Loucos anos 60
A década de 1960 é uma fase histórica caracterizada por uma
profunda transformação de gostos, costumes, moda, estilo de
vida, interesses e formas de participação política. A arte reage
naturalmente a essas mudanças e pela primeira vez as linguagens
artísticas se apropriam de temas, conteúdos e formas expressivas
típicas da comunicação de massa e da cultura popular, negando
tudo isso à dimensão “culta” e elitista que vinha caracterizando
a arte.
A década é marcada pela velocidade das
vanguardas artísticas, que tem Nova Yorque como capital cultural
do século XX. Dentre as manifestações artísticas como Arte
Povera, Minimalismo, Arte Conceitual, Novo Realismo, a Pop Arte
surgida na Inglaterra (em 1950, atingiu a maturidade nos ano 60)
mas apropriada e difundida pelos norte americanos foi a
vanguarda mais decisiva da década.
Sem programa preestabelecido, sem manifesto,
utilizando-se do repertório do quotidiano do consumo e da
cultura de massa, foi rapidamente transformada em tendência
internacional. Os artistas plásticos abandonam os museus, as
galerias, saem da solidão dos ateliês e se misturam na multidão.
É a poética do gesto, da ação, da coletividade, a utopia da arte
/ vida como participação do espectador na realização da obra de
arte. Alguns artistas lutam para escapar da mercantilização, por
meio de novas formas de expressão como performance e Happenings,
surgidos com a Pop arte, uma espécie de teatro instantâneo, uma
mistura de artes visuais, música e dança, que convida o
espectador a participar da obra ou da ação, uma forma de
tirar-lo da passividade fazendo-o reagir à provocação do artista
e do quotidiano político social. Outros artistas recusam-se a
utilizar materiais e técnicas tradicionais que eram algo “ricos”
e distantes das práticas “verdadeiras” da vida real (a tinta a
óleo, o bronze e o mármore da escultura), para se apropriarem de
objetos e materiais “pobres”, como trapos, jornais, eram
escolhas típicas da Arte Povera. É uma nova atitude que leva o
artista a mover-se e a fugir do papel convencional, dos clichês
que a sociedade lhe atribui para recuperar a posse de uma nova
“realidade”, o domínio do seu ser.
Verifica-se no cenário internacional das
artes plásticas, já no começo da década de 1960 o abandono das
linguagens abstratas, geométrica e gestual, e retorno da figura,
ou melhor, uma apropriação da figura como fez a Pop Arte com as
imagens divulgadas pelos mídia transformando-as em naturezas
mortas da sociedade de consumo. No fenómeno da nova figuração o
que interessa é o significado da imagem e não uma forma
representativa. Uma imagem mais alusiva, grotesca e provocativa.
A estética do mau gosto desafiando uma sociedade do bom gosto,
industrial e politicamente correta.
Na arte, é o momento da transição da
vanguarda para a contemporaneidade. O atestado de óbito da
Modernidade. Os procedimentos da arte passam dos polémicos
questionamentos dos suportes tradicionais ao fim do suporte como
elemento essencial da obra de arte. É o momento da arte
conceitual que vai dominar na década seguinte. Uma arte mais
fria, cerebral, menos engajada, voltada para interrogar sua
própria natureza.
Sandra Silva
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