Às minhas filhas e netas
(Natal de 1996)

 

(DORA)
Foste a primeira flor
de duas rosas nascidas;
foste o primeiro amor
saído de duas vidas.
Não deixes evaporar
o perfume (com amor)
da «nossa» primeira flor!...

               Aveiro-1996

 

(VERA)
Ontem
foste
uma valorosa dádiva:
foste planeada
e fortemente desejada
aceite e amada.


Hoje,
de cariz aprumado,
ciente do caminho traçado,
sulcas de cabeça erguida
(e nariz arrebitado)
o espaço da tua vida.
Prenda da juventude...
Meus carinhos em tua volta
esvoaçam...
mas por vezes esbarram
e não passam!

            Aveiro, 1996

 

(JOÃO)

Inútil dizer-te o que sinto:
inútil esta verdade;
a verdade maior da minha vida.
Sim, da minha vida,
por vezes já longa e fria...
inútil contar-te, algum dia,
que és tu um braço estendido
(aconchego definido)
no abandono da minha existência...
que deixa de ser fria,
que deixa de ser cansaço,
quando sinto, filha,
o calor do teu abraço.
Inútil terminar a desejar
que seja longo de amor
o teu futuro;
que seja o teu mundo
felicidade;
desde hoje, que é manhã,
até sempre! até ao entardecer.
Inútil dizer-te
(sem sombra de amargura)
que é isto...
que tenho para te dizer,
com amor, com ternura.
É que hoje, afinal,
sempre é...
NOITE DE NATAL!

               Aveiro,1996

 

(ANA)

Hoje é Noite de Natal.
Paz, Amor, Fraternidade
eis o grito das pessoas
de boa vontade.
Trocam-se prendas
trazidas pelo Menino Jesus
que nasceu à meia-noite;
a Terra liga-se ao Céu:
ali, está Jesus;
para lá foi,
quando morreu.
Hoje é Noite de Natal.
E, no Mundo, há tanta miséria!
A nossa vida é coisa passageira...
a nossa existência...
não é coisa séria!
Hoje é Noite de Natal.
Há egoísmo
na pessoa dos facciosos
que hoje lembram,
plangentes e chorosos,
os que nada têm.
Tu vives o Natal
(eu sei!)
com uma sensibilidade tal
que dá brilho ao teu olhar.
Há já dias
que te andas interrogando:
«que me irão este ano dar?!»
O teu alvoroço
é inquietante:
andas alegre, esfuziante.
Hoje é Noite de Natal.
Não esqueças aqueles
que, por má sorte no nascimento,
nada têm, hoje, a seu contento;
no seu mundo,
(nunca abençoado)
há fome, há frio;
nasceram, algures,
em qualquer manjedoura
onde, até hoje,
só ouviram
tiros de metralhadora.
Bósnia, Sarajevo, Angola,
(e em tantas terras de Portugal)
hoje não é Noite de Natal.
Lembra sempre os teus «natais»
confraternizados
na meiga companhia
dos teus queridos Pais...
os teus presentes
impregnados de felicidade...
em família, cheia de amor
e boa vontade.
E não esqueças nunca,
minha querida:
que tu foste
uma prenda de Natal
em minha vida!

       Aveiro,1996

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