Bicicletas
conquistam adeptos
A
transformação da antiga linha férrea Guimarães-Fafe numa pista
de cicloturismo está a ser uma aposta ganha. Todos os dias,
trabalhadores, estudantes e outras pessoas, montadas em
bicicletas, utilizam-nas nas suas deslocações. O único senão
tem a ver com alguns automobilistas que insistem em andar de carro
na pista.
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A
população de Guimarães e Fafe, sobretudo aos
fins-de-semana, não se cansa de passear de bicicleta na
nova pista. Foto de Mário Marques. |
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Uma
dúzia de operárias de uma fábrica de camisas vimaranense
agradeceu a transformação da extinta linha férrea entre Guimarães
e Fafe numa pista de cicloturismo. Desde o início do ano, altura
em que a pista ficou transitável, as trabalhadoras trocaram os
autocarros e os automóveis pela bicicleta como meio de transporte
para se deslocarem de casa para o trabalho. Para além do dinheiro
do passe mensal, garantem que ainda fazem ginástica” e apanham
ar fresco. Como elas, outros trabalhadores e estudantes percorrem
diariamente alguns dos 16 quilómetros que ligam Aldão, em Guimarães,
até à cidade de Fafe.
Depois
da desactivação da linha de comboio, e após muitas negociações
com a CP, a autarquia fafense, primeiro, e a de Guimarães,
depois, decidiram alcatroar a velha linha férrea e transformá-la
numa pista destinada a ciclistas e a patinadores, o que deixou
satisfeita a população das duas localidades que, sobretudo ao
fim-de-semana, não se cansa de passear de bicicleta pela pista.
“Nem
a chuva nem o calor afastam os ciclistas”, disse ao PÚBLICO
Rosa Maria, moradora na freguesia de S. Romão e vizinha da antiga
linha de comboio. Depois de trocar, de bom grado, o barulho dos
comboios pelo som dos pedais, Rosa Maria, tal como as vizinhas, já
está habituada a ver novos e velhos, homens e mulheres a passear
de bicicleta. “A paisagem é bonita e isto é tudo muito
calmo”, garante, ao mesmo tempo que lamenta apenas não saber
andar de bicicleta.
A
pista de cicloturismo, depois de alguns problemas iniciais, é
agora um dos ex-libris das
duas cidades. A obra, que, segundo as contas da autarquia
vimaranense, custou cerca de 55 mil contos, tem sido mesmo
visitada pelos autarcas de outras localidades, que pretendem
seguir o exemplo.
“Cansadinho
mas satisfeito”
O
único senão parece ser apenas a persistência de alguns
automobilistas, que, apesar das proibições camarárias, fazem
questão de circular de automóvel na pista, que, atravessada por
alguns caminhos municipais, tem entradas e saídas limitadas através
da colocação de pequenos pinos em betão, para impedir a entrada
de automóveis. Mesmo assim, alguns acabam por entrar, bem como
alguns motociclos, que se transformam numa ameaça para os
ciclistas.
“Às
vezes, aparece a GNR ou os fiscais da câmara, mas pouco
podem fazer”, explica João Carlos Fernandes, um “ciclista de
fim-de-semana” que já por algumas vezes se cruzou com os
motociclistas. “Mal vêem a guarda, os tipos põem-se logo a
andar ejá ninguém mais os apanha”. Trolha de segunda a
sexta-feira, este fafense reservou as tardes de sábado e as manhãs
de domingo para ir de Fafe a Guimarães e vice-versa. “Fico
cansadinho, mas muito satisfeito. Gosto disto”, conclui.
Também
Luís Oliveira, outro ciclista de fim-de-semana, não poupa
elogios à pista. Preferindo ver obras “do género” em vez de
campos e mais campos de futebol, este escriturário em Fafe só
tem pena de não ver mais linhas de comboio desactivadas a serem
utilizadas para o bem comum.
Para
além dos ciclistas que, por prazer, percorrem os quilómetros
da pista e daqueles que aproveitam a rapidez do percurso para se
deslocarem para o trabalho, o circuito é ainda utilizado por
muita gente que usa a via para os chamados “passeios
digestivos”, gente que, sem nenhuma razão especial e com muita
calma, passeia pelo local enquanto aprecia a paisagem.
Apesar
do movimento, parece haver consenso entre os utilizadores que o
percurso no concelho de Fafe é mais utilizado do que o de
Guimarães. Inaugurada há três anos, a parte da pista que
pertence a Fafe levou já à criação de hábitos na população.
Na Cidade-Berço, apenas com nove meses de vida, a via continua
lentamente a captar adeptos e é mesmo frequente ver os clubes de
ciclismo locais a efectuar treinos na pista. “Isto vai
devagar”, diz Rosa Maria, “mas a verdade é que não pára de
passar gente”.
Emília
Monteiro, Bicicletas conquistam adeptos, in:
"Público", 9/Set./1999, p. 46.
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