dirigentes da Associação, à frente
dos quais se encontrava um desportista de eleição, com serviços
relevantes e inestimáveis (como praticante, como treinador, como
dirigente e como “carola”) à causa do Desporto – o capitão Joaquim
Duarte.
Seria talvez fastidioso enumerar
aqui as conclusões do congresso, chamadas de atenção para falhas
existentes e para necessidades prementes, mas destacava, porque
muito importante, parte do número 2 das conclusões: «Para que
Aveiro possa dar o salto qualitativo que os jovens dos seus clubes
merecem, é de exigir-se a desejada e prometida “pista de tartan” –
pois só com a sua existência mudaremos das “voltas ao coreto” para o
ambicionado Atletismo de Qualidade.»
Para finalizar o ano de 1986,
queremos assinalar o aparecimento de mais dois atletas, autênticas
revelações. O primeiro, Paulo Gamelas, iniciado no CENAP,
ingressou no Beira-Mar, nesta época de 85/86, e passou a ser
orientado pelo Prof. José Santos. Embora ainda juvenil, representou
a selecção de Aveiro em provas inter-associações de Sub-18 anos e
ainda no Torneio Internacional de Cáceres (Espanha). Detinha o
recorde nacional dos 300 metros (34,70 s) e ainda outras marcas de
nível nas provas em que participava (11,1 s no 100 metros, 22,3 s
nos 200 metros e 49,3 s nos 400 metros). O segundo, César Campos,
era atleta do Clube de Campismo. Também juvenil, integrou igualmente
a selecção de Aveiro no encontro internacional de Cáceres e aí
transpôs a fasquia do salto em altura colocada a 1,86 m,
estabelecendo o recorde de Portugal do seu escalão etário. Magnífica
marca para um juvenil. Poucos dias volvidos após regresso de
Espanha, nos campeonatos nacionais de juvenis, em Lisboa, arremessou
o dardo a 44,74 m, ficando campeão nesta disciplina. Contava
apenas 15 anos de idade. Não é fácil ser bom em saltos e em
lançamentos. Estaríamos na perspectiva de um eclético atleta (?!).
Conclusão, duas estrelas mais do atletismo distrital no firmamento
nacional. Para que conste...
De assinalar que, neste ano de
1986, se bateu o recorde de atletas filiados na associação,
atingindo-se a bonita cifra de 1350, sendo 959 masculinos e 391
femininos. Só Lisboa tinha mais atletas inscritos na federação, mas
na capital não admirava. |