In: Lauro António, Clube dos Poetas Mortos, Nº 13, Algueirão, Secretaria de Estado da Reforma Educativa, M. E., SD, 16 pp.

Clube dos Poetas Mortos

Texto de Lauro António

Brochura acerca do filme «Clube dos Poetas Mortos» - Dim. 21x14,5 cm - Clicar para ampliar.

    O Filme

    Peter Weir um Australiano na América

    1. Da Austrália "Piquenique em Hanging Rock

    2. "O Ano de todos os perigos"

    3. "A Testemunha"

    4. "Clube dos Poetas Mortos"

    Peter Weir

    Robin Williams

    Filmografia de Peter Weir

    Filmografia de Robin Williams

    Videografia

   Ficha Técnica

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Clube dos Poetas Mortos

O filme

 

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Título Original: Dead Poets Society; Realização: Peter Weir (EUA, 1989); Argumento: Tom Schulman; Fotografia (du Art Colar): John Seale; Música: Maurice Jarrett; Montagem: William Anderson, Lee Smith e Priscilla Nedd; Direcção Artística: Sandy Veneziana; Efeitos Especiais: Allen Hall; Cenários: Wendy Stites; Direcção de Produção: Duncan Henderson; Produção: Steven Haft, Paul Junger Witt e Tony ThomaslTouchstone Pictures - Silver Screen Partners IV - Witt-Thomas Productions/Buena Vista;

Intérpretes: Robin Williams (John Keating), Robert Sean Leonard (Neil Perry), Ethan Hawke (Todd Anderson), Josh Charles (Know Overstreet), Gale Hansen (Charlie Dalton), Dylan Kussman (Richard Cameron), Allelon Ruggiero (Steven Meeks), James Waterston (Gerard Pitts), Norman Lloyd (Mr, Nolan), Kurtwod Smith (Mr, Perry), Carla Belver (Mrs. Perry), Leon Pownall (McAllister), George Martin (Df. Hager), Joe Aufiery (professor de Quimica), Matt Carey (Hopkins), Kevin Cooney (Joe Danburry), Jane Moore (Mrs. Danburry), Lara Flynn Boyle (Ginny Danburry), Colin Irving (Chet Danburry), Alexandra Powers (Chris Noel), Melora Walters (Gloria), etc.; Duração: 129 minutos; Distribuição: Columbia & Warner, Estreia: Cinemas Alfa 4, Amoreiras 10, Apolo 70, Nimas, Quarteto 2, São Jorge 2 (Lisboa), Sala Bébé, Lumière A, Pedro Cem, Stop (Porto), Miramar 2 (Cascais), Júpiter (Setúbal), Girassolum (Coimbra) e Avenida (Braga) [19 de Janeiro de 1990]; Edição em vídeo: Filmayer; Classificação: Maiores de 12 anos.

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Peter Weir um Australiano na América


Peter Weir é australiano e pertence a uma geração de cineastas daquele país revelada durante a década de 1970, e que impôs internacionalmente uma cinematografia, sendo depois alguns deles assimilados pela produção norte americana (vejam-se os casos Bruce Beresford, George Miller, Fred Schepisi, para além do próprio Peter Weir).


Depois de chamar a atenção para a sua personalidade com obras como Piquenique em Hanging Rock, A Última Vaga e Gallipoli, Peter Weir, já na América, assina alguns filmes que o confirmam como um dos cineastas mais interessantes do moderno cinema: O Ano de Todos os Perigos, A Testemunha e, sobretudo Clube dos Poetas Mortos, um dos maiores êxitos da temporada de 1989, um título que resume muitas das obsessões deste cineasta – educação, liberdade, confronto de culturas, heróis obsessivos – e que se tornou num "filme de culto" para as gerações mais jovens.


1. Da Austrália "Piquenique em Hanging Rock"


Em meados dos anos 70, do cinema australiano pouco se conhecia entre nós.


Picnic in Hanging Rock, de Peter Weir, terá sido a confirmação do interesse de uma nova cinematografia e igualmente a revelação de um talento, emergindo no contexto de uma produção de certo esmero técnico, mas até aí de reduzido alcance.


Diz-se o caso baseado em factos verídicos, ocorridos na Austrália em 1900. Estamos em pleno período de dominação inglesa e vitoriana. Num colégio de raparigas, um piquenique no alto de uma montanha irá precipitar os acontecimentos. Três alunas desapareceram, assim como uma professora. Mas desaparecem de forma abrupta, irracional, inexplicável. As investigações iniciam-se, mas as conclusões são difíceis de extrair.


Que estará por detrás deste estranho e súbito desaparecimento?


A Peter Weir não interessa dar respostas, tranquilizar a curiosidade do espectador. Não é intenção sua explicar, mas levantar o véu.


A descrição de um tempo, de um período, de processos educacionais opressivos e classicistas de um puritanismo agressivo e hipócrita.


Tudo isto perpassa pela obra, enquanto o terror cresce, a ansiedade se instala, a inquietação aumenta. Como se destroem pessoas em formação é uma questão tão importante, ou mesmo mais, / 5 / do que saber como e porquê, desapareceram três raparigas que subiam, de pés nus e brancos vestidos de rendas e folhos, encosta acima, rumo ao desconhecido. Por isso a investigação policial parece ter tão pouca importância, enquanto os pormenores perturbantes se acumulam.


A atenção de Peter Weir dirige-se fundamentalmente para as relações de força que se estabelecem no interior do colégio, que prefiguram uma sociedade, e que extravasam e explodem discretamente, pudicamente – na tarde desse piquenique que põe a juventude em contacto directo com a Natureza e as forças que ela liberta.


Mas se os propósitos são, desde início, orientados no sentido da análise crítica de um contexto social determinado, não é menos verdade que Peter Weir se mostra um cineasta de belos recursos narrativos e de inteligência e sobriedade dignos de nota. A forma como o «suspense» é mantido em Picnic in Hanging Rock é brilhante, sem recurso a qualquer efeito fácil, recusando toda a quinquilharia do rodriguinho. É a Natureza – os animais, os insectos, as plantas, o arfar da montanha –, a presença constante do real, que tornam inquietante essa realidade. Assim como a presença da directora do colégio, personagem bem real e autêntica, sem nada de «fantástico», torna medonho e asfixiante um «décor» onde a gravidade da tradição e a austeridade do preconceito pesam.


Uma fotografia notável de riqueza cromática e uma banda sonora trabalhada a rigor ajudam a criar o clima necessário a uma obra digna de figurar, desde logo, em todas as histórias do cinema fantástico. Picnic in Hanging Rock merece, pois, a atenção do espectador, mesmo que não faça o seu jogo, mesmo que lhe corte as vazas à explicação fácil, mesmo que consiga esse equilíbrio invulgar entre a beleza formal e o terror dos sentimentos.


Mantendo uma pequena equipa de técnicos fiéis – entre os quais o director de fotografia John Seales, o montador William Anderson, o músico Bruce Smeaton, entre outros... –, Peter Weir continuou a sua carreira (iniciada em 1974 comum, até agora ignorado em Portugal, The Cars That Ate Paris) com três outros filmes que confirmariam gradualmente as suas potencial idades – The Last Wave, em 1977, um filme em que Richard Chamberlain interpretava o papel de um advogado defensor de um indígena australiano, acusado de assassinato, o que permitia ao autor a criação de uma atmosfera absorvente de ritualismo e mistério, ao mesmo tempo que defendia a causa das minorias perseguidas pelos conquistadores; The Plumber (apenas editado em vídeo, com o título O Canalizador, em 1980, uma comédia de humor negro, que assinala um interregno na filmografia de Peter Weir, e, finalmente, Gallipoli, em 1981, uma obra que reconstitui a dramática intervenção das forças armadas australianas durante a I Grande Guerra. Foram estes filmes que abriram as portas de Hollywood a Peter Weir, o que o cineasta aproveitou, sem todavia abdicar da sua personalidade, mantendo-se fiel a temas e obsessões.
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2. "O Ano de Todos os Perigos"


Em 1982 Peter Weir encontra Mel Gibson, o intérprete de Mad Max, e, simultaneamente Sigourney Weaver, a protagonista de Alien, em O Ano de Todos os Perigos, onde apesar de tudo isto, quem sobressai é Linda Hunt, uma mulher anã que o autor faz passar por fotógrafo de guerra, numa personagem andrógena que irá impressionar seguramente todos os espectadores. E que representa, por outro lado, a sobrevivência de certos aspectos inquietantes e estranhos, próprios do Peter Weir das primeiras obras, mas que a ida para a América parece atenuar. Trata-se de mais uma aproximação do cinema do ambiente do jornalismo, falando-se desta feita de Guy Hamilton, jornalista australiano que, em finais de 1965, é enviado para Jacarta, para cobrir os acontecimentos políticos e militares que se desenrolam na Indonésia, governada por Sukarno.


Este político conseguia um estranho equilíbrio entre comunistas e sectores da direita, preparando-se entretanto uma revolta que pretendia colocar as forças comunistas no poder. Guy Hamilton, de colaboração com Billy Kwan (Linda Hunt), estranha figura que se move com segurança por entre os corredores do poder e da oposição, e ainda de conluio com Jill, uma atraente secretária da embaixada de Inglaterra, consegue ser o primeiro jornalista estrangeiro a dar a noticia do golpe que irá afastar Sukarno e elevar ao poder Suharto. O lado mais interessante deste filme, para lá das relações que se estabelecem em redor da personagem de Billy Kwan, é a forma como Peter Weir descreve o ambiente de miséria e sordidez que se vive na Indonésia de Sukarno. O clima de nervosismo permanente, que se desprende do romance de C. J. Kock, donde parte do filme, é igualmente bem dado, desenhando-se com algum vigor a profissão de jornalista, mas Peter Weir parece ter-se preocupado sobretudo com a história de amor que liga Guy Hamilton a Jill, e que encaminha todo o filme para um forçado e pouco credível «happy end». De qualquer forma, mesmo tendo em conta o convencionalismo de certas situações, e uma vontade de, por vezes, repisar O Caçador, de Cimino (veja-se a retirada de Jacarta, e compare-se com a fuga do Vietname), há em O Ano de Todos os Perigos matéria suficiente para justificar o interesse do espectador. O trabalho de Peter Weir, e sobretudo o jogo dos intérpretes, bem o merece.


3. "A Testemunha"


Filme policial, filme de acção, filme de amor, estudo de costumes, "Witness" é uma obra que reúne um pouco de tudo isso em doses que se sente não terem sido deliberadamente calculadas para o sucesso, mas que surgem com a forma e o impacto necessários para o conseguirem. O arranque é notável, ao nível do melhor «thriller»; numa estação de caminhos-de-ferro, mãe e filho / 7 / esperam um comboio, cuja partida atrasou algumas horas. O miúdo vai a uma casa de banho e assiste ao assassinato de um polícia.


Mãe e filho pertencem a uma comunidade Amish, religião de origem europeia que tem algumas poderosas bolsas de influência na América. Recusando toda a mecanização, vivendo apenas segundo as Sagradas Escrituras, os Amish prolongam o dia-a-dia do século XVIII, em plena sociedade de consumo, passando ao lado das ofertas que por todo o lado procuram cativar o gosto do consumidor.


John Book (Harrison Ford), polícia igualmente, é escolhido para investigar o crime e descobrir, através da criança, quem poderiam ser os dois homens que trouxeram a morte ao seu colega de corporação, enredado num caso de drogas, e que seguramente deveria saber demais para ser calado de forma tão drástica. As suspeitas de John Book concretizam-se rapidamente e dirigem-se, também elas, para a polícia. Subitamente, polícia e criança deixam de se encontrar em segurança em Filadélfia, e John Book resolve refugiar-se com o miúdo no seio da comunidade Amish, onde procura passar por um deles, de forma a assim poder defender aquela testemunha incómoda das arremetidas dos polícias corruptos. Mas aí surgirá uma pudica e envolvente história de amor...


Quando o filme parece lançado no ritmo vertiginoso de "policial» de cortar à faca, surge a ruptura, os movimentos lentos da câmara, passeando pelos campos de trigo, o quotidiano de uma comunidade que recusa o presente e vive no passado, e o amor nos olhos de uma mulher que a educação, a família, a vida comunitária reprime e refreia até ao insuportável.


Cá fora, a ameaça que se sabe crescer, que se aproxima, que irá talvez levar a morte até àquele local pacífico e trabalhador, onde nunca se utiliza a violência, mesmo para responder aos agravos e às agressões mais brutas.


Duas culturas em presença, duas formas de viver a existência, dois mundos que se tocam, se aproximam. Delicadamente, sem um conflito íntimo e secreto, da mesma forma que mantém o "suspense» do "policial» que permanece latente.


Com a fotografia esplendorosa de John Seale, e a brilhante interpretação de Harrison Ford, Kelly McGillis, Josef Sommer, Lukas Haas, Alexander Godunov, o cineasta consegue ultrapassar todas as dificuldades e lograr uma obra adulta, original (ainda que inscrita numa longa tradição de "policial» à americana), trabalhando sobre temas tão graves quanto o podem ser o amar e a religião, o campo e a cidade, a corrupção nas instituições, o universo infantil e o mundo dos adultos, o puritanismo da vida Amish e a violência explosiva e obsessiva das grandes cidades... Tudo isto com uma serenidade de olhar e de uma delicadeza de luz que, por vezes, nos recordam os grandes clássicos da pintura flamenga, ou os grandes cineastas do rigor e da exemplaridade moral. Um belo filme, portanto, reconfortante.
Apesar de a crítica internacional ter sido bastante negativa em relação ao seu filme seguinte, A Costa do Mosquito, a verdade é que, muito embora algumas irregularidades e um argumento algo / 8 / desequilibrado, esta obra é bastante coerente com todo o cinema de Peter Weir, quer nas preocupações, quer na maneira como as aborda.

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Allie Fox (Harrison Ford, com quem tão bem se dera em A Testemunha) é um inventor estranho que está farto da América e do que ela representa. É uma terra decadente, materialista, onde impera o "Cheaf Burger". Ele tem de afastar-se. Agarra na família e, qual novo Robinson, parte para um local abandonado, precisamente a Costa do Mosquito, onde se irá instalar, em plana selva das Honduras. Aí irá construir o seu paraíso, mas rapidamente a sua obsessão se irá voltar contra si, qual aprendiz de feiticeiro, desencadeando a própria revolta familiar.

O estilo de Peter Weir não é tão límpido quanto era costume até aqui, a interpretação de Harrison Ford é um pouco excessiva, o argumento de Paul Theroux apaixonante, mas inconsciente, as filmagens decorreram com alguns problemas, e do resultado de tudo, Peter Weir assina o seu filme americano menos conseguido. Anos depois irá redimir -se com Clube dos Poetas Mortos...
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4. "Clube dos Poetas Mortos"

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Se Peter Weir não é ainda um dos grandes cineastas contemporâneos, a verdade é que anda por lá perto. Quase todas as suas obras são, pelo menos, muito interessantes, e logo no início da sua carreira australiana, Piquenique em Hanging Rock chamava a atenção para o seu talento em criar atmosferas, para a sensibilidade do seu olhar, para a capacidade narrativa deste autor. Depois, obras como O Ano de Todos os Perigos e, sobretudo A Testemunha confirmaram essas promessas, agora de novo postas à prova com este belíssimo Clube dos Poetas Mortos, onde Peter Weir regressa aos ambientes opressivos e algo misteriosos de Hanging Rock e dos colégios internos que obviamente o perturbam e emocionam.


Dead Poet's Society passa-se na América, corre o ano de 1959. Em Vermont, num colégio rígido, cujos quatro pilares sobre que assenta o seu espírito são "Disciplina, Honra, Tradição e Excelência" surge um professor de inglês de métodos pouco ortodoxos, pedindo aos alunos algo mais do que "empinanço" acrítico da matéria literária que constitui o programa da disciplina. Uma das suas primeiras acções será mesmo obrigar os alunos a arrancar as páginas introdutórias de um ensaio que propunha medir a importância da poesia segundo a área abrangida, como se se tratasse de feijão ou grão.


Para John Keating a poesia é algo que se oferece e se merece e ele quer que os seus alunos a mereçam, sobretudo porque sabem ser eles próprios. Em lugar de obrigá-los a trabalhos forçados de matéria, Keating quer essencialmente ensiná-los a pensar por si mesmos, a viver consoante os seus desejos mais íntimos e imperiosos, a fruir o dia-a-dia, tudo resumido no "Carpe Diem" latino que ele constantemente cita como programa de vida e que lentamente os alunos vão assimilando e assumindo.


Professor generoso que faz da missão de ensinar um sacerdócio, John Keating fora outrora, ele também, aluno brilhante daquele mesmo colégio particular que se apresenta como um dos mais exigentes dos EUA. Já nessa altura o seu anti-conformismo viera ao de cima e, juntamente com alguns colegas de estudo, formara a "Dead Poet's Society", um grupo de estudantes que se / 10 / reunia durante as noites, clandestinamente, numa caverna índia existente perto do colégio, para aí recitarem os seus poetas preferidos e, se possível experimentarem um pouco da vida real. Os seus alunos de agora descobrem e recuperam o espírito dessa sociedade secreta e, na sombra da noite, renasce o grupo. São dias de exaltação que perturbam obviamente o tradicionalismo de uma instituição que procura essencialmente reproduzir "bons cidadãos", segundo um modelo oficial. Tudo o que foge deste esquema está condenado ao malogro.

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Apologia da liberdade e da coerência para consigo próprio, afirmação da intolerância para com a hipocrisia no comportamento, negação dos preconceitos tradicionais, de educação, de família, de sociedade, que cortam as capacidades e os horizontes de cada um. Clube dos Poetas Mortos inicia-se num tom de subtil humor que lentamente se subverte pelas cores da tragédia. Um dos alunos mais brilhantes do colégio, um dos seus "filhos dilectos" deixa-se impregnar pelos métodos daquele a quem já chamam "Capitão, Oh capitão!" e, seduzido pelo apelo do teatro, vai contra as ordens paternas e inscreve-se numa companhia amadora que representa o "Sonho de Uma Noite de Verão" que será, tragicamente, o seu único sonho de uma derradeira noite de glória. Na altura do ajuste de contas há que encontrar um culpado e John Keating será o eleito. Mas, na derradeira sequência, emocionante até às lágrimas, descobre-se que nem tudo o que se faz é em vão e que as sementes vão ficando, havendo sempre terra fecunda onde germinarem.

 

Obra romântica, envolvente, que se coloca sob a égide de Walt Whitman, Dead Poet's Society é um daqueles filmes onde, aqui e ali, se sentem algumas (raras) asperezas, um rebuscamento de imagem por vezes excessivo, mas a que tudo se perdoa pelo exorcismo que representa. Atravessar esta obra é recuperar um pouco da alegria adiada, da pureza perdida, dos ideais contrariados.


Robin Williams, fabuloso actor que desde Popeye constrói uma carreira a que finalmente se começa a dar crédito, e o seu espantoso grupo de alunos (este filme vai funcionar como referência daqui a alguns anos quando todos eles forem sólidos valores no / 11 / cinema norte-americano!), são inesquecíveis e ajudam em muito ao êxito do filme.


Depois de Clube dos Poetas Mortos, Peter Weir deixou-se seduzir pela comédia sentimental, um género tipicamente norte-americano, que ele adaptou bem à sua personalidade e temática própria. Green Card (Casamento por Conveniência) põe em confronto duas mentalidades: de um lado, um emigrante clandestino francês que quer trabalhar nos EUA e que para isso precisa de estar casado com uma americana; do outro, uma americana que quer arranjar uma casa muito especial que os senhorios só alugam a um casa!, e que para isso necessita igualmente de se casar. Encontram-se por acaso, casam-se por interesse e logo ali cada um vai para o seu lado. Até que se encontram e, obviamente se apaixonam.


Dir-se-ia que o esquema do argumento não permitiria grandes voos, dado o seu evidente artificialismo sem grande originalidade. Mas Peter Weir consegue ultrapassar as dificuldades, de colaboração com os protagonistas, o francês Gérard Depardieu e a americana Andie MacDowell. As figuras adquirem uma forte densidade, as situações são divertidas e um certo clima inquietante percorre toda a obra, na boa tradição de Peter Weir. Autor aqui de um divertimento inteligente, que consegue agarrar o espectador e surpreendê-lo em imprevisíveis anotações e excelentes apontamentos críticos.


Este australiano na América mantém-se, portanto, um cineasta a acompanhar com redobrado interesse.

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Peter Weir


Nasceu em 21 de Agosto de 1944, em Sydney, na Austrália. Estudou Arte e Direito, viajou pela Europa e, de regresso à Austrália, resolveu trabalhar no cinema e na televisão, iniciando-se como operador e assistente de produção. Em 1967 começa a rodar algumas curtas metragens que tiveram um certo sucesso e em 1974 estreia-se no filme de fundo com uma comédia de humor negro: The Cars that Ate Paris. O seu filme seguinte, Picnic at Hanging Rock tornou-o conhecido internacionalmente e, juntamente com George Miller, Bruce Beresford, Fred Schepisi, Gilliam Armstrong e alguns mais, impõe o novo cinema australiano, sendo rapidamente chamado para Hollywood, onde assina vários títulos que o confirmam como um dos nomes mais interessantes do moderno cinema.


Filmografia
 

1974The Cars That Ate Paris;
1975Picnic at Hanging Rock (Piquenique em Hanging Rock);

1977The Last Wave (A Última Vaga);
1979The Plumber (O Canalizador, em vídeo);
1981Gallipoli (Gallipoli);.
1982The Year of Living Dangerously (O Ano de Todos os
              Perigos);

1985Witness (A Testemunha);
1986Mosquito Coast (A Costa do Mosquito)
1989Dead Poet's Society (Clube dos Poetas Mortos);

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Robin Williams

 

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Uma das razões do êxito de O Clube dos Poetas Mortos reside seguramente na excelente interpretação de Robin Williams, um actor até aí não muito conhecido do grande público, mas que já tinha aparecido em duas ou três obras extremamente interessantes, como Popeye, de Robert Altman, seu título de estreia no cinema, e Bom Dia, Vietname, de Barry Levinson, que o lançaria definitivamente.

Nascido em Nova Iorque, em 1952, Robin Williams interessou-se pelo cinema depois de ter visto Dr. Strangelove, de Stanley Kubrick, onde o trabalho de Peter Sellers o impressionou vivamente. Passou pelo teatro, pela televisão, até ser escolhido por Altman para personificar no cinema uma popular figura de banda desenhada, Popeye. O filme não teve grande sucesso de bilheteira, mas Robin Williams seria notado pela crítica. Lentamente foi depois construindo uma carreira, culminada com Bom Dia, Vietname e sobretudo Clube dos Poetas Mortos.


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Filmografia de Robin Williams


1980 – Popeye (Popeye), de Robert Altman;
1982 – The World Accord to Garp (O Estranho Mundo de Garp), de George Roy Hill;
1983 – The Survivors (Os Sobreviventes), de Michael Ritchie;
1984 – Moscow on lhe Hudson (Um Russo em Nova lorque), de Paul Mazursky;
1986 – The Best of Times (A Brigada do Reumático), de Roger Spottiswoode;.
1986 – Club Paradise (Clube Paraíso), de Harold Ramis;
1988 – Good Morning, Vietnam (Bom Dia, Vietname), de Barry Levinson;
1988 – The Adventures of Baron Munchhausen (A Fantástica Aventura do Barão), de Terry Gílliam; 1989 – Dead Poet's Society (Clube dos Poetas Mortos), de Peter Weir;
1989 – Cadillac Man (Um Sedutor em Apuros), de Roger Donaldson.
1990 – Awakenings (Despertares), de Penny Marshall.
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Videografia


Filmes de Peter Weir editados no mercado videográfico português:
O Ano de Todos os Perigos, (Legal Vídeo);
O Canalizador, (Plurivídeo);
A Costa de Mosquito, (Vídeo Time);
Gallipoli, (Edivídeo);
Piquenique em Hanging Rock, (Top Video);
A Testemunha, (Edivídeo).
 

Filmes de outros autores australianos editados em vídeo em Portugal:

Bruce Beresford:
Amor e Compaixão
, (Tender Mercies) (EUA, 1983) (VídeoIrónica);
Crimes do Coração, (Crimes of the Heart) (EUA, 1986) (Dopervídeo);
Justiça de Guerra, (Breaker Morand) (Austrália, 1979) (Top Vídeo);
Miss Daisy, (Miss Daisy) (EUA, 1989) (Sonovídeo);
Rei David, (King David) (EUA, 1986) (Edívídeo);
O Seu Perfeito Alibi, (Her Perfect Alibi) (EUA, 1988) (Warner).
 

George Miller:
Anzacs, (Anzacs), co-realização com John Dixon (Austrália, 1985) (Transvídeo);
As Bruxas de Eastwick, (The Witches of Eastwick) (EUA, 1987) (Warner);
Mad Max - As Motos da Morte, (Mad Max) (Austrália, 1979) (Warner);
Mad Max II - O Guerreiro da Estrada, (Mad Max II - The Road Warrior) (Austrália, 1981) (Warner);
Mad Max III - Além das Cúpulas do Trovão, (Mad Max III ¬Beyond Thunderdome) (Austrália, 1985) (Warner).
 

Fred Schepisi:
Grito de Coragem
, (A Cry in the Dark) (Austrália, 1988) (Edivídeo).

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Ficha técnica

Lauro António

Licenciado em História
Realizador de Cinema (
Manhã Submersa e O Vestido Cor de Fogo)
Crítico e ensaísta de cinema em diversas publicações
Autor e encenador de teatro (A Encenação)
Director dos Festivais de Cinema de Portalegre e Viana do Castelo
Coordenador do grupo «Cinema e Audiovisuais» do Ministério da Educação

 

Paginação e Grafismo

Cândida Teresa

Gabinete de Meios Técnicos e Materiais

da Direcção Geral de Extensão Educativa
Dim. 21x14,5 cm


Edição

Secretaria de Estado da Reforma Educativa

 

Composto e impresso
 na Editorial do Ministério da Educação

Algueirão


Reconversão para HTML
Henrique J. C. de Oliveira
Espaço Aveiro e Cultura
Secundária J. Estêvão
Projecto Prof2000
Aveiro - 2012

 


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20-04-2018