Baixei-me
p'ra colher trevo:
Logo aproveitaste a altura...
Quero erguer-me e não me atrevo:
Agora já não tem cura.
Colhi
trevo, mas a sorte
Escondeu-se na raiz.
O meu destino é mais forte
Do que a velha lenda diz.
Na noite de
S. João,
Nem sei o que entre nós houve...
Perdoo-te essa traição,
Só pelo bem que me soube.
Na noite de
S. João,
Sei que à fogueira não faltas
Hei-de deitar-me no chão:
Espreitar-te, quando saltas.
Quer seja
loira ou morena
Ou da cor mais variada,
Toda a moçoila faz pena
Depois de sair da alhada.
Apenas por
amizade
Venho dar-te um mangerico.
— Tanta generosidade
Não trará água no bico?
Junto à
fogueira ninguém
Se derrete com calor.
Mas no escuro há sempre alguém
A derreter-se de amor.
Pecados
velhos que o vento
Há tanto tempo levou
Voltaram-me ao pensamento
Quando o S. João voltou.
Este ano
lanço um balão
Verde, cor da esperança
Em honra de S. João
E homenagem à criança.
São João,
muito me encanta
A lã do teu cordeirinho
Quem ma dera para manta
Do meu querido filhinho.
O simples
trevo que existe
Sobre a cruz da minha vida.
É um testamento bem triste
De tanta sorte perdida!...
Sempre que
uma boca se une
A outra para beijá-la,
É uma fogueira sem lume
Que ninguém pode apagá-la!...
Brincarei
com meus netinhos,
Na tela do meu colchão,
E, quando derem saltinhos,
Até dança o S. João!...
Na noite de
S. João
Não me safo de sarilhos
Volto a ficar de «balão»
Em vez de três, quatro filhos.
Como estás
agarradinho
As «bóias» de salvação!
Tentas furar-me o «barquinho»
Sobre ondas de S. João.
Nas trovas
de S. João
Todo o fascista se apraz
De cantar a do Mourão,
— Ó tempo volta para trás.
Ó «Manel»,
o meu receio,
Na noite de S. João
É da «martelada» em cheio
Depois das que apanho em vão.
Em noites
de S. João
Deste-me um filho e fugiste...
Embora não lhe dês pão,
Vem vê-lo, que nunca o viste!
Ó S. João!
Ai se eu fosse
De virtude feiticeira,
Cegava aquele olhar doce
Que salta a tua fogueira!
Lindo
Balão! — por favor,
Cai desse espaço sem fim
Nos braços do meu amor
E dá-lhe beijos por mim...
Canto e
danço em teu redor,
Hei-de te encher de festinhas
Vês um pombo arrulhador
Fazer o mesmo às pombinhas.
Maria —
ouvi charmar-te
«Rouxinol dos arraiais»!
Mas... Quando o S. João parte
Nem os (grilos) cantam mais!
Aquele
amor, a ternura,
Que na fonte me jurou,
Foi um sol de pouca dura...
Água o deu, água o levou.
Caiu-me
cinza na chaga
Da fogueira que ma fez!
Vi que o fogo não se apaga
Porque me ardeu outra vez.
Beijei um
amor perfeito
Na noite de S. João.
Ficou-me um cravo no peito
A prender-me o coração.
É toda a
minha cegueira
Ver saltitar no teu seio,
Quando saltas a fogueira,
Um limão cortado ao meio.
Irei perder
a cabeça
Na noite de S. João?!
— Que importa que isso aconteça
Se encontro o teu coração?
Por ti, eu
morro de amor!...
Coloca-me no caixão
Um ramo p'ra eu depor
No céu, junto a S. João.
Sou
Bombeiro e embora queira,
Nunca consigo a extinção
Do rescaldo de fogueira
Da noite de S. João...
Ó meu rico
S. João
As festas e pés de dança,
Com certeza, morrerão
Se vais também para França.
Deste-me um
beijo à fugida
Que me infundiu um desejo
De ter uma longa vida
E vivê-la só num beijo...
Com
franqueza, tenho pena
De te ver assim pintada
Porque os teus beijos, pequena,
Sabem a tinta e mais nada...
Depois de te
dar beijinhos,
Tentei colher-te também
Sem me lembrar dos espinhos
Que o caule da rosa tem;
Muitas vidas
se entrelaçam
Pelos beijos que se dão
Adoçados com «maná»,
Da noite de S. João!... |