Auto-retrato

Nasci careca do bojo de minha Mãe...
...olhar vivaz;
nasci descalça e no Inverno;
e foram, meus primeiros dias
um inferno... porque não nasci rapaz.
Minha Mãe não queria outra rapariga!
Não me olhou (meu Pai que o diga)!
Um menino — era o seu ideal;
nasci menina... que poesia filosofal...


E anos passaram:
aprendi a julgar, fui capaz de amar.
Estudei e... um curso médio tirei.
Venci na vida
(para bem ou para mal?)
Tive meus conceitos de moral.
Bebi, sôfrega, minhas primaveras...
...até que, um dia, farei,
desdenhosa, a despedida;
(nunca vivi iludida);
e aquela parte que resta...
é morrer;
(depois do viver e do nascer).


E, agora, ao entardecer,
julgo que conheci
sossego
e desassossego;
que vivi o belo;
que fui ateia;
que fiz poesia de estilo;
que fui optimista;
que tracei desafios;
que reprimi a ignorância;
que li os «bons»escritores;
que dei alimento à minha mente:
e, desta feita...
sei que fui gente.
Tive um nome:
MARIA HELENA,
a mortal.
Pessimismo... é pena!
Narcisismo
é ser aos mortais igual.

         Aveiro, 1996

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