A meio da fachada principal, imponente e de severa
beleza(1), com 220
metros de comprimento, perfila-se a da basílica; dois torreões gigantescos,
sobressaindo do alinhamento, assentam nos
topos, os quais constituem o paço régio, juntamente com os amplos
corpos desdobrados entre eles e a igreja(2). Ergue-se a 3 m e
70 do solo, cujo acesso facultam duas escadarias separadas por largo
patamar coberto de embrechados geométricos; uma rampa, suave e circular,
limitada por frades de pedra e calçada com seixos pretos e brancos,
invade pelo meio a escadaria inferior.
Dum modo geral, pode haver-se a basílica como perfeito
exemplar do italianismo pomposo, grandioso, no género de Miguel Ângelo(3) como belo modelo
arquitectónico, dado o seu harmonioso conjunto de proporções e cores, já por Raczinsky manifestado(4). Julga, porém, Watson que a igreja perde muito
por se não levantar acima dos corpos laterais. Assim é, aparentemente. Na verdade, a altura da igreja, da base ao
fastígio do frontão, é
metade exacta da das torres, desde a base às peanhas
que suportam as grimpas. Todo o conjunto se inscreve num rectângulo, cujo cruzamento das diagonais estipula o fastígio do frontão.
/ 40 /
Parece-nos, pois, que perderia o valor da elegância se algo mais fosse
elevada.
Desdéns do interior não se conhecem. Perante a sua beleza e
magnificência todos mais ou menos entusiasticamente se curvaram(5); até
louvores lhe concederam os que a censuras cruéis sujeitaram Ludovici. Já
a arquitectura, obra prima do clássico nas linhas e perfis (tanto na
feitura artística como na técnica), já a decoração, um recheio primoroso
de mármores(6) retábulos e estátuas de Carrara(7), discreta e
habilmente distribuídos, fazem da igreja uma peça admirável de harmonia
e solene grandiosidade. Em todo o monumento são mui sensíveis os efeitos
do volume,
do peso e da massa; na igreja não se reconhecem, que os invalidam a
beleza das formas e a inteligente sumptuosidade.
Tem a planta de cruz latina, orientada do nascente ao poente, e mede
62,50 m de comprimento(8). O corpo com as capelas laterais forma quase
um quadrado. É fartamente iluminada pelo motivo de estar desafogada por
todos os lados. A frontaria, abrangendo as torres, tem 42 metros de
largura.
Pretendem alguns que a basílica constitui uma redução da de S. Pedro de
Roma. Volkmar Machado regista no exterior a inspiração do Vaticano e no
interior a da igreja de Santo Inácio de Roma(9).
Há, efectivamente, analogias entre Mafra e S. Pedro e Santo
Inácio.
Todavia, as aspirações do renascimento italiano eram gerais na época.
Ora de simples e correntes analogias deduzir cópias é raciocinar
elementarmente. Embora sejamos havidos como heréticos, apraz-nos mais a
beleza da frontaria de Mafra que a de S. Pedro.
/ 41 /
Elegante e nobre conjunto exibe a fachada, inteiramente de calcário
branco (Iiós), pois ligeiras são as alterações das ordens da
arquitectura, dispostas com regularidade. Formam-na dois corpos,
rematados por um frontão e ladeados por duas torres. Três portas de arcos
plenos assentes em pilastras toscanas, e duas dinteladas, que fecham
sólidas grades, de ferro, rasgam o primeiro; entre elas aprumam-se seis
enormes colunas monolíticas, com 8,80 m de alto, jónias, de capiteis Scamozzi (engrinaldados). Aos lados das colunas extremas cavam-se dois
nichos, de frontões triangulares ornados nos tímpanos com cabeças aladas
de serafins(10); neles se abrigam as estátuas, de Carrara, de Santa
Clara, à direita, e Santa Isabel de Hungria, à esquerda, com roupagens mui flutuantes e pregueadas. Em todo este corpo se revela a influência
da modinatura de Vignola (salvo nas bases das colunas e nos capiteis).
Firma-se no seu entablamento o 2.º corpo, aberto, nas linhas dos arcos
inferiores, por três janelas com 5,30 m de altura, resguardadas por
balcões de
balaústres; rematam as laterais frontões triangulares(11) com serafins
alados nos tímpanos e um arco rebaixado e apoiado em jambas (colunas
embebidas) compõe a central, dita de Benedictione, cuja repisa de farto
se alarga sobre a cornija do corpo inferior. Ficam entre elas os nichos
das imagens de S. Domingos e S. Francisco (em Carrara), de grande
relevo artístico. Seis colunas compósitas, monolíticas, de 6,40 m de
alto, sobrepostas às do 1.º corpo, separam janelas e nichos, guarnecidos
superiormente por frontais lavrados com grinaldas e serafins alados, na
linha dos capiteis.
Corre ao longo das colunas o entablamento, com a quinta parte duma
coluna, segundo o preceito de Paládio; um dentilhão ornamenta o sófito
da sua cornija. Neste corpo, como, afinal, em todo o exterior da igreja,
aparecem igualmente as regras de Vignola.
/ 42 /
O frontão, triangular, com 20,80 na base, apresenta os sófitos das
cornijas decorados com mais dentilhões; no fastígio, sobre acrotério,
firma-se uma cruz de ferro; nos topos chamejam fogaréus. Festões
pomposos decoram o tímpano, no centro do qual sobressai uma
placa elíptica de jaspe, lavrada em relevo com o grupo da Virgem, o Menino e
Santo António(12), ante Eles ajoelhado. Eis os titulares da igreja.
Com 68 metros de alto, a partir do solo, as torres, de
forma piramidal,
enquadram a igreja, dispõem-se em cincos corpos, dos quais os 1.º e 2.º,
sujeitos à renascença de Vignola, contrastam com os outros, do barroco de
setecentos. Apreciou-as Watson como de perfil gracioso, mas pobres de
ornamentação e com remate de feia combinação de curvas e cúpulas
bolbosas. Volkmar Machado julgou que Ludovici as copiou da igreja de
Santa Inês de Roma, obra de Borromini(13). Por sua vez, Dieulafoy
declarou que nelas se revela o temperamento português(14). Na verdade,
as superfícies curvas procedem de Bernini e Borromini, mas em Portugal,
no século XVIII, obtiveram uma adaptação característica.
Portas arqueadas, iguais às da igreja, com balcões de balaústres, ao
longo das quais se alçam pilastras emparelhadas, de capitéis Scamozzi,
rasgam o 1.º corpo; cobrem as janelas do 2.º,
/ 43 /
providas de balcões balaustrados, frontões circulares, cujos
entablamentos, quebrados, na linha do superior da igreja, se apoiam,
nos cunhais, em pilastras compósitas e em colunas iguais, internamente.
A partir do 3.º, levantam-se as torres
isoladamente no espaço, em ordem
decrescente. Nas bases do 3.º corpo, muito elevadas(15), estão fixos os
mostradores dos relógios(16); cortam as suas faces côncavas arcos plenos
ladeados por colunas compósitas; pilastras do mesmo tipo formam
os seus
cunhais. Outras colunas compósitas limitam as janelas balaustradas do
4.º corpo(17) e outras, ainda, emparelhadas, servem-lhe de cunhais,
sobre as quais, em remate,
assentam altos fogaréus. Tanto o seu entablamento como o do 4.º se
desdobram em linhas partidas. São muito côncavas as faces do
5.º(18), as quais abrem janelas
elípticas, guarnecidas em cima com
cabeças aladas de serafins; o seu entablamento, de linhas quebradas, ergue-se, em cada face, em
ângulo e nos cantos sustenta umas flamígeras. Rematam-no
cúpulas ornadas e oculadas, de tipo bolboso(19), das quais irrompem grimpas, firmes em esferas de bronze(20).
Contém 56 sinos a torre do norte e 54 a do sul, cujo
peso total orça por
217.000 quilos de bronze, o que já é um valor apreciável.
Deles, 46 e 47,
respectivamente, estão ligados aos carrilhões(21). Nos terraços, porém,
havia mais seis, do serviço conventual.
Quase todos sagrou o patriarca
D. Tomás de Almeida, em 1730(22).
/ 44 /
Os célebres carrilhões(23), dos melhores do mundo e únicos na
península(24), foram fabricados em
Antuérpia, como referem as suas legendas,
guarnecidas com as armas reais portuguesas. Diz a do sul:
Guilhelmus
Withlockx me fecit Antuerpiae anno 1730; declara a do norte: Nicolaus
Levache Leodiensis me fecit anno 1730(25). Este veio a Portugal para os
montar e acompanhou-o Domingos Massa para dispor os vigamentos de
sustentação dos sinos(26).
Podem tocar manual e automaticamente(27). Para a execução manual dispõe
cada torre, no 4.º corpo, de um teclado como o dos pianos (de 4 oitavas
da escala cromática), com duas ordens de teclas: a 1.ª colocada
superiormente, é tocada com as duas mãos (cuja acção corresponde à mão
direita), a 2.ª fica na parte inferior e é tocada com os pés (cuja acção
corresponde à mão esquerda). Embora se possam executar todas as músicas,
convém simplificá-las, por serem mui pesados os respectivos
instrumentos. Faz-se a ligação dos teclados com os martelos por meio de
alavancas dispostas em teares, cujo número se aproxima dos 3.000.
Julgue-se, pois, da complexidade dos aparelhos!
Os cilindros da execução automática, de
bronze, ficam no 3.º
corpo e medem 1,80 m de diâmetro por 2,40 m de eixo. É também de 4 oitavas
o seu limite; por um processo especial todas as músicas se lhe podem
colocar. Efectuam o seu movimento rotatório pesos de 800 quilos.
Variam as opiniões relativas ao custo dos carrilhões. Em dois e três
milhões de cruzados (800 e 1.200 contos oiro) computa-o a tradição;
informa o visconde de Santarém(28) que foi de 50.000
/ 45 /
moedas (240 contos oiro). Aquela funda-se nesta anedota, deliciosa como
demonstrativa do feitio magnânimo de João V: A uma fábrica de Antuérpia
encomendara o rei um carrilhão, sob determinadas condições. Custa um
milhão de cruzados, responderam-lhe, assim
como quem despede um freguês de fraca bolsa. Molestado nos seus brios,
prenhe de rópia, retorquiu João V: É barato, quero dois.
À tarefa dum rigoroso cálculo (em trabalho técnico e
artístico,
materiais, desenhos, modelos, etc.) se entregou J. Conceição Gomes e
obteve 350 contos(29).
A igreja, no exterior, apresenta as paredes mestras divididas em
duas secções, rematadas por áticos barrocos, abertos elipticamente, os
quais se prolongam pelo transepto e pela capela-mor;
na 1.ª, amparada por pilastras jónias (de tipo Scamozzi), rasgam-se
portas emolduradas e com frontões circulares, de tímpanos ornados com
florões e cabeças de serafins; pilastras toscanas apoiam a 2.ª. Robustas
pilastras, do mesmo tipo, aguentam as paredes da nave, rematados por
áticos balaustrados, da ordem toscana, que também
se prolongam pelo transepto e pela capela-mor. Estas partes mantêm
disposição análoga. No transepto, de topos circulares, porém, as janelas
inferiores são sobrepujadas por óculos encimados com frontões, entre as
quais se desdobram pilastras emparelhadas, jónias (Scamozzi); na secção
superior erguem-se pilastras compósitas. Largas quadras abobadas, com
abundância de mármores, ocupam o subsolo da capela-mor e do transepto.
O vestíbulo ou galeria (narthex), de pavimento de mármores enxadrezados,
tem 28 metros por 7(30). Prolonga-se pelas torres e
/ 46 /
pelos corpos do palácio, cuja separação marcam boas e fortes grades de
ferro; no conjunto forma a via-sacra. Cobre-o uma abóbada de berço,
apainelada, de mármores brancos e escuros, com apoio em seis arcos; nos
extremos, porém, termina em concha ou quarto de laranja e na secção das
torres, de planta oitavada, é esférica.
Catorze grandes nichos, cavados nas suas paredes,
abrigam estátuas de
Carrara, cujo efeito, decerto, seria maior, pelo facto das graúdas
proporções(31), se estivessem
mais elevadas(32). Todas elas são de
escultores italianos(33), parte dos
quais as datou e assinou, e em Roma
foram talhadas desde 1731 a 32. Iguais estátuas no total de 54, ornam as
capelas laterais e colaterais e os vestíbulos dos lados(34). Representam os fundadores das ordens religiosas, apóstolos,
evangelistas e doutores da Igreja. Algumas, como as de S. Bruno, S.
Sebastião (de bela plástica feminina) e S. Vicente, constituem
magníficos trabalhos artísticos, em especial a primeira, de vigoroso
relevo dramático; muitas são de fraco desenho e bastante amaneiradas.
Forma este conjunto escultural a escola italiana, que se contrapõe à
escola portuguesa, expressa nos demais trabalhos do género, sobretudo nos
retábulos. Distingue-o, no geral, a exuberância teatral do séc. VXIII,
/ 47 /
à qual destarte se refere Mestre A. A. Gonçalves: O sopro alteroso do
estilo prendia a subjectividade do estatuário no
mesmo entusiasmo empolado e alardeante das atitudes, em
ênfases de retórica e magnificências de convencionalismos decorativos(35).
Da galeria, até ao 2.º pavimento das torres, e das 1.ªs capelas
laterais, até à Sala de Benedictione, por dentro dos
ângulos das torres,
partem escadarias concêntricas(36) dispostas de
forma
curiosa: sobem uns e descem outros sem se verem(37).
Três portas belamente emolduradas franqueiam o ingresso na igreja.
Ladeiam a central 2 colunas compósitas, caneladas, de bases jónias e
capitéis primorosamente lavrados, com 4,40 m de alto, sobre as quais
pousa um frontão partido; ocupa o meio deste um medalhão de jaspe
modelado em meio relevo com a Virgem, o Menino e Santo António, de grande encanto e boa execução artística,
tal a harmonia da composição e a suavidade das figuras. Aí foi posto já
depois da igreja pronta. As portas laterais são rematadas por frontões
circulares, ornados de cabeças de serafins e ramos floridos. As três
portas, no interior, simplesmente emolduradas, ficam separadas por
pilastras compósitas. Coroam as laterais
/ 48 /
frontões elípticos, encimados por dois quadros representando factos
da vida de Santo António; corre sobre a do meio um frontal
esculpido com várias peças do culto, ao qual fazem guarda, superiormente, as figuras sentadas da Fé e
Religião. No alto abrem-se
as tribunas régias, balaustradas, correspondentes à Sala de Benedictione.
Empolga-nos o interior pela sumptuosidade, pela
óptima correcção; espiritual, religiosamente, porém, deixa-nos
impassíveis, por
ser fria, hierática, solene, toda essa grandiosidade. É óbvio que
nela se reproduz o italianismo jesuíta da igreja de Jesus, de Roma. Mármores coloridos, em combinações geométricas, formam o pavimento da
igreja. Cobre a nave uma abóbada de meio canhão ou cilíndrica,
apainelada e de mármores diversicolores; é escavada nos
lados, entre os arcos torais, para dar espaço às janelas sobrepostas às capelas laterais,
três de cada lado. Abrem-nas arcos plenos,
entre os quais se levantam pilastras emparelhadas e caneladas
(maciças no imoscapo), de capitéis compósitos(38) e bases
jónio
romanas, assentes em estereóbatos de mármore rosa com veios
brancos. Dos capitéis disse Beckford que nunca os vira tão bem
modelados; na verdade, são dum perfeito lavor. Frontais adornados
com serafins sobrepujam estes arcos formalotes e da cornija dos
seus entablamentos pendem dentilhões. Nos cimos da nave surgem
as portas laterais, de saída para os pátios da igreja. Cobrem-nos
frontões elípticos, por cima dos quais sobressaem tribunas balaustradas;
no seu interior, abobadado, há quatro nichos com estátuas.
Ao longo das paredes alinham-se tocheiros de bronze(39).
As capelas laterais são, também, revestidas de mármores;
comunicam entre si por belos portais de puro mármore preto, polidíssimo, com guarnições amarelas, e sobre eles se fixam lunetas de
Carrara esculpidas com cenas da Bíblia. Nos lados menores da
planta oitavada, em nichos, repousam estátuas. Por cobertura têm
abóbadas esféricas ou cúpulas e fecham-nas balaustradas toscanas
/ 49 /
de mármore azul e amarelo. Altos relevos marmóreos, esculpidos com
cenas da vida de Maria, medindo 3,50x2,20 m, constituem os seus
retábulos; ladeiam-nos colunas compósitas, de mármore rosa, nas quais se
apoiam frontões triangulares, brancos, com serafins nos tímpanos. Das
suas abóbadas pendem lampadários de bronze; em todos os altares, feitos
de pedras inteiriças, há banquetas de bronze. À direita ficam as capelas
dos Mártires, dos Confessores e das Santas Virgens; na sinistra vêem-se
as do Santo Cristo, dos Santos Bispos e do Rosário. Nestes retábulos e
lunetas, já das capelas laterais já das do transepto e das colaterais,
se patenteia a primorosa obra escultural da escola de Mafra instituída
por Giusti. Em todos eles sobressai o cunho espiritual adequado às respectivas composições, manifesto no ingénuo encanto das figuras, na
graciosa serenidade das atitudes e expressões, no reflexo divino da
santidade, a par duma técnica hábil e perfeita, por vezes. Os artistas irmanaram-se francamente com o
espírito das obras e, assim, puderam
executá-las com relevante primor. Eis um dos segredos da Arte. Dos
retábulos distingue-se o do Santo Cristo, talvez o mais expressivo;
das
figuras destacam-se em especial a de Maria Madalena, a de S.
Bernardino(40) e a de S.
Luís Rei de França,(41) pelos
belíssimos modelados. A Brás
Toscano de Melo pertencem as lunetas. Giusti lavrou o retábulo dos
Santos Bispos (acabado em 1755), além doutros, com o auxílio dos
desbastadores Pedro Luquez
e Francisco Alves Canada. A feitura destas peças derivou da perda, pela
humidade, dos primitivos painéis pintados.
Majestoso e amplo é o cruzeiro, no meio do qual se levanta o imponente
zimbório; lateralmente cobrem-no abóbadas iguais à da nave; mármores
diversos, figurando ao centro uma rosa luxuriante, formam-lhe o
pavimento. Ocupam os fundos as capelas da
Sagrada Família, à esquerda, e da Coroação da Virgem ou do
S. S. Sacramento, à direita; os seus retábulos de jaspe, com
/ 50 /
5,50x2,70 m, foram feitos por Giusti e Lourenço Lopes; emoldura-os um
belo mármore preto e flanqueiam-nos colunas compósitas de mármore
vermelho, monolíticas, com 9,50 m de alto. Nelas pousam frontões
triangulares, de sófitos denticulados, como os das cornijas, e entre os
seus capiteis firmam-se frontais admiravelmente esculpidos com
grinaldas, fitas e serafins. Excelentes candelabros de bronze, de sete
lumes, por cadeias suspensas das abóbadas, iluminam-nas nos actos
litúrgicos. Uma balaustrada marmórea fecha o altar da Sagrada Família; a
capela da Coroação é vedada por uma preciosa grade de ferro forjado e
cinzelado, com aplicações de bronze; grandes tocheiros a rematam, aos
quais outros correspondem no chão(42).
Pilastras emparelhadas, iguais às da nave, a meio, dividem as paredes do
transepto; do lado interno das mesmas sobressaem duas tribunas
balaustradas e do externo ressalta um órgão excelente, com tribuna igual
às outras, assente em colunas jónias de mármore vermelho, com 5,20 m de
alto, que ladeiam as portas das capelas colaterais.
Quatro arcos torais (plenos), guarnecidos com uma
faixa de casetões
coloridos, aguentam o zimbório, composto de 4 partes: tambor, cúpula,
lanternim e cupulino. Serafins e florões adornam os pendentes. Imita o
de S. Pedro de Roma, claramente, e como ele é dobrado (formado por duas
cúpulas concêntricas). Constitui, sem favor, uma bela e grandiosa obra
de arte, das melhores do género(43), e
deveras realça a perspectiva da
basílica. Dela Watson desdenhou, considerando-a pobre de perfil,
reputando o lanternim e o tambor mui altos em relação ao tamanho. Não
garantimos que seja obra-prima de proporções; se fosse, prejudicada
ficaria a sua
/ 51 /
grandiosidade, pois que o tambor, como reconhece o próprio Watson,
pouco subiria acima dos telhados.
Ergue-se o tambor ou corpo de luzes sobre um anel ou basamento de mármore vermelho. É de planta oitavada e rasgam-no
oito janelas, de molduras lavradas, entre as quais se desenrolam duas
colunas e uma pilastra glifadas, de capiteis coríntios e mármore
branco. Corre à volta uma varanda assente em mísulas esculpidas,
com o sófito ornado de casetões. Rompe a cúpula do seu entablamento, formada por duas abóbadas(44), que deixam entre si um
amplo vão, apoiando-se a externa em pilares sustentados pela interna.
Oito faixas de casetões(45), separadas por cordões de folhagens de louro com bagas pretas, guarnecem a interna, cujo aspecto
é belíssimo pelo primor de todo o lavrado ornamental e pelo
matizado dos seus vários mármores (branco, azul, preto, amarelo,
vermelho),
ligeiramente côncavas são as faces externas do tambor e
obliquados os arcos das janelas, cujos intra-dorsos ostentam casetões.
Sobrepujam-nas frontais com emblemas e festões e ladeiam-nas
colunas coríntias, que suportam frontões triangulares com serafins nos
tímpanos. Rasgam o domo duas ordens de óculos emoldurados e
com cornijas, sobre os quais, na inferior, pousam urnas flamígeras.
Esguio, elegante e, também, oitavado é o lanternim, firme
num basamento oculado. As janelas, encimadas por frontais ornados com
cornucópias, quase inteiramente lhe abrem as faces, mui côncavas; entre elas erguem-se colunas jónias. Flamejam os
fogaréus
sobre as partes salientes do entablamento, de linhas quebradas.
Circunda-o um varandim de ferro, do qual se logra um admirável
panorama, de larguíssimo horizonte, pois corre da serra de Sintra e do
cabo da Roca às Berlengas.
Primitivamente, era monolítico o lanternim (vd. pg. 34), mas
o raio caído em 1765 destruiu-o em parte, havendo-o restaurado os
cónegos regrantes.
/ 52 /
A cúpula do lanternim ou cupulino, monolítica, tem as faces cortadas por
óculos providos de cornijas e guarnecidas com serafins e festões;
ergue-se em linhas curvas e gradualmente adelgaçadas até formar peanha a
uma esfera de bronze, de 1,50 m de diâmetro, na qual se fixa uma cruz de
ferro com 2,40 m de alto. Cobre-a no interior uma pomba de asas
estendidas, de mármore branco, cingida por um resplendor áureo, de
mármore amarelo (símbolo do Espírito Santo). É flagrante a analogia
desta peça com os remates das torres.
Fecha a capela-mor uma balaustrada de mármores coloridos, os quais
formam também o pavimento, em disposição geométrica. A sua abóbada é
igual à da nave, da qual pende um magnífico lampadário de sete lumes, de
bronze, constituído por larga tarja de volutas e serpentes, de cujas
bocas caem as lâmpadas. Perfilam
o altar(46), monolítico
e de mármore branco, duas enormes colunas
inteiriças, cor de rosa, com 9,50 m de alto, de capiteis compósitos,
entre os quais se firma um frontal de perfeito lavor, igual aos das
capelas do transepto. Sustentam elas o entablamento, de sófito
denticulado e prolongado lateralmente; nele pousa um frontão triangular,
também denticulado, em cujo fastígio uma peanha serve de
suporte a um
enorme crucifixo de jaspe(47) envolto pela glória, com dois anjos aos
lados em adoração(48). Pertence a Trevisani o painel, emoldurado em
mármore preto, que representa Santo António adorando a Virgem; é um
trabalho excelente e de Raczinsky mereceu louvores(49). Tem o altar
banqueta dupla de bronze, lavrada e aberta à jour, com relíquias
encaixilhadas – obra de João José Aguiar. No presbitério, sobre o qual
avançam quatro tribunas de balaústres de mármore azul(50), duas em cada
lado,
/ 53 /
alinham seis bons tocheiros de bronze. A par das superiores ficam os
sumptuosos órgãos, de caixas de pau santo com guarnições de bronze
doirado, entre pilastras compósitas iguais às restantes.
Sobrelevam os do transepto em magnificência, a qual tanto seduziu Byron que,
apesar do seu génio maledicente, o
animou a julgá-los como os melhores que viu nas suas peregrinações. Não
são os primitivos; esses mandou desfazer e substituir pelos actuais, em
1807, D. João VI. Dispõem de 4 oitavas de extensão e 16
registos e foram
seus construtores, no Arsenal do Exército(51), Joaquim
António Peres
Fontana e António Xavier Machado; Carlos Amatucci(52) modelou os
medalhões e as outras peças metálicas. Assim, pois, tem a igreja seis
órgãos, caso único, talvez, em todo o mundo.
Sob os órgãos abrem-se portas de frontões
elípticos, lavrados, que dão
passagem às capelas absidais ou colaterais.
Os cadeirais são singelos, embora de
madeira brasileira.
As capelas absidais correspondem às outras;
cobrem-nas cúpulas com lanternins e mármores dispostos geometricamente
compõem-lhes o pavimento. A da Epístola é a da Senhora da Conceição, a
do Evangelho é a de S. Pedro de Alcântara. Pilastras jónias, iguais às
da nave, formam as paredes das mesmas. Na primeira, uma bela porta,
emoldurada em mármore preto, ladeada por nichos com estátuas de santos,
dá passagem para a sacristia; defronte
/ 54 /
desta parede fica um alto relevo de mármore, figurando a Anunciação,
ladeado por dois nichos com estátuas e encimado por uma luneta esculpida
com a Apresentação da Virgem no Templo. O retábulo do altar, de mármore, representa a Virgem e o Menino. É
igual a disposição da capela de S. Pedro, mas em lugar dos relevos de mármore do altar e da parede ostenta pinturas em
tela,
que exibem, respectivamente, a Virgem e S. Pedro (trabalho da
escola romana) e a Ceia. Na luneta admira-se o
Apocalipse.
Vai-se da capela da Conceição à sacristia
através do longo corredor dos
frontais(53). Essa ampla quadra, de sóbria decoração,
rectangular, mede
25,20x9,30 m.
Mármores combinados geometricamente revestem o chão. A abóbada, porém, é
de tijolo estucado e apainelado. Grandes
espelhos cobrem uma das paredes e rasgam a outra cinco janelões
emoldurados e separados por pilastras de capitéis Scamozzi,
tendo por remates frontões ondulados. Modestos são os arcazes, assentes
ao longo das paredes; dispõem de 80 gavetas e decoram-nos simples
guarnições metálicas e embutidos coloridos. Fabricou-os em jacarandá
Félix Vicente de Almeida, entalhador da casa real. Ao fundo, guardado
por balaustrada marmórea, ergue-se o retábulo curiosamente feito com
todos os tipos de mármores gastos na igreja. Consta a decoração de
serafins, tarjas, festões e das armas seráficas. De embrechados é o
frontal. A Inácio de Oliveira Bernardes, pintor da casa real, se deve
o
painel, que mostra a Virgem e S. Francisco –trabalho digno de apreço(54).
De bronze e bem modelados são o Crucifixo e a banqueta. Aos lados do altar
mais duas grandes janelas, em mármore, iluminam
a sacristia. Fica-lhe contígua a Casa do Lavatório ou Lavabo, boa sala
revestida de mármores, coberta com abóbada de tijolo estucado. Nas
paredes fixam-se quatro admiráveis fontes com taça, monolíticas,
guarnecidas com vários ornatos recortados e coloridos e sobrepujados por
conchas, tudo de mármores. Ocupa o centro
/ 55 /
uma excelente mesa de pedra salema, rosa e branca em baixo, com portas
de pau brasileiro.
Daqui, por uma larga escadaria de pedra, sem apoio algum interno,
penetra-se na Casa da Fazenda, que era o depósito geral dos aprestos e
alfaias dos actos litúrgicos maiores(55): tocheiros, banquetas,
lanternas, almofadas, paramentos, alcatifas, sanefas, trono grande de
200 lumes, a enorme cruz da inauguração, dosséis(56), serpentinas, cruzes,
etc. Abrange três salas de pavimento de tijolos.
Embora guarde, ainda, dois dosséis e diversas banquetas cinzeladas, de
bronze, pouco mais vale, hoje, que um armazém de sucata.
Notabilíssima, da mor magnificência, era a
sumptuária da
igreja, que,
segundo a tradição, com origem num dito de João V, custara mais oiro que
todo o edifício. Aparte o exagero, isso demonstra a riqueza da mesma(57). Grande parte dos paramentos foi executada em Génova, Milão e
França. Os franceses distinguiam-se pelas flores de lis e pelo tom
esmorecido dos retroses que nos italianos era vivo. Refere, também, a
tradição a existência duma custódia e dum cálice de oiro, os quais João
VI levaria para o Brasil.
Copiosos paramentos e alfaias ainda havia em 1874, bem conservados e
guardados na Casa da Fazenda, segundo afirma Vilhena Barbosa. Como
valiam centos de contos, é natural que os bons patriotas julgassem má
essa colocação de capitais e para melhor os transferissem. Em Portugal
os bons patriotas foram sempre admiradores da arte... de converter em
próprios os bens da nação.
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NOTAS
(1) –
Do fundo do amplo terreiro perfeitamente se pode observar.
(2) –
Para Aires de Sá a frontaria do paço e da igreja
representa a disciplina romana; nos torreões patenteia-se a germânica. É
curiosa a distinção.
(3) –
O qual em S. Vicente de Fora (Lisboa, 1582-1627) já
se revelara.
(4) –
Diz o polaco: Não se nota nela nem um anacronismo nem
confusão de ideias e se o progresso a respeitar sempre bela se manterá
até cair.
(5)
–
Efectivamente, ressalva a impressão de rigidez e
frieza do convento.
(6) –
Brancos, azuis, amarelos com veios e lisos, pretos e róseos. Todos
do país, excepto os dos retábulos. Deles disse Beckford que nunca os vira
tão
belos e variados.
(7) –
Assim como abóbadas, altares, colunas e pilastras, balcões, pias de
água benta, candelabros, banquetas, lampadários, tocheiros, portais, etc.
(8) –
A nave mede 33,50x12. O cruzeiro, 46,30x2,70. A
capela-mor, 16,30x0,78 e de altura 21,50. As capelas laterais 8,80x6,80.
(9) –
Obra de Dominico Zampieri, O Dominiquino, e P.e
Grassi. Fachada
de Alex. Algarde.
(10) –
Este motivo ornamental é dominante na igreja, no paço e no convento. Foi muito vulgar na renascença de
Luís XIII e característico das
obras atribuídas a Sansovino (v. g. a porta especiosa da Sé Velha de
Coimbra e
a
chaminé do paço real de Sintra).
(11) –
Os frontões sobrepujando as janelas
foram aplicados pela 1.ª vez e
por Brunelleschi no Hospital dos Expostos (1421), de Florença.
(12) –
Frei António, da Seráfica Ordem Menor, falecido em Pádua aos 13-VI-1231,
foi homem corpulento e, até, obeso, tendo-o matado uma
hidropisia
Porém, a sua iconografia artística no-lo apresenta, desde o séc. XIV, na
figura espiritualista de homem delgado, magro, como efebo sorridente,
delicado e belo, por efeito, decerto, do critério de considerar-se a magreira como forma de pureza. Ora Giotto, o 1.º pintor do santo, a
menos dum século da sua morte, representou-o mui gordo no fresco da
capela Bardi (Florença). De Simone Martini (1322-26) existe na igreja
interior de S. Francisco de Assis uma pintura com o santo de formas
cheias. Depois, começa a emagrecer, embora contra a moda um tanto reajam
Sansovino e Perugino. Vd. Santo António na Arte, de Augusto de Castro.
(13) –
Não foi justo na comparação, embora leves analogias se observem nas
torres de Mafra e Santa Inês. Sê-lo-ia, por certo, se afinidades
registasse, de ordem geral, entre elas e as obras romanas de Scamozzi,
Mademo, Gregorini,
Rainaldi, Borromini, Bernini e Sansovino.
(14) –
Todavia, considera os pináculos como reproduções da Clerecia de
Salamanca. Singular é o facto, visto não os haver nas torres. E como
existirem pináculos, elementos góticos, numa obra clássica? Baptizaria
assim os fogaréus, muito difundidos na decoração nacional do séc. XVIII?
Efectivamente, na Clerecia
obra do princípio do séc. XVII e de Gomez Mora (da escola de Herrera)
estranhamente se vêem pináculos. Entre estes e os fogaréus de Mafra não
há, porém, a menor afinidade.
(15) –
Nelas estão colocados os carrilhões mecânicos.
(16) –
Cabeças aladas de serafins os decoram superiormente.
O da esquerda tem a marcação romana.
(17) –
Ficam aí os carrilhões manuais.
(18) –
Estão nele colocados os sinos do serviço da igreja.
(19) –
Eis o lugar dos sinos do relógio,
suspensos de barras de ferro
com
11.748 quilos de peso. Os das horas, com 2,50 m de diâmetro, pesam, cada
um,
12.000 kgs. O martelo pesa 293 kgs. Os das meias e dos quartos ficam por
baixo suspensos de traves chapeadas de ferro. Inferiormente a estes, há ainda
mais 6
sinos do serviço religioso, dos quais o maior, chamado bizarro, pesa
8.118 kgs. Quando, há mais de 20 anos, todos dobravam, era grandioso o
efeito do som, que
se estendia num raio de 15 kms. Cada sino tinha nome e função próprios.
Ao todo pesam os sinos 66.194 kgs.
(20) –
Primitivamente eram cruzes de ferro.
(21) –
Os maiores pesam 10.000 kgs e 30 os menores, dispondo cada um de
2 a 4 martelos.
(22) –
Tocaram neste ano pela 1.ª vez. Os executantes foram
Gregório Le Roi (de Liège) e Joaquim Gabriel Santos Andrade.
(23) –
Para se formar um carrilhão não basta haver um grupo
de sinos, pois é mister que sejam afinados de modo que componham uma
gama musical.
(24) – Admirável é a sua harmonia;
Baretti, porém, achou mesquinha a
sua música (decerto, por não serem italianos). Valem uma das melhores
peças
do nosso património artístico.
(25) – Leodiensis quer dizer natural de Leódia (Liège).
(26) –
Levache ficou, depois, em Lisboa e lá montou, no Campo de Santa
Clara, uma fundição de sinos.
(27) –
Quando tocam o efeito é o duma orquestra grandiosa.
(28) –
Quadro Elementar.
(29) –
Durante bastos anos estiveram abandonados, desprezados
– prova da
barbárie portuguesa. Aos danos daí procedentes acudiu prestimosamente o
governo em 1928-29. Não só os carrilhões foram reparados por um técnico
belga
como, pelo patrocínio da comissão de turismo de Mafra, neles se têm
efectivado magníficos concertos pelos artistas Theo Adriaens (1929), Maurice Lannoy
(1931).
Criou este um discípulo, Hernâni Fialho Caldeira, o único obtido pelos
esforços
da dita comissão. Em 1932 brilhantemente executou ele alguns concertos
com
música de Grieg, Mendelsohn, Kersberger, etc., sendo notáveis o relevo
do som e a delicadeza das gradações musicais.
(30) –
Acanhado o reputou Baretti, em relação à igreja, tal como achou
esta acanhada relativamente ao paço e ao mosteiro, defeitos esses que
atribuiu à
alteração do plano primitivo.
(31) –
Medem as de S. Vicente e S. Sebastião 4,80 m de alto e
2,80 m as outras.
(32) –
Aos lados das portas vêem-se: S.
Vicente e S. Benedito à esq.;
S. Sebastião e S. Bruno, à direita. Defronte: S. João da Mata e S.
Bernardo. Na secção das torres: à sinistra, S. Pedro Nolasco, S. Félix
de Valois, S. Francisco de Paula e S. Caetano; à dextra, S. João de
Deus, Santa Teresa, S. Filipe de Néri e Santo Inácio.
(33) –
Vd. no final: Lista dos principais artistas.
(34) –
Fachada, 4 – Galeria, 14 – Capelas laterais, 24 –
Colaterais, 8 – Vestíbulos laterais, 8.
(35) –
Em forma parafrástica da exposta e rijamente depreciativa para o
barroco e para o italianismo, com a agravante singular de atribuir à
escola de Giusti toda a referida estatuária, que já lá existia quando esse notável
escultor chegou a Mafra, criticou-a o ilustre artista Diogo de Macedo na
Seara Nova
(n.º 297, A escultura em Portugal). Eis as suas palavras: Mafra foi um
laboratório de escultura retórica e enfática. Dirigido por Alex Giusti. o
estilo
empolado toma atitudes de tenorismo presunçoso a alardear espalhafatos
convencionais. As estátuas são todas batidas por um vento tão forte e
disparatado
que quase só se limitam a roupagens folgadas num gesticular de bailado.
Há,
sem dúvida, certa expressão em toda esta truculenta deslocação
fantasiosa, mas
à falta de grandeza de alma, de valor interior, parece que os vultos se espadanavam para dar nas vistas pelo volume das suas indumentárias
avantajadas». Em parte, é justa a crítica. Deploremos, todavia, que a sua prosa
malabarista, desconexa, com apetites de original e falha de gramática, caia
nos mesmos
defeitos. Sem desenho não há artes plásticas, sem gramática não há
prosas. Deus
fadou Diogo Macedo para bom escultor e não para literato.
(36) –
Duas espirais partindo dum ponto vertical
correspondente, entre si distantes 2 metros, formam 2 escadas
concêntricas, cujo traçado e projecção continuam igualmente até final.
Parece terem servido para a família real descer para a igreja nas
festividades de maior pompa.
(37) –
Houve-as iguais na torre da catedral de Córdova,
transformadas após o terramoto de 1572.
(38) –
Singularmente, de coríntios os qualifica Watson.
(39) –
Tanto estes como os do transepto são lisos. Também
não têm ornatos as banquetas das capelas laterais.
(40) –
Mormente à cabeça, várias vezes moldada, na capela dos
Santos Confessores.
(41) –
Sobretudo pelo admirável trabalho das roupagens.
(42) –
Tanto esta grade como a que fechava a
capela-mor, hoje no museu do
Carmo, mereceram louvores de Raczinsky. Substituíram as primitivas, de
madeira entalhada, por resolução dos cónegos e foram feitas, com muitas
outras peças de bronze, em Antuérpia. Mui valiosas são para nós, visto
em Portugal serem minguados os trabalhos de ferro.
(43) – Eis os mais notáveis zimbórios: S. Pedro de Roma, S. Paulo de
Londres, Panteão de Agripa, Santa Maria de Florença, Inválidos e Santa
Genoveva de Paris. Cúpulas dobradas apresentam os templos de S. Marcos
de Veneza e Santa Sofia de Constantinopla.
(44) –
A externa chama-se domo.
(45) –
Típicos das abóbadas romanas, segundo o
Panteão de Agripa e os
arcos triunfais.
(46) –
Tão perfeitamente foi polido que João V o empregou
como espelho, no-lo diz Murphy, talvez por facécia.
(47) –
Obra de José de Almeida. Tem 3 m. de altura.
(48) –
Exercem a função de acrotérios.
(49) –
Restaurou-o em 1826 o italiano Viale e já foi copiado. Pretendeu
João VI substituí-lo por um relevo de mármore. Uma limpeza hábil
constituiria uma obra de caridade, tão sujo está.
(50) –
Delas a família real assistia aos ofícios divinos, às
quais chegava por corredores abertos na espessura das paredes do
transepto e da nave até ao paço.
(51) –
Nas suas oficinas se executaram muitas outras peças
de serviço religioso.
(52) –
Vindo para Lisboa em 1804 e logo admitido ao serviço
real.
(53) –
Assim chamado por nele se guardarem essas ricas peças
bordadas.
(54) –
Deploremos a sujidade que o cobre.
(55) –
Parte deles foi retirada para o Museu.
(56) –
Deles, três eram muito ricos, de gorgorão, bordados a seda. Vieram
de França e pesavam, cada um, 105 quilos.
(57) – Vd. o respectivo artigo, adiante, pág, 82, cuja leitura pode ser
acrescida com a do publicado por J. Conceição Gomes, no Instituto de
1883, pág. 558, sob o título: A basílica de Mafra (Arte Ornamental).
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