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O Barão Aventureiro
O filme
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Título português: O Barão
Aventureiro. Título original: Munchhausen. Realização:
Josef von Baky. Argumento: Berthold Burger (pseudónimo de
Erich Kastner), segundo as histórias de Karl Friedrich Hieronymus,
Freihern (Barão) von Munchhausen. Fotografia (em Agfacolor):
Werner Krien. Direcção Artística: Emil H. Gulsporf.
Música: Georg Haentzschel. Efeitos Especiais:
Konstantin Irman-Tschet. |
Interpretação: Hans Albers (Barão
de Munchhausen), Herman Speelmanns (criado Cristiano), Kathe Haak
(Baronesa Munchhausen), Brigitte Horney (Catarina da Rússia),
Ferdinand Marian (Conde Cagliostro), Gustav Waldau (Casanova),
IIse Werner (Princesa Isabella D'Este), Leo Slezak (Abdul Hamid),
Andrews Engelmann (Príncipe Potemkine), Michel Bohnen (Príncipe
Karl von Brunswick), Hilde Von Stoltz (Luise La Tour), Marina Von
Ditmar (Sofia Von Riedesel), W. Leitgeb (Príncipe Grigori Orlow),
Herbert Von Meyerinck (Príncipe Anton Ulrich), Jaspar Van Oertzen
(Príncipe Lansgoi), Werner Scharf (Príncipe Francesco D'Este),
Marianne Simson (a Mulher da Lua), Franz Weber (Príncipe de Ligne),
Eduard Von Winterstein (o velho barão Munchhausen). Produção:
U.F.A., 1943. Duração Original: 132 minutos. Cópia
restaurada pela Fundação Friedrich Wilhelm Murnau em 1978.
Versão inglesa: 104 minutos. Estreia Mundial: Berlim,
em 3 de Março de 1943. Estreia em Portugal: Lisboa, cinema
Ginásio, a 4 de Novembro de 1943, distribuído por "Libsboa
Filmes". Reposto no cinema Monumental em 3 de Julho de 1955
(distribuição Momento Filmes), e no cinema Alvalade, a 13 de
Janeiro de 1981 (distribuição: Filmes Castello Lopes).
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Sinopse
O filme começa com um baile de
gala com os participantes vestidos como no século XVIII. Alguns
sinais de anacronismo (luz eléctrica, relógios de pulso) mostram
que não estamos naquela época e sim no período contemporâneo (da
produção do filme: 1941). Um velho, o barão de Munchhausen, conta
aos que o rodeiam que tem 200 anos de idade, conheceu Catarina da
Rússia e personagens famosas como o Conde de Cagliostro e
Casanova. Em flash-back começa a história das mirabolantes
aventuras do barão, agora, sim, no século sugerido.
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Encontramo-lo de abalada para a
Rússia para ser oficial ao serviço de Catarina II. Pelo caminho
tem um encontro insólito, o lendário Conde de Cagliostro, senhor
de magia e mestre do ocultismo, que lhe dá a faculdade de não
envelhecer e um anel que tem a propriedade de o tornar invisível. |
É graças ao anel e à sua
galanteria que seduz a Imperatriz, que lhe dá um posto de destaque
no exército, partindo para a guerra contra a Turquia. Durante o
cerco de Ortchakoff, defendida pelos turcos, consegue entrar na
fortaleza por acidente: voando em cima da bala expelida pelo
canhão em cima do qual se encontrava. O seu espírito jovial e o
saber conquistam os favores do sultão que lhe poupa a vida e o
mantém ao seu serviço. Apaixona-se pela princesa Isabella d'Este
que se encontra prisioneira no harém do sultão, e liberta-a na
sequência de uma aposta que ganha com a ajuda do criado.
Partem para Veneza onde vivem um
romance de amor, mas o irmão de Isabella rapta-a durante o
Carnaval e encerra-a num convento. Muchhausen desafia-o para um
duelo e ridiculariza-o durante o combate. É-lhe dada ordem de
prisão pelos esbirros do Doge mas consegue escapar com o seu fiel
criado numa Montgolfieira (balão). No balão alcançam a Lua, onde
um dia corresponde a um ano terrestre e os habitantes conseguem
separar as cabeças dos corpos, e a rainha o procura seduzir.
Quando regressa à terra decorre o ano de 1900. Casa com uma
rapariga que ama apaixonadamente e renuncia ao privilégio da
imortalidade.
O flash-back acaba com
Munchhausen envelhecido terminando a narrativa aos amigos.
Verdade, ou mais uma das invenções do popular personagem, parece
interrogar o seu rosto no plano final.
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Crítica
Quando se fala de cinema alemão
dos anos 30 e os primeiros da década de 1940, a imagem que surge é
a de uma tenebrosa fonte de transmissão ideológica nazi. Filmes de
propaganda sempre os houves, fosse qual fosse o regime em que
surgissem, mas é evidente que nalguns casos a "mensagem" surge
sobrecarregada. O cinema alemão desta fase não é um caso
particular. Na mesma década e da mesma forma manifestava-se um
cinema de características idênticas, mesmo que de sinais
diferentes: os filmes que celebravam o culto da personalidade de
Estaline na URSS, as epopeias fascistas italianas, e
manifestava-se nesta antinomia nos regimes democráticos: o cinema
"colonialista" americano opondo-se ao da denúncia das injustiças
sociais que saíam dos estúdios da Warner Brothers e, em França, os
filmes próximos da Action Française de Charles Maurras (Les
Croix de Feu) e os que se identificavam com o Front
Populaire (La Vie est à Nous e La
Marseillaise, de Jean Renoir).
Quando hoje se redescobrem muitos
dos títulos menos polémicos desses países sob regime ditatorial,
verifica-se que, se "mensagem" existe, há também uma predominante
do espectáculo, tendo com função o entretenimento. E aí se
encontram, expurgadas de suspeitas ideológicas, as verdadeiras
manifestações da arte cinematográfica. Na URSS, as comédias
geniais de Boris Barnett, na Alemanha os melodramas e comédias
musicais de um Willi Frost (Mascarada) e um Georg
Jacoby (A Mulher dos Meus Sonhos, com a
popularíssima Marika Rokk).
O Barão Aventureiro
inscreve-se nesta última categoria, mas é bom que não nos deixemos
confundir. Quando Munchhausen diz no fim que, 200 anos depois, o
espírito do aventureiro vive em si, não se pode (ou não se podia,
na altura da estreia) deixar de pensar que é ao espírito da
Alemanha que ele se refere, particularmente se considerarmos que o
século em referência é o de Frederico o Grande, o unificador do I
Reich, que o cinema Nazi transforma num dos seus mitos de
referência obrigatória (O Concerto Real de Sans Souci,
Os Dois Reis, etc.).
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Mandado produzir por Goebbels para comemorar os 25 anos da casa
produtora UFA (que detinha praticamente o monopólio do cinema
alemão) houve o cuidado, por parte dos seus autores de evitar
qualquer referência ideológica, pelo menos de forma aberta. Isto
explicará, em parte, como um argumentista como Erich Kastner (no
index devido às suas ligações com a esquerda democrática antes da
chegada dos nazis ao poder) seja convidado para o escrever, mesmo
que para isso use um pseudónimo, e a importância dos meios postos
à sua disposição. Mas reflecte também o sempre frustrado desejo de
Goebbels de dar ao cinema alemão o equivalente às obras-primas do
cinema estrangeiro. Houve sempre, da sua parte, o desejo que a
Alemanha tivesse o "seu" Couraçado Potemkine, mas as
suas réplicas, Morgenrot, Gustav Ucicky
(em termos de acção) e Hitlerjunge Quex, de Hans
Steinholf (em termos de propaganda) nunca de perto chegaram à
obra-prima de Eisenstein, apesar da sua reconhecida eficácia.
O Barão Aventureiro procurava ser também uma réplica a
um filme famoso e recente: O Ladrão de Bagdad, a
produção britânica de Alexandre Korda, dirigida por Michael Powell.
O que distingue os modelos da imitação é um pormenor fundamental.
Os primeiros são produtos de dois homens de génio, para quem o
cinema não era apenas uma máquina de reprodução de entretenimento,
mas um meio de expressão artística, e as imitações resultaram do
trabalho de artesãos experientes mas sem a centelha do génio que
transforma um filme, mesmo de propaganda, numa obra-prima. No caso
de O Barão Aventureiro, se o filme sobreviveu ao
tempo, mas mesmo assim dentro de certos limites (o encanto que
transmite não deixa de vir impregnado de um certo tédio), é mais
pelas características da personagem e da fantasia que parece
correr livremente, do que pelo trabalho de Josef Von Baky.
Por vezes a câmara arrasta-se
pesadamente em momentos em que se requeria agilidade e invenção, e
a única excepção é a da festa russa, deslocando-se com elegância
por entre os bailarinos. A posição de Baky é a de um "registador"
de sequências, sem participação activa na sua encenação nem mesmo
na escolha dos ângulos de filmagem.
Um dos trunfos maiores de O
Barão Aventureiro, na altura da sua estreia, foi a cor. A
Alemanha respondia ao processo americano do Technicolor com o que
se chamou Agfacolor. Os problemas técnicos que o seu uso levantava
tornavam-no um processo moroso e dispendioso. E o Agfacolor e os
efeitos especiais levaram a maior da fatia de um orçamento
astronómico para o tempo, qualquer coisa como 60 000 contos em
moeda portuguesa, que o tornou o filme alemão mais caro até então
feito. Apesar de conhecido e usado em curtas metragens há já
vários anos, é só em 1942, depois de uma desastrosa tentativa dois
anos antes, que o Agfacolor é usado numa longa-metragem: A
Cidade Dourada, de Veidt Harlan e, imediatamente a seguir
em O Barão Aventureiro. A estranha e fria beleza
deste sistema de cor fascinou os espectadores mas revelou-se, com
o tempo, um suporte rapidamente degradável. Já na reposição nos
anos 50 perdera muitas das qualidades originais e, com o tempo,
todos os filmes fotografados neste sistema se
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/ deterioraram em tons malvas, semelhantes a pétalas
secas no meio de livros. Em 1978 a Fundação Friedrich Wilhelm
Murnau (nome de um dos maiores realizadores alemães do cinema
mudo), de Wiesbaden, lança mãos da restauração da cópia. Os
actuais meios técnicos de reconstituição da cópia permitiram que
se aproximasse do original, mas todo o fulgor primitivo foi
impossível de recapturar. Tanto mais que os técnicos não tinham,
para trabalhar, o negativo primitivo, nem sequer a versão
integral, tendo de o reconstituir a partir de cópias dispersas
pelo mundo e em estados diferentes de conservação.
Dentro do seu género de feérie
fantástica, O Barão Aventureiro é o único filme
alemão deste período que pode competir com as produções saídas dos
estúdios americanos e britânicos (o já referido Ladrão de
Bagdad) e aí se encontra muito do encanto que o filme
ainda hoje transmite. Mas não só. Há também uma curiosa elegância
de movimentos dos personagens (que não têm, infelizmente,
correspondência na câmara) que lhe dá um estilo requintado e
aristocrático. Estilo que se prolonga pelos diálogos brilhantes de Kastner, sintéticos e marcados pela ironia, um estilo de escrita
que por vezes lembra a dos filmes de Lubitsh. E se os efeitos
especiais (devidos a Konstantin Irmen-Tschet, especialista do
Agfacolor, operador de Hitlerjunge Quei) perdem se cotejados com
os dos filmes americanos e ingleses seus contemporâneos, torna-se
evidente, hoje, com a patine que o tempo lhe aplicou, que o seu
fascínio reside exactamente na sua ingenuidade, que lhe dá a
autenticidade dos primitivos. Robert Brasillach e Maurice Bardeche
interrogavam-se na sua Histoire du Cinéma se se poderia
refazer Mélies em 1943. A resposta parece ser afirmativa. O
"charme" de O Barão Aventureiro é o das coisas
primitivas. Não tem a intemporalidade das obras-primas mas resiste
ao tempo, e surge como uma das mais insólitas obras da sua época,
com o seu não-sei-quê de "kitsch".
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Situação do
Filme na História do Cinema
Já se disse que O Barão
Aventureiro foi produzido para comemoração do 25.º
aniversário da UFA, a companhia que detinha o monopólio do cinema
alemão. O filme de Josef Von Baky foi também a sua última grande
produção. Desta forma, a sua história passa, naturalmente, pela do
estúdio. |
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A U.F.A. (iniciais de Universum
Film Aktien Gesellschaft) foi criada em 1917, durante a guerra,
inspirada pelo general Ludendorf. Outras tentativas para
concentrar os dispersos produtores alemães (em 1917 são cerca de
31), tinham sido feitas desde o ano anterior: a Deulig, ligada ao
trust Hugenberg, em 1916, e a B.U.F.A. em 1917, mais ligada ao
exército e que procurava doutrinar e mentalizar os soldados
alemães atraídos pelas doutrinas extremistas de esquerda, que a
Revolução de Outubro na Rússia popularizara.
Prévia à concentração industrial
havia uma vontade nacionalista, de defesa dos seus valores
culturais num campo que até 1914 estava praticamente colonizado
pelas companhias dinamarquesas.
Em Novembro de 1917 a sua nova
companhia é formada com capitais do governo e da indústria
privada, num total de 20 milhões de marcos, 8 do primeiro, que
queria utilizar o cinema como arma de propaganda ("a guerra
mostrou a força da imagem e do filme como meio de educação e de
influência nas massas", disse Ludendorff) de que só filmes dos
aliados tinham mostrado a eficácia, e 12 da segunda, divididos
pelas aciarias Krupp, a I.G. Farben, que controlava a indústria
química, a A.E.G., da electricidade e o Deutsche Bank. À partida,
pois, a U.F.A. constitui-se como uma forma de desviar a atenção
das massas de preocupações "perigosas para a ordem social".
Rapidamente se segue uma política
de anexação e controlo das companhias existentes que, a pouco e
pouco, vão sendo integradas dentro do monopólio (primeiro a
P.A.G.U., depois a Messter Film), em simultâneo com o controle das
salas de exibição, então nas mãos do trust dinamarquês Nordisk. Em
pouco tempo a U.F.A. transforma-se na companhia cinematográfica
mais poderosa da Europa, ultrapassando em importância a PATHÉ
francesa. Em 1919 abre em Berlim uma das maiores e mais luxuosas
salas de cinema da Europa, o Ufa Palast Am Zoo, inaugurado com um
filme que em si próprio constitui uma espécie de programa:
Madame Dubarry, do jovem Ernst Lubitsch, onde a abordagem
da Revolução Francesa era um pretexto para atacar as ideias
deixadas pelo movimento spartakhista, afogado em sangue, com os
seus dirigentes Rosa Luxemburgo e Karl Liebknetch executados.
Poucas resistem à anexação, e uma delas é a famosa Decla-Bioskop,
dirigida por Eric Pommer, que deixou o seu nome ligado ao período
de ouro do que se chamou o "expressionismo alemão".
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Mas a pressão é forte e em 1923 também esta companhia passa a
integrar o trust, sendo dado a Pommer o lugar de director
de produção. O seu trabalho permite uma certa diversificação,
dando uma feição mais eclética à produção da UFA. Surgem as
grandes manifestações nacionalistas, que são as obras-primas de
Fritz Lang, Os Nibelungos e Metropolis,
o Fausto, de Murnau, mas também obras como O
Último dos Homens, do mesmo realizador e, no começo do
sonoro, O Anjo Azul, de Sternberg.
A crise da depauperada economia
alemã, sujeita ao pagamento de indemnizações de guerra, saídas do
tratados de Versalhes, ataca também a indústria cinematográfica em
1925, o que leva a UFA a procurar uma injecção de capital
americano (já presente através da participação nas companhias que
a financiavam do Banco Morgan e da General Electric, entre
outras). Desta vez os acordos são feitos com estúdios de cinema,
que entravam com 17 milhões de dólares tendo como contrapartida um
aumento da quota de exibição dos seus filmes no mercado alemão
(que chegou a cerca de 50%). Foram os chamados acordos "Parafumet"
(Paramount-U.F.A.-Metro). O homem dos acordos que vêm salvar a
indústria de cinema alemã é o Dr. Alfred Hugenberg, pró-nazi e
dirigente de um grupo de extrema-direita apoiante de Hitler.
Segue-se um período de modernização e construção de novos
estúdios, e o controle da Tobis Klangfilm a partir do advento do
sonoro.
Com a chegada dos nazis ao poder,
em 1933, e o controle do cinema pela "Reichsfilmkammer" criada por
Goebbels, a UFA torna-se um ramo da propaganda interna e externa
do regime (e, na altura, o mais eficaz), dividindo a sua produção
entre os chamados filmes de "evasão" (comédias sentimentais e
musicais, melodramas) e os de propaganda, quer através de
faustosas reconstituições históricas tendo por personagens grandes
figuras nacionais (Frederico o Grande: O Concerto
Real de Sans Souci, Os Dois Reis), Bismark,
episódios da resistência anti-napoleónica e filmes que, a pretexto
de "reconstituição histórica" se destinavam a manter
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/ vivo e aumentar o sentimento anti-britânico (a
Joana d'Arc de Gustav Ucicky e, mais tarde Ohm
Kruger, um filme sobre a revolta "boer", de Hans
Steinnhofl que, com Veidt Harlan, foi o realizador oficial do
regime), quer de filmes destinados a divulgar a ideologia nazi (Morgenrot,
de Ucicky, Hitlerjunge Quex, de Steinnholf,
Triumph des Willens, sobre o congresso nazi de Nuremberga
e Olympia, sobre os Jogos Olímpicos de 1936, ambos
de Leni Riefenstahl). Em 1942, a U.F.A. passa a ter, por decisão
de Goebbels, o controle de toda a produção do chamado "Grande
Reich": a Alemanha e todos os países ocupados. Era porém, o canto
do cisne. A produção total, a diminuir progressivamente (118
filmes em 1936, 89 em 1940, 64 em 1942) apenas regista um aumento
em 1944 com 75 filmes. No ano seguinte, em vésperas da queda de
Berlim, estreava a última produção, Kolberg, de
Veidt Harlan, um apelo à resistência até ao fim, uma
super-produção com milhares de figurantes que o Guiness Book
inclui na sua lista de recordes: terá sido o filme com mais
figurantes que espectadores.
O fim da guerra marcou o
desmembramento deste "império de cinema". A UFA, mantida em
sequestro ou reconvertida, nos outros países, pelos Aliados. Em
1955 nasce uma "nova U.F.A. em Dusseldorff e Berlim, reproduzindo,
na sua constituição económica, a forma de 1925 (curiosamente 1955
é também o ano em que se lança no mercado a reposição de O
Barão Aventureiro) e, salvos alguns aspectos ideológicos,
o seu estilo de produção não era muito diferente (excepto na
qualidade). O crescimento da influência da televisão trouxe a
crise à "nova" UFA, que declara falência em 1962 com um défice de
5,3 milhões de marcos. No mesmo ano passa a dedicar-se
exclusivamente à televisão e a maioria das suas acções ficam do
grupo editorial Bertelsmann.
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Relações
Interdisciplinares - História
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O Barão Aventureiro decorre, numa boa parte, durante a
guerra russo-turca do século XVIII, em particular durante a
campanha da Crimeia. A data não é acidental, por parte do filme. A
conquista de Ortchakov pelos turcos teve lugar em 1739, e em 1740
sobe ao poder Frederico II na Prússia, e já dissemos da
importância que este nome teve no cinema nacionalista da Alemanha
dos anos 30. |
Aliás, faz coincidir os "duzentos
anos de espírito alemão", a que Munchhausen se refere no filme, com a idade do
aventureiro. Apesar da forma mais ou menos anedótica da presença
do Barão na corte do sultão, há na situação (e na importância que
ela adquire) um referência à abertura que Nadir Xá procurou fazer
à cultura e às reformas do Ocidente.
Poder-se-á ver no filme uma forma
indirecta da Alemanha de 1942 procurar pôr fim à guerra mantendo o
"status quo" das ocupações? A hipótese tem a sua viabilidade por
outras ilações do filme com o passado: a derrota da Rússia frente
aos turcos, Munchhausen na corte de Catarina lI, também ela
procurando uma abertura ao Ocidente.
Munchhausen, outras figuras ilustres e a literatura fantástica
Nesta história fantástica encontramos mais de uma
personagem real, representantes duma época a que se deu o nome de
"Século das Luzes". Muchhausen será o seu lado mais pueril e
anedótico. O espírito do tempo deve ser procurado (mas este filme
a isso pouco ajuda e as fontes devem ser outras; para tal
consulte-se a bio-filmografia) nas figuras de Cagliostro e
Casanova, encontros breves do nosso herói respectivamente em
Moscovo e no carnaval de Veneza. Comecemos pelo famoso Barão,
porque dele é o filme.
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Por detrás da lenda, e das suas fantásticas e imaginativas
proezas, está uma personagem real. Karl Friedrich Hieronymus
Freiihernn von Munchhausen foi o seu nome real. Nasceu a 11 de
Maio de 1720, em Bodenwerder, Hanover, e na mesma terra morreu a
22 de Fevereiro de 1797.
As suas aventuras reais parecem
ter-se limitado à participação na guerra russo-turca, como oficial
alemão ao serviço do exército de Catarina II, em 1740. Retirou-se
depois para a sua terra natal onde criou fama como contador de
histórias, inventando, para gáudio dos ouvintes, as mais incríveis
façanhas que teria cometido como soldado, caçador e desportista.
Este espírito inventivo reflectia a curiosidade do século pelas
coisas novas, pois essas "aventuras tanto projectam as ideias
modernas e as especulações da ciência do seu tempo (a astronomia,
os balões, o aumento de velocidade nas comunicações) como
exploram, em novas variações, mitos e tradições mais antigas, como
Charles Perrault fazia meio século antes com as histórias
populares (e o criado de Munchhausen que corre como o relâmpago
parece inspirar-se no "Gato das Botas"). A primeira colectânea de
histórias suas apareceu entre 1781 e 1783: "Vademecum fur
lustige Leute", mas a personagem só se tornou um modelo a
partir de 1785 com a publicação anónima, em Londres, de uma
antologia das primeiras histórias por Rudolf Eric Raspe. A edição
de 1793, intitulada "The Adventures of Baron Muchhausen" é
o texto que serve de base à maioria das edições posteriormente
publicadas, traduzidas em Portugal por Luís Quintino Chaves em
1904.
Mas, como todas as histórias
deste tipo, cada nova edição acrescenta um ponto. A edição inglesa
de 1811 acrescenta a fantástica viagem à Lua, trazendo-o também a
Portugal, onde vai ajudar a família real a fugir para o Brasil
(!). Eis uma aventura à espera de imaginosos argumentistas
portugueses.
Entre 1838 e 1839 o poeta alemão
Karl Lebrecht Immermann (1796-1840) publicou um "Munchhausen" em 4
volumes que descrevia as aventuras de um descendente do famoso
barão.
Transformado em personagem de
folclore, Munchhausen seria, naturalmente, alvo de interesse do
cinema desde muito cedo. Em 1911 Geoges Méliès realiza as
Hallucinations du Baron de Munchhausen. Dois anos depois,
Émile Cohl faz um filme de animação, Le Baron de Crac
(outros dos nomes com que é conhecido o aventureiro). Depois da
versão de Kastner/Baky, foi a vez da Checoslováquia fazer um filme
que misturava personagens reais com cenários animados, dirigido
por Karel Zeman em 1961: Baron Prasil (exibido entre
nós também com o título O Barão Aventureiro).
É a animação que de novo se
apodera da personagem em 1977, desta vez sob a direcção do francês
Jean Image: Les Fabuleuses Aventures du Légendaire Baron de
Munchhausen.
Finalmente em 1988 o inglês Terry
Gilliam realiza a última adaptação, até à data, numa dispendiosa
super-produção, The Adventures of Baron Munchhausen,
que entre nós recebeu o título de A Fantástica Aventura do
Barão.
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Casanova
Giovanni Giacomo Casanova é outra das figuras características do
século XVIII. Como Munchhausen e Cagliostro, morre quando triunfa
a Revolução Francesa, que vem dar corpo aos ideias dos
Iluministas.
Mas a figura de Casanova
(1725-1798) é ainda hoje mais confundida com a do sedutor
libertino (mas este termo tinha um sentido diferente de hoje,
sinónima que era de liberdade e paixão pelas ideias novas).
Como outros "iluminados" foi
suspeito ao poder estabelecido, por ateísmo e práticas de magia. A
sua prisão em Veneza (onde Munchhausen, nas suas "invenções", o
terá conhecido) e a espectacular evasão que praticou serve-lhe
para uma crónica. "História da Minha Fuga das Prisões de
Veneza"...
Viaja pela Europa entregando-se a
diversos trabalhos, principalmente de carácter diplomático, usando
também da intriga para fazer face aos problemas económicas, ao
mesmo tempo que "coleccionava" as suas lendárias aventuras
galantes, embora não tenha alcançado a estrutura mítica de Don
Juan.
Possuía, porém, uma alta craveira
intelectual, acompanhando o espírito e a cultura da sua época, e
para ela contribuindo na literatura. Escreveu um romance de
características fantásticas ("Icosameron") e terminou a sua
vida como bibliotecário do conde de Waldstein, na Boémia,
dedicando parte do seu tempo à redacção das suas "Memórias",
que o lançaram na lenda, e que apenas recentemente (1960) foram
publicadas na íntegra.
A figura de Casanova, com não
podia deixar de ser, interessou também o cinema. A primeira e mais
célebre versão data de 1927, com o galante aventureiro
interpretado pelo actor russo Ivan Mosjoukine no filme "Casanova"
de Alexandre Volkoff. Uma espectacular produção a preto e branco,
mas com sequências coloridas, cuja versão restaurada passou na
Cinemateca Portuguesa em 1989.
As outras versões mais conhecidas
são italianas. Uma, de 1969, realizada por Luigi Comencini tomava
como ponto de partida a juventude do libertino: Infanzia,
Vocazione e Prime Esperienze di Giacomo Casanova, Veneziano
(A Iniciação Sexual de Casanova). A outra traz a assinatura
prestigiosa de Frederico Fellini. O seu Casanova
data de 1976 e tem como intérprete Donald Sutherland.
Porém, menos conhecidos, existem
outros dois filmes. Em 1946 o francês Jean Boyer dirigiu Georges
Guetary numa série de aventuras galantes em Les Aventures de
Casanova (As Aventuras de Casanova). Dois anos depois, nos
EUA, o realizador mexicano Roberto Gavaldon deu o papel ao galã
latino da época, Arturo de Córdova, num puro "swashbuckler", que
leva o nosso herói a Nápoles para derrubar o seu despótico rei:
The Adventures of Casanova (Casanova, o Patriota).
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Cagliostro
Como Casanova, também Cagliostro
é uma personagem real cuja lenda superou os factos.
O conde Alexandre Cagliostro é
muitas vezes identificado com um aventureiro italiano, Giuseppe
Bálsamo, tese que Alexandre Dumas, Pai, assume como autêntica nos
seus romances-folhetins "Joseph Balsamo" e "O Colar da
Rainha", reunidos com o titulo comum de "Memórias de um
Médico".
O personagem assim conhecido
teria nascido em 1743 e falecido em 1795. Com Casanova e
Munchhausen, o fim da sua vida coincide com o fim da velha
sociedade. Eles são, pelo seu comportamento e cosmopolitismo,
símbolos das novas ideias. Mas a actividade de Cagliostro (que em
O Barão Aventureiro encontramos na corte de Catarina
ll) está mais ligada, em termos concretos, à luta contra as
instituições aristocráticas, do que a dos outros. Ligado a
associações maçónicas, participou em associações secretas que
prepararam a criação dos Estados Confederados na América e
prepararam a Revolução Francesa. A ficção de Dumas coloca-o no
centro de uma intriga destinada a desacreditar a monarquia, que
ficou conhecida como o "caso do colar da rainha", um dos muitos
incidentes que levaram à convocação dos Estados Gerais em 1789,
alvorada da Revolução. Verdade ou não, a lenda, como já se disse,
tomou o lugar da realidade. Certo é que Cagliostro, devido às suas
actividades seria preso, julgado e condenado pela justiça papal.
A sua figura inspirou vários
escritores, para além de Dumas. Schiller e Goethe dão-lhe uma
faceta mais ou menos simpática. Thomas Carlyle, por sua vez,
publicou um ensaio muito crítico acerca dele, destacando a
influência que ele teria exercido na franco-maçonaria europeia. É
por este lado, mas transformado numa espécie de neo-paganismo, que
Gérard de Nerval aborda a personagem de Cagliostro em "Les
lIIuminés".
Naturalmente que o cinema não
podia ficar indiferente a tão estranho e fantástico personagem. O
que é estranho é que o tenha feito tão poucas vezes. Pois para
além das suas aparições como "convidado" nas aventuras de
Munchhausen, apenas o encontramos, também de forma secundária, mas
várias adaptações do Affaire du Collier de Ia Reine,
em 1929 por Gaston Ravel e em 1945 por Marcel L'Herbier. Nesta
última, era interpretado por Pierre Dux.
A única vez que aparece como
"cabeça de cartaz" é num filme que explora a sua atribuída faceta
de alquimista, utilizando o seu saber numa conspiração contra
Maria Antonieta, mais ou menos uma variação do famigerado caso do
colar. Trata-se de Black Magic, que em Portugal
recebeu como titulo o nome do seu herói, Cagliostro.
Foi realizado em 1949 por Gregory Ratoff e na pele de Cagliostro
encontramos alguém à altura da sua lenda: Orson Welles.
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Munchhausen e
a literatura fantástica
As aventuras "inventadas" por Muchhause são, na sua maioria
variações e adaptações das histórias tradicionais, condimentadas
com os elementos das "Luzes" e as referências a personagens
históricas reais que cativavam a imaginação popular.
Para além disso encontra-se nela
uma "actualização" às ideias do tempo, em particular nas que as
investigações e as especulações científicas suscitavam. Num ponto
extremo poder-se-ia ver também na mesma linhagem, mas de uma forma
mais culta, o "Frankenstein, ou o Moderno Prometeu", que
poucas décadas depois escreveria Mary Shelley.
Mas o episódio mais conhecido de
O Barão Aventureiro é o da viagem à Lua, e o
"passeio" de Munchhausen em cima da bala de canhão, "concretiza" o
velho sonho do homem de voar, manifestado desde a Antiguidade
Clássica no mito de Ícaro.
O da viagem à Lua já tinha
hipóteses vagamente "científicas". Por aquela altura já as "montgolfieiras"
eram conhecidas, tendo-se já realizado muitas experiências ao
longo desse século, o XVIII, desde que Bartolomeu de Gusmão, nos
primeiros anos, fizera as suas experiências com a "Passarola"
diante do rei D. João V. Porém, no campo da literatura, as
experiências "bem sucedidas" vinham já de trás. No século
anterior, Hector Savinien Cyrano de Bergerac (1619-1655) (mais
tarde imortalizado por Edmond Rostand numa peça que tem servido de
inspiração aos vários filmes sobre a figura de Cyrano), que além
do famoso nariz (que apesar de tudo não era assim tão extravagante
como o que Rostand lhe atribuiu) tinha uma esplêndida imaginação,
escreveu um livro que, para além de ser a defesa das ideias novas
sobre a Terra e os planetas apresentadas por Galileu e condenadas
pela Igreja, se pode considerar como o antepassado da literatura
de ficção científica: "Histoire Comique des États et Empires de
Ia Lune et des États et Empires du Soleil".
A sua ideia é, decerto, a de
criticar através da alegoria, a sociedade do seu tempo, defender
as "Luzes" contra o obscurantismo, mais do que seguir o conceito
que hoje se tem da "ficção científica" (mas à excepção do "space
opera", a maioria dos grandes escritores do género, de Ursula K.
Le Guin a Stanislaw Lem, projectam nos seus mundos futuros as
inquietações e os problemas de hoje). Deste pondo de vista, para
além das opiniões diversas sobre o seu valor literário, podemos
aproximar as histórias de Munchhausen da literatura crítica à
organização social do século, de um "Viagens de Gulliver"
de Jonathan Swif1 ao próprio "Candide" de Voltaire. De
Charles Perrault e da sua reconversão das histórias tradicionais à
moral burguesa que começava a impor-se, e que conquistaria o poder
político com a Revolução Francesa, já falámos. O século XIX irá
desenvolver o tema, de forma mais "científica"; Edgar Alan Poe
escreverá uma das suas melhores histórias inspirado numa "Viagem
de Balão".
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Júlio Verne, levará os seus heróis à Lua, de uma forma que, para
além do rigor científico que para a altura demonstrava, toma como
ponto de partida para a viagem dos novos Munchhausens, outro meio
de deslocação do lendário barão: o disparo de um poderoso canhão
lança os personagens para a Lua, como a bala levara Munchhausen
para a cidade sitiada.
H. J. Wells retoma o tema da
viagem à Lua, no seu romance "First Men in the Moon" e, a
partir de então, é rara a década, e depois o ano, que não tem a
sua nova história a concretizar o velho sonho do homem. Primeiro a
Lua, Marte virá depois. Mais tarde o Universo. Primeiro na ficção,
depois na realidade.
Opiniões
"Munchhausen faz do estúdio
uma gigantesca bola de cristal, o objecto de todas as viagens,
enquanto o barão a toma por um brinquedo (bola de bilhar, bola de
canhão, balão), por um globo, como em O Grande Ditador". – C.
T.. in Cahiers du Cinema. nº 320
Cada uma das suas aventuras
revela a sua "imagerie" infantil que se anima com encanto
disneyano, mas por vezes afirma também uma paródia tipicamente
germânica". – Renaud Bezombes. in Cinematographe n.º 64
"O resultado é um grande momento
do cinema alemão em comédia, acção e diálogo ligeiro". – Variety
"Sendo uma aventura fantástica, Munchhausen assemelha-se às
fábulas clássicas, às narrativas de Rabelais, às proezas de Peter
Pan ou mesmo D. Quixote e Sancho Pança". – Luís de Pina
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O
Realizador
Se o nome de Josef Von Baky
desperta uma certa curiosidade no cinema deve-se exclusivamente a
O Barão Aventureiro. Mesmo que a sua carreira comporte
cerca. de 30 filmes, entre 1936 e 1961, os restantes não
justificam atenção de maior. Será, pois, o cineasta de um único
filme, apesar dos êxitos comerciais que foram Uma Boca
Sonhadora e Diário de Uma Mulher Apaixonada,
dois melodramas muito populares nos anos 50 em particular graças à
sua intérprete, Maria Schell, ou da sua sofrível nova versão do
excelente melodrama de Gustav Ucicky, Dúnia, a Noiva Eterna.
Josef Von Baky, de nacionalidade
alemã, nasceu em Zombar (Áustria-Hungria) a 23 de Março de 1902 e
faleceu em Munique a 31 de Julho de 1966.
Depois de frequentar a Escola
Técnica de Budapeste torna-se distribuidor de filmes e a seguir
assistente de realização de Geza Von Bolvary em 1928 no filme
Champagner. Com Bolvary vai trabalhar ininterruptamente
até 1936, ano do seu primeiro filme como realizador,
Intermezzo. Até 1941 trabalha quer na Hungria quer na
Alemanha, mas nesse ano chama a atenção com o filme Annelie,
graças, em particular, à interpretação de Luise Ullrich que ganha
o prémio da melhor actriz na Bienal de Veneza. Dois anos depois é
convidado por Goebbels para dirigir Munchhausen,
super-produção a cores destinada a comemorar os 25 anos da criação
da UFA. Via Mala feito logo a seguir será o seu
último filme sob o regime nazi.
Os seus filmes nunca foram
abertamente comprometidos, como se deu com Hans Steinhofl, Veidt
Harlan ou mesmo Gustav Ucicky, daí que tenha sobrevivido sem
sustos à queda do nazismo e voltado à direcção logo em 1947. Mas
os filmes que dirige até ao fim da sua carreira não ultrapassam a
mediocridade, sendo, muitas vezes, meros veículos para os
intérpretes, como é o caso dos dois melodramas com Maria Schell, e
um dos primeiros filmes com Romy Schneider: A Ilha Encantada
de Robison.
Representante de um cinema
estéril, cheio de concessões comerciais do pior gosto a sua
carreira termina exactamente quando se ouve o toque a finados por
este cinema, vindo de Oberhausen onde a nova geração se prepara
para assinar o manifesto que marca o nascimento do "novo cinema
alemão".
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Filmografia
1936 – Intermezzo;
1938 – Die Kleine und doe Grosse Liebe;
– Asszony a Válaszúton (na Hungria)/versão alemã: Die Frau am
Scheidewege;
– A Varieté Csillagai (na Hungria)/versão alemã: Menschen von
Varieté;
1939 – lhr Erstes Erlebnis;
1940 – Der HKleinnstadtpoet;
1941 – Annelie;
1942/3 – O Barão Aventureiro (Munchhausen);
1943/4 – Via Mala;
1947 – Und Uber Uns der Himmel;
1949 – Der Ruf;
– Die Selltsame
Geschichte des Brandner;
– Das Tor zum Paradies;
1950 – Das Doppelte Lottchen;
1952 – Uma Boca Sonhadora (Der Traumende Mund);
1953 – Diário de Uma Mulher Apaixonada (Tagebusch einer
Verliebten);
1954 – Du Bist die Richtige (Realizado por Erich Engel. Von
Baky termina o filme.);
1955 – Dunia, a Noiva Eterna (Dunja) - 2ª
versão de Der Posmeister, de Gustav Ucicky;
Bibliografia
Não é muito abundante a bibliografia referente ao filme
O Barão Aventureiro ou aos seus responsáveis. De
Josef von Baky, o seu realizador, as informações são escassas e
nada acrescentam às que deixámos no início.
Os leitores interessados
encontrarão alguns elementos (embora de carácter sucinto) nas
várias enciclopédias e dicionários de cinema que se encontram no
mercado, todas elas em língua estrangeira. Destacamos, entre as
obras de fácil consulta na CINEMATECA PORTUGUESA, para monografias
sobre o realizador, intérpretes e os estúdios da UFA.:
Dictionnaire du Cinéma, sob a direcção de Jean Loup Passek
(Librairie Larousse -1986);
L 'Encyclopédie du Cinéma, de Roger Boussinot (Bordas -
1989);
Sobre o filme O Barão Aventureiro encontram-se
algumas notas críticas feitas aquando da sua reposição em: Variety,
de 21 de Junho de 1978;
Cinematographe nº 64, de Janeiro de 1981;
Cahiers du Cinéma nº 320, Fevereiro de 1981;
Celulóide nº 322, de Agosto de1981;
"Textos da Cinemateca Porluguesa"; Texto de Luís de Pina, aquando
da exibição do filme no ciclo "Aníbal Contreiras"
(Todas as publicações são de fácil consulta na Cinemateca
Portuguesa).
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O leitor interessado na história da UFA., do cinema alemão dos
seus começos até 1945, em geral, ou sobre o período 1933-1945,
poderá ler com proveito os seguintes livros:
O Ecrã Demoníaco, de Lolte Eisner (Edições Aster);
De Caligari a Hitler, de Siegfried Kracauer (existem várias
traduções em inglês e francês);
Capital and Culture, (German Cinema 33-45), de Julian
Petley (British Film Instítute, Londres, 1979);
Nazi Cinema, de Erwin Leiser (Seckelt & Warburg, Londres,
1974);
Le Cinéma Nazi, de Pierre Cadars e Francis Courtade (Eríc
Losfeld - 1972);
Souvenirs, ou le Cinema selon Goebbels, de Veidt Harlan (trad.
Ir.: France-Empire, 1974);
Films of the 3th Reich, a Study of the German Cinema, de
David Tewart Hull (Uníversity 01 California Press -1969).
O Argumentista - Erich Kastner
Sob o pseudónimo de Berthold Burger que aparece no genérico da
versão original de O Barão Aventureiro, esconde-se o
nome de Erich Kastner, um popular escritor e poeta alemão, bem
conhecido dos leitores adolescentes pelas suas histórias de
Emílio: Emílio e os Detectives e Emílio e os 3
Gémeos.
Escritor e jornalista, nascido em
Dresden a 14 de Fevereiro de 1899, participa na guerra de 14-18,
retomando a seguir os estudos de literatura, história e filosofia,
ao mesmo tempo que trabalha como jornalista e escreve argumentos
para filmes, entre eles 3 em colaboração de Emeric Pressburger
(que se tornaria conhecido em Inglaterra como colaborador de
Michael Powell): Das Ekel, Dann Schon Lieber Lebertran (dirigido
por Max Ophula) e a adaptação do seu popular romance Emílio e os
Detectives por Gerhard Lamprecht, todos em 1931.
Identificando-se com a esquerda democrática vê os seus livros
queimados pelos nazis quando chegam ao poder, que o mantêm sob
vigilância, mas permitem-lhe continuar a trabalhar como
argumentista.
Com o psedónimo de Eberhard Foerster escreve vários argumentos,
entre eles Frau Nach Mass, de Helmut Kautner
(1939-40) e utiliza de novo o de Berthold Burger para um filme de
Hans Depe, de 1943: Der Kleine Grensverkher.
Depois da guerra instala-se em Munique em 1945 e prossegue a
actividade de argumentista, voltando a trabalhar com Pressburger
no filme que este dirigiu em 1953, Twice Upon a Time,
e com Robert Staemmle na nova versão de Emílio e os Detectives, em
1956.
Em 1957 recebeu o prémio Georg Buchner. Faleceu em Munique a 29 de
Julho de 1974. No ano seguinte foi criado um prémio de literatura
juvenil com o seu nome.
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Os intérpretes
Hans Albers
Sendo uma produção de pres1ígio
da UFA, Munchhausen junta alguns dos mais importantes actores
alemães da época, a começar pelo intérprete do lendário Barão,
Hans Albers. De seu nome completo Hans Philipp August Albers,
nasceu em Hamburgo a 22 de Setembro de 1891 e faleceu em Munique a
24 de Julho de 1960.
Em jovem, ainda, abandona a actividade comercial para integrar uma
companhia ambulante de teatro, e ao palco regressa depois da
guerra de 14-18 onde foi gravemente ferido, trabalhando em
simultâneo no cinema em papéis secundários. Torna-se notado no
palco, em particular com os personagens de "Lilliom" e de "Peer
Gynt". Mas se retomou esta criação de Ibsen na versão filmada em
1934 por Fritz Wennnndhausen, o mesmo não aconteceu com a de
Ferenc Molnar (por 3 vezes adaptada ao cinema: por Frank Borzage,
Fritz Lang e Henry King) apesar do dramaturgo ter considerado
Albers como o melhor "Liliom".
É o cinema sonoro que vai estabelecer a popularidade que usufruiu
durante muitos anos, a partir de 1930 com O Anjo Azul, em que faz
o papel do amante de Lola-Lola, imerpretada por Marlene Dietrich
(com quem já trabalhara duas vezes durante o mudo: fine Dubarry
Von Heute, de Alexander Korda e Princezinha O Lá Lá, de Robert
Land. Nos anos 30 interpreta uma série de filmes que vão da
comédia musical ao 1ilme de aventuras, em especial Refugiados, que
tem por tema a fuga de um grupo de europeus de Xangai durante a
guerra civil, e o melodrama Variedades de Nikolas Farkas (segunda
versão do famoso filme homónimo que E. A. Dupond realizou em
1925).
Actor de prestígio durante o nazismo, embora não se tenha
comprome1ido aoortamen1e com o regime é escolhido para interpretar
o lendário Barão para a super-produção da UFA, que culmina uJ1la
série de personagens heróicos que desde 1938 criou sob as ordens
de Herbert Selpin (seu amigo, caído em desgraça e preso por
propaganda "anti-nacional" em 1942, tendo-se suicidado na prisão
neSSe mesmo ano), entre os quais se destaca O Afajor TrenIc.
Depois do êxito de Munchhlusen interpreta um dos mais populares
melodramas alemães do final da guerra: O Meu Destino é o Mar, de
Helmut Kautner (19449.
Depois da guerra volta ao cinema em 1947 mas a sua hora já tinha
passado. E ainda um excelente Barba-Azul na versão alemã de
BatbebIeu de Christian-Jaque (1951) e é, com Romy Schneider, a
única coisa digna de nota na medíocre versão de Harald Braun sobre
o clássico de Mumau, O Último dos HoIfIens (1955), mas o resto dos
seus trabalhos não ultrapassa a vulgaridade.
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Brigitte Horney
Brigitte Horney, que em O Barão Aventureiro interpreta a figura de
Catarina da Rússia é um caso de vocação descoberta à força.
Nascida em Berlim em 1911 inscreveu-se na Escola de Arte Dramática
de Berlim por insistência da mãe, uma conhecida psicanalista, e
acabou por se revelar a melhor aluna do curso, passando para o
Deutsches Theater e o Volkkkkabuhne, e estreando-se no cinema em
1930 no filme de Robert Siodmak, Abschied. Entre 1938 e e 1943 foi
conhecida como uma das melhores actrizes do cinema alemão, ao lado
de Paula Wassely, Luise Ulrich e Hilde Krahl, em particular graças
aos seus trabalhos em Befreite Hande, de Hans Schweikart (1939),
lIIusion, de Viktor Tourjanski (1941) e Munchhausen.
Depois da guerra, entre os seus primeiros papéis detaca-se
Enquanto Estiveres a Meu Lado, o melodrama de Harald Braun com
Maria Schell, em 1953, ano em que casa com Hans Schwarzenski,
arqueólogo e Conservador do Museum of Fine Arts de Boston,
adquirindo a cidadania americana. A partir dos anos 60 aparece com
frequência no cinema e na televisão, em telefilmes como Haus der
Frauen, de Krzisztoff Zanussi (1978) e a série Das Erbe der
Guldenburgs, de Gero Erhardt (1988).
Leo Slezak
Leo Slezak que interpreta o papel do sultão Abdul Hamid iniciou a
sua carreira cinematográfica aos 50 anos, em 1932, distinguindo
numa série de papéis secundários que o tornaram um dos mais
solicitados "actores de composição" dos estúdios da Alemanha. Nos
11 anos de carreira cinematográfica fez cerca de meia centena de
filmes, destacando-se em particular nas reconstituiçães
históricas. Fez, entre outros, A Loira Carmen, Madame Pompadour,
Páginas Imortais e Opereta, trabalhando com actrizes famosas como
Martha Eggerth, Kate Von Nagy e Magda Schneider (mãe de Romy
Schneider), e ao lado de Zarah Laender no famoso Heimat.
Leo Slezak nasceu na Morávia a 18 de Agosto de 1872 e faleceu na
Baviera a 1 de Junho de 1946. Era filho de um oficial do exército
austro-húngaro e tornou-se um conhecido cantor lírico. Estudou
canto em Brno e nesta cidade se estreou, como tenor, no papel de
Lohengrin, em 1896, entrando para a ópera de Berlim em 1898 e
fazendo parte da ópera de Viena de 1901 a 1934, tendo-se
notabilizado nas óperas Os Huguenotes e Aida. A sua carreira
cinematográfica começa quando abandona o canto. Foi o pai de
Walter Slezak, um actor também de composição muito popular nos EUA
a partir de 1942 com Lua Sem Mel, de Leo McCarey.
Kate Haak
Kate Haak, que interpreta a figura da baronesa de Munchhausen,
nasceu a 11 de Agosto de 1897 em Berlim, e nesta cidade faleceu a
5 de Maio de 1986.
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Casada com o actor Henrich Schrot, dividiu a sua carreira entre o
palco e a tela, mas a partir do meio a década de 50 dedica a maior
parte do seu tempo à televisão onde trabalhou praticamente até ao
fim da sua vida.
O seu período de maior popularidade foi durante os anos 20 e 30,
trabalhando com realizadores como Karl Freund, Lothar Mendes,
Gerhard Lamprecht, Leopold Lindtberg, Veidt Harlan e Paul
Verohaven. Para além de O Barão Aventureiro os seus filmes mais
importantes são Annelie, também de Josef Von Baky (1941), Emílio e
os Detectives, de Lamprecht (1931), Bal Paré, de Karl Ritter e
Bismark de Wolfgang Liebneiner, ambos de 1940.
Ferdinand Marian
Ferdinand Marian é o lendário Conde Cagliostro em O Barão
Aventureiro. Filho de um cantor lírico, nasceu em Viena a
14 de Agosto de 1901, e foi um dos grandes actores do teatro e
cinema da Alemanha nos anos 20 e 30. Interpretou, entre outros, a
versão alemã de O Túnel, de Kurt Bernhardt (1933), uma história de
anticipação científica que descreve a construção de um túnel sob a
Mancha ligando a França à Grã-Bretanha, ficção que hoje se tornou
praticamente realidade, A Voz do Coração, um musical ao lado do
tenor Beniamino Gigli, em 1936, o mesmo ano em que aparece em O
Veneno dos Trópicos, de Detlef Sierk (que nos EUA anglicizou o
nome para Douglas Sirk) com Zarah leander, e Madame Bovary, de
Gerhard Lamprecht, ao lado da lendária Pola Negri.
Mas o seu papel mais famoso foi o de O Judeu Suss, no violento
filme anti-semita realizado por Veidt Harlan em 1940, papel com
que ficaria identificado. Às ordens de outro realizador do regime,
Hans Steiinhoff, interpreta outro filme de propaganda
antl¬britânica, O Presidente Krugger (1941), dando uma faceta
particularmente odiosa a Cecil Rhodes na sua luta contra o boer
que dá o título ao filme, interpretado por Emil Jannings.
Para além destes papéis de compromisso aparece também um melodrama
de Helmut Kautner que dizem excelente, Romanze in MoU (1943) e
mostra-se um excelente actor de comédia em In Flagranti, de Hans
Schwikert (1944), o seu penúltimo filme. Os seus papéis nos filmes
de propaganda colocaram-no na lista negra no final da guerra. A 7
de Agosto de 1946 suicida-se ao volante do automóvel numa corrida
(outras fontes dizem que terá sido abatido, por engano, pelas
forças de ocupaçâo).
IIse Werner
É a princesa Isabella D'Este em O Barão Aventureiro. Nasceu
na Batávia em 1918 e trabalhou nos palcos da Áustria e da
Alemanha. Estreou-se no cinema em 1938 mas o seu primeiro grande
papel foi o de Suzanne, no ano seguinte, no filme Bel Ami
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de WiIIi Forst, segundo o romance de Maupassant. Bal Paré, de Karl
Ritter (1940), confirma a sua popularidade e depois de O Barão
Aventureiro interpreta, de novo ao lado de Hans Albert, O Meu
Destino é o Mar, de Helmut Kautner (1944). Depois da guerra retoma
a carreira no palco em digressões pela Europa e EUA, mas a
carreira cinematográfica ficou sempre aquém do breve período de
fama dos anos da guerra.
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Filmografia Complementar
Les Hallucinations du Baron Munchhausen, de Georges Mélies
(1911).
O Barão Aventureiro, (Baron Prasil), de Karel Zeman (1961).
A Fantástica Aventura do Barão (Munchhausen), de Terry Gillian
(1988). Cyrano de Bergerac (Cyrano de Bergerac), de Michael Gordon
(1950). Cyrano de Bergerac (Cyrano), de Jean Paul! Rappeneau
(1990).
As Viagens de Gulliver (Gulliver's Travels), de Max e Dave
Fleisher (1939). Viagem à Lua (Le Voyage dans Ia Lune), de Georges
Mélies (1902).
Os Primeiros Homens na Lua (First Men in the Moon), de Nathan
Juran (1964).
Videografia
Até à data (Junho 1991), encontra em vídeo alguns dos
filmes atrás referidos:
- A Fantástica Aventura do Barão (Munchhausen), de Terry Gilliam (Publivídeo).
- As Viagens de Gulliver (Gulliver's
Travels), de Max e Dave Fleisher (Diger Vídeo).
Na ausência da edição videográfica de O Ladrão de Bagdad (mas o
filme de Michael Powell passou
recentemente duas vezes na RTP, pelo que não será difícil arranjar
gravação), pode ver-se:
- As Novas Aventuras do Ladrão de Bagdad (The Thief of Bagdad), de
Clive Donner (Publivídeo).
Para a cuidada reconstituição de época e os efeitos de iluminação,
a melhor comparação a fazer será com esse modelo de perfeição que
é:
- Barry Lindon, de Sanley Kubrick (Kodak-Warner).
Ficha técnica
Manuel Cintra Ferreira
Colaborador da
Cinemateca Portuguesa
Crítico do Jornal
"Público".
Paginação e Grafismo
Cândida Teresa
Gabinete de
Meios Técnicos e Materiais
da Direcção
Geral de Extensão Educativa
Dim. 21x14,5 cm
Edição
Secretaria de
Estado da Reforma Educativa
Composto e impresso
na Editorial do Ministério da Educação
Algueirão
Reconversão para HTML
Henrique J. C. de Oliveira
Espaço Aveiro e Cultura
Secundária J. Estêvão
Projecto Prof2000
Aveiro - 2012
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