Pormenor do retrato a óleo de José Estêvão existente na sala de professores.

Escola Secundária José Estêvão
SEUC - Nível Secundário

 
Unidade 12 - PORTUGUÊS


Miguel Torga
Tema da "ligação à terra-mãe"


(pág. 142 do Guia) - a dimensão telúrica

A terra, a vida e o homem são três elementos presentes na poesia de Torga. É da sua cúmplice reciprocidade que se gera o ciclo da fecundidade, da fertilidade e da reprodução, os ritmos cósmicos da vida e da morte. As metáforas utilizadas para referir a terra ajustam-se às utilizadas em relação à vida e ao homem.

A sua poesia exalta a terra, numa plena consciencialização dos laços do homem com a natureza. A natureza é Portugal, que o poeta conhecia bem. Uma natureza agreste (serra, fragas, penedos, árvores rijas) que o poeta mitifica e a que se liga numa espécie de panteísmo; como se a natureza o defendesse contra outros males e inseguranças que o ameaçam e envolvem, num mundo de isolamento.

A terra a quem Torga fala é simultaneamente o solo do país natal e a Terra - mãe de toda a vida humana, com todo a sua força e poder regenerativo. A sua poesia é fundamentalmente a busca da fidelidade no Terrestre (a responsabilidade humana perante a vida), a busca da inteireza do homem no Terrestre. Para Torga, a terra é o lugar da realização do ser humano e da sua ligação ao sagrado. A própria terra é a melhor manifestação do sagrado ao ser expressão da criação. O Homem deve ser capaz de realizar-se no mundo (unindo-se à terra, sendo-lhe fiel, pois esta é o lugar concreto e natural do Homem).

                           PÁTRIA

Serra!
E qualquer coisa dentro de mim se aclama...
Qualquer coisa profunda e dolorida,
Traída,
Feita de terra
E alma.

Uma paz de falcão na sua altura
A medir as fronteiras:
- sob a garra dos pés a fraga dura,
e o bico a picar estrelas verdadeiras...

 

Este poema foi escrito no Gerês, contemplando a Serra, na qual o Eu lírico projecta os seus sentimentos e a sua ideia de Pátria: uma terra-alma (a Pátria é serra, terra, fraga, garra, falcão, altura e alma – do físico ao espiritual, da terra ao céu). Na segunda estrofe, o Eu imagina-se um falcão, pássaro agressivo e orgulhoso, que leva nas suas garras a fraga da terra, rumo à altura/ à verdade. O falcão, ave da terra e do céu, simboliza essa dualidade que caracteriza a Pátria, no sentir de Miguel Torga.

 

                  REGRESSO

Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! Minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!
Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.

Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos

Aos deuses do meu velho paraíso.

 

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