A uma baiana
sumida
Parte I
Não ligues, pá,
Pois dei de magicar
poemas...
Mas olha lá:
Por cá saudades tenho
E canto e clamo e venho
Num halo a reluzir nas
rimas.
Vate sim,
Que sou a bordejar nas
luas!...
Fenece assim,
A crença nesta
aldeia...
Por mais que eu ouça e
leia,
Não tenho mais notícias
tuas!
Triste afã
Será calafetar as
frestas
Da ideia vã
Que eu tenho do teu
vulto,
Falaz e devoluto,
A sibilar em ondas
lentas.
Parte II
Eis-me então
Meditabundo em meu
semblante...
Mas dentro não,
Que a mente é receosa,
Mosqueia-me nervosa,
Num coruscar
rumorejante.
Este poeta
É ígneo criador de
mundos
E rebenta
De flamífera poesia,
À beira da agonia
E dos temores mais
profundos.
E aqui vai
A iniludível sonda lusa
Que de mim sai
Em busca dos sinais...
Dos risos ou dos ais
Que guardas no calar da
musa.
Parte III
Ai de mim
Se foi tredo o teu
destino!
Neste jardim,
Ouvi choros
plangentes...
E até brados pungentes
Dum ulular mais
feminino.
Ó amiga,
Que pandilha ou
sorvedoiro...
Que intriga
Álgida e argêntea
Toldou a luz cutânea
Que, hoje, és sol tão
sumidoiro?!
Parte IV
Para tratar
Da tua eventual
modorra,
Eu quis te dar,
Na forma transcendente,
Um círio iridescente
Que fosse a chave da
masmorra.
E assim nasceu,
Pletórico e sobrelevado
(subiu no céu!),
O garbo destes versos
Côncavos e convexos,
No plano em mim
Alinhavado.
Porém, no meio,
Manietado entre dois
flancos,
O receio
É todo o arcabouço;
Vai dentro do rebuço,
Armado aos trancos e
barrancos.
Parte V
O breu maior
Fez-me capitular a vida
Que sei de cor
Na pele de toupeira
Que rasga a terra
inteira
Aquém e além da luz
perdida.
Os condores
São pressurosos, mas
inúteis!...
E por não seres,
Faz-te (se te fizeste
da flor de que te
fiaste)
Um beija-flor de asas
vibráteis.
Se for preciso,
Da mente dar-te-ei
caminho
E, do sorriso,
A força; do coração,
O carnaval e, da mão,
O sim adscrito do
carinho.
É tão nossa
A cálida maré dos
nervos...
Mas mal se possa,
Há que ganhar alento
Sorvendo do momento
Um sonho que nos torne
novos.
Volta sempre
À placidez da amizade:
Quem diz cumpre,
Agora e no futuro,
De peito franco e puro,
Todas as leis da
lealdade.
A dor mantém
O acre gosto da
desgraça,
Mas também
Prosélito é o mundo
Que muda até ao
fundo...
Se aquiescermos na
mudança!
Parte VI
Nestes versos,
Vim pespegar-te a luz
dos ares
E, a sóis imensos,
Atei lustres e velas,
Fiz um colar de
estrelas
Que podes pôr, se assim
quiseres.
Do meu peito
O verso zarpa
espaventoso.
Bem a preceito,
Não pôde ser pelanga
Nem cera, vime ou
ganga...
Do ralo fez-se o
planturoso!
Ó Ser Mulher,
Perdoa-me o fragor do
adejo,
Pois se te der
Enlevo, viço e graça
Num
hausto de esperança,
Terei da vida o que eu
almejo!
Ainda volteia...
Porém, terrivelmente às
pressas,
Já bruxuleia,
Quiçá aliterante,
A flâmula pedante
Da volta viva das
Vanessas.
Parte VII
Menina que és da
voz um canto,
Se não cantas por ter
sal o pranto,
Devolve o sal ao mar e
pronto,
Menina que és da voz um
canto! |