Ezequiel
Arteiro, Palavras que eu canto, 1ª ed., Aveiro, O
Nosso Jornal - Portucel, 1984, 96 pp. |
Devagar, vão
caminhando
O cego e seu fiel amigo
À frente, o cão vai puxando;
Atrás, o cego firmando
A trela que vai consigo.
Às vezes a
trela cai
Das mãos do ceguinho ao chão;
Mas o cão dali não sai:
Pelo contrário até vai
Chegar-lhe o focinho à mão.
E assim o
bicho consegue,
Com carinho singular,
Que o cego lhe toque e pegue
Na trela; e só depois segue,
Novamente, devagar...
Ao contrário,
— um cão ceguinho
Já não tem a mesma sorte!...
O homem não tem carinho:
— Despreza o pobre bichinho,
Lava as mãos, ou dá-lhe a morte. |