| 
             
            Já foi referido 
            que o chamado "triângulo de ouro", que da capital Delhi vai a Agra 
            no estado de Uttar Pradesh e daqui a Jaipur, esta situada no estado 
            do Rajasthan, era um circuito inevitável. As distâncias entre as 
            cidades que constituem os vértices deste triângulo não são grandes, 
            aproximando-se dos 200 quilómetros. Mas estes quilómetros fazem-se 
            em "apenas" sete a oito horas, em "auto-pullman" local, mais
            pullman do que auto ("pullman" - do inglês "pull" 
            - puxar + "man" - homem). É uma autêntica aventura viajar 
            pelas estradas indianas. O trânsito é caótico, são sempre prováveis 
            as paragens forçadas por acidentes que tardam em resolver-se e em 
            ver a via desimpedida e é sempre com o credo na boca, que se 
            assistem às ultrapassagens e aos forçados desvios de última hora 
            para fora da estrada, "et pour cause". Mas vale a pena 
            fazê-lo... se acabar por não haver azar. 
            
            De Agra a Jaipur, há uma paragem 
            obrigatória, especial para os ornitologistas, mas não só. Bharaptur, 
            outrora célebre pelos fortes confrontos derivados da oposição que os 
            príncipes rajputs faziam à entrada da força moghul, é 
            nos tempos de hoje conhecida pelo seu santuário de aves, existente 
            no parque nacional Keoladeo Ghana. Nada menos de 330 espécies de 
            aves foram já detectadas neste parque, um terço das quais que 
            migraram de sítios tão afastados
            / 135 / como 
            a Sibéria e a China. O parque era inicialmente uma vasta região 
            semi-árida, que enchia somente durante a monção para secar logo que 
            esta terminava. O marajá de Bharaptur desviou água de um canal de 
            irrigação que corria perto e, em poucos anos, as aves começaram a 
            aparecer em vasto número. Naturalmente que a primeira preocupação 
            deste marajá não foi proteger o ambiente, antes sim arranjar 
            "material" para as caçadas que oferecia aos seus convidados. 
            
            A caça foi banida 
            em 1964 e daí para cá, é um paraíso de aves... e mais uma entrada de 
            divisas. 
            
            Jaipur, capital 
            do estado de Rajasthan, com cerca de um milhão e meio de habitantes, 
            é conhecida como a cidade rosa, por causa da pedra arenosa colorida 
            de rosa com que foram construídas todas as casas na parte velha e 
            muralhada da cidade. A cidade deve o seu nome ao grande guerreiro, e 
            astrónomo, e necessariamente marajá, Jai Singh II (1699 
            
            1744). Em 1727 
            Jai Singh, até aí a habitar a fortaleza de Ambar, de difícil acesso, 
            decidiu "passar-se" para um local mais plano e iniciou a construção 
            da cidade rosa. 
            
            Na rua principal 
            da cidade velha de Jaipur, pode o visitante observar um dos seus "ex-libris", 
            que é chamado "palácio dos ventos", ou Hawa Mahal. Com as suas 
            janelas cor-de-rosa, semi-octogonais e delicadamente trabalhadas na 
            tal pedra arenosa rosa, é um espantoso exemplo da arquitectura 
            Rajput. Foi originariamente construído para permitir às favoritas do 
            marajá poderem observar o que se passava nas ruas da cidade, sem 
            serem vistas do exterior. Fantasias de marajá... 
            
            Adjacente ao palácio real fica o 
            observatório, ou Jantar Mantar, iniciado pelo mesmo Jai Singh, em 
            1728. A sua paixão e os seus conhecimentos de astronomia foram ainda
            / 136 / 
            mais notáveis que as suas proezas como guerreiro. Este observatório 
            de Jaipur é o maior e o mais bem preservado (foi restaurado em 1901) 
            dos 5 que ele construiu na altura. À primeira vista, Jantar Mantar 
            parece uma curiosa colecção de esculturas, mas, de facto, cada uma 
            das construções tem um fim específico, como por exemplo medição do 
            posicionamento das estrelas, altitudes e azimutes, ou ainda o 
            cálculo dos eclipses, entre outros. O mais impressionante 
            instrumento é o relógio solar, com o seu gnómon (ponteiro que pela 
            direcção da sua sombra projectada marca as horas ou a altura do sol) 
            de 30 metros de altura. A sombra deste ponteiro move-se quatro 
            metros por cada hora. É um relógio muito preciso, só... que dá a 
            hora local de Jaipur. 
            
            A cerca de 11 
            quilómetros de Jaipur, na estrada para Delhi, fica a já citada 
            fortaleza de Amber, que foi capital do estado antes do tal Jai Singh 
            se fartar e se transferir para Jaipur. A construção desta fortaleza 
            iniciou-se em 1592 pelo rajá Man Singh, que era o comandante em 
            chefe das forças rajputianas do exército do célebre Akbar, já falado 
            em crónica anterior. 
            
            Este forte, outro 
            notável exemplo da arquitectura rajput, situado numa colina, e com 
            vista para um enorme lago a reflectir os seus terraços e muralhas, 
            foi bastante divulgado pela imprensa portuguesa, aquando da visita 
            que o nosso presidente Mário Soares fez a este país no ano passado. 
            Foi a subida, para atingir o palácio real instalado no cimo desta 
            fortaleza de Amber, que o sr. presidente, mais a sua esposa, fez em 
            palanquim instalado em dorso de elefante, com uns lindos turbantes 
            na cabeça, "à marajá" como se impunha, que originou a célebre 
            fotografia que correu o país inteiro em todos os periódicos. 
             
            
            / 
            137 / O cimo da fortaleza 
            pode atingir-se por estrada, o que se faz em cerca de 10-15 minutos, 
            dependendo da "perna" do viajante. Mas o mais popular, e original, é 
            efectuar a subida em elefante. O custo da viagem, a solavancos "paquidérmicos", 
            é de cerca de 350 escudos, mais uns se se quiser alugar um turbante, 
            para a fotografia. Alguém me convenceu que tinha um ar de marajá (só 
            ar, infelizmente), e lá fui igualmente rampa acima, com mais dois 
            companheiros, "enfeitado" com o turbante da praxe (que já tinha 
            conhecido não sei quantas cabeças!...) a satisfazer a curiosidade e 
            a contribuir para o desenvolvimento do turismo local. 
            
            Mas não tinha 
            necessariamente o "peso" do sr. presidente, do qual o elefante não 
            se terá queixado (consta que já estaria "de tromba" quando o 
            presidente subiu para os seus costados). 
            
            E embora não 
            ficasse nada mal em cima do bicho e de turbante enfiado (pelo menos 
            assim mo fizeram crer), claro que não tive as mesmas honras, porque 
            "de Mário, só... ares". 
            
            
            Na descida, não há elefante. Não sei se esta norma se aplica 
            igualmente a presidentes... 
   |