Pedaços de Vida - Lisboa, 2021, p. 53

A árvore

Maria Cristina de Oliveira S. R. Soares - Pedaços de Vida - 2021

Fui sempre

a sombra, o fruto, o abrigo, o próprio ar

que respiravas.

E gostei de sê-lo, porque entendia que eras

meu amigo.

 

Cantaste-me nos teus poemas.

Escreveste-me nos teus livros.

Fui beleza, amor, sonho…

E quando me cortaste e fui casa, nau, livro,

não me importei, porque entendi que ainda

eras meu amigo.

 

Mas devoraste-me com fogo…

E tive pena, porque não viste que a ti te destruías.

Agora, semi-asfixiado nas tuas cidades,

(onde já não vivo!)

imaginas meios de destruição, sempre mais terríveis,

porque já nem de ti és amigo.

 

São poucos os amigos que me restam,

dispostos, contudo, a defender

o sonho, o amor, a beleza…

e a tua própria vida…

Ainda que o não percebas!

 

Março de 1987

 

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