Os jovens do Estarreja, Vítor
Silva e Mário Cordeiro, eram os atletas do distrito que se
destacavam nos finais dos anos sessenta, bem secundados pelo
espinhense Ilídio Silva. Também despontava um outro jovem que,
sendo atleta do F. C. do Porto, se transferiria de imediato
para o Estarreja e que augurava seguir as pisadas dos outros dois do
referido clube. Tratava-se de Júlio Cirino da Rocha.
O Estarreja continuava a apostar
no pedestrianismo, com a realização de mais provas que denomina de
Grande Prémio. Alargando desta vez as vistas, querendo
internacionalizar a prova, convida atletas do Celta de Vigo. No ano
de 1967 (3 de Março), apenas compareceu um atleta galego, tendo a prova sido ganha
por um atleta do F. C. Porto, Óscar Silva de seu nome, com Vítor
Silva num brilhante segundo lugar. Por equipas, o Estarreja foi
também segundo atrás do Porto.
No ano seguinte, 1968, o Celta de
Vigo compareceu em força, trazendo inclusivamente um ex-recordista
mundial de 3.000 m. obstáculos, Manuel Alonso.
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Mário Cordeiro
entre os dois espanhóis no 2º Grande Prémio de Estarreja |
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Na prova de seniores, este antigo
campeão venceria facilmente, batendo o recorde da prova, ficando um
seu colega, Ruben Sanmartim, em segundo, sendo terceiro o promissor
Mário Cordeiro, na altura ainda com vinte anos de idade. Por equipas
venceria naturalmente o Celta. Registe-se a participação de 149
atletas nesta prova percorrida pelas ruas da vila.
A organização destes Grandes
Prémios mereceu os maiores encómios por parte dos participantes,
nomeadamente dos visitantes de Vigo, que saudaram o formidável
ambiente em que as provas do programa se desenrolaram.
Embora sem resultados de realce,
registou-se o reaparecimento do Anadia nestas provas de Estarreja.
Noticiava-se igualmente que o
Clube dos Galitos pretendia regressar à prática da modalidade, tendo
para o efeito efectuado nova filiação na Associação Portuense de
Atletismo. Para treinos utilizava o campo de jogos do Liceu, já que
continuava a não haver na cidade nada que se assemelhasse a uma
pista de atletismo.
Em 19 de Maio, no Estádio das
Antas, a A. P. A. organizou o que designou por "Torneio da
Primavera". O C. D. Estarreja apresentou-se com nove atletas.
Destaque para o jovem Mário Cordeiro que, na prova de 1.500 metros
obstáculos venceu no tempo de 4.31,5 e obteria novo recorde regional
de juniores. Ainda em juniores, Júlio Cirino Rocha venceria os1500
metros planos no bom tempo de 4.11,0.
Em Junho de 1967, em mais um
campeonato regional disputado no Porto, mais feitos brilhantes – nos
1.500 m. planos Júlio Cirino da Rocha vence e bate o recorde do
norte desta prova, conseguindo o tempo de 4 min. 8,5 s, e, nos 1.500
m. obstáculos, Mário Cordeiro e Manuel Rodrigues da Silva
classificam-se nos dois primeiros lugares. São assim qualificados
para os campeonatos nacionais.
Não há notícia de lugares de
destaque nos nacionais.
Pelo menos verificava-se que a
hegemonia dos atletas do Porto no meio-fundo a nível nortenho se
estava a escapar para jovens de Aveiro. Continuava assim a
observar-se que matéria-prima havia, faltava era o essencial:
instalações e técnicos.
Mário Cordeiro continuava a
amealhar triunfos em provas de estrada disputadas no norte do país.
E assim foi vencedor da Volta a Paranhos, do Grande Prémio do Natal
de Espinho e da prova de S. Silvestre, todas estas provas de bom
nível que aconteciam a norte. Na última destas provas, Vítor Silva
(terceiro) já envergou a camisola do Sporting para onde entretanto
se transferira.
No corta-mato nacional para
seniores, em Lisboa, Mário Cordeiro brilhou igualmente, ficando em oitavo lugar
logo a seguir aos atletas do Sporting (que dominava a modalidade já)
e à frente de muitos consagrados, como por exemplo Carlos Tavares,
do Benfica, atleta que foi internacional.
Mais uma curiosa transcrição de
João Sarabando, nas suas “nótulas aveirenses”, sobre os feitos dos
atletas do Estarreja:
«(...)
Poderá dizer-se, sem
sombra de desmentido, que os estarrejenses têm criado uma boa
mão-cheia de “estrelas”... Há clubes que possuem uma poderosa, uma
irresistível força de atracção... Quer-nos parecer todavia que o
maior orgulho não consistirá em ganhar provas, mas em modelar
campeões. Até porque estes só são possíveis quando existe um
trabalho persistente e profundo. Ora, o labor do Desportivo de
Estarreja caracteriza-se exactamente pela seriedade de métodos, pelo
canseiroso labor.»
Dizia-se atrás que a Sanjoanense
pensava em dotar o seu estádio Conde Dias Garcia com uma pista de
cinza, pois pretendia dedicar-se ao atletismo. A pista, cujo custo
ultrapassou os quinhentos contos, foi inaugurada oficialmente em 22
de Outubro de 1967, com provas organizadas pela Associação Portuense
de Atletismo. Do programa constaram só provas de corridas (100, 400,
800, 1500 e estafeta de 4x100 metros) e nelas participaram atletas
do Futebol Clube do Porto, C. D. Estarreja, Oliveirense, Belenenses
e Oliva, sendo o melhor resultado obtido por Júlio Cirino Rocha, que
venceu a prova de 1500 metros. Presidiu à cerimónia de inauguração o
Director Geral dos Desportos, Dr. Armando Rocha.
Entretanto, como atrás se
noticiava, o Galitos regressou à prática da modalidade. E de forma
auspiciosa, pois na jornada inaugural do III Torneio de iniciados e
juvenis da A.P.A., em Abril de 1968, no estádio das Antas, a juvenil
Rosa Manuela Almeida conseguiu três vitórias...
Estava lançado o atletismo
feminino no clube. E de que maneira, para principiar!
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Resultados dos jovens do clube da
cidade:
Juvenis femininos
60 m. – Rosa Manuela Almeida –
1ª, com 10,2 s; Lisete Barros de Oliveira – 2ª com 10,3 s
Comprimento – Rosa M. Almeida –
1ª, com 3,96 m; Lisete Oliveira – 4ª
Peso – Rosa M. Almeida – 1ª, com
6,25 m
Iniciados masculinos
60 m. – Francisco Soares – 3º;
Jorge Henriques – 6º
Comprimento – Carlos Abreu – 5º
(4,48 m); Francisco Soares – 6º (4,40 m)
Uma semana depois a A.P.A.
resolve utilizar a pista, recentemente construída em S. João da
Madeira, para um Torneio de Preparação, com vista aos campeonatos
nacionais de iniciados e juvenis, a disputar em Lisboa, no dia 5 de
Maio desse ano de 1968.
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Rosa Almeida e
Lisete Oliveira, em Abril de 1968. |
Para que conste, citam-se os
clubes que enviaram atletas a participar neste torneio: F. C. Porto,
Rio Tinto, Académica (da escola António Aroso), Varzim, CDUP,
Sporting de Espinho, Sanjoanense e Galitos.
Desta vez, Lisete Oliveira, do
Galitos, superiorizou-se à sua colega Rosa Manuela e venceu a prova
de 60 m. com 8,9 s (note-se a melhoria de tempo da atleta numa
semana!), igualando o recorde do norte da categoria de juvenis. Rosa
Manuela foi segunda com 9,2 s. Esta, entretanto, venceria o salto em
comprimento, com 3,87 m. Em masculinos, Carlos Abreu foi 2º no
comprimento.
As duas atletas do Galitos são
qualificadas para o campeonato nacional da categoria, entre 61
atletas de 14 clubes, entre os quais os três grandes de Lisboa,
Sporting, Benfica e Belenenses.
Na final de 60 m. planos, Lisete
Barros de Oliveira foi brilhante 3ª com 8,7 s, batendo o recorde do
norte . Rosa Manuela foi 6ª com 9,0 s. Esta última faria também bons
resultados no comprimento (6ª) e lançamento do peso (7ª).
Nasciam assim no
distrito, e mais propriamente na cidade, mais dois promissores
atletas, agora no sector feminino. Mérito para estes resultados vai
também para Fernando Gouveia, que resolvera dar uma preciosa ajuda
para treinar estas duas jovens. Para além do já citado campo de
jogos do Liceu, utilizavam para treinar a famosa Avenida das Tílias
do parque da cidade, com eventuais espectadores curiosos a ver as
meninas em calções a correr na recta da avenida. À falta de
melhor... quem não tem cão, caça com gato... como soe dizer-se. |