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Serenata à Chuva
O filme
Realização: Gene Kelly e Stanley Donen.
Argumento: Betty Comden e
Adolph Green. Fotografia: Harold Rosson. Direcção Artística: Cedric Gibbons e Randall Duell.
Montagem: Adrienne Fazan. Direcção
Musical: Lennie Hayton. Interpretação: Gene Kelly (Don
Lockwood),
Donald O'Connor (Cosmos Brow), Debbie Reynolds (Kathy Sheldon),
Jean Hagen (Lina Lamon), Millard Mitchell (R. F. Simpson), Rita
Moreno (Zelda Zanders), Douglas Fowley (Roscoe Dexter), Cyd
Chasisse (Bailarina no número «Broadway Melody»), Madge Blake
(Dora Bailey), King Donovan (Rod), Kathleen Freeman (Phoebe
Dinsmore). Canções: «Singin' in the Rain», «All I Do is Dream
of You», «Make 'em Laugh», «I've Got a Feeling You're Fooling», «The
Wedding of the Painted DolI», «Should I?», «Beautilul Girl», «You
Were Meant For Me», «Good Morning», «Would you», «Broadway Melody»,
«Broadway Rhytm», «You Are My Lucky Star», todas com música de
Nacio Herb Brown e letra de Arthur Freed, «Fit as a Fiddle»,
música de AI Hoffman e AI Goodhart e letra de Arthur Freed;
«Moses», música de Roger Edens e letra de Arthur Freed. Produção:
Arthur Freed para a Metro-Goldwyn-Mayer. Filmado em 35 mm, e em
technicolor. Inicio da produção: Maio de 1950. Rodagem: Abril a
Dezembro de 1951. Estreia Mundial: 10 de Abril de 1952. Estreia em
Portugal: 18 de Dezembro de 1952.
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4 /
Sinopse
A acção inicia-se em 1927. Frente ao Grauman's Chinese Theatre, uma
multidão de fãs aplaude a chegada das grandes estrelas que vêm
assistir à estreia do último filme de um célebre par romântico do
cinema mudo, Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen).
Entrevistado à entrada do cinema, Don dá aos fãs um resumo do que
foi a sua carreira até chegar ao estrelato. Na versão que ele
conta ao público, a sua carreira, ligada à do seu amigo Cosmo
Brown (Donald O'Connor), foi sempre pautada pela dignidade e pela
grande arte. Mas as imagens que vemos, e que resumem em flashback
a vida artística de Don e de Cosmo, mostram o contrário: uma
carreira feita sobretudo nos mais reles e baratos teatros de
revista, passando para HolIyood, onde Don começa por ser um
duplo, até que o produtor R. F. Simpson (Millard Mitchell) repara
nele e o converte no galã dos filmes de Lina. Para fins
publicitários, o estúdio cria a ideia de que Don e Lina estão
apaixonados na vida real e a actriz acaba por se convencer que
essa paixão existe de facto.
Depois da estreia, os actores dirigem-se a casa de Simpson, para
uma festa. Perseguido pelos fãs, Don esconde-se no carro de uma
jovem desconhecida, Kathy Selden (Debbie Reynolds). Para evitar os
avanços amorosos de Don, ela clama ser uma actriz de «teatro
sério», olhando com desdém os actores do cinema mudo. Don
descobrirá na festa que Kathy é, de facto, uma corista. Quando ele
ironiza com a situação, Kathy atira-lhe um bolo à cara, mas falha,
acertando em cheio em Lina Lemont.
Entretanto, Simpson mostra aos convidados uma grande novidade, um
filme falado», dizendo-lhes: «A Warner Brothers está a fazer um
filme inteiro com esta invenção. Vai chamar-se O Cantor de Jazz.
Vão perder tanto dinheiro que vão ficar sem a camisa». E anuncia
que o próximo filme de Don e Lina, continuará a ser mudo e que se
vai chamar The Dueling Cavalier.
Começa a produção do filme. Mas a cabeça de Don está noutro lado.
Confessa a Cosmo que está apaixonado por Kathy, a rapariga que
resistiu aos seus encantos e fugiu depois de acertar com o bolo na
cara de Lina. É nessa altura que Simpson surge, interrompendo
/
5 / a produção do filme, com a notícia de que o sucesso do
Cantor de Jazz revolucionou todo o cinema e, a partir de agora,
todos os filmes terão que ser falados, exigindo novos talentos. Kathy é um desses novos talentos. Simpson contrata-a,
proporcionando assim o reencontro dela com Don. Desta vez, Don
conquista-a, cantando para ela "You Were Meant for Me».
Continuam as filmagens de
The Dueling Cavalier agora transformado
num filme sonoro. Mas a voz de Lina revela-se uma catástrofe. Numa
projecção privada do filme, a audiência ri-se da sua voz
estridente. Simpson entra em pânico e é Cosmo que salva a situação
sugerindo que Kathy dobre a voz de Lina e que se converta o filme
num "musical». O resultado é um grande sucesso. Mas Lina, que não
se esquece do bolo com que Kathy lhe acertou, nem lhe perdoa o
namoro com Don, tenta impedir que Kathy possa vir a ter uma
carreira autónoma, obrigando-a a respeitar o contrato que, durante
cinco anos, fará dela a "sua voz», anónima. Tudo isso se passa nos
bastidores, depois da estreia. O público, na sala, reclama que
Lina venha cantar ao vivo. Ela sobe ao palco e finge cantar.
Escondida, atrás da cortina, quem canta, de facto, é Kathy. Nessa
altura, de comum acordo, Simpson, Don e Cosmo abrem a cortina,
denunciando Lina e revelando ao público que Kathy é a verdadeira
artista.
/
6 /
Análise do filme |
|
Para além do seu encanto genuíno, a importância de
Singin'in the
Rain decorre do facto do filme ser um espelho de vários momentos
decisivos da história de Hollywood e, logo, da história do cinema.
Em primeiro lugar, e com uma admirável capacidade de observação
dos pormenores, o filme retrata a passagem do cinema mudo ao
sonoro, evocando, numa sátira gentil, todas as peripécias que
rodearam a introdução de uma tecnologia que os actores e os
realizadores não dominavam. Nesse retrato, e num assinalável
trabalho de conjunto entre os argumentistas (Betty Comden e Adolph
Green) e os realizadores (Kelly e Donen), o filme não se limita a
somar aspectos anedóticos (caso da dificuldade de utilização do
microfone). Com subtileza Singin' in the Rain confronta-se com os
aspectos essenciais da revolução que Hollywood viveu entre 1927 e
1928. O aspecto mais dramático dessa mudança passa para o filme
através da figura de Lina Lamont, interpretada genialmente por
Jean Hagen. As dificuldades que a palavra falada colocou a
algumas das grandes «estreIas» do cinema mudo foram dificuldades
reais e, nalguns casos, insuperáveis − recorde-se um dos casos
mais célebres, o do actor John Gilbert, que foi durante o mudo o
par de Greta Garbo, e cuja carreira foi literalmente liquidada com
o aparecimento dos filmes falados. Secundariamente, o filme faz
também notar que, para além da voz, o sonoro obrigou os actores a
transformar radicalmente o estilo de representação,
desvalorizando o jogo mímico em favor de uma representação mais
«naturalista», mudança que
se pode observar na variação de estilo de Gene Kelly do Duelling
Cavalier para a Dancing Cavalier.
Outra transformação profunda, que o filme nos dá em filigrana, é a
da recomposição das estruturas industriais de Hollywood,
exemplarmente retratada na alteração do género de Duelling
Cavalier, o filme que está em produção quando o estúdio é
obrigado a adoptar o som. Projectado com um filme de capa e
espada − semelhante na forma e no conteúdo aos que celebraram,
nos anos 20, Douglas Fairbanks Sr. − The Duelling Cavalier é
/
7 / transformado num «musical», género que funcionou, à época, como tábua
de salvação para os estúdios.
A um nível, Singin' in the Rain é também um compêndio histórico da
evolução do próprio musical. Vejamos: as canções do filme, quase
todas com letra de Arthur Freed e música de Nacio Herb Brow, eram
canções dos anos 20, e tinham sido utilizadas (nalguns casos mais
do que uma vez, em filmes musicais da MGM; as coreografias dos
bailados recapitulam os sucessivos estilos da dança no cinema de
Hollywood, sendo particularmente feliz a homenagem ao estilo
cadeidoscópico das lendárias coreografias surrealizantes de Busby
Berkeley, que Kelly e Donen imitam no número intitulado "Beautiful
Girl», ou ainda a homenagem subliminar ao par Fred Astaire-Ginger
Rogers, quando Kelly e Debbie Reynolds dançam "You Were Meant For
Me». O exemplo máximo e maximamente espectacular dessa «revisão
histórica» é dado pelo bailado "Broadway Melody», espécie de
«filme no filme», em que Gene Kelly, traçando a história de um
bailarino, desde a chegada à Boadway até atingir o estrelato, nos
dá também todo o leque de estilos e recursos da dança no cinema
musical americano, desde o mais humilde burlesco de «vaudeville»
até à sofisticação dos momentos de «ballet puro» de Gene Kelly e
Cyd Charisse na dança com o famoso véu de 12 metros.
O fascínio de Singin' in the Rain não se limita a estas sucessivas
«leituras» de um momento particular da história do cinema ou do
desenvolvimento do próprio musical. O filme é também, nalguns dos
seus melhores momentos, uma das mais sofisticadas "reflexões»
sobre o efeito de ilusão como centro de todo o espectáculo. Logo
na abertura, esse carácter ilusório da representação torna-se
patente, quando Gene Kelly descreve verbalmente a sua carreira,
subordinando-a ao lema "Dignidade, sempre dignidade», enquanto em
«flashback» as imagens mostram exactamente o contrário. Mais
complexa do que esta contradição entre o plano verbal e o plano
visual, há depois uma outra sequência, que é um dos exemplos da
capacidade do cinema como arte de transfiguração do real.
Trata-se do momento em que Gene Kelly se declara ("You Were Meant
For Me») a Debbie Reynolds, num estúdio deserto, e em que da
palavra (falada ou cantada) de Gene Kelly «nascem» as estrelas, a
lua, o vento, o nevoeiro, com que ele conquista a rapariga, num
dos mais belíssimos rituais de namoro e sedução que o cinema
musical alguma vez encenou.
Essa ilusão e essa transfiguração transformam-se em explosão
criativa no já citado «Broadway Melody». É um longo bailado de 16
minutos, constituindo quase um filme autónomo dentro do filme. No
catálogo «O Musical» da Cinemateca e da Gulbenkian, João Bénard da
Costa diz que é um filme que «nasce, como provavelmente filme
algum nasceu». E continua: «É o 'Broadway Melody Mallet' a
arrancar do pé e da perna de Cyd Charisse num fabuloso travellíng
lateral que nos introduz a uma das mais geniais sequências
oníricas da história do cinema. Encontro da mitologia dos anos 20
(o gangster, o vamp, o cabelo cortado à Louise
/
8 /
Brooks) com a mitologia dos anos 50 (a ruptura, a profundidade de
campo, o espaço desmultiplicado, a sensualidade mais ofegante e
mais afagante). Desde a 'dança canalha' (o vestido verde, as meias
pretas, a saia aberta) até aos véus brancos com Kelly de joelhos em adoração, passando pelo cor-de-rosa
− esses
típicos cor-de-rosa do technicolor que já não são cor-de-rosa mas
a bela palavra magenta».
Se «You Were Meant For Me» é, dentro da economia narrativa de
Singin' in the Rain, o supremo ritual de sedução, se «Broadway
Melody» é uma das mais portentosas afirmações do cinema como arte
erótica (ou vice-versa), e se ambas as sequências são a cabal
demonstração de que no cinema a realidade e a fantasia podem
fundir-se em absoluto, é numa outra sequência, aquela em que Gene
Kelly dança e canta o tema que dá título ao filme, que o filme
toca a utopia. A representação da «felicidade pura» raras vezes
foi tentada no cinema, mas igualmente nas outras artes ocidentais
mais inclinadas a um «pathos» dramático ou trágico −
e quando foi representada muitas foram as vezes em que derrapou
para o ridículo ou para o lamechas. Neste genial e simplicíssimo
bailado, Kelly concretiza essa ideia abstracta de pura felicidade.
Com quase nada: uma rua, chuva, uns passos de dança, a
câmara colocada numa grua e uma iluminação sóbria. «O que eu fiz
no bailado de 'Singin'in the Rain', explica Gene Kelly, foi
servir-me de uma rua inteira e dançar movendo-me pela rua abaixo».
É exactamente dessa utilização total do espaço que nasce a
sugestão de liberdade e de euforia sem limites físicos, como se o
espaço fosse a metáfora dos sentimentos ou do estado de espírito
do bailarino.
Disse o cineasta francês Claude Chabrol que este filme enche os
seus espectadores de euforia, colocando-os em estado de «perfeita
receptividade». E exemplifica a seguir: «Começamos a voar
tranquilamente desde as primeiras acrobacias de Donald O'Connor
que desafia com desembaraço o peso e não cai senão para melhor
saltar. A partir desse momento, todo o espectador, seu cúmplice,
canta e dança com ele sob o olhar vigilante de um polícia. E
quando o seu ímpeto, o homem no écran, guarda-chuva apontado para
o céu, sobe a um candeeiro, o seu cúmplice, na obscuridade da
sala, tende a imitá-lo. Isto só se explica por sermos levados
pela mão de um artista, de uma miraculosa gentileza de espírito
cuja câmara, suave e ligeira, tal como ele, sabe fazer-nos sentir
a delicada pureza das coisas e a emoção profunda que contém toda a felicidade».
Aproveitamentos
interdisciplinares
O cinema musical, combinando artes performativas tão diversas
como o bailado e o canto, com os elementos narrativos e visuais
característicos do cinema em geral, é propício a digressões
interdisciplinares.
/
9 /
No caso de Singin' in the Rain esse aproveitamento é facilitado
pelo facto do filme funcionar como um «compacto» das técnicas e
dos estilos dos coreógrafos (desde os que tinham começado por
entender os números musicais, dentro dos filmes, como sequências
não relacionadas com a história, até aos que, como Kelly e Donen,
defendiam uma ligação orgânica dos "números musicais» à narrativa
e aos personagens) e dos bailarinos (revisitando p estilo
«continental» de Fred Astaire para passar à dança mais sensual e
mais «atlética» de Kelly).
Por outro lado, Singin' in the Rain, situando a acção no momento em
que se verifica uma revolução no «medi um» específico que é o
cinema, pode funcionar como um precioso elemento complementar do
estudo dos media, podendo ser particularmente estimulante o seu
confronto com as teorias de inspiração macluhaniana que tendem a
afirmar o «meio» como «mensagem». Os conflitos entre a palavra e a
imagem, e o carácter ilusório das tecnologias, sublinhado muito
especialmente pela dobragem das vozes, é outro dos tópicos
possíveis. Já agora, e para que conste, convirá dizer que Jean
Hagen, a actriz que incarna Lina Lamont, dobrou na realidade a voz
de Debbie Reynolds nas canções, uma vez que a voz de Debbie era
particularmente fraca nas notas mais altas.
/
12 /
Bio-filmografia dos Realizadores
GENE KELLY
Nasceu a 23-8-1912, em Pittsburg. Como actor, coreógrafo e
realizador revolucionou o «cinema musical» americano, cotando-se
como um dos nomes mais prestigiados, ao lado de Busby Berkeley,
Fred Astaire e Vincent Minnelli. Para se compreender o alcance da
revolução protagonizada por Gene Kelly é necessário fazer o ponto
da situação do «filme musical» de Hollywood antes da sua chegada.
Com Gene Kelly, e ao contrário do que sucedia até então, as
sequências de dança deixaram de ser uma espécie de «jóia» isolada
no meio do filme. Para Gene Kelly, e para os que trabalhavam com
ele (o produtor Arthur Freed e o co-realizador Stanley Donen), os
números musicais deviam, sem perder as características de
espectáculo, integrar-se na própria história do filme, cumprindo
três funções essenciais: a) criar uma certa atmosfera e
estabelecer o carácter das personagens; b) fazer avançar a
narrativa; c) exprimir emoções particulares, sem recorrer aos
diálogos. Ou seja, com Gene Kelly nasce o que os teóricos hoje
chamam integrated dance musical.
Para conseguir realizar esta evolução na estrutura do género, Gene
Kelly afastou-se do modelo que Berkeley tinha consagrado nos anos
30. Nos filmes de Berkeley todas as cenas de dança eram concebidas
como se tivessem lugar num teatro e num palco (backstage musical).
Com Gene Kelly, primeiro em Take Me Out to the Ball Game (1949) e
sobretudo em On The Town (1949), os
números musicais passam a ser concebidos como tendo lugar em
cenários reais (On The Town foi parcialmente filmado nas ruas de
Nova lorque), e passam, igualmente, a fazer funcionar todos os
elementos desses cenários reais como elementos da coreografia.
Outro factor fundamental foi o estilo de Gene Kelly como
bailarino. Ao contrário do genial Fred Astaire, que tinha uma
concepção «europeia» da dança, concebendo cada número de dança
num filme como a reprodução do que seria a performance de um
bailarino no palco (em geral a câmara não se move e filma o
bailarino em corpo inteiro), Gene Kelly introduziu na dança um
estilo muito mais atlético (muito mais americano, dir-se-ia) e
muito mais dramático.
Os momentos supremos da arte de Kelly são
On The Town,
/
13 / Singin' in the Rain e It's Always Fair Weather (1955), para falar
de filmes que ele próprio realizou (com Stanley Donen) e The
Pirate (1948) e An American in Paris (1951), ambos realizados por Vincente Minnelli. Mas para chegar a este ponto Kelly passou por
muito «sangue, suor e lágrimas». Aos 8 anos já dançava: a mãe, uma
apaixonada da dança, matriculara-o num curso, ao mesmo tempo que o
deixava praticar desportos como o hóquei e o basebol. Só aos 22
anos é que decidiu ser coreógrafo. Quatro anos mais tarde estava
em Nova-Iorque, onde, em 1940, obteve o primeiro sucesso, com o
principal papel num musical nos teatros da Broadway, intitulado
PaI Joey. Hollywood contratou-o em 1941. Durante oito anos Kelly
foi fazendo filmes, muito indeciso entre uma carreira como actor
dramático ou como bailarino. E seria nesta qualidade, dançando com
Rita Hayworth em Cover Girl (1944), que Gene Kelly ascenderia ao
estatuto de grande estrela.
Depois do apogeu dos anos 50, a carreira de Gene Kelly derrapou.
Começou a filmar e deixou-se levar por filmes de «grandes
intenções artísticas», caso de Invitation to Dance (1956), no
qual,
como escreveu John Kobal, a graça (que era a sua marca pessoal) se
perde debaixo de tanta «inteligência».
Filmografia -
Como Realizador
1949 - On the Town (Um Dia em Nova lorque, co-realizado com
Stanley
Donen);
1952 - Singin' in the Rain (Serenata à Chuva, co-realizado com
Stanley Donen);
1955 - It's Always Fair Weather (Dançando nas Nuvens, co-realizado
com
Stanley Donen);
1956 - Invitation to Dance (Convite à Dança);
1957 - Happy Road (Todos a Paris)
1958 - Tunnel of Love(OTúnel do Amor);
1962 - Gigot (Gigot, O Vagabundo de Montparnasse);
1967 - A Guide for lhe Married Man (Guia para um Homem Volúve);
1969 - Hello Dolly (Hello Dolly);
1970 - The Cheyenne Social Club (Um Clube Só para Cavalheiros);
1974 - That's Entertainment (Isto é Espectáculo, co-realizado com
Jack Haley
Jr.);
1976 - That's Entertainment part 2 (Isto é Espectáculo, parte II,
co-realizado
com Jack Haley
Como actor -
só os principais títulos»
1942 - For Me and My Gal (O Prémio do Teu Amor), de Busby
Berkeley;
1944 - Cover Girl (Modeloj, de Charles Vidor;
1945 - Anchors A weigh (Paixão de Marinheiroj, de George Sidney;
1946 - Ziegfeld Follies (As Mil Apoteoses de Ziegfeld), de
Vincente Minnelli;
1948 - The Pirate (O Pirata dos Meus Sonhos) de Vincente Minnelli;
The Three Musketeers (Os Três Mosqueteiros), de George Sidney;
1949 - Take Me Out to the Ball Game (A Linda Ditadora), de Busby
Berkeley;
/
14 /
1951 - An American in Paris (Um Americano em Paris), de Vincente
Minnelli; 1954 - Brigadoon (Brigadoon, A lenda dos Beijos
Perdidos) de Vincente
Minnelli;
1957 - Les Girls (As Girls), de
George Cukor;
1960 - Let's Make Love (Vamo-nos Amar), de George Cukor;
1968 - Les Oemoiselles de Rockefort (As Donzelas de Rochefort), de
Jacques Demy.
STANLEY DONEN
Nasceu a 13-4-1924, na Columbia (Carolinha do Sul). Aos 9 anos viu
um filme de Fred Astaire (Flying Down to Rio) e isso transformou
toda a sua vida. Decidiu ser bailarino e com 16 anos conseguiu ser
contratado como «chorus boy» para uma peça musical da Broadway
intitulada PaI Joey. Foi aí que conheceu Gene Kelly. Kelly era uma
dúzia de anos mais velho do que ele e convidou-o para seu
assistente. E juntos foram para Hollywood assinando em parceria, e
durante mais de década os filmes que transformaram toda a
concepção do cinema musical americano. Em geral, os comentadores e
historiadores têm tido tendência para atribuir os méritos dessa
«revolução» sobretudo Gene Kelly. Sucede que, mais ainda do que
outros géneros, o «musical» é uma arte colectiva, exigindo uma
estreita colaboração entre intérpretes, coreógrafos,
realizadores, músicos e cenógrafos. O mérito maior deve, por isso,
caber a quem, seja capaz de estar aberto a todas estas
colaborações, sendo ao mesmo tempo capaz de tomar o comando logo
que a necessidade de liderança se imponha. E o facto é que,
quando, terminada a sua associação com Gene Kelly.
Stanley Donen começou a dirigir filmes sozinho, o valor desses
filmes (basta lembrar Seven Brides for Seven Brothers,
Funny Face
ou Pijama Game) atestou claramente que a sua contribuição nas
obras geniais que assinara com Gene Kelly (de On The
Town a Singin' in the Rain) era pelo menos igual à do seu
justamente célebre parceiro.
Perfeitamente solidário com as ideias de Gene Kelly sobre a
integração orgânica da dança e da música na história de cada
filme, Donen sobe sempre ligar essa concepção a um trabalho em
profundidade sobre a psicologia das personagens. Essa «psicologia»
era sempre o resultado da extrema funcionalidade narrativa
/
15 /
de cada número musical, da conversão da cor num elemento
determinante da acção e da utilização coreógrafa da câmara (veja-se o fabuloso movimento de grua que termina em apoteose a
sequência em que Gene Kelly canta e dança o tema que dá o
título a Singin' in lhe Rain). Em comum com Kelly, Donen
partilhava também o gosto por uma dança de grande dinamismo físico
e, nesse particular, um filme como Seven Brides for Seven Brothers pode considerar-se como a consagração desse estilo.
Já se disse que a carreira de Donen foi tão boa quando trabalhou
sozinho, como quando trabalhou acompanhado. Deve acrescentar-se, para terminar, que fez igualmente boa carreira quando
saiu do musical e passou para a alta comédia (Indiscret em 1960,
com Gary Grant e Ingrid Bergman) ou para a comédia romântica
(Two for the Road, em 1967, com Audrey Hepburn).
Filmografia
1949 - On the Town (Um Dia em Nova lorque, co-realizado com Gene
Kelly);
1951 - Royal Wedding (Casamento Real);
1952 - Love is Better Than Ever (O Melhor é Casar);
Singin' in the Rain (Serenata à Chuva, co-realizado com Gene Kelly);
Fearless Fagan.
1953 - Give a Girl a Break (Casamento Junior);
1954 - Seven Brides for Seven Brothers (Sete Noivas para Sete
Irmãos);
Deep in My Heart (Bem no Meu Coração);
1955 - Its Always Fair Weather (Dançando nas Nuvens, co-realizado
com Gene
Kelly);
1957 - Funny Face (Cinderela em Paris);
The Pajama Game (Negócio de Pijama);
Kiss Them For Me (Quatro Dias de Loucura);
1958 - Indiscret (Indiscreto);
Damn Yankees (Brincadeiras do Diabo);
1960 - Once More With Feeling (Arrebatamento);
Surprise Package (A Vida é uma Surpresa);
The Grass is Greener (Ele, Ela e o Marido);
1963 - Charade (Charada);
1966 - Arabesque (Arabesco);
1967 - Two for the Road (Caminho para Dois);
1968 - Dedazzled:
1969 - Staircase:
1974 - The Little Prince (O Pequeno Príncipe);
1975 - Lucky Lady (Uma Mulher dos Diabos);
1978 - Movie, Movie (Fitas Loucas);
1980 - Saturn 3 (Saturno 3);
1983 - Blame in on Rio (Romance no Rio)
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16 /
Bio-filmografia do produtor
- Arthur Freed
O cinema, e muito especialmente o cinema de Hollywood, é uma forma
de criação que só pode ser cabalmente compreendida se se tiver em
conta o peso decisivo que as estruturas de produção têm nos
resultados artísticos, É por isso que qualquer análise de
Singin' in the Rain estará incompleta se não se sublinhar o papel
desempenhado pelo seu produtor, Arthur Fred, na montagem do
projecto e na sua concepção, E mesmo isso é pouco, porque esta
"história» já vinha de longe, Recuando à primeira década do cinema
musical, os anos 30, verifica-se que a MGM, um dos grandes
estúdios de Hollywood (os seus patrões afirmavam orgulhosamente
que havia mais estrelas a trabalhar para a MGM do que as estrelas
que havia no céu), tinha pouca ou nenhuma tradição no campo do
cinema musical. Arthur Freed, um homem que tinha sido contratado
para a companhia pelos seus méritos como letrista (para as canções
compostas por Nacio Herb Brown), foi, no final dos anos 30,
encarregado de organizar esse departamento. Durante os 20 anos que
se seguiram, Freed não só transformou a MGM no melhor estúdio
produtor de filmes musicais, como criou as condições para que Gene
Kelly, Stanley Donen e Vincente Minnelli revolucionassem o género,
criando o «integrated dance musical», cujas características se
definiram na nota sobre Gene Kelly.
Freed nasceu em 1894, em Charleston, Carolina do Sul, e faleceu
em 1973.
Antes de ser produtor, foi, como já se disse, letrista, E
os seus méritos podem ser avaliados pelas letras das canções de
Singin' in the Rain, todas da sua autoria e escritas nos anos 20,
quando ele fazia parceria com Nacio Brown, Como produtor, o método
de Freed foi simples: em primeiro lugar, tratou de contratar para
a MGM os talentos já reconhecidos no género, caso de Fred Astaire,
Busby Berkeley ou Rouben Mamoulian. Em seguida,
foi pescar ao teatro musical − em especial à Droadway − os
valores que lhe pareciam mais prometedores, O seu «dedo» foi
fabulosamente certeiro porque descobriu quase sempre gente genial:
além de Kelly, Donen e Minnelli, acrescentem-se ainda as
oportunidades que deu a actores como Frank Sinatra, Cyd Charisse,
/
17 / Vera-Ellen, Ann Miller, coreógrafos como Michale Kidd e Bob
Fosse, argumentistas como Betty Comden e Adolph Green. A estes
nomes podia juntar-se uma extensa lista de celebridades, desde
actores a músicos, de bailarinos a figurinistas. Foram eles que
constituíram o que, hoje, em termos históricos, se chama a «Arthur
Freed unity», cujos filmes representam (juntamente com os musicais
de Berkeley para a Warner, e com os filmes de Fred Astaire para a
R.K.O.) o cume do género no cinema americano.
Para termos uma ideia mais concreta do que terá sido a
personalidade de Freed, vale a pena reparar na figura de R. F.
Simpson, o produtor interpretado por Millard Mitchell em Singin' in
the Rain. Com efeito, e como afirmou Gene Kelly, esse personagem
foi inspirado na pessoa real de Fred. «Ele − afirma Gene Kelly − era mais o nosso guarda-costas do que o nosso produtor. Foi um
elemento vital para a comédia musical. Foi ele que nos conseguiu
a autorização para filmarmos cinco dias em Nova lorque quando
preparávamos On The Town. Freed era um bom cantor, um bom pianista
e era maravilhoso a fazer versos».
Como escreveu João Bénard da Costa no catálogo que a Cinemateca
dedicou ao cinema musical, «talvez nunca mais se volte a cantar e
a dançar como nos filmes de Freed, mas quando pensamos em canto
ou em dança, ou em 'filme musical', é nos filmes de Freed que
pensamos.»
Filmografia Como Produtor
Só musicais, produziu 40. A lista seria tão extensa que nos
limitamos a referir algumas obras geniais, para além dos filmes de
Gene Kelly e Stanley Donen já citados.
1939 - The Wizard of Oz (O Feiticeiro de Oz, de Victor Fleming);
1943 - Meet Me in Saint Louis (Não Há Como a Nossa Casa, de
Vincente
Minnelli);
1945 - Yolanda and the Thief (Yolanda e o Vigarista, de Vincente
Minnelli;
1947 - Till the Clouds Roll By (Até as Nuvens Passarem, de Richard
Whorf);
1948 - The Pirate (O Pirata dos Meus Sonhos, de Vincente Minnelli);
Easter Parade (Quando Danço Contigo, de Charles Walters);
1949 - The Barkeleys of Broadway (O Bailado do Ciúme, de Charles
Walters);
1951 - An American in Paris (Um Americano em Paris, de Vincente
Minnelli);
1953 - The Bandwagon (A Roda da Fortuna, de Vincente Minnelli);
1957 - Silk Stockings (Meias de Seda, de Rouben Mamoulian);
/
18 /
Excertos
de entrevistas e críticas
Gene Kelly
«Eu era antes de mais um bailarino clássico, e era um bom
bailarino, podia ter ido para a Companhia de Ballet Americana e
podia ter ficado lá, porque eu gostava. Gosto do estilo clássico,
mas sabia que se fosse para os Ballet Russes de Monte Carlo, por
exemplo, que andava então em digressão e que me teria levado, aos
40 anos de idade continuaria a dançar o 'Lago dos Cisnes', uma e
outra vez. Fica-se condicionado a certa imagem. Ora, eu era um
garoto de Pittsburg e eu queria dançar Cole Porter, Gershwin, Kern,
Irving Berlin...»
........................
«Os melhores resultados obtêm-se quando se tem uma canção que se
quer interpretar. 'Singin' in the Rain' é um caso óbvio. À noite,
eu dava um beijo de despedida à rapariga e estava a chover. Então
eu decidia caminhar à chuva, que é uma coisa que todas as pessoas
já fizeram ou quiseram fazer, pelo menos uma vez na vida. Temos ai
um sentimento universal. Apresentava a canção como uma tese −
'Estou a dançar à chuva, estou outra vez feliz' − discorria sobre
a tese dançando. Ia ficando cada vez mais feliz à medida que
dançava. A dança está normalmente associada a coisas felizes. O
que eu fiz no bailado de 'Singin' in the Rain' foi servir-me da rua
toda e a dançar pela rua abaixo, forçando a câmara a andar para
trás o tempo todo, de modo a não deixar baixar a sensação
cinestésica».
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19 /
Barry Day
«A intuição mais significativa de Kelly teve a ver com a 'técnica'
de filmar. Ele sentia que a maior parte das vezes o movimento era
'apagado' pela câmara numa tentativa inconsciente para criar o
equivalente cinematográfico do palco no teatro. Nem por isso a
relação entre o bailarino e a câmara deixava de ser o mais
importante. Mas essa relação só era dramática quando o bailarino
vinha em direcção à câmara... A resposta de Kelly foi a de criar
uma profundidade de campo artificial. Colocava objectos entre o
bailarino e a câmara, criando uma dimensão visual totalmente
nova».
Gerald Mast
«O bailado 'Broadway Melody' desenhado com faiscantes luzes
expressionistas e com geometrias Art Déco ... tão enganoso,
evanescente e analítico em relação ao espaço, à luz e à cor, este
ballet apresenta uma versão musical do mito de Sísifo».
........................
«Cada número de Singin' in the Rain reafirma este paradoxo das
imagens e dos sons no cinema: tanto podem revelar como ocultar,
trabalhar em conjunto, como em contradição».
........................
«Os números mais exuberantes do filme ('Good Mornin", 'Moses
Supposes' e 'Make Them Laugh'), superam o espaço interior onde
decorrem com um estilo improvisado de dança seguindo o método
familiar de bricolage de Kelly. segundo o qual todas as coisas no
'ser se convertem em pares espontâ¬neos do bailarino ou em suas
extensões humanas».
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22 /
Bibliografia sumária
Guião
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Singin'in the Rain (com uma introdução sobre o desenvolvimento da
história e do guião), por Betty Comden e
Adolph Green, Nova lorque, 1972.
Livros
O Musical, catálogo em 4 volumes da Cinemateca Portuguesa e da
Fundação Gulbenkian (análise do filme no vol. lI, pg. 9; análise
da carreira de Gene Kelly, Stanley Donen e Arthur Freed no vol.
II\, por João Bénard da Costa), Lisboa, 1987.
The Cinema of Gene Kelly, Richard Griffith, Nova lorque, 1962;
The Films of Gene Kelly, Tony Thomas, Toronto, 1974;
Stanley Donen, Joseph Andrew Casper, Mutuchen, N.J., 1983;
Stanley Donen... y no fueron tan felices, Juan Carlos Frugone,
Valladolid, 1989;
- All Talking, All Singing, All Dancing, John Springer, Nova
lorque, 1966;
- Can't Help Singin' - The American Musicalon Stage and Screen,
Gerald Mast, Woodstock, 1987;
- Dance in the Hollywood Musical, Jerome Delamater, Michigan,
1981;
Artigos - «Cult Movies: Singin'in the Rain», por Barry Day, in
Films and Filming, Abril 1977;
- «Come Off With the Rain», por John Mariani, in Film Comment,
Maio, Junho 1978.
Estes elementos bibliográficos podem ser consultados na Biblioteca
da Cinemateca Portuguesa, aberta ao
público todos os dias úteis, das 14h00 às 20h00, na Rua Barata
Salgueiro, nº 39, 1200 Lisboa.
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23 /
Filmografia Complementar
Para informação sobre a passagem do mudo ao sonoro:
The Jazz Singer (O Cantor de Jazz), de Alan Crosland (1927).
Para informação sobre a evolução do «backastage musical» até ao «integrated
dance musical»:
1. Exemplos de coreografias de Busby Berkeley Forty-Second Street
(Rua 42) de Lloyd Bacon (1933); Footlight Parade (Mil Apoteoses), de Lloyd Bacon (1933).
2. Exemplos da arte suprema da dança de Fred Astaire Hop Hat
(Chapéu Alto), de Mark Sandrich (1935); Swing Time (Ritmo Louco),
de George Stevens (1936); Shall We Dance (Vamos Dançar?), de Mark
Sandrich (1937).
Para informação sobre o aparecimento do «integrated dance musical»
Anchors a weigh (Paixão de Marinheiro), George Sidney (1945);
Take Me Out to The Ball Game (A Linda Ditadora), Busby Berkeley
(1949);
On The Town (Um Dia em Nova lorque) de Gene Kelly e Stanley Donen
(1949);
Para informação sobre outras produções de Arthur Freed e da M-G-M
The Pirate (O Pirata dos Meus Sonhos) de Vincente Minnelli (1948);
edição vídeo, O Pirata, da Legal Vídeo/
/Lusomundo.
An American in Paris (Um Americano em Paris), de Vincente Minnelli
(1951); edição vídeo da Legal Vídeo/
/Lusomundo.
Bandwagon (A Roda da Fortuna), de Vincente Minnelli (1953);
Silk Stockings (As Meias de Seda), de Rouben Mamoulian (1957).
Musicais contemporâneos
New York, New York (New York, New York), de Martin Scosese (1977).
One From the Heart (Do Fundo do Coração), de Francis Ford Coppola
(1982).
Cotton Club (Cotton Club), de Francis Ford Coppola (1984).
Antologias
That's Entertainment (Isto é Espectáculo) de Gene Kelly e Jack
Haley Jr. (1974); edição vídeo da Legal Vídeo/
/Lusomundo.
That's Entertainment, part II (Hollywood, Hollywood) de Gene Kelly
e Jack Haley Jr. (1976); edição vídeo da
Legal Vídeo/Lusomundo.
That's Dancing (Isto é Dança), de Jack Haley Jr. (1985); edição
vídeo da Legal Vídeo/Lusomundo.
Ficha técnica
Manuel
S. Fonseca
Licenciado em Filosofia
Programador da Cinemateca Portuguesa
Crítico do Jornal "Expresso"
Paginação e Grafismo
Cândida Teresa
Gabinete de
Meios Técnicos e Materiais
da Direcção
Geral de Extensão Educativa
Dim. 21x14,5 cm
Edição
Secretaria de
Estado da Reforma Educativa
Composto e impresso
na Editorial do Ministério da Educação
Algueirão
Reconversão para HTML
Henrique J. C. de Oliveira
Espaço Aveiro e Cultura
Secundária J. Estêvão
Projecto Prof2000
Aveiro - 2012
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