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Dersu Uzala, a águia da estepe
O filme
Realização: Akira Kurosawa;
Argumento: Akira Kurosawa e Yuri Nagibine, segundo o livro de
viagens de Vladimir Klavdievitch Arseniev; Fotografia:
Asakadzu Nakai, Yuri Gantman, Fiodor Drobanravov; Direcção
Artística: Yuri Raksha; Montagem: Akira Kurosawa e V.
Stepanovoi; Música: Isac Shvartz; Som: Olga Bulkov;
Interpretação: Maxime Munzuk (Dersu Uzala), Yuri Solomin (Vladimir
Arseniev) , Svetiana Danilchenko (Ana, sua mulher), Dima Kortishev
(Vova, seu filho), Schemelki Chokmorov (Chang-Bao), M. Bichkov, V.
Khrulev, V. Lastochkin, S, Marin, I. Sikhra, V. Sergyavov (os
soldados do destacamento de Arseniev), A. Pyatkov (Olentier), V.
Kremena (Turtygin); Produção: Mosfilm (Moscovo) e Toho
(Tóquio); Produtor: Karlen Agadjanov e Eiti Mattsue;
Produtor Executivo: Karlen Agadjanov; Filmado em 70 mm,
estéreo (seis pistas); Rodagem:1972-1974; Duração
Original: 141 minutos; Estreia Mundial: Moscovo, 2 de
Agosto de 1975; Estreia em Portugal: cinema Berna, 21 de
Janeiro de 1978; Prémios: "Oscar" do Melhor Filme
Estrangeiro, em1975; Grande Prémio do Festival de Moscovo de 1975.
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Sinopse
A acção de Dersu Uzala decorre em 1902. Uma
unidade militar, comandada pelo capitão Vladimir Arseniev, realiza
estudos topográficos na floresta de Ussuri, situada na Sibéria,
junto à costa russa do Pacífico. Arseniev encontra Dersu Uzala, um
velho e extraordinário caçador mongol, que conhece profundamente a
região. Dersu tem uma relação perfeita com a Natureza e conduz o
destacamento de Arseniev através de regiões desconhecidas. |
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Inicialmente, Arseniev diverte-se com a relação
panteísta que Dersu estabelece com a floresta, mas a eficácia do
caçador acaba por conquistá-lo. Nasce entre os dois uma amizade
sólida, sobretudo depois de Dersu salvar a vida de Arseniev,
quando os dois se perdem numa região gelada. Quando Arseniev
termina a sua missão, convida Uzala a partir com ele para
Vladivostok. Sem sucesso.
Arseniev regressa em 1907 à mesma região.
Descobre, então, que Uzala está a perder a vista, o que põe em
perigo a sua sobrevivência na floresta. O próprio Dersu
convence-se de que o seu infortúnio se deve à ofensa a Kanga, o
espírito da floresta, por ter abatido um tigre. Arseniev
convence-o a vir com ele para a cidade. Todavia, apesar de bem
acolhido pela mulher e pelo filho de Arseniev, Dersu sente-se
terrivelmente infeliz com o modo de vida citadino a que não
consegue adaptar-se. Arseniev, compreendendo a profunda
infelicidade de Dersu, acede a deixá-lo voltar para a floresta.
Dá-lhe de presente uma espingarda fácil de manejar, para que se
possa defender melhor, compensando a falta de vista.
Pouco tempo depois, Arseniev é convocado para
identificar o corpo de um mongol encontrado morto na floresta e
que trazia consigo um cartão de visita seu. É, evidentemente,
Dersu Uzala, abatido por alguém que lhe quis roubar a espingarda.
Arseniev enterra-o em plena floresta. Três anos
depois, regressa à região e descobre, aterrado, que um grande
projecto de construção levou ao abate das árvores e à destruição
da floresta.
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Análise do filme |
Dersu Uzala é um filme que pode ser apreciado e amado mesmo
por quem não conheça nada sobre a obra do seu realizador, Akira
Kurosawa. Mas os principais temas que o filme evoca – em
particular, o elogio de uma "natureza pura" contra a ameaça que a
civilização parece constituir – serão ainda mais emotivamente
vividos pelos espectadores que conheçam minimamente o estado de
espírito com que Kurosawa criou esta obra.
Em 1970, após a realização de Dodescaden
– para muitos comentadores um dos mais belos filmes do cineasta –
Kurosawa parecia ter caído em desgraça. Dodescaden
foi friamente recebido, cavando a ruptura com os produtores
japoneses. O sentimento de incompreensão da sua obra e dos seus
temas foi de tal ordem que Kurosawa tentou suicidar-se.
Durante cinco anos, Kurosawa não voltou a
filmar. Nem voltaria se não tivesse tido a ajuda de mão
estrangeira. Neste caso, foi um cineasta soviético, Serguei
Guerassimov, que o estimulou, abrindo-lhe as portas para os
contactos com os estúdios da URSS.
A proposta de Kurosawa aos estúdios – filmar os
relatos de viagens do capitão Arseniev na taiga siberiana –
parecendo embora surpreendente aos produtores, era a expressão
exacta do estado de espírito do cineasta. Ao propor a adaptação ao
cinema dos livros de Arseniev, Kurosawa voltava a glosar temas que
lhe eram caros: o tema da sabedoria ancestral (fulcro de
Dodescaden, por exemplo) ou o tema da aventura nos grandes
espaços naturais. Mas o que fundamentalmente interessou Kurosawa
foi a possibilidade de filmar uma "viagem interior", pressupondo
uma iniciação e uma maturação do espírito humano que o levam a
entender a existência de uma relação íntima entre o equilíbrio com
a natureza e o equilíbrio do indivíduo consigo mesmo. Mais ainda,
essa "viagem interior" só pode ser a tomada de consciência da
impossibilidade absoluta desses equilíbrios. É essa a viagem de
Arseniev e é por isso que, em última análise, Arseniev pode ser
visto como a personagem central desta história. Ou seja,
Dersu Uzala não é apenas o guia topográfico de Arseniev –
sem o saber, ele é também o guia
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/ espiritual do capitão, o guia de uma metamorfose
que o faz aceder à "sabedoria modesta" de que Kurosawa fez o
elogio, em entrevista sobre o filme: "A civilização moderna fez
progredir as coisas a uma velocidade vertiginosa e não estou certo
que não estejamos a orientar-nos numa direcção nociva. todos os
homens devem fazer prova de uma grande modéstia e viver em
comunhão com uma natureza à qual não são superiores. É preciso
pensar um pouco à maneira de Dersu e não querer dominar
sistematicamente essa natureza."
No fundo, Dersu Uzala pode ser
visto como uma nova e uma das mais sentidas variações, sobre uma
obsessão que o cineasta herdou dos romances de Dostoievsky, a
saber, o elogio do instinto enquanto "inteligência fundamental". E
essa inteligência está bem expressa no modo de percepção das
coisas e dos seres que Dersu incarna e em que ele inicia o
capitão. Um modo de percepção que supõe um sentido não sequencial
do tempo e uma visão do espaço que não passa unicamente pelo
olhar.
A essa iniciação de Arseniev, Kurosawa quis
corresponder com esquemas formais que fossem, eles mesmos, também
uma viagem de iniciação" cinematográfica, no sentido em que, neste
filme, o realizador se excede na procura de um duplo equilíbrio: o
do tempo e o do espaço. O tempo, em Dersu Uzala, não corresponde,
por exemplo, ao tempo de um filme de aventuras – o filme que,
alguém disse, Dersu Uzala teria sido se Kurosawa o tivesse
realizado nos anos 40. O tempo de Dersu Uzala é vagaroso, adequado
ao espaço majestático da floresta. E o tratamento do espaço,
atribuindo considerável valor aos elementos (o que é sobretudo
sensível na relação animista de Dersu com o fogo, por exemplo), a
cada personagem (e os animais não são neste filme "menos
personagens" do que os humanos) e a cada objecto, levou Kurosawa a
uma mise-en-scene elaborada, que não hesita em fazer-nos
passar da paisagem aberta ao pormenor de um rosto, que é como quem
diz, do plano geral ao grande-plano.
A planificação do filme, utilizando múltiplos
planos para cada cena, é tanto mais interessante, quanto supõe
opções técnicas novas ao realizador, como ele próprio afirmou: "Para
captar a natureza, para representar a sua grandeza, precisava de
um formato grandioso. Escolhi por isso filmar em 70 milímetros. Ao
mesmo tempo, para registar o som da natureza em seis pistas
estereofónicas, isso dá efeitos que o cinemascope não pode dar.
Com os formatos reduzidos em 35 mm, é-se obrigado a ampliar
consideravelmente a imagem em projecção, e perde-se em qualidade.
É um problema que não se tem com os 70 milímetros". Todo este
cuidado técnico, implicando evidentemente questões de estilo, se
apaga, evidentemente, nas versões em vídeo do filme.
Para além das dificuldades técnicas decorrentes
da filmagem em 70 milímetros, deve dizer-se que as condições
logísticas da rodagem assumiram características verdadeiramente
lendárias. A escolha dos locais de filmagem foi demorada,
implicando a visita a diversos cenários nas diferentes estações do
ano. O mesmo valeu,
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forma ainda mais premente, para o período de realização
propriamente dita, como diz Kurosawa: "Filmei durante nove
meses, repartidos por várias estações. Comecei depois da
Primavera. O tempo de filmagem foi entrecortado, às vezes, por
tempestades e pela chuva. Foi necessário mais um ano e três meses
de montagem, sincronização e de misturas. É muito difícil manter
durante nove meses o nível de concentração de uma rodagem. Como a
natureza não se curvava à nossa vontade, foi preciso muito tempo."
Nestas condições homéricas de rodagem, é
impressionante como Dersu Uzala se apresenta tão
cerradamente coerente no estilo e no tema – é, sem dúvida, uma
obra majestosa e elegíaca – como é admirável a unidade do trabalho
de Maxime Munzuk, o actor de teatro soviético que incarna o velho
Dersu, bem como o extraordinário trabalho de "escuta" que comporta
a representação de Yuri Solomin, o actor que no filme dá corpo ao
capitão Arseniev.
Aproveitamentos
Interdisciplinares |
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Dersu Uzala permite digressões interdisciplinares
variadas. Antes de mais, é um filme que pode, a vários títulos,
ilustrar ou desencadear debates sobre os entendimentos antagónicos
da Natureza que Dersu e o destacamento militar comandado por
Arseniev incarnam.
Há, a meu ver, o perigo de uma leitura
simplista tender a colocar o filme do lado de uma visão
excessivamente angélica do "bom selvagem" e de uma "boa natureza",
em que seria possível ao homem integrar-se de forma completamente
harmónica. Tenho boas razões para crer que a visão de Kurosawa não
se pautava por este tipo de inocência. Volto a sublinhar que não
só a história do filme tem um desenlace amargo, não se
vislumbrando na caracterização das personagens e daquele espaço
físico nenhuma hipótese segura de uma pacificação absoluta das
relações Homem-Natureza, como também, do ponto de vista do estilo,
o tom é sempre elegíaco.
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O paralelo entre Dersu Uzala e o que no cinema (caso dos filmes
dos grandes documentaristas, como Robert Flaherty, ou de cineastas
em cuja obra a terra tem um fortíssimo apelo, como é o caso do
cinema de Dovjenko) ou noutras artes tem sido o tratamento
estético dos grandes espaços naturais, pode igualmente ser um
tópico estimulante de diálogo. No cinema e na televisão esses
modelos ficcionais de tratamento do espaço vêm na sua grande
maioria, do cinema americano. O que é interessante neste filme de
Kurosawa é que se trata de um espaço geograficamente diferente a
taiga siberiana – e de um tipo de travessia do território em que o
nó dramático é menos o dos confrontos entre grupos humanos e,
essencialmente, o de uma relação ou conflitual, ou quase mística,
com a natureza.
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Bio-filmografia de
Akira Kurosawa |
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Nasceu em Tóquio, em 1910. Hoje é, sem sombra de dúvida, o
mais conhecido e o mais estimado realizador japonês, ainda que a
sua obra não tenha atingido a grandeza temática e formal das obras
de Kenji Mizoguchi ou de Yasujiro Osu.
Das suas experiências da adolescência, uma das
que o marcou de forma indelével – o que vale para os seus filmes,
mas também para a sua vida – foi o suicídio do irmão, Heigo, mais
velho quatro anos. Na autobiografia de Kurosawa o irmão surge como
a personalidade decisiva para ele no plano formativo. Foi Heigo
quem o iniciou na literatura e na pintura. Com o irmão, Kurosawa
descobriu, por exemplo, a obra de Dostoievsky, uma das influências
perenes na sua carreira. E foi ainda com Heigo, que Kurosawa se
iniciou no cinema, vendo os filmes mudos que o irmão, na sua
qualidade de "comentador e leitor de inter-títulos" apresentava
nas salas de cinema. Entre o cinema, a literatura e a pintura,
Kurosawa acabou por decidir-se por esta última, estudando pintura
clássica e moderna, na Academia de Belas-Artes de Tóquio. Quem viu
Kagemusha, Ran ou o mais recente
Sonhos sabe bem a influência que essa aprendizagem
viria a ter nos cometimentos estilísticos do cineasta.
Do irmão, Heigo, Kurosawa, para além desta
iniciação às artes (e notar-se-á o quanto o tema de aprendizagem é
dignificado no seu cinema, e muito especialmente neste Dersu
Uzala), herdou também uma filosofia pessimista da vida: "Para
ele, todo o esforço humano era comparável a uma dança sobre uma
pedra tumular", escreveu Kurosawa. Foi, de resto, esse
pessimismo constitutivo que conduziu Heigo ao suicídio.
Circunstâncias acidentais levaram Kurosawa, em
1936, a responder a um anúncio que pedia assistentes de realização
para um estúdio de cinema. Kurosawa apresentou-se e ficou,
dando-se então conta, como relata nas suas memórias, que "tudo
o que tinha feito me conduzia fatalmente para esta escolha.
Literatura, pintura, música e teatro, tudo o que estudara com
tanta paixão, convergia para o cinema".
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Depois de alguns anos a trabalhar como argumentista, Kurosawa
chegou finalmente à realização, em 1943. O seu primeiro filme
chamou-se A Lenda do Grande Judo. E durante a
Segunda Guerra, então em pleno curso, Kurosawa assinará ainda mais
dois filmes. Em nenhuma destas obras, os comentadores do cineasta
encontram sinais de um estilo ou de uma temática pessoais. Será
depois da guerra, e num filme com um título sintomático, Não
Lamento a Minha Juventude, que Kurosawa começa a impor o
seu nome aos estúdios e ao público japoneses. O filme era, acima
de tudo, a exaltação do Eu, feita através de uma personagem
feminina, caso raro na obra de Kurosawa, dominada pelas grandes
figuras masculinas.
Em 1948, começa a sua associação ao actor
Toshiro Mifune. Juntos fazem O Anjo Embriagado, cuja
acção se passa nos "bas-fonds" de Tóquio, confrontando um
médico alcoólico de espírito generoso a um terrível gangster (Mifune)
atingido pela tuberculose. Até 1965, a relação entre Kurosawa e
Mifune passará a ser uma das constantes das respectivas carreiras.
Ambos conquistarão a celebridade no Ocidente,
em 1951, quando Roshomon, um filme de Kurosawa, em
que Mifune interpretava o papel de um bandido, conquistou o Leão
de Ouro do Festival de Veneza. Era uma ficção construída em
sucessivos "flash-backs" (e esse aspecto formal muito
contou para seduzir o público e a crítica na Europa). Cada
flash-back contava, de o ponto de vista de uma nova personagem
a mesma história de uma violação ocorrida no Japão medieval.
Esse triunfo e reconhecimento de Kurosawa pelos
ocidentais permitiu a Kurosawa um segundo fôlego na carreira. A
partir daí, os seus filmes, libertos de constrangimentos
económicos, passaram a ser mais ambiciosos, tanto no plano
económico, como no plano artístico, em geral adaptando grandes
obras da literatura ocidental, de Dostoievsky a Shakespeare. Mas
seriam sobretudo os filmes históricos – os "jidai-geki", como são
conhecidos no Japão – que proporcionam a Kurosawa um sucesso nunca
dantes conhecido pelo cinema japonês. Os Sete Samurais,
retrato das guerras civis no Japão, volta a ganhar em Veneza
(desta vez, o Leão de Prata) e, juntamente com Yojimbo,
converte-se num modelo para algum cinema europeu e americano de
"acção".
Em 1965, e a progressão regular da carreira de
Kurosawa começa, todavia, a sofrer as primeiras convulsões.
Hollywood convida-o para filmar a parte japonesa de Tora,
Tora, Tora, um filme sobre a guerra do Pacífico, mas as
exigências o cineasta (o direito de fazer a montagem final) levam
a 20th Century Fox a quebrar o contrato. Como resposta Kurosawa
filma Dodescaden, "filme trágico, mas não
desesperado", segundo Aldo Tassone, e que filmava a miséria
escondida do Japão industrial. Foi, porventura o mais pessoal de
todos os seus projectos, mas foi também, e pela primeira vez, um
insucesso de bilheteira. A tentativa de suicídio do cineasta veio
acrescentar mais uma nota sombria a uma carreira que pareceu estar
terminada.
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Dersu Uzala, apesar do excelente acolhimento, não
restaurou a confiança dos produtores no cineasta. E só quando a
geração dos novos cineastas americanos dos anos 70 (Francis
Coppola, George Lucas e Spielberg) o decidiram apoiar, é que
Kurosawa, cinco anos depois, foi capaz de filmar Kagemusha,
exemplo de um estilo de mise-en-scene que atesta a mestria
do realizador para compor sumptuosos quadros plásticos ou de
tratar pictoricamente os emblemas e sinais pelos quais os Poder se
faz representar. Ran será a posterior confirmação
dessa nova tendência. Sonhos, o último filme dele
que vimos, tinha essa dimensão íntima do confronto com a morte, só
acessível a quem tenha já chegado a uma concepção da vida
semelhante a do velho caçador de Dersu Uzala.
Provavelmente esse "conhecimento da morte" é nela uma história
muito antiga, que vem já da infância do cineasta. Eu conto.
Kurosawa não sabia nadar e, um dia, o irmão levou-o num barco para
o meio do rio, atirando-o de repente à água. O pequeno Akira batia
as mãos e os braços, mas logo que se aproximava do barco, o irmão
remava um pouco mais. Cansado, Akira sucumbiu. Nesse momento, o
irmão tirou-o da água. Kurosawa afirma que, quando recuperou os
sentidos, tomou consciência de que perdera o medo e aprendera a
nadar. E lembra-se que o irmão lhe disse: "Akira, diz-se que as
pessoas que se afogam morrem a sorrir. É verdade, eu vi-te."
Filmografia do Realizador
1943 – Sugata Sanshiro ("A Lenda do Grande Judo");
1944 – Ichiban Utsukushiku ("O Mais Belo");
1945 – Zoku Sugara Sanshiro ("O Mais Belo lI");
Tora-no-o O
Fumu Otokotachi ("Os Homens que Caminham na Cauda do Tigre");
1946 – Waga Seishun Ni Kui Nashi ("Não Lamento a Minha
Juventude");
1947 – Subarashiki Michiyobi ("Um Domingo Maravilhoso");
1948 – Yoidore Tenshi ("O Anjo Embriagado");
1949 – Shizukanaru Ketto ("O Duelo Silencioso");
Nora-Inu ("Cão Perdido");
1950 – Sukyandaru/Shubun ("Escândalo");
Rashomon ("Rashomon");
1951 – Hakuchi ("O Idiota");
1952 – Ikiru ("Viver");
1954 – Sichinin No Samurai ("Os Sete Samurais");
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1955 – Ikimono No Kiroku ("Crónica de um Ser Vivo");
1957 – Kumonosu-Jo ("0 Castelo da Aranha");
Donzoko
("O Bas-Fonds");
1958 – Kakushi toride No San-Akunin ("A Fortaleza
Escondida");
1960 – Warui Yatsu Hodo Yoku Nemuru ("os Patifes Dormem em
Paz");
1961 – Yojimbo ("Yojimbo");
1962 – Tsubaki Sanjuro ("Sanjuro das Camélias");
1963 – Tengoku to Jigoku ("Entre o Céu e o Inferno");
1965 – Akahige ("Barba Azul");
1970 – Dodeskaden ("Dodeskaden");
1975 – Dersu Uzala ("Dersu Uzala");
1980 – Kagemusha ("Kagemusha, a Sombra do Guerreiro");
1985 – Ran ("Ran");
1990 – Konna Yume OMita ("Sonhos de Akira Kurosawa");
1991 – Hachigatsu no Rapusodi ("Rapsódia em Agosto");
Bibliografia Sumária
De Kurosawa
Somelhing like an Aulobiography, Nova lorque, 1982.
Sobre Kurosawa
Livros
The Films of Akira Kurosawa, Donald Richie, Berkeley, 1970.
Akira Kurosawa, a Guide lo Reference and Resources, Patricia Erens,
Boston, 1979.
Akira Kurosawa, Aldo Tassone, Paris, 1983.
Entrevistas
Sight and Sound, Primavera de 1964, a Donald Richie.
Film Comment, Junho de 1980, a Dan Yakir.
Artigos sobre "Dersu Uzala"
Hubert Niogret, em "Positif", nº 190, 1977.
Serge Daney, em "Cahiers du Cinéma", nº 274,1977.
J. Hrbas, em "Young/Jeune Cinéma & Théâtre", Praga, Verão de 1976.
Tom Milne, em "Monthly Film Bulletin", Janeiro de 1978.
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Excertos de
Entrevistas e Críticas
"Descobri há muitos anos as obras de Vladimir Arseniev e} a
personalidade de Dersu Uzala comoveu-me imediatamente. E um homem
maravilhoso e descobri na sua história uma grande modernidade.
Punha-se inevitavelmente um problema de cenário. Não podia
realizar esse filme no Japão, uma vez que precisava de uma
natureza virgem, imensa. Nas viagens que fiz pelo mundo acabei
sempre por ver uma natureza destruída pelas civilização e dei-me
conta, afinal, de que só poderia filmar aquela história na
Sibéria. Eram, além do mais, os mesmos lugares onde as personagens
tinham vivido."
Interrogado sobre a aparição do tigre, na taiga,
poder ser interpretada como a de uma força superior, determinando
o comportamento dos homens, Kurosawa respondeu: "O tigre é a
incarnação do espírito da taiga. As pessoas primitivas como Dersu,
habituadas a viver em harmonia com a natureza, são sensíveis a
esse tipo de coisas. Essa ideia aplica-se, bem entendido, a Dersu,
não a mim".
Entrevista a Akira Kurosawa,
realizada por Dominique Maillet,
e publicada na revista "Cinématographe".
"Uma das qualidades maiores de Dersu Uzala é a sua autenticidade
russa. Não há aqui nenhum artifício suspeito de um cineasta
estrangeiro tratando um tema russo, mas uma criação tratada do
interior, recusando todo o exotismo, para atingir uma profundidade
notável. Dersu Uzala é o filme da serenidade de um cineasta
tendo-se já confrontado com a morte no decurso de um suicídio
falhado e que aborda a velhice".
Hubert Niogret,
crítico da revista "Positif".
"Sinto em Kurosawa o espectáculo total, que é ao mesmo tempo
fábula, história, relato, romance, apólogo, mensagem e o cinema
explorado em todos os seus meios de expressão, do plano de
conjunto ao pormenor do fotograma fixo, da aceleração ao ralenti."
– Federico Fellini
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Filmografia Complementar |
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Outros filmes importantes Rashomon (1950), existe em edição vídeo
da Ecovídeo.
de Kurosawa Os Sete Samurais (1954).
Yojimbo (1961).
Dodescaden (1970).
Kagemusha -A Sombra do Guerreiro (1980), existe em edição vídeo da
Publivídeo.
Ran - Os Senhores da Guerra (1985), existe em edição vídeo da
Publivídeo.
Filmes de cineastas Os Contos da Lua Vaga (1953), de Kenji
Mizoguchi.
japoneses O Intendente Sansho (1954), de Kenji Mizoguchi..
para estudo comparativo Os Amantes Crucificados (1954) de Kenji
Mizoguchi.
O Herói Sacrílego (1955), de Kenji Mizoguchi.
Viagem a Tóquio (1953), de Yasujiro Ozu.
O Gosto do Saké (1962), de Yasujiro Ozu.
O Enforcamento (1968), de Nagisa Oshima.
Feliz Natal Mr. Lawrence (1983), de Nagisa Oshima.
Desejos Profundos dos Deuses (1968), de Shohei Imamura.
A Balada de Narayama (1983), de Shohei Imamura.
Filmes em que é forte a relação Nanook of the North (1921), de
Robert Flaherty.
Homem-Natureza Tabu (1929), de F. W. Murnau e Robert Flaherty.
A Terra (1930) de Dovjenko.
Wuthering Heights (1939), de William Wyler.
I Know Where /'m Going (1945), de Michael Powell e Emeric
Pressburger.
The River (1951), de Jean Renoir.
African Queen (1951), de John Huston.
The Searchers (1956), de John Ford.
Moby Dick (1956), de John Huston.
Bitter Victory (1957), de Nicholas Ray.
Wind Across the Everglades (1958), de Nicholas Ray.
Wild River (1960), de Elia Kazan.
How the West Was Won (1962), de John Ford, George Marshall e Henry
Hathaway.
Jeremiah Johnson (1972), de Sydney Pollack.
Fitzcarraldo (1982), de Werner Herzog.
Ficha técnica
Manuel S. Fonseca
Licenciado em Filosofia
Programador da Cinemateca Portuguesa
Crítico do Jornal "Expresso"
Paginação e Grafismo
Cândida Teresa
Gabinete de
Meios Técnicos e Materiais
da Direcção
Geral de Extensão Educativa
Dim. 21x14,5 cm
Edição
Secretaria de
Estado da Reforma Educativa
Composto e impresso
na Editorial do Ministério da Educação
Algueirão
Reconversão para HTML
Henrique J. C. de Oliveira
Espaço Aveiro e Cultura
Secundária J. Estêvão
Projecto Prof2000
Aveiro - 2012
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