Não é a primeira vez que Rosa Maria ganha um primeiro prémio
de poesia com livros diferentes, o que mostra a sua verve e
a sua qualidade. Foi em Ovar, é em Aveiro. Foi o prémio
Júlio Dinis, é agora este.
Rosa Maria é uma poetisa acabada de atingir a maturidade. De
facto, passadas as experiências da juventude, entrou em
cheio e plena de alma e de conhecimento nas aventuras
poéticas.
Parecem encontrar-se dois sulcos que a marcam: à uma é
Sophia talvez pelo seu apego ao concreto, em particular na
primeira poesia desta autora; e depois é Eugénio de Andrade
pela sua fertilidade e riqueza em imagens, pela sobriedade e
pelo rigor dos termos empregues e, ainda, pelo número
escasso e mitigado de versos que compõem cada poema.
"Verbo Liberto" é um livro sobre Aveiro e a sua região,
Aveiro que é a cidade adoptiva de Rosa Maria. Os termos
usados referem nitidamente esta cidade. Assim, encontramos
entre eles: gaivotas, mareante, búzio, mastro, sargaço,
navio, proa, neblina, marnoto e muitos outros que refletem
A veiro em verso.
Pode dizer-se deste livro que é um poema sobre A veiro
apesar dos quinze poemas que o constituem. E isso é assim
pela grande unidade e
coesão em que os textos tecem uma teia de similitudes e
harmonia que vem a ser o seu timbre.
A poesia de Rosa Maria é uma poesia directa, ilustrada,
imagética e concreta; é também uma poesia de amor, o amor
pelo seu amor, ou amor pela sua cidade. Várias vezes a
palavra Verbo surge nos poemas; não é de estranhar, pois os
poemas são verbo. Mas o livro consegue libertá-lo de verbo a
verve − com grandeza.
Ançã Regala |