Já o referimos em
número anterior: João Sarabando, o notável jornalista aveirense, que
ainda há pouco tempo nos deixou, foi dos poucos que nos facultou
“pistas” para este nosso trabalho a que decidimos deitar mãos para
historiar o que no distrito se fez pelo atletismo. Foi colaborador
assíduo do “Norte Desportivo”, que, em anos anteriores,
considerávamos um bom jornal desportivo e, entre outras rubricas,
tinha uma denominada “Nótulas aveirenses”, em que dava conta do que
se passava no distrito a nível de competições desportivas. É de
algumas delas que tiramos elementos; e vejamos, da sua pena e dos
anos a que nos estamos a referir:
“Outro facto ainda que merece citação encomiástica. O Pejão,
honrando as tradições que inegavelmente já possui, apesar de ser
um clube moço, arrecadou quatro vitórias no “IV Torneio Regional
de Aspirantes”. Só o F. C. Porto conseguiu melhor.
O triunfo do Pejão pode
considerar-se o triunfo da persistência, do método, da vontade.
Na serra, quase talhada em
falésia, da margem esquerda do Douro, ali por alturas de Castelo
de Paiva, trabalha-se com amor em prol do atletismo, desse
atletismo que tantos centros com grandes responsabilidades
esquecem ou fingem esquecer” (5/5/1952)
“À semelhança dos anos
anteriores, o Pejão é o único que verdadeiramente trabalha.
Possui um lote de corredores, saltadores e lançadores. Maurício
ocupa destacado lugar na equipa. No entanto, os pedoridenses
arrancaram alguns títulos regionais e nacionais.” (12/1/1953)
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Humberto Vasconcelos vencendo os 60
metros
Mas continuemos com as
referências ao ano de 1953, só e ainda com atletas do Pejão a
participar, com excelentes resultados nos campeonatos do Porto,
levados a cabo pela Associação Portuense de Atletismo. O Pejão
apostava nas camadas jovens e assim apareceu no Torneio Regional de
Aspirantes com 11 atletas, que fizeram “miséria”. O Porto e o
Académico, as fortes agremiações da altura na modalidade, apareceram
com 18 atletas cada qual, o Operário com sete e o Vilanovense com
apenas um. Este torneio teve lugar nos dias 6 e 10 de Junho.
Apesar de contar
com menos atletas que os seus rivais mais capacitados, o Pejão foi o
vencedor do torneio, conquistando oito títulos, contra quatro do
Porto e apenas um do Académico. Destacamos os vencedores das 8
provas conquistadas: 60 m. por Humberto Vasconcelos, com o tempo de
7,4 s.; 250 m. por José Carvalho, com 32,5 s.; 83 m. barreiras por
Álvaro Augusto, com 14,4 s.; o peso por António Gonçalves, com 11,24
m.; o dardo por Abílio Correia, com 41,94 m.; o disco pelo mesmo
Abílio Correia com 35,32 m. e as estafetas de 4x60 m. e de 4x700 m.
De assinalar que
as marcas de Humberto Vasconcelos nos 60 m., Abílio Correia no dardo
e no disco e da estafeta 4x700 m. (8 m. 17,8 s.) constituíram novos
máximos (recordes) do norte. Ainda a marca de Abílio Correia, uma
radiosa promessa no lançamento do disco (35,32 m.) seria mesmo
recorde nacional desta especialidade e para este escalão (o anterior
era de um atleta do Belenenses, Fernando Silva de seu nome).
No nacional da
categoria, disputado em Lisboa uma semana depois, mais precisamente
em 13 e 14 de Junho, o Pejão compareceu a acompanhar os crónicos de
Lisboa (Sporting, Benfica, Belenenses e Centro Universitário). Aqui,
como se compreende, os resultados não seriam tão brilhantes, mas
ainda assim há a registar um triunfo de Carlos Cunha nos 1.500 m. e
notáveis 3ºs lugares para Humberto Vasconcelos nos 60 m.; para José
Carvalho nos 700 m. e para António Gonçalves no disco. Repare-se que
nos estamos a referir a um campeonato nacional!...
No campeonato
regional de principiantes, a categoria a seguir, o Pejão voltou a
participar e, surpreendentemente, voltou a vencer colectivamente com
97 pontos, ficando o F. C. Porto em 2º com 94 e o Académico em 3º
com apenas 53 pontos.
Vitórias
individuais para Agostinho Carvalho no peso, com 12,10 m.; Álvaro
Augusto nos 110 m. barreiras com 20,8 s.; Alberto Santos no dardo
com 40,33 m. e António Gonçalves no disco com 26,20 m. Em títulos
individuais o Porto conquistou sete.
Referência ainda
para os 2ºs lugares de Alfredo Gouveia nos 100 m., de Altino Santos
nos 3.000 m., de Agostinho Carvalho no martelo, de Alberto Santos no
peso, de Vítor Santos no triplo, de Alberto Santos na vara e para a
estafeta 4x100 m. Repare-se na quantidade de primeiros ou segundos
lugares alcançados na maioria das chamadas disciplinas técnicas e
para as quais a gente se vem queixando nos tempos actuais. Brilhante
trabalho estava a fazer efectivamente quem estava à frente do clube
no aspecto de treinamento!...
O Pejão, por
razões que nos escapam, não participou no nacional desta categoria.
Aliás, tal verificar-se-ia noutros campeonatos. Os nacionais, quase
por sistema, realizavam-se em Lisboa e nessa altura a distância era
ainda “maior”.
Para terminar a
época de pista desse ano de 1953, no regional de juniores, o Pejão
foi apenas 3º com 36 pontos e um título, que foi precisamente o
“craque”, Maurício Tavares, nos 5.000 m., com 16m 48,6 s. Seria
ainda 2º nos 1.500 m.
Miguel Anjos, nos
5.000 m. e Alfredo Gouveia nos 100 m. seriam uns bons 2ºs lugares.
No nacional da categoria, apesar de inscrito, não se fez representar
e assim como não estaria já nos seniores, mesmo nos regionais.
Qualquer semelhança com os tempos actuais em que as camadas jovens
se apresentam a efectuar bons resultados e depois a partir de
juniores desaparecem não deverá ser pura coincidência... |
José Abílio Correia,
recordista do dardo. |
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