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O problema
da expressão do meu sentir,
não é tanto a sua dimensão, mas a escala.
Terá apenas este tamanho, o dum verso?
Ou, para ele, será preciso todo o Universo?
Que escala devo usar para me fazer ouvir?
Será bastante usar um quark, um protão?
Estará, todo ele, contido só na mão?
De facto tudo se resume a uma mala?
Não é a mão
que treme, entorta a letra!
É o pensamento entalado, poesia, etc….
Nasci torto, deformado, todo dobrado,
para um fado do Dianho levado…
Não é tanto o que eu canto falado,
mas o facto de ter de cantar calado!
É quase milagre manter-me levantado!
Porque
tremeu meu raciocínio,
ele, tão ordenado, tão lógico?
Porque não suportou, doutros, o tirocínio,
e cedeu à loucura, de modo trágico?
Como pude deixar que, com quimeras,
os princípios, ideais, altas esferas,
cedessem frente a factos tão materiais,
e permitir-lhes parecerem tão iguais?
Como
permiti, a pseudo-invasão,
do meu Eu interior, meu irmão?
Como soltei o Verbo, e o Espírito,
ao sabor do Nada, tão primordial?
Que erro
tremendo eu cometi,
Quando deixei correr, correr a pena,
exprimindo tudo aquilo que vivi,
expondo-me, qual actor em cena!
Que público
tive neste teatro?
Brejeiro? Satírico? Ou nenhum?
Rompi todas as comportas dum lugar,
onde, para mim, só existia UM.
E foi lá,
com ELE, na solidão,
que pude ver-lhe a dimensão,
que senti toda a real expressão,
(toda ela dita calada, sem fala),
que resolvi, com ELE, a tal escala.
09/11/1987- Ao Sr. Padre Manuel Leão…
por uma questão de escala.
Natal de 198.
A meus Pais, apesar de tudo.
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